Entra em cartaz, na sexta-feira, 21 de agosto, em São Paulo, mais uma adaptação de Shakespeare. O interessante é que em “A Tempestade”, peça que tem a direção de Gabriel Villela, os elementos mágicos criados pelo dramaturgo inglês são representados por ícones da cultural popular brasileira, em especial a de Minas Gerais. Os figurinos trazem rendas e bordados. Parte do detalhado cenário vem de antiquários, como a mobília de antigos casarões. O cajado mágico usado por Próspero é um tronco retirado da represa de Carmo do Rio Claro (MG), cidade natal de Villela. A biblioteca do personagem é um armário de cachaças. Sua mesa, uma carteira escolar. “Tudo tem uma força simbólica”, diz Villela à Folha de S. Paulo. Potes de cerâmica, da região de Tiradentes, são usados pelos atores para projetar suas vozes, uma referência à acústica do teatro grego e uma forma de tornar suas falas mais artificiais, míticas, explica o encenador. Acompanham o visual músicas do cancioneiro popular brasileiro, interpretadas pelos atores em coros e com o auxílio de instrumentos.
“O elenco é muito heterogêneo, com gente de várias gerações, e todos entraram em acordo com a linguagem. Nos ensaios, descobrimos que alguns atores tocavam instrumentos, e virou um processo de colaboração”, conta Cacá Toledo, assistente de direção ao lado de Ivan Andrade. A chegada do navio à ilha é acompanhada por “Peixinhos do Mar” (Milton Nascimento). Em outra cena, ouve-se: “Minha jangada vai sair pro mar”, de “Suíte do Pescador” (Dorival Caymmi).
No elenco estão, entre outros, Celso Frateschi como Próspero, Chico Carvalho como o espírito Ariel, Helio Cicero como o monstro Caliban e Leticia Medella como Miranda.
Villela decidiu incluir na montagem uma referência a sua famosa montagem de “Romeu e Julieta” (1992) com o Grupo Galpão, que projetou diretor e companhia: como os jovens apaixonados interpretados pelo Galpão, em seu encontro romântico, Miranda e Ferdinando (Marco Furlan) de “A Tempestade” ficam na ponta dos pés, como equilibristas. Já o visual habitualmente colorido de Villela ganha aqui tons de terra. “Como essa é uma síntese de todas as peças de Shakespeare, achei que deveríamos voltar ao barro, à origem”, diz o diretor.
A TEMPESTADE
QUANDO sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 19h; até 22/11
ONDE Tucarena, r. Monte Alegre, 1.024, tel. (11) 3670-8453
QUANTO R$ 50 a R$ 70
CLASSIFICAÇÃO 12 anos
Mais Shakespeare em São Paulo:
OTELO
Dirigida por Debora Dubois, a atriz Mel Lisboa interpreta Desdêmona, mulher do protagonista do drama. Na montagem, Otelo é baiano, e os versos do bardo são mesclados a músicas de Caetano Veloso
Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 11-3288-0136). Ter. e qua., às 20h; até 9/9. Ingr.: R$ 40
RICARDO 3º
O ator Gustavo Gasparani faz um monólogo da tragédia, sobre o nobre corcunda e manco que passa por cima de todos para chegar ao poder
Teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, tel. 11-3288-0136). Sex. e sáb., às19h30, dom., às 18h; até 13/9. Ingr.: R$ 40 a R$ 50
COMO A GENTE GOSTA
Pedro Paulo Rangel está na adaptação da comédia “As You Like It”, que busca uma versão mais palatável do texto
Teatro Nair Bello – shopping Frei Caneca (r. Frei Caneca, 569, tel. 11-3472-2414). Sex., às 21h30, sáb., às 21h, dom., às 19h; até 20/9. Ingr.: R$ 60
OS DOIS CAVALEIROS DE VERONA
Kleber Montanheiro dirige a peça do início da carreira do bardo. A montagem integra o Shakespeare – Projeto 39, que pretende encenar todas as obras do dramaturgo
Teatro João Caetano (r. Borges Lagoa, 650, tel. 11-5573-3774). Qui. a sáb., às 21h, dom., às 19h; até 6/9. Ingr.: R$ 10 a R$ 20