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Por trás da dama de Leonardo da Vinci

A Dama com Arminho, famosa pintura de Leonardo da Vinci que retrata a bela e jovem Cecilia Gallerani, nem sempre foi como é. Usando um novo método de análise, o cientista francês Pascal Cotte descobriu que a tela definitiva teve duas versões anteriores que estão escondidas sob camadas de tinta.

Até essa descoberta, os historiadores acreditavam que o animal da família das doninhas sempre tinha estado na pintura feita entre 1488 e 1490.

Após três anos, utilizando o LAM – Layer Amplification Method (Método de Amplificação de Camadas), Cotte descobriu que da Vinci tinha, a princípio, feito apenas um retrato da jovem com as mãos vazias.

Na versão seguinte, ele colocou o animal cinza, fez mudanças no vestido e na posição das mãos de Cecilia. Até que chegou na versão definitiva que faz parte do acervo do Museu Nacional de Cracóvia, na Polônia.

Dama_Arminho

“A técnica LAM nos permite descascar a pintura como uma cebola, removendo a superfície para ver o que está acontecendo dentro e atrás das diferentes camadas de tinta”, afirmou Cotte à BBC.

Para isso, projetam-se luzes fortes na pintura, enquanto uma câmera mede os reflexos. A partir dessas medidas é possível reconstituir o que estava pintado sob a última camada de tinta.

Leia abaixo um trecho da Biografia de Leonardo da Vinci, de Sophie Chauveau (Coleção L&PM Pocket), que demonstra a importância dessa pintura.

leonardo_da_vinciA Dama com Arminho

Cecilia Gallerani é de fato magnífica. Assim, em vez de ceder aos enfeites ostentatórios, artifícios tradicionais das belas e principalmente das cortesãs, Leonardo privilegia sua beleza natural e decide representá-la sem ornamentos nem joias. Uma jovem na pura beleza de seus dezessete anos, numa postura de reserva e pudor. Surpreendido por algo inesperado mas exterior à cena, seu rosto se ilumina num movimento brusco, voltando-se de lado para um misterioso ponto de fuga fora do quadro. Nos seus braços, um arminho de pelos brancos, que também ouviu algo vindo do mesmo ponto externo e que permanece atento, pronto a reagir a alguma eventualidade.

O mimetismo plástico e a correspondência simbólica entre a dama e o arminho tocam a alma. À expressão terna, virtuosa e alegre de Cecilia corresponde à pureza imaculada do animal, do qual se diz que prefere a captura e a morte a sujar-se na lama. O arminho é também o símbolo da moderação. A respeito dessa obra, falou-se em “retrato escultura”, de tão presente que está a vida. Leonardo pinta essa figura emblemática com tamanha força que a imagem parece real, o arminho mostrando toda a agressividade de uma natureza predadora que não deixa de lembrar a de Ludovico, o Mouro… É o que mostram suas patas providas de garras, crispadas e prontas ao ataque, sobre a roupa vermelha da jovem.

Leonardo certamente o pintou ao vivo. Os comerciantes de peles importam então arminhos que frequentemente servem também de bichos de estimação. Sabe-se que Cecilia possuía dois deles. É o animal da moda. E Cecilia está na moda.

O retrato suscita imediatamente intrigas e curiosidades, espalhadas boca a boca. Ao ligar-se mais aos movimentos de alma do seu modelo do que à sua aparência, o pintor exalta-lhe toda a sedução.

Sobre Leonardo da Vinci, a L&PM também publica Roubaram a Mona Lisa!, o extraordinário relato sobre o maior roubo da história das artes.