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Os fantasmas de Van Gogh e os fantasmas de Dickens

Em agosto de 1877, Vicent Van Gogh era um jovem estudante em Amsterdam. Nessa época, escreveu, em provável tom de brincadeira, ao irmão Theo: “Esta manhã, o meu pequeno-almoço foi um bocado de pão duro e um copo de cerveja – isto é o que Dickens aconselha para aqueles que estão à beira de cometer suicídio como uma boa forma de mantê-los, pelo menos durante algum tempo, longe dos seus propósitos.” Doze anos depois, enquanto preparava as malas para partir rumo ao hospital psiquiátrico de Saint-Rémy-de-Provence, Van Gogh mais uma vez lembrou o conselho de Dickens e escreveu à sua irmã Wil: “Todos os dias, tomo o remédio que o incomparável Dickens prescreve contra o suicídio. Consiste num copo de vinho, um bocado de pão com queijo e um cachimbo de tabaco. Você dirá que tal não é complicado e dificilmente conseguirá acreditar que isto é o limite a que a melancolia me leva; sempre o mesmo, em alguns momentos – valha-me Deus.” Na verdade, Van Gogh parece ter adaptado o remédio de Dickens ao seu gosto, já que, na realidade, o “incomparável” não fala em pão, e muito menos em queijo, ao terminar o conto “O Barão de Grogzwig”: “O conselho que dou a todos os homens é que, se um dia ficarem deprimidos e sorumbáticos por motivos semelhantes (como ocorrem a muitos), que examinem os dois lados da questão, usando uma lupa no melhor lado; se, ainda assim, sentirem-se tentados a retirar-se sem licença, que antes fumem um cachimbo bem grande, bebam uma garrafa inteira e mirem-se no louvável exemplo do barão de Grogzwig.”

“O Barão de Grogzwig” é um dos treze contos que está no livro Histórias de fantasmas, de Charles Dickens, publicado na Coleção L&PM POCKET.