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O Santo Antônio de Fernando Pessoa

Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888, às 15h20min, no Largo de São Carlos e Lisboa. Era Dia de Santo Antônio e, coincidência ou não, sua mãe escolheu uma alcunha bem parecida com o nome original do santo: Antônio Fernando de Bulhões. No site português MultiPessoa, que divulga a obra do escritor e oferece material didático e de pesquisa, há um poema chamado “Santo Antonio”. Segundo consta, este é um dos poemas que estava dentro da arca em que Pessoa guardava a produção literária que ainda não havia saído em livro.

O pequeno Fernando Pessoa no colo da mãe, Maria Magdalena

SANTO ANTÓNIO

Nasci exactamente no teu dia —
Treze de Junho, quente de alegria,
Citadino, bucólico e humano,
Onde até esses cravos de papel
Que têm uma bandeira em pé quebrado
Sabem rir…
Santo dia profano
Cuja luz sabe a mel
Sobre o chão de bom vinho derramado!

Santo António, és portanto
O meu santo,
Se bem que nunca me pegasses
Teu franciscano sentir,
Católico, apostólico e romano.

(Reflecti.
Os cravos de papel creio que são
Mais propriamente, aqui,
Do dia de S. João…
Mas não vou escangalhar o que escrevi.
Que tem um poeta com a precisão?)

Adiante … Ia eu dizendo, Santo António,
Que tu és o meu santo sem o ser.
Por isso o és a valer,
Que é essa a santidade boa,
A que fugiu deveras ao demónio.
És o santo das raparigas,
És o santo de Lisboa,
És o santo do povo.
Tens uma auréola de cantigas,
E então
Quanto ao teu coração —
Está sempre aberto lá o vinho novo.

Dizem que foste um pregador insigne,
Um austero, mas de alma ardente e ansiosa,
Etcetera…
Mas qual de nós vai tomar isso à letra?
Que de hoje em diante quem o diz se digne
Deixar de dizer isso ou qualquer outra coisa.

Qual santo! Olham a árvore a olho nu
E não a vêem, de olhar só os ramos.
Chama-se a isto ser doutor
Ou investigador.

Qual Santo António! Tu és tu.
Tu és tu como nós te figuramos.

Valem mais que os sermões que deveras pregaste
As bilhas que talvez não concertaste.
Mais que a tua longínqua santidade
Que até já o Diabo perdoou,
Mais que o que houvesse, se houve, de verdade
No que — aos peixes ou não — a tua voz pregou,
Vale este sol das gerações antigas
Que acorda em nós ainda as semelhanças
Com quando a vida era só vida e instinto,
As cantigas,
Os rapazes e as raparigas,
As danças
E o vinho tinto.

Nós somos todos quem nos faz a história.
Nós somos todos quem nos quer o povo.
O verdadeiro título de glória,
Que nada em nossa vida dá ou traz
É haver sido tais quando aqui andámos,
Bons, justos, naturais em singeleza,
Que os descendentes dos que nós amámos
Nos promovem a outros, como faz
Com a imaginação que há na certeza,
O amante a quem ama,
E o faz um velho amante sempre novo.
Assim o povo fez contigo
Nunca foi teu devoto: é teu amigo,
Ó eterno rapaz.

(Qual santo nem santeza!
Deita-te noutra cama!)
Santos, bem santos, nunca têm beleza.
Deus fez de ti um santo ou foi o Papa? …
Tira lá essa capa!
Deus fez-te santo! O Diabo, que é mais rico
Em fantasia, promoveu-te a manjerico.

És o que és para nós. O que tu foste
Em tua vida real, por mal ou bem,
Que coisas, ou não coisas se te devem
Com isso a estéril multidão arraste
Na nora de uns burros que puxam, quando escrevem,
Essa prolixa nulidade, a que se chama história,
Que foste tu, ou foi alguém,
Só Deus o sabe, e mais ninguém.

És pois quem nós queremos, és tal qual
O teu retrato, como está aqui,
Neste bilhete postal.
E parece-me até que já te vi.

És este, e este és tu, e o povo é teu —
O povo que não sabe onde é o céu,
E nesta hora em que vai alta a lua
Num plácido e legítimo recorte,
Atira risos naturais à morte,
E cheio de um prazer que mal é seu,
Em canteiros que andam enche a rua.

Sê sempre assim, nosso pagão encanto,
Sê sempre assim!
Deixa lá Roma entregue à intriga e ao latim,
Esquece a doutrina e os sermões.
De mal, nem tu nem nós merecíamos tanto.
Foste Fernando de Bulhões,
Foste Frei António —
Isso sim.
Porque demónio
É que foram pregar contigo em santo?

Na Coleção L&PM Pocket, há a série Fernando Pessoa, com sete livros do mestre português.

Por que você não casou… ainda?

Hoje é dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro. Dia em que muitas mulheres ficam se perguntando “Afinal, por que eu não casei ainda?”. Aproveitando a deixa, vale lembrar que vem aí um livro que tenta justamente responder essa pergunta às solteiras de plantão. Escrito pela norte-americana Tracy McMillan, a ideia do livro Why You´re not married… yet (Por que você não casou… ainda) nasceu quando Tracy, que é uma conhecida roteirista de TV, escreveu uma crônica bem humorada no Huffing Post em que ironizava o fato de que uma mulher que nunca quis casar, de repente se via diante de um sentimento jamais experimentado antes, fruto de, quem sabe, uma ruptura, o casamento de um irmão, um convite para ser dama de honra. Então, sem mais nem menos “você começa a odiar a noiva (…) pela primeira vez você começa a ter sentimentos sobre o fato de não estar casada. Você nunca se importou com isso antes. Mas, de repente (foi tão de repente), você se pergunta… Respira fundo, fundo… Por que você não é casada.”. Tracy listava em seu texto motivos para isso. Todos muito divertidos, mas que provavelmente têm um fundo de verdade. O artigo fez tanto, mas tanto sucesso (foi o mais acessado do Huffing Post) que isso a motivou a escrever o livro que a L&PM vai lançar no segundo semestre de 2012. Se Santo Antônio não ajudar, dá pra levar fé neste livro. Quem sabe ele não ajuda?