Arquivo mensais:março 2011

17. “Quando Brad Pitt fez o meu papel…”

*Por Ivan Pinheiro Machado

Heinrich Harrer estava muito à vontade naquele belo salão no Frankfurter Hoff, melhor hotel de Frankfurt e um dos mais aristocráticos da Alemanha. Na Feira Internacional do Livro de Frankfurt de 1999, ele curtia o incrível êxito internacional do seu livro “Sete anos no Tibet”, publicado com sucesso há mais de 45 anos e que acabara de ser subitamente re-catapultado à categoria de best-seller graças à  badalação em torno do recém-lançado filme de Jean-Jacques Annaud. Seu agente, Paul Marsh, falecido em 2009, organizara um coquetel convidando os editores dos quase 80 países que publicavam o livro (foi traduzido em 53 idiomas e, em 1954, quando lançado nos Estados Unidos foi best-seller com mais de 3 milhões de livros vendidos). Eu estava lá como editor brasileiro de Harrer. Ele tinha recém completado seus 86 anos e conversava individualmente com todos os editores presentes no coquetel. Quando chegou a minha vez, ele foi especialmente simpático ao saber que eu era brasileiro. Fez várias perguntas a respeito da realidade do país e me contou rapidamente a incrível aventura que ele viveu na Amazônia. Mr. Harrer decididamente não gostava de uma vida pacata. Depois de fugir de uma prisão na Índia, de atravessar o Himalaia a pé e passar sete anos no Tibet, decidiu explorar a  misteriosa Amazônia. Foi no ano de 1957 e, acompanhado de seu amigo, o príncipe Leopoldo III da Bélgica, subiu de barco o rio Amazonas até próximo de sua nascente no Peru. A aventura durou sete meses e ele pegou uma malária que, segundo disse “me acompanha até hoje”. Mais que a aventura amazonense de Mr. Harrer,  marcou-me uma frase sua a respeito do filme: “O Brad Pitt fez muito bem o meu papel. Não reclamo. A única restrição é que ele está muito sério e eu era mais expansivo…” Que tal?

Cena do filme “Sete anos no Tibet”

Pra quem já esqueceu, Harrer/Brad Pitt era alemão e chegou ao Tibet fugido de um campo de prisioneiros inglês na Índia em 1945. Lá, ele conheceu o jovem 14º Dalai Lama de quem foi durante sete anos uma espécie de tutor, ensinando línguas, geografia e relações com o Ocidente. O livro e o filme contam a estadia tibetana de Harrer encarnado por Brad Pitt. Dalai Lama está vivo (e bem vivo) defendendo a causa da independência tibetana. Heinrich Harrer foi também um grande defensor da causa e morreu em 2006 aos 93 anos na Áustria.

Harrer e o Dalai Lama

Na década de 1940, Heinrich Harrer foi um dos grandes esportistas alemães, atleta olímpico em esportes de inverno e alpinista famoso, tendo escalado grandes montanhas no Alasca, nos Andes, na África, Nova Guiné, Europa e Ásia. Seu nome, como esportista, chegou a ser explorado na propaganda do regime de Adolph Hitler. Mais tarde, ele reconheceu que cometera um grande erro, permitindo que associassem o seu nome ao nazismo e, logo após a guerra, Harrer reconheceu o mal que Hitler causou ao mundo.

Para ler o próximo post da série “Era uma vez uma editora…” clique aqui.

O Rio de Janeiro de Machado continua lindo…

O Rio de Janeiro de Machado de Assis era um Rio de Janeiro de laudes, horas canônicas e vestidos de musselina. Um Rio de Janeiro de modinhas, passeios públicos, patacões e contos de réis. O Rio de Janeiro de Machado de Assis era um Rio de Janeiro embalado nas melodias dos cabriolés, paquetes, cupês e faetons.  

Para quem não conseguiu entender 100 por cento do palavreado antiquado (mas na nossa opinião carregado de lirismo), basta dar uma folheada nas primeiras páginas de Casa velha, livro de Machado de Assis que acaba de chegar à Coleção L&PM POCKET. Assim como em Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Esaú e Jacó, Helena, A mão e a luva e Memorial de Aires, a edição de Casa Velha da L&PM vem acompanhada de um panorama da vida cotidiana do Rio de Janeiro machadiano e de um glossário das palavras e expressões usadas na época. E o diferencial não para por aí. O escritor, doutor em literatura e especialista em Machado, Luis Augusto Fischer, incluiu ainda nestes livros uma biografia do autor e uma completa cronologia. 

Casa velha nasceu como um conjunto de 25 episódios publicados entre 1885 e 1886 na revista carioca A Estação e conta a polêmica história de um amor incestuoso a partir das lembranças de um padre que faz um balanço das perdas e ganhos dessa paixão. 

Machado de Assis, de cartola, em uma das ruas do centro do Rio de Janeiro