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40 anos depois, a morte de Pablo Neruda ainda desperta suspeitas

Há que supeite que a morte do poeta chileno Pablo Neruda foi encomendada. Ocorrida há exatos 40 anos, em 23 de setembro de 1973, Neruda faleceu duas semanas depois do golpe militar que derrubou o governo socialista de Salvador Allende e colocou o general Augusto Pinochet no poder.

Ao morrer, o escritor estava internado na Clínica Santa Maria, em Santiago, capital chilena, onde tratava um câncer de próstata. Mas segundo uma denúncia feita pelo motorista e secretário de Neruda, Manuel Araya, seu patrão teria sido envenenado no hospital pelos homens de Pinochet. Foi a partir da acusação feita por Araya, o corpo do poeta foi exumado em março deste ano. Os resultados das investigações sobre as causas da morte – que estão sendo feitas nos Estados Unidos e na Espanha – devem ficar prontos no próximo mês.

A morte de Pablo Neruda ocorreu em 23 de se 1973. Seu funeral reuniu uma multidão no Chile

A morte de Pablo Neruda ocorreu em 23 de se 1973. Seu funeral reuniu uma multidão no Chile

De que morreu Pablo Neruda?

Jornal da época noticia a morte de Pablo Neruda

Em 23 de setembro de 1973, há exatos 38 anos, Pablo Neruda morria aos 69 anos. Em seu livro Paula, Isabel Allende defende que o grande poeta teria morrido de “tristeza”, poucos dias depois do golpe militar de Augusto Pinochet ter derrubado o governo de Salvador Allende. Mesmo assim (e mesmo ele estando doente), há os que acreditam que Neruda teria sido assassinado pela ditadura de Pinochet. Essa teoria ganhou força em junho de 2011, quando o Ministério Público chileno incluiu seu nome em uma lista de 726 pedidos de investigação sobre mortes em circunstância duvidosas. O resultado das investigações que estão em andamento promete ajudar a reescrever a história recente do Chile, marcada por uma das ditaduras mais violentas que a América Latina testemunhou.

Pablo Neruda é considerado um dos mais importantes poetas de língua espanhola do século 20 e durante as eleições presidenciais chilenas nos anos 70, desistiu de sua candidatura para que Salvador Allende vencesse. No livro Últimos poemas (O mar e os sinos), a voz de Neruda se levanta pela última vez, cheia de nostalgia e melancolia, mas ao mesmo tempo reafirmando a fé na palavra. Este livro derradeiro foi concluído em seu leito de morte e sua primeira edição saiu pela L&PM Editores em 1983. Atualmente, o livro em edição bilingue faz parte da coleção pocket.

Perdão se pelos meus olhos não chegou
mais claridade que a espuma marinha,
perdão porque meu espaço
se estende sem amparo
e não termina:
– monótono é meu canto,
minha palavra é um pássaro sombrio,
fauna de pedra e mar, o desconsolo
de um planeta invernal, incorruptível.
Perdão por esta sucessão de água,
da rocha, a espuma, o delírio da maré
– assim é minha solidão –
saltos bruscos de sal contra os muros
de meu ser secreto, de tal maneira
que eu sou uma parte do inverno,
da mesma extensão que se repete
de sino em sino em tantas ondas
e de um silêncio como cabeleira,
silêncio de alga, canto submergido.

(Versos de “Últimos poemas”, de Pablo Neruda)