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O vestido mais famoso do cinema

Digamos que você tivesse uma máquina do tempo. Imagine que, ao entrar nela, fosse possível girar um botão e ir parar em Nova York há exatos 63 anos atrás. Neste caso, você provavelmente seria uma das pessoas que se acotovelaram para ver uma das cenas mais célebres do cinema: a louríssima, glamourosa e vaporosa Marylin Monroe mostrando as pernas enquanto seu vestido branco flutuava junto com os pensamentos daqueles que acompanhavam a gravação de O pecado mora ao lado.

“Na própria noite de chegada, 14 ou 15 de setembro de 1954, a produção planejou filmar no coração de Nova York uma curta cena em que a loura criatura se entrega inocentemente, no espaço de um instante, à volúpia de deixar o vestido se levantar em cima de um bueiro de metrô.” descreve o livro Marilyn Monroe, de Anne Plantagenet, Série Biografias L&PM.

O vestido em questão foi desenhado pelo estilista William Travilla que já havia criado modelos para o filme Os homens preferem as loiras. Travilla, que conhecia como ninguém as preferências da Fox, o estúdio responsável por O pecado mora ao lado, criou um vestido cujo tecido teria que ser tão leve a ponto de ter sua saia levantada pela corrente de ar do metrô. “Queria que ela parecesse fresca e limpa. Então me perguntei o que podia fazer com essa mulher tão linda para que aparecesse com uma imagem clara, pálida e adorável? Que tipo de vestido poderia ser levantado por uma brisa e que ao mesmo tempo fosse divertido e bonito?” disse Travilla na época. Foi durante um final de semana que Travilla desenhou os dez vestidos que Marilyn Monroe usaria no filme, entre ele um branco, simples, de verão, plissado e com as costas de fora que produziria um efeito mágico.

Marilyn Monroe "Seven Year Itch", 1955

A etiqueta do vestido de Marilyn com a assinatura de seu criador

Após a estreia da película, o vestido branco ficou com o estúdio que o vendeu para Debbie Reynolds. O mundo, no entanto, não se conformou e prostestou que queria vê-lo de perto. Assim, no final dos anos 50, Travilla conseguiu que Reynolds lhe emprestasse a peça para que ele pudesse fazer uma cópia exata, com os mesmos materiais e medidas. Foi a primeira e única vez que o estilista fez duas vezes a mesma peça.  A partir de então, a roupa mais célebre de Marilyn (ou pelo menos um clone dela) passou a participar de exposições pelo mundo.

Já o vestido original usando pela loira foi a leilão em junho de 2011 e acabou sendo arrematado pela “bagatela” de 4,6 milhões de dólares.

Quando Marilyn ainda não era Marilyn

Em 1946, Marilyn Monroe já tinha os cabelos claros, mas não tão claros e loiros quanto no filme O pecado mora ao lado, que anos depois a tornaria a maior e mais desejada estrela do cinema de todos os tempos. Isso porque em 1946, Marilyn ainda não era Marilyn, mas sim Norma Jeane. Tinha apenas 20 anos e até pouco tempo era casada com o marinheiro Jim Dougherty, que a deixou por não suportar conviver com a cobiça estampada nos olhares masculinos sobre sua mulher.

Foi em 1946, a serviço da agência Blue Book, que o fotógrafo Joseph Jasgur clicou o ensaio cujas fotos vão a leilão no início de dezembro deste ano, na Califórnia: três imagens em preto e branco e uma colorida de uma Marilyn jovem e sorridente em trajes de banho na beira da praia. Jasgur guardou estas fotos durante mais de 70 anos e agora elas vieram a público por determinação de um juiz na Flórida, que mandou leiloar as imagens para quitar as dívidas deixadas pelo fotógrafo, morto em 2009.

Documento assinado por Norma Jeane que cede o uso de suas fotos a Jasgur

A carreira de modelo da jovem Norma Jeane na agência Blue Book começou um ano antes, em 1945, quando um outro fotógrafo chamado André de Dienes caiu nas graças daquela garota de luz frágil, porém intensa, e corpo escultural. Após a primeira sessão de fotos, ele já estava completamente apaixonado pela moça. No livro Marilyn Monroe, da Série Biografias, esta passagem está contada em detalhes:

De madrugada, o fotógrafo conduz a moça a uma praia deserta e passa o dia disparando cliques. Norma Jeane está radiosa, um largo sorriso devora seu rosto. Oferece à objetiva todo o seu desejo de vida, suas esperanças de amanhãs melhores Está tão feliz por estar ali, existente, tão reconhecida àquele homem que a escolheu e lhe demonstra consideração, que desenha um coração na areia. Na mesma noite, ao revelar os negativos, De Dienes fica estarrecido com os resultados.

Pouco tempo depois, os cabelos castanho-claros que aparecem nas fotos desta época se tornam loiros. A mudança foi sugerida pela dona da Blue Book, Miss Snively, assim que conheceu e se encantou pela moça:

– Um pequeno conselho – ela acrescenta no momento de se despedir da moça toda alegre, derramando lágrimas de felicidade, sorrindo com uma gratidão exaltada -, você vai fazer um sucesso louco com os fotógrafos se pintar os cabelos de louro. Eu lhe garanto. Mande descolori-los, vire loura, e vai ter todos eles aos seus pés. Acredite em mim.

– Não, obrigada – fala Norma Jeane, embaraçada. Não está interessada. Ficaria com um rosto muito artificial. Não se reconheceria mais.
Loura não seria mais ela.

A grande Marilyn causa polêmica

Na rua, as pessoas correm às dezenas, em seguida às centenas; curiosos, admiradores, policiais, repórteres, fotógrafos; ouvem-se gritos, sirenes; uma agitação não habitual ocorre também no restaurante; os fregueses saem precipitadamente para ir olhar. (…) Milhares de anônimos se reúnem atrás das barreiras protegidas por guardas. O conjunto da polícia nova-iorquina está a postos. Apesar da hora tardia, há engarrafamentos monstruosos nas ruas adjacentes. Nas janelas, centenas de pessoas espiam com os olhos voltados, todos, para uma pequena silhueta branca e loura da qual um enorme ventilador elétrico colocado sob o respiradouro do metrô faz voar o vestido. Todos estão conscientes, possivelmente, de estar vivendo um momento histórico – do cinema e da América. Todos sob a saia de Marilyn, em êxtase barulhento, diante das pernas afastadas de Marilyn, das coxas de Marilyn, da calcinha de Marilyn.

Este trecho da biografia de Marilyn Monroe (Coleção L&PM POCKET) remonta o clima da gravação da célebre cena do filme O pecado mora ao lado (1955), em que Marilyn e seu vestido branco esvoaçante marcaram a história do cinema para sempre. Pois agora, uma estátua recém inaugurada em Chicago, com mais de 8 metros de altura, que congela a cena no exato momento em que o vestido branco de Marilyn levanta, está causando polêmica. Enquanto alguns visitantes admiram a visão, digamos, privilegiada da estrela em uma de suas poses mais famosas, outros acham a obra “Forever Marilyn”, do artista Seward Johnson, uma aberração rude, vulgar e de mau gosto.

Crédito: John Picken no Flickr

O fato é que as opiniões são as mais diversas. Observando isso, o fotógrafo Mike Yen resolveu registrar as reações das pessoas que visitam o monumento e classificá-las de acordo com uma escala que vai de “Coy” (tímido, recatado) a “Crude” (bruto, grosseiro). O resultado está no álbum “Causing a Scene” no Flickr. Veja algumas:

Foto do álbum "Causing a Scene", de Mike Yen no Flickr

Foto do álbum "Causing a Scene", de Mike Yen no Flickr

Foto do álbum "Causing a Scene", de Mike Yen no Flickr

Veja todas as fotos do álbum “Causing a Scene” no Flickr de Mike Yen.