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Tempestade e ímpeto

Quando o dramaturgo alemão Friedrich Maximilian von Klinger batizou sua peça de “Sturm und Drang” (Tempestade e ímpeto) em 1776, sabia que tinha um bom título nas mãos. Mas talvez ele não soubesse, naquele primeiro momento, que estaria dando nome a um novo movimento literário.

“Sturm und Drang” foi como passou a ser chamado o movimento que defendia a literatura mítica, selvagem, espontânea, quase primitiva, onde a emoção estava totalmente acima da razão. Seus seguidores, os “Stürmer” eram totalmente contra a literatura e a sociedade do “Acien Regime”, o antigo regime. O protagonista era movido por vingança ou por um desejo exacerbado. A violência aparecia com frequência e a angústia estava sempre presente. A literatura “Sturm und Drang” tinha (tem) caráter anti aristocrático e seus valores eram dolorosos, agoniantes e carregados de medo. Nos amores, não havia esperança. Na vida, nenhuma saída. A irracionalidade era uma palavra de ordem.

Entre os jovens autores que se influenciaram por esta vertente, estava o jovem Friedrich von Schiller. Os bandoleiros, sua primeira peça, era um legítimo exemplo do “Sturm und Drang”. “Juntando seus conhecimentos a respeito do pietismo, da mitologia grega, da Bíblia e da medicina, Schiller deu à luz uma obra selvagem, drástica e – em certo sentido e em algumas passagens – paradoxal, mas cheia de dinamismo, vigor e ímpeto” escreve Marcelo Backes na introdução da edição de Os bandoleiros na Coleção L&PM POCKET.

Os bandoleiros provavelmente foi escrito em 1777, mas foi publicada em meados de 1781. Mais de dois séculos depois, ainda hoje é considerada uma das obras-primas do “Sturm und Drang”, devido ao impacto que seu texto causa. Na primeira cena, o personagem Franz diz ao Velho Moor: “Quantos milhares de seres que beberam na taça da volúpia não foram corrigidos através do sofrimento! E a dor física que acompanha todos os excessos não é, por acaso, um sinal de Deus apontando o dedo? Terá o homem o direito de anular seus efeitos através de uma ternura cruel? Deverá o pai precipitar ao abismo eterno o talento corretivo que lhe foi confiado? (…)”

Escrita às escondidas, quando Schiller tinha menos de 18 anos, a peça traz as marcas de uma alma jovem, subjugada, mas revoltada. Tudo na peça é ímpeto, tudo é arranque. Não há suavidade. Quando alguém se levanta, dá um salto. Quando alguém se afasta o faz correndo. A sucessão de golpes é interminável e intensa. Tão intensa que a peça acabou virando ópera com música de Verdi. Segundo Marcelo Backes, “Em I Masnadieri, o compositor italiano envolve em música a fúria do dramaturgo alemão e a mão do texto encontra a luva da ópera”.

Os bandoleiros está na Coleção L&PM POCKET com tradução do alemão, organização, comentários e notas feitas por Marcelo Backes.