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Os registros “esgotados” da ditadura

Há exatos 47 anos, tropas de Minas Gerais e de São Paulo saíram às ruas. Era 31 de março de 1964. Dias antes, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, organizada pelos setores conservadores da sociedade, pedia o afastamento do então presidente João Goulart, que sucumbiu à pressão política e social e refugiou-se no Uruguai. No mesmo dia os militares tomaram o poder, e a ditadura brasileira que duraria 20 anos dava o primeiro passo.

A L&PM Editores foi criada neste período, em 1974. E vamos combinar: fazer livros não era uma atividade bem vista pelo regime… Apesar disso, a produção intelectual era intensa e diversas obras célebres foram publicadas nesta época, como o livro 1964: Golpe ou Contragolpe, de Hélio Silva, que narra em detalhes os acontecimentos políticos e sociais do dia 31 de março de 1964. Um registro precioso em páginas já amareladas, que já não se encontra nas livrarias. Recuperamos este trecho do nosso arquivo e compartilhamos aqui:

Outra saída encontrada para resistir ao regime foi o humor. E nisso, Millôr Fernandes foi mestre e o é até hoje. A peça Bons tempos, hein?! (cujo livro também está fora de circulação há algum tempo), publicada pela L&PM em 1979, faz um resumo dos últimos 15 anos, começando pelo fatídico 1964:

As tirinhas antológicas do Rango, personagem criado pelo cartunista Edgar Vasques em 1970, foram publicadas pela L&PM em sete volumes, entre 1974 e 1981 (todos esgotados). Recuperamos algumas páginas do volume 1 para compartilhar aqui com vocês:

Em 2005, quando completou 35 anos, Rango ganhou uma edição comemorativa em versão pocket. Esta sim pode ser encontrada nas livrarias 🙂

Dois dias em 31 de março

Dois fatos me marcaram neste dia.

O primeiro. 31 de março de 1964. Eu tinha 11 anos. Meio-dia. Como todos os dias, eu e meu irmão esperávamos meu pai vir nos buscar no Colégio de Aplicação, na Avenida Oswaldo Aranha em Porto Alegre. Como sempre, corremos rumo ao Aero Willys bordeau e branco que aproximava-se lentamente. Mas quem dirigia era um tio nosso. “Cadê o pai?”, perguntamos. “Ele foi preso”, disse secamente meu tio. Logo adiante, a rua José Bonifácio, onde ficava (e ainda fica) o Colégio Militar, estava interditada. Os tanques começavam a invadir as ruas.

O outro, aconteceu exatamente 22 anos depois. A Ditadura já tinha terminado. Eu me lembro do médico entrando no quarto e dizendo: “a sua filha nasceu e passa muito bem”. (Ivan Pinheiro Machado)