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O papel de Marilyn Monroe na vida de Yves Montand

É impossível falar da vida do ator e cantor italiano Yves Montand, sem falar de Marilyn Monroe. Aliás, parece ser assim com todos os homens que passaram pela vida de Marilyn. Em parte, pela inevitável exposição midiática de um relacionamento com a maior e mais cobiçada estrela do cinema, mas principalmente pelo efeito furacão que a passagem dela pela vida de um homem causava. É por essas e outras que no filme do diretor Christophe Ruggia sobre a vida de Yves Montand, o nome da atriz que fará o papel de Marilyn é uma das novidades mais esperadas.

O produtor Jean-Louis Livi anunciou que está em dúvida entre Naomi Watts e Scarlett Johansson. E é nesta hora que a gente comemora, pois ambas fazem jus ao papel de Marilyn, tanto pelo físico exuberante quando pela elegância na atuação – dois atributos imprescindíveis numa atriz que vai interpretar a musa.

Naomie Watts e Scarlett

Naomi ou Scarlett: qual das duas faria a melhor Marilyn?

Yves Montand atuou ao lado de Marilyn no filme Adorável pecadora e a convivência nos sets de filmagem rendeu um rápido porém intenso romance. Na biografia de Marilyn Monroe (Coleção L&PM Pocket) está descrito como tudo aconteceu:

Yves Montand e Marilyn Monroe em "Adorável pecadora", de George Cukor

Paradoxalmente, a filmagem de Adorável pecadora sucede melhor do que de costume. É claro que Monroe é fiel à sua lenda (atrasos, incapacidade de decorar um texto), mas, no conjunto, bem menos do que nos filmes anteriores. Os técnicos do set, bem como os atores, ficam impressionados com seu profissionalismo. Yves Montand tem algo a ver com isso. Marilyn admira-o como ator e aprecia o homem que lhe lembra fisicamente Miller, sendo melhor e sobretudo mais  jovial. Gosta de suas origens modestas que o aproximam dela, do seu toquezinho irresistível de exotismo. Seu humor não a deixa indiferente, tanto quanto seu sentido de autodepreciação. (…) O casal que ele forma com Simone Signoret lhe parece exemplar. Signoret é uma mulher respeitada como atriz e como esposa. Um modelo para a mal-amada que se projeta na sua posição. Como ela seria feliz, acredita, com um homem como aquele, mistura de DiMaggio e Miller. Como ele saberia protegê-la. (…) Os dois atores ensaiam cada vez mais juntos. Ela o ajuda a trabalhar a pronúncia em inglês, ele lhe ensina a dominar seus medos e a não se deixar aspirar por eles, sem exitar no entanto em ameaçá-la: foi buscá-la à força certa manhã em que ela se recusou a aparecer no set.

Com o Oscar no bolso, festejada por toda parte, Simone Signoret é obrigada a voltar para a Europa por razões profissionais. Ela, Simone, já sabe. Ela compreendeu. Tudo. A desistência de Miller, o desespero de Marilyn, as fraquezas de seu marido. Que homem resistiria à deusa loura, àquela criança que sem maquiagem lhe lembra “a mais bela das camponesas” da Île-de-France”? Não há de ser Yves. Ela se prepara. Suportará o deslize e permanecerá digna. Contanto que ele volte. Para secar suas lágrimas, tem os cigarros e seu velho amigo álcool. Então Simone beija os dois lados do rosto de Marilyn e lhe cede o lugar. Arthur Miller segue-a no mesmo passo. Foge para a Irlanda para se encontrar com Huston e retomar a escrita de Os desajustados. “Ele é louco”, teria confiado Montand a uma amiga. “Vai embora me deixando Marilyn nos braços.” Miller é cego, poderia-se pensar, ou inconsciente? Nenhum dos dois. O dramaturgo é apenas um homem que dá tacitamente a outro a mulher que ama, uma vez que não é mais capaz de atender à demanda dela. Tanto Signoret quanto Miller se sacrificam da mesma maneira. (…)

Diante da cama de Marilyn nua debaixo dos lençois de seda, Yves Montand sente a cabeça girar e, como ele mesmo confessará, não se faz muitas perguntas. Desta vez, nada de beijos anódinos de cinema, Marilyn lhe oferece os lábios com gosto de sonho e o corpo ardente. Uma noite, duas noites e depois todas as outras. Hollywood inteira é rapidamente posta a par da ligação dos dois. (…) Ela está feliz, apaixonada de verdade, e se exibe orgulhosamente, à luz do dia, com Yves Montand. Ele, perturbado, enfeitiçado, não sabe como vai fazer para se desembaraçar quando tudo chegar ao fim. Pois vai chegar ao fim. Se não fosse por Simone, seria diferente, ele se lançaria de cabeça naquela aventura, recolheria nos braços por dois ou três anos aquele furacão de inocência e sexo. (…)

O mundo inteiro está a par. Adultério internacional. Em Paris, a imprensa assedia Simone, que enfrenta tudo com uma dolorosa nobreza. De volta aos Estados Unidos, Miller finge que não sabe de nada. (…) Quando a filmagem de Adorável pecadora é concluída e ela [Marilyn] vê, impotente, Montand lhe escapar por entre os dedos e voltar para a sua França natal, bem como para a esposa legítima, Marilyn leva um tombo. Tudo desmorona mais uma vez. Signoret tem o Oscar e Montand. Já ela não tem mais nada além de remédios e o falso reconforto do álcool.

Enquanto não temos mais notícias sobre a esteia do filme, dá tempo de ler a biografia de Marilyn Monroe, que reserva um capítulo inteiro para contar os detalhes sobre a relação da musa com Yves Montand. Como todo o resto do livro, vale muito a leitura!