Claudio Willer homenageia o amigo Roberto Piva

Por Claudio Willer

Desde sábado passado, dia 3 de julho, quando Roberto Piva faleceu (este depoimento é escrito 48 horas depois), já recebi bons poemas dedicados a ele, além de algumas belas crônicas. Mesmo antes, teria sido possível preparar uma edição de poemas nos quais ele está presente em títulos, citações, epígrafes, alusões e homenagens. Também importante, penso, é uma ensaística recente, incluindo teses e dissertações, lançando novas luzes sobre sua contribuição. Acabei de receber o convite para a defesa da dissertação de mestrado de Danilo Monteiro, na USP, Teatralidade da palavra poética em Paranoia de Roberto Piva, nesta terça-feira, dia 6 de julho. Em breve, será apresentada, também na USP, outra dissertação sobre ele, do talentoso poeta Fabrício Clemente. Ano passado, fui banca da tese de doutorado de Gláucia Pimentel, Ataques e utopias: Espaço e Corpo na obra de Roberto Piva, na UFSC; e de outra dissertação de mestrado, Roberto Piva, Panfletário do Caos de Bruno Eduardo da Rocha Brito, na UFP.
Tudo isso mostra que Piva, hoje, é um poeta não apenas lido, porém estudado e escrito; um intertexto. Assim são recuperadas as quase quatro décadas de atraso na boa recepção de seu livro de estréia, Paranóia. Como já observei ao dizer, por sugestão dos demais amigos presentes, algumas palavras na breve cerimônia de sua cremação, deixa um legado enorme. Dele fazem parte a renovação da poesia brasileira; e uma ética particular, que ele seguiu rigorosamente, pela conduta sempre coerente com sua rebelião. Permanece, igualmente, a contribuição como fonte de informações e indicações de leitura. Já escrevi a respeito no posfácio do volume 1 de sua Obra Reunida (Globo, 2005) e no capítulo final do meu recente Geração Beat (L&PM, 2005), registrando a ocasião em que ele apareceu em minha casa em 1961, com a pilha de edições beat da City Lights, de Ginsberg, Ferlinghetti, Corso, Lamantia etc, que nos pusemos imediatamente a traduzir. E pretendo voltar ao assunto: há inúmeros outros episódios como esse, de indicações de leitura, sempre em tom entusiástico e com uma precisão certeira, pois acabariam sendo decisivas  para mim e para outros de seus amigos (e para seus leitores atentos: não economizou citações e indicações de autores no aparente delírio de seus poemas).
E permanecem as amizades. Piva era seletivo, reservado, até idiossincrático em seus relacionamentos; ao mesmo tempo, foi um agregador e catalisador. Gostava de apresentar pessoas nas quais via qualidades. Do meu círculo de amizades, quantas não se formaram, direta ou indiretamente, através dele. Seu último livro de poesia, Estranhos Sinais de Saturno, é, entre outras coisas, um hino à amizade. Todas aquelas dedicatórias aos amigos, àqueles a quem apreciava, formam um mapa, desenham uma constelação afetiva.
Piva se foi. Mas, por todas essas razões, estará cada vez mais presente.

Veja no site uma nota sobre o falecimento de Piva e a transcrição de uma de suas poesias.

4 ideias sobre “Claudio Willer homenageia o amigo Roberto Piva

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