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Eduardo Galeano entre os intelectuais iberoamericanos mais influentes

O canal de comunicação espanhol esglobal.org – um reconhecido meio analítico e reflexivo – divulgou há poucos dias a seleção dos 50 intelectuais iberoamericanos mais influentes de 2014 e entre os escolhidos está Eduardo Galeano.

A lista foi feita a partir da votação dos internautas que deveriam votar em personagens vivos e ativos que realizaram pelo menos parte do seu trabalho em espanhol ou português. Como o próprio “Esglobal” divulga, a lista é discutível, mas seu objetivo é refletir sobre o que significa, hoje, ser um intelectual público na América Latina.

E essa não é a única notícia recente sobre o escritor uruguaio. Segundo a Coluna de Ancelmo Góes no jornal O Globo, Galeano recebeu de um amigo brasileiro, que integra a Comissão da Verdade, cópia de um relatório do Centro de Informações do Exército datado de 23 de novembro de 1971. Nele está escrito: “Eduardo Galeano, jornalista esquerdista, estaria percorrendo os Comitês de Base da Frente Ampla, fazendo conferências contra o Brasil e denunciando adido militar do Brasil, coronel Moacir Pereira, como a pessoa destacada pelo presidente Médici para montar uma rede do SNI no Uruguai.”

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Espetáculo de dança inspirado em livro de Eduardo Galeano

Estreia no dia 10 de dezembro, no Theatro São Pedro, em Porto Alegre, o espetáculo de dança contemporânea PATAS ARRIBA. A montagem do bailarino, diretor e coreógrafo Rui Moreira é inspirada livremente no livro Patas Arriba – La Escuela del Mundo al Revés, de Eduardo Galeano, em que o autor uruguaio especula: “Há centro e trinta anos, depois de visitar o País das Maravilhas, Alice entrou num espelho para descobrir o mundo ao avesso. Se Alice renascesse em nossos dias, não precisaria atravessar nenhum espelho: bastaria que chegasse à janela”. O livro é publicado no Brasil pela L&PM Editores com o título  De pernas pro ar – A escola do mundo ao avesso.

A L&PM publica "De pernas pro ar" em formato convencional e pocket

A L&PM publica “De pernas pro ar” em formato convencional e pocket

No espetáculo, seis bailarinos buscam expressar um mundo de pernas para o ar. Contemplada com o Prêmio Klauss Vianna de Dança da Funarte 2013, a coreografia do paulista radicado em Belo Horizonte terá mais 11 apresentações na Casa de Cultura Mario Quintana após estrear no Theatro São Pedro.

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Uma homenagem a Di Stéfano

Na manhã desta segunda-feira, 7 de julho, aos 88 anos, morreu Alfredo Di Stéfano,  craque argentino e presidente de honra do Real Madrid. O ídolo das décadas de 1950 e 1960 estava internado no hospital Gregorio Marañón, em Madri, desde sábado e teve uma parada cardiorrespiratória.

Em Futebol ao sol e à sombra, Eduardo Galeano escreve sobre Di Stéfano:

Futebol_ao_sol_e_a_sombra_CONVENCIONALDi Stéfano

O campo inteiro cabia nas suas chuteiras. A cancha nascia de seus pés, e de seus pés crescia. De arco a arco, Alfredo Di Stéfano corria e corria pelo gramado: com a bola, mudando de rumo, mudando de ritmo, de trotezinho cansado ao ciclone incontido; sem a bola, deslocando-se para os espaços vazios e buscando ar quando o jogo ficava congestionado.

Nunca parava quieto. Homem de cabeça erguida via o campo inteiro e o atravessava a galope, abrindo brechas para lançar o assalto. Estava no princípio, durante e no final das jogadas de gol, e fazia gols de todas as cores:

Socorro, socorro, aí vem a flecha voando a jato.

Na saída do estádio, era carregado pela multidão.

Di Stéfano foi o motor das três equipes que maravilharam o mundo nos anos 40 e 50: River Plate, onde substituiu Pedernera; Milionários de Bogotá, onde deslumbrou o mundo, ao lado de Pedernera; e o Real Madrid, onde foi o maior artilheiro da Espanha durante cinco anos seguidos. Em 1991, anos depois de Di Stéfano ter pendurado as chuteiras, a revista France Football deu o título de melhor jogador de futebol europeu de todos os tempos a este jogador nascido em Buenos Aires.

Alfredo Di Stéfano em ação

Alfredo Di Stéfano em ação

Futebol: uma guerra dançada

“A guerra dançada”, trecho do livro Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano:

No futebol, sublimação ritual da guerra, onze homens de calção acabam sendo a espada vingadora do bairro, da cidade ou da nação. Estes guerreiros sem armas nem couraças exorcizam os demônios da multidão e confirmam sua fé: em cada confronto entre duas equipes, entram em combate velhos ódios e amores herdados de pai para filhos.

O estádio tem torres e estandartes, como um castelo, e um fosso fundo e largo ao redor do campo. No meio, uma raia branca assinala os territórios em disputa. Em cada extremo, aguardam os arcos,  que serão bombardeados por boladas. Em frente aos arcos, a área se chama zona de perigo.

No círculo central, os capitães trocam flâmulas e se cumprimentam como manda o ritual. Soa o apito do árbitro e a bola, outro vento assobiador, põe-se em movimento, A bola vai e vem e um jogador leva essa bola e passeia com ela até que alguém lhe dá uma trombada e ele cai escarranchado. A vítima não se levanta. Na imensidão da grama verde, jaz o jogador. E na imensidão das arquibancadas, as vozes trovejam. A torcida inimiga ruge amavelmente:

– Morre!
– Que se muera!
– Devi morire!
– Tuez-le!
– Mach ihn nieder!
– Let him die!
– Kill kill kill!

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Camus, o goleiro que não podia gastar a sola de sapato

Camus

Em 1930, Alberto Camus era o São Pedro que tomava conta da porta da equipe de futebol da Universidade de Argel. Tinha se acostumado a jogar como goleiro desde menino, porque essa era a posição onde o sapato gastava menos sola. Filho de família pobre, Camus não podia se dar ao luxo de correr pelo campo: toda noite, a avó revisava as solas e dava uma surra nele, se estivessem gastas.

Durante seus anos de goleiro, Camus aprendeu muitas coisas:

– Aprendi que a bola nunca vem para a gente por onde se espera que venha. Isso me ajudou muito na vida, principalmente nas grandes cidades, onde as pessoas não costumam ser aquilo que a gente acha que são as pessoas direitas.

Também aprendeu a ganhar sem se sentir Deus e a perder sem se sentir um lixo, sabedorias difíceis, e aprendeu alguns mistérios da alma humana, em cujos labirintos soube se meter depois, em viagem perigosa, ao longo de seus livros.

Trecho de Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano.

Albert Camus jogou desde menino como goleiro, posição escolhida porque era a que menos gastava a sola do sapato. Ele é o menino de boné.

Albert Camus jogou desde menino como goleiro, posição escolhida porque era a que menos gastava a sola do sapato. Ele é o menino de boné.

O árbitro por Eduardo Galeano

O árbitro

O árbitro é arbitrário por definição. Este é o abominável tirano que exerce sua ditadura sem oposição possível e o verdugo afetado que exerce seu poder absoluto com gestos de ópera. Apito na boca, o árbitro sopra os ventos da fatalidade do destino e confirma ou anula os gols. Cartão na mão, levanta as cores da condenação: o amarelo, que castiga o pecador e o obriga ao arrependimento, ou o vermelho, que o manda para o exílio.

(…)

Ninguém corre mais do que ele. É o único obrigado a correr o tempo todo. Este intruso que ofega sem descanso entre os vinte e dois jogadores galopa como um cavalo, e a recompensa por tanto sacrifício é a multidão que exige sua cabeça. Do princípio ao fim de cada partida, suando em bicas, o árbitro é obrigado a seguir a bola branca que vai e vem entre os pés alheios. É evidente que adoraria brincar com ela, mas nunca essa graça lhe foi concedida. Quando a bola, por acidente, bate em seu corpo, todo o público lembra de sua mãe. E, no entanto, pelo simples fato de estar ali, no sagrado espaço verde onde a bola gira e voa, ele aguenta insultos, vaias, pedradas e maldições.

Às vezes, raras vezes, alguma decisão do árbitro coincide com a vontade do torcedor, mas nem assim consegue provar sua inocência. Os derrotados perdem por causa dele e os vitoriosos ganham apesar dele. Álibi de todos os erros, explicação para todas as desgraças, as torcidas teriam que inventá-lo se ele não existisse. Quanto mais o odeiam, mais precisam dele.

Durante mais de um século, o árbitro vestiu-se de luto. Por quem? Por ele. Agora, disfarça com cores.

De Futebol ao sol e à sombra, de Eduardo Galeano, publicado em formato pocket e convencional.

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Eduardo Galeano é o Pelé da literatura sobre futebol, aponta jornal britânico

O Pelé da literatura sobre futebol não é um brasileiro, mas o escritor uruguaio Eduardo Galeano. A afirmação foi feita pelo jornalista esportivo do jornal britânico “The Guardian” Richard Williams, que preparou uma lista dos melhores livros esportivos para se ler durante a Copa do Mundo.

Williams cita algumas obras, mas, segundo ele nenhuma supera “Futebol ao Sol e à Sombra”, de Galeano, que é publicado pela L&PM Editores em pocket e também em formato convencional e e-book.

Ágil e emotivo, o livro de Galeano traz muitas histórias sobre mundiais. E não é preciso ser um apaixonado pela bola para apreciá-lo. Basta se apreciar a boa literatura.

 Via Folha de S. Paulo

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GARRINCHA

Algum de seus muitos irmãos batizou-o de Garrincha, que é o nome de um passarinho inútil e feio. Quando começou a jogar futebol, os médicos o desenganaram: diagnosticaram que aquele anormal nunca chegaria a ser um desportista. Era um pobre resto de fome e de poliomelite, burro e manco, com um cérebro infantil, uma coluna vertebral em S e as duas pernas tortas para o mesmo lado.

Nunca houve um ponta direita como ele. No Mundial de 58, foi o melhor em sua posição. No Mundial de 62, o melhor jogador do campeonato. Mas ao longo de seus anos nos campos, Garrincha foi além: ele foi o homem que deu mais alegria em toda a história do futebol.

Quando ele estava lá, o campo era um picadeiro de circo; a bola, um bicho amestrado; a partida, um convite à festa. Garrincha não deixava que lhe tomassem a bola, menino defendendo sua mascote, e a bola e ele faziam diabruras que matavam as pessoas de riso: ele saltava sobre ela, ela pulava sobre ele, ela se escondia, ele escapava, ela o expulsava, ela o perseguia. No caminho, os adversários trombavam entre si, enredavam-se nas próprias pernas, mareavam, caíam sentados.

(…)

Cortázar no “Livro dos abraços” de Galeano

Em seu Livro dos abraços, Eduardo Galeano criou um pequeno conto/sonho com Julio Cortázar, escritor e amigo que morreu em 1984.

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De Júlio Cortázar, a L&PM publica A autoestrada do sul e outras histórias.

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Da esquerda para a direita: o nicaraguense Ernesto Cardenal, o uruguaio Eduardo Galeano e o argentino Júlio Cortázar. / Foto: Eduardo Gamondes

Eduardo Galeano é cidadão do Rio de Janeiro

Depois de palestrar sobre futebol na Bienal de Brasília e ler trechos de Os filhos dos dias em um ginásio lotado no Rio de Janeiro, Eduardo Galeano encerrou suas aparições públicas no Brasil ao receber a Medalha Tiradentes e o Título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro. A cerimônia de entrega aconteceu na quarta-feira, 16 de abril, e em seu discurso Galeano falou sobre Tiradentes e dedicou a medalha ao amigo Oscar Niemeyer:

Sobre Tiradentes

Ao final do século 18, acreditava-se que as minas do Brasil durariam tanto quanto o mundo, mas cada vez havia menos ouro e menos diamantes e cada vez eram mais pesados os tributos que era preciso pagar à rainha de Portugal e sua corte de parasitas.

Para romper com a Europa, que “nos chupa como esponja”, conspirou um grupo de mineiros e fazendeiros, frades e contrabandistas de longa experiência. A rebelião se propunha converter a colônia em pátria. O Brasil queria ser república independente.

E a rebelião foi crescendo.

Antes que soasse o primeiro tiro de mosquete, falaram os delatores. Os delatores marcaram para morrer os seis que foram condenados, enforcados, decapitados e esquartejados.

O único que não delatou ninguém, e foi por todos delatado, foi o primeiro a adentrar o patíbulo na hora do amanhecer.

O alferes Tiradentes foi o primeiro a ser castigado por querer que os brasileiros fossem brasileiros, em toda a infinita dimensão da palavra liberdade.

* * * 

Eu quero dedicar esta medalha que hoje alegra meu peito à memória de meu muito querido amigo Oscar Niemeyer.

Ele foi, e continua sendo, além de toda morte, o mais entusiasta protagonista dessa louca aventura que hoje chamamos Brasil.

Que assim seja, que assim continue sendo.”

Eduardo Galeano recebe a medalha Tiradentes e o Título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro, dos mandatos do deputado estadual Marcelo Freixo e do vereador Eliomar Coelho.

Eduardo Galeano recebe a medalha Tiradentes e o Título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro, dos mandatos do deputado estadual Marcelo Freixo e do vereador Eliomar Coelho.

Em seu discurso, Galeano citou Tiradentes e homenageou Niemeyer

Em seu discurso, Galeano citou Tiradentes e homenageou Niemeyer