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O monumento chamado Comédia Humana


“Aprendi mais sobre a sociedade francesa na Comédia Humana (…) do que em todos os livros de economistas, historiadores e estatísticos da época, todos juntos” (F. Engels em carta a Karl Marx)

“Saúda-me, pois estou seriamente na iminência de tornar-me um gênio”.

Esta mensagem pouco modesta foi enviada por Balzac à sua irmã Laure quando “caiu a ficha” de que ele estava criando um grande projeto literário. A chave de tudo foi conceber um mundo onde os personagens perambulariam por diferentes romances. Ou seja, o protagonista de uma história faria uma “ponta” em outra e, conforme a cronologia, esse mesmo personagem apareceria mais jovem num livro e mais velho em outro. Assim, Balzac criou uma grande galeria para pintar um retrato preciso do mundo e da época em que viveu.

Este era o seu objetivo e aí estava a causa de sua euforia. O escritor francês tinha a convicção de que, no final, o conjunto da sua obra seria um verdadeiro “estudo sociológico”, servindo de ferramenta para os pesquisadores “do futuro” saberem exatamente como eram as pessoas e como era o mundo daquela época. Do ponto de vista da técnica narrativa, esta ida e vinda de personagens é a chave que torna a Comédia Humana fascinante. Fatos ocorridos em um livro são citados em outro que, teoricamente, nada tem a ver com o primeiro. Quando um novo personagem entra num romance, frequentemente estabelece relações de parentesco com outros personagens já citados em histórias anteriores. Enfim, a Comédia é uma verdadeira comunidade com aproximadamente 2.500 personagens que circulam e se entrelaçam por 90 romances diferentes. Há o banqueiro oficial que atua em dezenas de histórias, o poderoso Barão de Nuncingen (inspirado no barão de Rotschild) e o agiota que é sempre o avarento Gobscek. Os médicos que atendem aos doentes da Comédia são invariavelmente o jovem Bianchon e o experiente Dr. Desplein. Os “playboys”, ou melhor, os “dândis” nunca deixam de ser Henry de Marsay, Rastignac e Vandenesse, entre outros tantos canalhas fascinantes. E também há os tabeliões, os militares, enfim, são muitos os personagens que às vezes aparecem somente numa festa, num baile ou numa tarde de domingo nas Tulherias. Porém, mais importante do que tudo e todos são as mulheres de Balzac. Mas isto fica para outro post.

Leia também:
Por que ler Balzac
Balzac: a volta ao Brasil mais de 20 anos depois

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Por que ler Balzac


Por Ivan Pinheiro Machado

Você tem muitas razões para ler Balzac.

Em primeiro lugar, é fácil ler Balzac, afinal, ele é considerado não só o inventor do romance moderno, mas um dos maiores romancistas de todos os tempos. Sua COMÉDIA HUMANA é composta de 89 histórias, algumas das quais verdadeiras celebridades, como A mulher de 30 anos, Ilusões perdidas, O Pai Goriot, Eugénie Grandet, O lírio do vale, entre tantas outras.

Mas o que é importante para o leitor é que Honoré de Balzac escreveu histórias fascinantes. Pintou Paris com palavras como poucos pintores conseguiram com suas tintas. Seus personagens são tão vivos que parecem prontos a se materializar na nossa frente. Poucos escritores entenderam tão bem a alma feminina. Poucos souberam descrever paixões tão avassaladoras como as que encontramos em seus livros. Dinheiro, poder, sedução, paixão e intriga; a grandeza e a miséria da condição humana. Junte a isso o estilo impecável, delicioso e o humor sem precedentes na literatura da sua época. E mais uma coisa: muitos dos principais personagens deste monumental conjunto de histórias transitam por vários romances em histórias diferentes. Esta foi uma das grandes sacadas de Balzac. Personagens que vão e vem e acabam se tornando velhos conhecidos do leitor da Comédia.

Você precisa ler Honoré de Balzac para conhecer o encantamento que a grande literatura é capaz de proporcionar. E então vai entender porque Balzac é – e sempre será – Balzac.

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Balzac: a volta ao Brasil mais de 20 anos depois


Esta é a primeira parte de uma série de posts sobre Balzac, autor genial e contraditório, cuja imaginação prodigiosa concebeu a Comédia Humana, um dos maiores monumentos da literatura mundial de todas a épocas.

Por Ivan Pinheiro Machado

Honoré de Balzac nasceu em Tours, França, em 1799 e morreu em Paris em1850. Escreveu quase 200 histórias e ensaios nos quais, em pouco mais da metade, colocou seu próprio nome. O restante foram livros de iniciação ou obras escritas meramente para ganhar a vida. Ele achava que o mundo não merecia seu nome e por isso assinava com pseudônimos variados.

Balzac reuniu 90% da sua obra reconhecida sob o nome geral de Comédia Humana, numa clara paródia à “Divina Comédia” de Dante Alighieri. Obra monumental ­ –composta de 89 histórias –, a Comédia Humana ainda é muito pouco conhecida no Brasil. Na década de 40 e 50, foi publicada na íntegra pela Editora Globo de Porto Alegre sob a supervisão geral de Paulo Ronai. Depois disso, foi reeditada apenas na década de 80. A edição brasileira tinha 17 volumes que incluía as 89 histórias longas, médias e curtas escritas por Balzac e divididas em 3 partes: ESTUDOS DE COSTUMES que se subdivide em Cenas da Vida Privada, Cenas da Vida Provinciana, Cenas da Vida Parisiense, Cenas da Vida Política, Cenas da Vida Militar e Cenas da Vida Rural, ESTUDOS FILOSÓFICOS e ESTUDOS ANALÍTICOS.

Esgotada ainda na década de 80, A Comédia Humana esteve quase 30 anos fora das livrarias. No começo da década de 2000, a L&PM Editores começou a por em prática seu projeto de reeditar Balzac em traduções modernas e de alta qualidade. Abraçamos a responsabilidade de trazer, se não toda, pelo menos o principal desta grande obra. Os primeiros volumes saíram em 2006 na coleção L&PM POCKET. De lá para cá, já lançamos 17 de seus principais romances em 14 volumes e deveremos lançar nos próximos dois anos mais 15 histórias. Aqui neste blog faremos uma série de posts sobre Balzac, para dar aos leitores uma idéia geral deste autor genial, contraditório, cuja imaginação prodigiosa concebeu a Comédia Humana, um dos maiores monumentos da literatura mundial de todas a épocas.

Volumes lançados na coleção L&PM POCKET:

Ascensão e queda de César Birotteau – Trad. Herculano Villas-Boas
O coronel Chabert seguido de A mulher abandonada – Trad. Paulo Neves e Rubem Mauro Machado
A duquesa de Langeais – Trad. Paulo Neves
Esplendores e misérias das cortesãs – Trad. Ilana Heineberg
Estudos de mulher (Estudo de mulher seguido de Outro estudo de mulher) – Trad. Rubem Mauro Machado e Ilana Heineberg
Eugénie Grandet – Trad. Ivone C. Benedetti
Ferragus – Trad. William Lagos
Ilusões perdidas – Trad. Ivone C. Benedetti
O lírio do vale – Trad. Rosa Freire d’ Aguiar
A menina dos olhos de ouro – Trad. Ilana Heineberg
A mulher de trinta anos – Trad. Paulo Neves
O pai Goriot – Trad. Celina Portocarrero e Ilana Heineberg
A pele de onagro – Trad. Paulo Neves
A vendeta seguido de A paz conjugal – Trad. William Lagos
Como fazer a guerra: máximas e pensamentos de Napoleão – Trad. Paulo Neves

Edição convencional (formato 23 x 16 cm, acabamento luxo):

História dos treze (Incluindo Ferragus, A duquesa de Langeais e A menina dos olhos de ouro) – Trad. William Lagos, Paulo Neves e Ilana Heineberg

Sobre Balzac:

BalzacFrançois Taillandier (Série BIOGRAFIAS L&PM POCKET) – Trad. Ilana Heineberg

CLIQUE AQUI PARA LER A PARTE II DESTA SÉRIE.