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Uma história cultural do século XX

Paris Boêmia, Paris Libertária e Paris Ocupada, que têm como subtítulo “Os aventureiros da arte moderna”, é um dos mais importantes trabalhos publicados sobre a história política e cultural da primeira metade do século XX.

Ele demonstra como pintores, escultores, coreógrafos, teatrólogos, cineastas, filósofos, poetas, romancistas e músicos enfrentaram a tradição e lançaram as bases da nova arte, revolucionaram o pensamento e encararam os grandes desafios do novo século. Juntos, os três volumes somam quase 1.500 páginas onde Dan Frank parte de Paris para mapear meio século de revoluções artísticas e luta política.

Nesta trilogia de grande fôlego encontramos a história e os protagonistas de todas as correntes importantes que revolucionaram a arte moderna; as ideias e os intelectuais que deram origem e militaram em movimentos políticos como nazismo, fascismo, anarquismo, socialismo e, finalmente, a formidável resistência na Segunda Grande Guerra, onde os intelectuais e os artistas combateram o fascismo lado a lado com o povo e os soldados.

Entremeados com os fatos estão as mulheres, os homens, as anedotas, as curiosidades, tudo escrito num texto claro e saboroso. Modigliani, Alfred Jarry, André Breton, Scott Fitzgerald, Matisse e tantos outros em suas peripécias por Montmartre; Paris ocupada pelos nazistas que invadiam ateliês de pintores como Picasso, perseguiam escritores como Malraux, Gide, Breton; Hemingway, o grande romancista, no front como chefe de brigada combatendo na resistência à Franco na Espanha e na reconquista de Paris. O legendário fotógrafo Robert Capa, o homem que fez as grandes imagens da guerra, Saint Exupéry, o piloto de combate e os intelectuais envolvidos com a revolução russa, a guerra civil na Espanha e o pesadelo nazista. São centenas de histórias e personagens geniais. O resultado é um enorme painel que traduz tudo que se viu, viveu e aprendeu na cidade por onde tudo passou. Num tempo onde todos se entregavam de corpo e alma na missão de transformar o mundo. (Ivan Pinheiro Machado)

PARIS TRIO POCKET

A trilogia de Dan Franck acaba de chegar à Coleção L&PM Pocket.

O dia em que Saint-Exupéry desapareceu

Antoine de Saint-Exupéry não sabia que, mais de cem anos depois de sua morte, seu nome ainda estaria nas listas de livros mais vendidos de todo o mundo. Autor de “O Pequeno Príncipe“, tinha paixão por voar – e não apenas em suas histórias. Aviador profissional, foi piloto na Segunda Guerra Mundial. E, em 31 de julho de 1944, voou para nunca mais voltar. Nunca mais se teve notícias do escritor aviador como mostra este trecho de Paris Ocupada, livro de Dan Franck que é, na verdade, um grande relato sobre a vida intelectual e cultural de Paris sob a ocupação nazista:

Em 31 de julho, voou da Córsega para a quinta missão. Às 8h45, o mecânico o ajudou a baixar o vidro da cabine. Tirou os calços. A aeronave se dirigiu pesadamente para a extremidade da pista, depois alçou voo. Direção: Lyon. Ele deveria voltar ao meio-dia. Ao meio-dia e meia, as equipes de resgate estavam na pista, aguardando um ronco de motor, um rastro de fumaça negra. Ao meio-dia e quarenta e cinco, Antoine de Saint-Exupéry ainda não tinha voltado. Sua presença não era constatada em nenhum radar. À uma hora, seus companheiros pensaram no pior: sabiam que o Lightning não tinha combustível para mais do que cinco horas de voo. Às duas e meia, entenderam que o amigo não voltaria. O avião provavelmente havia desaparecido no Mediterrâneo.

Permaneceu um instante imóvel – conta o Pequeno Príncipe. Não gritou. Caiu de mansinho como cai uma árvore. Nem chegou a fazer barulho, por causa da areia.

Saint Exupery aviador

Saint-Exupéry na Paris Ocupada

A L&PM prepara para este ano o lançamento da trilogia “Paris”, formada pelos livros Paris Boêmia (1900-1930), Paris Libertária (1931-1939) e Paris Ocupada (1940-1044). Escritos por Dan Franck, eles criam um verdadeiro monumento histórico e literário e dão a dimensão exata do que a cidade de Paris representa para o mundo. O primeiro volume a ser lançado foi Paris Ocupada, pois este ano marca os 70 anos do final da Segunda Guerra Mundial. Neste livro, há um capítulo chamado “O Pequeno Príncipe” que narra a participação de Antoine de Saint-Exupéry na guerra. O texto conta como nasceu a ideia de publicar o seu mais famoso livro. Leia alguns trechos deste capítulo:

O Pequeno Príncipe

Em 31 de julho [de 1944], em Drancy, o último comboio de deportados é embarcado para Auschwitz. No mesmo dia, em uma base aérea perto de Bastia, um avião se prepara para decolar. É pilotado por um veterano da Aéropostale, um ás da aviação: Antoine de Saint-Exupéry. O escritor vestiu outra vez o uniforme especial que vai protegê-lo do frio nas alturas. Certificou-se de que os mapas, os livros de anotações, as provisões, os lápis, as moedas estrangeiras (em caso de queda fora das fronteiras) e o revólver estavam no devido lugar, na jaqueta multibolsos sobre a qual vestiu um salva-vidas inflável (em caso de naufrágio). O mecânico ajustou sob o queixo do piloto o microfone que vai conectá-lo à base. Fixou em sua perna um cilindro de oxigênio para emergências. Assim paramentado, Antoine de Saint-Exupéry subiu na carlinga do Lockheed P-38 Lightning norte-americano. Verificou que as câmeras fotográficas colocadas nos paióis estavam funcionando bem. Então fez um sinal para seu mecânico, e os motores roncaram.

(…)

Em certo dia do verão de 1942, Saint-Exupéry almoçava com seu editor norte-americano no café Arnold, local de encontro dos franceses exilados. Na toalha de mesa do restaurante, desenhava mecanicamente um homenzinho com olhos redondos e cabelos desgrenhados. O editor observava o contorno aparecer. Foi quando lhe ocorreu uma ideia:

– Por que não faz um livro com ele? Um livro para crianças?

O homenzinho nascera da pena de Saint-Ex um ano antes. Padecendo de sequelas de inúmeros acidentes, o escritor-aviador havia sido hospitalizado em uma clínica em Los Angeles. O cineasta René Clair o visitara, presenteando-o com um estojo de aquarelas. Esse seria o passe de mágica que daria à luz O Pequeno Príncipe, texto e ilustrações de Antoine de Saint-Exupéry, oitenta milhões de exemplares vendidos no mundo todo.

No começo de 1943, o editor publicou simultaneamente uma versão em inglês e outra em francês. Gallimard publicou o livro em cores em 1946. Por não dispor das aquarelas originais, mandou reproduzir os desenhos do autor por um designer que os copiou a partir da edição norte-americana (apenas em 1999 foi publicada na França a obra abrilhantada com as verdadeiras ilustrações do autor).

Antes da publicação de O Pequeno Príncipe, Saint-Exupéry provavelmente era o escritor francês mais célebre nos Estados Unidos: Terra dos homens (Wind, Sand and Stars) recebeu o National Book Award em 1939, e Piloto de guerra (Flight to Arras) fez enorme sucesso. Essa obra havia sido publicada na França, depois de passar pelo cutelo de Gerhard Heller.

(…)

Quando os aliados desembarcaram no norte da África, Saint-Exupéry decidiu se reaproximar da França. Não suportava mais as peregrinações psicológicas de seus compatriotas de Nova York nem sua própria inércia. A pena já não bastava: precisava lutar. Com o quê? Ainda não sabia. Seu objetivo: reencontrar os companheiros de 1940, aqueles do grupo de reconhecimento 2/33 que ele passou para cumprimentar em Túnis, antes de embarcar para os Estados Unidos.

Em 6 de abril, com quatro meses de atraso, O Pequeno Príncipe era publicado em Nova York, com ilustrações do autor. Saint-Exupéry deu um exemplar a Sylvia Hamilton, uma jovem jornalista com quem dividia algumas de suas noites. Depois buscou um alfaiate capaz de lhe fazer um uniforme sob medida. Por falta de tempo, comprou um nos bastidores do Metropolitan Opera: um uniforme azul-marinho, botões de cobre, dragonas douradas, quepe estranho. Prendeu ao conjunto sua Legião de Honra e sua Cruz de Guerra, cumprimentou os amigos, beijou Consuelo e, em 20 de abril, entrou a bordo de um navio de transporte de tropas, que chegava à Argélia três semanas depois.

Exupery em 1944

Exupéry em 1944

 A L&PM publica  O Pequeno Príncipe em dois formatos com nova tradução de Ivone C. Benedetti.