Arquivo mensais:julho 2013

Jango chegou

Jango vai morrer.
Todos os dias, ele espera. Contempla um ponto no horizonte, que pode ser o Brasil, e espera pacientemente. Espera algo que o fará reviver, ressuscitar, explodir. Talvez isso se reflita, sem que ninguém note, na sua maneira de contemplar as nuvens, como se no seu olhar uma sombra espessa tomasse o lugar de imagens movediças, ou na gota de suor que se imobiliza na sua testa ampla quando sai do sol e encosta a mão na casca rugosa de uma árvore de sombra generosa. Quem pode observar aquilo que não se dá a ver antes de não poder mais ser visto? Ou haverá coisas que só podem ser vistas depois que já se extinguiram, deixando rastros esparsos no ar pesado?

Assim começa Jango – A vida e a morte no exílio, o livro de Juremir Machado da Silva que acaba de chegar. São 376 páginas que contam – em ritmo de novela policial – como foram construídos, com ajuda da mídia, o imaginário favorável ao golpe e as narrativas sobre as suspeitas de assassinato do presidente deposto em 1964. Juremir tinha a ideia de narrar os últimos anos do ex-presidente no exílio, mas ao iniciar suas pesquisas, logo descobriu que mais importante do que a vida, era a morte de Jango.

Jango em 1964, no primeiro ano do exílio, aqui sendo fotografado pela esposa, Maria Thereza

Jango em 1964, no primeiro ano do exílio, aqui sendo fotografado pela esposa, Maria Thereza

Jango fotografado para a Revista Life, durante o exílio no Uruguai

Jango fotografado para a Revista Life, durante o exílio no Uruguai

Jango fuma e lê, do outro lado da fronteira, sem poder voltar ao Brasil

Em 1967, Jango fuma e lê, do outro lado da fronteira, sem poder voltar ao Brasil

Matéria feita pelo Jornal do Brasil, enquanto Jango estava no exílio

Matéria feita pelo Jornal do Brasil, enquanto Jango estava no exílio

Jango era monitorado pelos militares, através da Operação Condor. Ele é o número 3

Jango foi monitorado pelos militares, nos anos que ficou no exílio, através da Operação Condor. Ele é o número 3.

Anarquistas, graças a Bakunin

Bakunin é considerado o mais brilhante entre todos os anarquistas.  Nascido em 30 de maio de 1814, morreu em 01 de julho de 1876. Nos seus 62 anos de vida, tornou-se um revolucionário e participou de rebeliões em Paris, Praga e Dresden. Levado para prisões na Saxônia, na Áustria e na Sibéria, fugiu para os Estados Unidos e Europa. Depois de fundar uma organização política secreta chamada a Aliança da Social Democracia, juntou-se à Internacional em 1868 e liderou a corrente que se opunha a Marx. Expulso da Internacional, fundou uma organização independente, a Internacional St. Imier. Escreveu muitos textos expondo suas convicções. Em Textos Anarquistas (Coleção L&PM Pocket) ele fala, principalmente, sobre a liberdade:

“O homem isolado não pode ter a consciência de sua liberdade. Ser livre, para o homem, significa ser reconhecido, considerado e tratado como tal por um outro homem, por todos os homens que o circundam. A liberdade não é, pois, um fato de isolamento, mas de reflexão mútua, não de exclusão, mas de ligação. (…) Só posso considerar-me e sentir-me livre na presença e em relação a outros homens.”

Nas páginas iniciais de Textos Anarquistas, há um prefácio sobre Bakunin, assinado pelo também anarquista e membro do movimento anarco-sindicalista, James Guillaume. O texto de Guillaume  termina assim:  “(…) Bakunin era, em 1875, apenas uma sombra dele mesmo. Em junho de 1876, na esperança de encontrar algum conforto para seus males, deixou Lucarno para ir a Berna, onde chegou no dia 14 de junho. Disse a seu amigo, doutor Adolf Vogt: ‘Venho aqui para que me cures ou para morrer’. (…) Espirou no dia 1º de julho, ao meio-dia.”

Bakunin em foto de Félix Nadar

Bakunin em foto de Félix Nadar