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Sobre livros sem título na capa

Leio agora que estão lançando um livro sem o título na capa. E ao contrário de uma ideia inédita, como está escrito, penso que isso, na verdade, é apenas mais uma “velha novidade”. Em 1977, portanto há 40 anos, o livro REFLEXOS DO BAILE, do grande Antonio Callado, num belo trabalho do pintor Carlos Scliar (tio do escritor Moacyr Scliar), trazia apenas o nome do autor na capa e o título na quarta capa (contracapa). Fernando Gasparian, o grande editor e intelectual, então dono da editora Paz e Terra e editor histórico jornal Opinião, sempre dizia que ao concordar em fazer o livro sem o título na capa, fez uma “homenagem à vanguarda” segundo palavras suas. Mas ele sabia que seria difícil vender o livro… E foi. Na reedição, ele colocou o título do livro na capa e aí sim vendeu muito bem como vendiam os livros do Callado. Achei importante relembrar isso para sermos justos com um editor que fez história em nosso país. (Ivan Pinheiro Machado)

A primeira edição do livro de Antonio Callado sem o título na capa

A primeira edição do livro de Antonio Callado sem o título na capa

“Terror cultural”: a perseguição a editores e livreiros na ditadura

O jornal O Globo publicou, em sua edição de sábado, dia 22 de março de 2014, uma matéria sobre a perseguição a editoras e livreiros durante a ditadura militar e cita a apreensão do livro de memórias do general Olympio Mourão Filho, editado pela L&PM e apreendido ainda na gráfica, em 1978:

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Ivan Pinheiro Machado (à esq.) e Paulo Lima, da L&PM, em 1978: livro de Mourão Filho foi apreendido na gráfica

(…)

Fundada justamente em 1974, a L&PM, sediada em Porto Alegre, estreou com um livro que já testava os limites da anunciada abertura política. Era uma coletânea de quadrinhos do personagem Rango, anti-herói miserável criado pelo cartunista Edgar Vasques que ironizava o discurso grandiloquente do “milagre brasileiro”. O livro vendeu 12 mil exemplares em poucos meses e rendeu ao editor Ivan Pinheiro Machado uma visita à delegacia para explicar as piadas com símbolos pátrios.

Assim como outras editoras perseguidas, a casa gaúcha sofria apreensões de livros e tinha crédito negado em bancos (num deles, Ivan ouviu do gerente que “o coronel ligou para cá e disse: L&PM não!”). Mas sobrevivia publicando livros de políticos da oposição, como Paulo Brossard e Pedro Simon, literatura nacional e estrangeira e antologias de humor com autores como Millôr Fernandes, Luis Fernando Verissimo, os irmãos Caruso e Angeli, entre outros. O lançamento mais conturbado foi “A verdade de um revolucionário”, livro de memórias do general Olympio Mourão Filho, um dos artífices do golpe de 1964. Morto em 1972, Mourão deixou uma obra em que dava sua versão dos eventos e criticava figuras proeminentes do regime. O livro foi apreendido ainda na gráfica, em 1978, e só foi publicado no ano seguinte, depois de uma longa disputa judicial.

— Acho que foi a última apreensão de livros da história do Brasil, até chegar o Roberto Carlos… — ironiza Ivan, relembrando o início turbulento da editora, que este ano completa 40 anos. — Éramos jovens e tínhamos um idealismo, uma revolta contra aquela situação. Lembro que o Darcy Ribeiro uma vez me disse: “Mas você é editor, numa época dessas? É por isso que o mundo vai para frente, por causa da insciência da juventude!”

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