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Beijos literários

Ah, o beijo… Como viver, amar e ser feliz sem ele?

É por isso que, hoje, no Dia do Beijo, separamos alguns trechos de pockets da L&PM que homenageiam esse que pode ser o mais puro ou o mais libidinoso dos atos.

Romeu e Julieta, de Shakespeare: “Beijarei teus lábios. Pode ser que ainda encontre neles um pouco de veneno que me faça morrer com este fortificante. (Beija-o)”.

Kama Sutra, Capítulo 3: “Os locais a serem beijados são os seguintes: a fronte, os olhos, as bochechas, a garganta, o colo, os seios, os lábios e o interior da boca. O povo de Lat também beija os seguintes locais: os quadris, os braços e o umbigo”.

 Drácula, de Bram Stoker: “Mas, logo após, voltou a abrir os olhos com toda aquela doce ternura de outrora. E desembaraçando aos poucos sua pobre, frágil e descorada mão, estendeu-a ao encontro da morena destra de Van Helsing. Este tomou-a entre seus robustos dedos, acariciou-a e beijou-a, na mais comovente das sublimações”.

Para sempre ou nunca mais, de Raymond Chandler: “Eu te odeio – ela disse, a boca contra a minha. – Não por isso, mas porque a perfeição nunca vem sem um intervalo e no nosso caso ela veio logo em seguida. E não quero nem vou voltar a vê-lo. Terá que ser para sempre ou nunca mais”.

Pulp, de Charles Bukowski: “Nós nos abraçamos e juntamos as bocas. A língua dela enfiara-se em minha boca, quente, mexendo-se como uma pequena serpente”.

Trecho de Elegia [de Marienbad] de Trilogia da Paixão, de Goethe: “Como por mim à porta ela aguardava / E felizardo aos poucos me fazia, / Após o último beijo me alcançava  / E ainda mais um dos lábios imprimia, / Assim, movente e clara, a efígie amada / No coração a fogo está gravada”.

Trecho de Versos Íntimos, de Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos: “Toma um fósforo. Acende teu cigarro! / O beijo, amigo, é a véspera do escarro, / A mão que afaga é a mesma que apedreja. / Se a alguém causa inda pena a tua chaga, / Apedreja essa mão vil que te afaga, / Escarra nessa boca que te beija!”.

O Dia do Beijo é comemorado em duas datas: 6 de julho (Kissing Day) e 13 de abril.

Das necessárias reuniões

* Por Tiago Maino Pinheiro

García Márquez, o Gabo, já pairava ali, ele e alguns outros mais; parecia recordar seus anos de solidão. Dostoiévski, que entre amigos atendia pela alcunha de Dodô, também adentrava sala. Reunião costumeira, cada dia em lugar diverso, reunia célebres de todos os cantos.  Tal qual Machado, o Assis, que chegou logo depois, alegando hora perdida porque mais uma feita o interpelaram pela rua no intento de explicações sobre uma dissimulada Capitu. Hemingway aportou logo em seguida, desculpando atraso fruto dum velho do mar, ou algo do gênero, que o parara a fim de contar algumas aventuras de pescador, histórias sobre certo peixe lutador.
Scliar deu ares em seguida, disse que vinha de outros lados, duma festa de castelo, a qual Eurípedes, que logo também viria ao encontro, bem podia abastecer com vinhos e tudo o mais; pois conhecia, parece, quem plenamente entendia de festeiro e embriagante assunto. Mais tarde, à entrada, junto aos Veríssimos, os quais havia encontrado pelo caminho, e já sabatinando todo mundo sobre qual era a questão, apresentou-se o garboso e eloquente Shakespeare. Dos lusitanos ares, Saramago, quase que ensaiando uma cegueira, tateou porta logo depois.
Já à mesa, Orwell infinitamente explanava sobre seu grande irmão; que espiava ali, olhava acolá, curioso de dar dó. Falando em grande, Fitzgerald mostrava-se saudoso pelo velho amigo Gatsby. Em frente, Huxley, que achou melhor ponderar sobre o vindouro, proferia sobre um admirável e novo mundo, coisa assim. Já Kafka, que se entretia com uma barata que passeava sob a mesa, bem parecia, em verdade, ter quase indecifráveis lembranças. O bichinho logo alumiou também Orwell, que de imediato trocou o assunto do irmão para o de uma fazenda que tinha bichos falantes e revolucionários; fato que despertou ainda a memória de Lewis Carroll, que logo relatou duma menina que falava com coelhos e coisas mais. Drummond, em cadeira de balanço, só observava. À porta, relatando a odisseia que passara para chegar ali, Homero também dava as caras.
Como se de caravana tivessem vindo, em discussões fartamente animadas, outros tantos de repente também adentraram local; vinham ali Clarice, Millôr, Chico, Rachel, Nelson, Vinícius, João do Rio, Alencar, Quintana, Ubaldo, Lygia, Prata. Gente boa que não findava mais. Quanto mais as figuras se aproximavam, maior vontade surgia de se chamar mais e mais convivas para aquela festa de sublimes inventores; encontro de perenes contadores da vida, os quais, sem pestanejar, faziam boa questão de abertamente deixar suas histórias contagiarem o mundo.  Júbilo inebriante. Tal reunião era sempre benquista, tanto que, já de conhecida ciência, sucedia sempre em lugares diferentes; lugares que, aliás, de forma bastante frequente, também atendiam, ou melhor, se entendiam como afortunadas e bem variadas mentes.

* Tiago Maino Pinheiro é pós-graduando em Jornalismo Digital e graduado em Letras. É autor do blog www.dascronicas.blogspot.com