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Capitu aos olhos de Dalton Trevisan

Ele é conhecido como o “Vampiro de Curitiba”, nome de um de seus livros. Recluso, o premiado escritor Dalton Trevisan evita ser visto em público, não recebe a visita de estranhos e não aceita dar entrevista. Mas gosta de reciclar ideias e lançar novos livros.

Até você, Capitu? é um lançamento de Dalton Trevisan que reúne ensaios, crônicas, cartas e  textos diversos sobre o autores mais caros a Dalton Trevisan, como Machado de Assis, Pedro Nava, Rubem Braga e Tchékhov. Seu interlocutor nas cartas é o escritor Otto Lara Resende (1922-1992).

Abaixo, um trecho da crônica “Capitu sem enigma”:

Você pode julgar uma pessoa pela opinião sobre Capitu. Acha que sempre fiel? Desista, ô patusco: sem intuição literária. Entre o ciúmes e a traição da infância, da inocência, do puro amor, ainda se fia que o bruxo do Cosme Velho escolhesse o efeito menor? Pô, qual o grandíssimo tema romancesco de então, as fabulosas Emma Bovary e Anna Karenina. A um pessimista, viciado no Eclesiastes, toda mulher (“mais amarga do que a morte”) não é coração enganoso e perverso, nó cego de “redes e laços”?

Inocentar Capitu é fazê-la uma pobre criatura. Privá-la do seu crime, assim a perfídia não fosse própria das culpadas? Já sem mistério, sem fascínio, sem grandeza. Morreu Escobar não das ondas do Flamengo e sim dos olhos de cigana, oblíquos e dissimulados. Por que os olhos de ressaca, me diga, senão apra você neles se afogar?

O mais rececente lançamento da Coleção L&PM Pocket

O mais rececente lançamento da Coleção L&PM Pocket

Muitas possibilidades no Dia do Sexo

No Dia do Sexo, encontre-se com Uma espiã na casa do amor, aproveite O Sofá para conhecer melhor Teresa filósofa, deite-se com a libidinosa Erma Jaguar, não tenha medo de participar da A história de O, pegue com vontade em Anti-justine, mostre que você tem um grande Fogo, mergulhe fundo no Kama Sutra, experimente entrar em Ménage à Trois, deixe escapar 111 Ais, dê uma chance para O marido complacente e não esqueça de repetir Os crimes do amor.

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Vencedor do Prêmio Camões, Dalton Trevisan mantém tradição e não aparece

Além da indiscutível qualidade literária de seus textos, outra característica notável de Dalton Trevisan é sua aversão a aparições públicas – tanto que foi difícil encontrar uma foto do autor para ilustrar este post. E para manter a tradição de escritor recluso, ele não compareceu à cerimônia do Prêmio Camões, uma das maiores honrarias da literatura em língua portuguesa no mundo, nesta quarta, dia 12, no Rio.

A vice-presidente da editora Record, Sonia Machado, recebeu o prêmio em nome do escritor e leu um fax enviado por ele. “Os muitos anos, ai de mim, já me impedem de receber pessoalmente o prêmio”, diz Trevisan, em um trecho da carta, onde manifestou espanto por receber o que chamou de “o prêmio dos prêmios”, que lhe rendeu 100 mil euros.

Dalton Trevisan bem mais jovem, quando ainda aparecia em uma ou outra fotografia

A L&PM publica contos e pequenos textos de Dalton Trevisan em 111 ais, 99 corruíras nanicas, Continhos galantes, Duzentos ladrões, Frufru Rataplã Dolores, A gorda do Tiki Bar, O grande deflorador, Mirinha e Nem te conto, João.

via Folha de S. Paulo

O que vale mais, o escritor ou o livro?

Por José Roberto Torero* 

O que é mais importante, o criador ou a criatura?

Eu prefiro a criatura. Não me importa muito se um autor tem 18, 68 ou 118 anos, se é um office-boy, um acadêmico ou uma striper, se nasceu na Mooca, em Londres ou em Pokhara, a cidade-lago do Nepal.

O que me importa é o livro. Mas muitos preferem o escritor.

É claro que tem o seu sabor saber quem escreve uma obra. Eu mesmo, quando pego um livro na livraria, dou aquela olhada na orelha para ver a foto do autor e ler sua biografia. Mas isso deve ser apenas a cereja do bolo, não seu recheio; deve ser apenas uma nota de rodapé, não a cabeça da reportagem.

O culto à personalidade tem crescido tanto que em várias resenhas você fica sabendo onde nasceu o escritor, com quem ele é casado e o escândalo que deu em sua adolescência, mas quase nada sobre a obra.

A orelha está sendo mais valorizada do que as páginas do livro.

O cartunista Laerte, por exemplo, é brilhante desde os tempos da editora Oboré, quando fazia ilustrações para sindicatos, mas nunca ganhou tanto destaque quanto depois de praticar o crossdressing.

João Ubaldo é provavelmente nosso melhor romancista vivo, mas nos últimos anos lembro mais de reportagens sobre seu problema com álcool do que críticas a seus livros. Uma imensa injustiça.

Dalton Trevisan e Rubem Fonseca são escritores excelentes, dois dos nossos melhores contistas. Mas sempre são lembrados pelo fato de não darem entrevistas, de serem um tanto reclusos. Ou seja, não quererem ser notícia os transforma em notícia.

É como se a crítica estivesse mais para revista Caras do que para Jornal de Resenhas.

Este culto à personalidade do autor não é exclusividade do Brasil. Lá fora acontece o mesmo. Talvez até mais. Um bom exemplo é JT LeRoy. Ou Jeremiah “Terminator” LeRoy.

A história é a seguinte: Laura Albert, uma ex-punk, já passada dos trinta anos, queria ser escritora. Mas percebeu que sua persona era pouco interessante. Então inventou JT LeRoy para assinar seus livros. Ele seria um jovem de quinze anos, ex-viciado em heroína, que teria sofrido abuso sexual na infância e se prostituído para sobreviver.

Os dois primeiros livros de JT fizeram bastante sucesso. No começo, ele (ou melhor, Laura) só dava entrevistas por telefone. Mas logo ela arranjou uma modelo (sua cunhada Savannah Knoop) para se passar por JT. Assim a personagem passou a aparecer em público, a falar com celebridades e a ir em festas, muitas festas. Até para a Flip JT foi convidado.

Dez anos depois, quando a farsa foi descoberta, um diretor de cinema que tinha comprado os direitos para filmar um de seus livros quis desfazer o negócio. Seu argumento foi de que, mais importante que a história, era a persona de seu autor que traria sucesso à produção. E ele ganhou a causa.

Claro que se trata de um caso extremo. Mas os casos extremos servem para evidenciar o que é um tanto sutil, um tanto subterrâneo.

Creio que muito deste culto ao autor é culpa dos autores românticos, que buscavam o mito de escritor maldito, de serem bafejados pelos deuses (ou pelos demônios). Eles devem ter conquistado muitas senhoritas assim. Mas, de quebra, deram ao escritor uma aura que o deixa diferente dos outros mortais. Uma bobagem.

Não se quer saber a biografia do médico que nos opera, do marceneiro que fez nossa mesa, nem do professor que ensina nossos filhos (o que seria bem mais importante). Mas do escritor, sim. E ela não tem a menor importância. Pelo menos, não literariamente.

De qualquer forma, se você está escrevendo seu primeiro livro, aconselho a gastar menos tempo com o texto e mais com sua autobiografia. Invente algo bem criativo. Diga que tem dois sexos, que é especialista em magia negra, que sua mãe assassinou seu pai e que foi amamentado por lobos.

E, se der uma entrevista, não esqueça de uivar no final.  

*José Roberto Torero é formado em Letras e Jornalismo pela USP, publicou 24 livros, entre eles O Chalaça (Prêmio Jabuti e Livro do ano em 1995), Pequenos Amores (Prêmio Jabuti 2004) e, mais recentemente, O Evangelho de Barrabás. É colunista de futebol na Folha de S.Paulo desde 1998. Escreveu também para o Jornal da Tarde e para a revista Placar. Dirigiu alguns curtas-metragens e o longa Como fazer um filme de amor. É roteirista de cinema e tevê, onde por oito anos escreveu o Retrato Falado

O texto acima foi publicado originalmente em sua coluna da agência Carta Maior em 17 de julho de 2012.

Mostra de cinema de Curitiba homenageia o escritor Dalton Trevisan

O Museu da Imagem e do Som do Paraná em Curitiba vai promover a Mostra Dalton Trevisan no Cinema, que exibirá longas e curtas-metragens feitos a partir do universo do escritor paranaense. Conhecido pelo rigor com que revisa sua obra, Trevisan autorizou pouquíssimos realizadores a trabalhar seus livros no cinema, exigindo sempre fidelidade absoluta ao que foi escrito, sem acréscimos, alterações ou adaptações. Tanto que somente dois longas e alguns poucos curtas-metragens fazem parte desse acervo.

A mostra começa segunda-feira, dia 18 de junho e vai até quarta-feira, dia 20. Os filmes serão exibidos no Auditório Brasílio Itiberê, a partir das 19h30, e a entrada é gratuita. Todas as exibições serão apresentadas por especialistas na obra de Dalton Trevisan e a sessão de curtas terá a presença dos realizadores, que farão um debate sobre as adaptações.

Dalton Trevisan foi contemplado recentemente com o Prêmio Camões de literatura, a maior honraria da literatura em língua portuguesa, e na semana passada foi agraciado com o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras. Não perca a chance de conhecer a obra de um dos maiores escritores brasileiros no cinema. Dê uma olhada na programação e agende-se:

Dia 18 de junho, 19h30
Um Uísque Antes, Um Cigarro Depois – de Flávio Tambellini

Comédia em três episódios, sendo o segundo, “Mocinha de Luto”, a primeira filmagem autorizada de um conto de Dalton Trevisan. Esse episódio foi filmado em Curitiba no início dos anos 70, e diversos lugares conhecidos da cidade servem de locação para a história. Apresentação do jornalista Ayrton Baptista Junior (CBN, Globo.com).

Dia 19 de junho, 19h30
Penélope – de Estevan Silvera
Em Busca da Curitiba Perdida – de Estevan Silvera
Balada do Vampiro – de Beto Carminatti e Estevan Silvera

Três dos raros curtas-metragens feitos com autorização do autor preservam o texto integral dos contos originais. Apresentação do cineasta Fernando Severo (diretor do MIS). Após a exibição será realizado debate com os diretores.

Dia 20 de junho, 19h30
Guerra Conjugal – de Joaquim Pedro de Andrade

Influência confessa no cinema de Pedro Almodóvar, que o viu num festival em Barcelona, Joaquim Pedro de Andrade, um dos maiores diretores do Cinema Novo, entrelaça trechos e personagens extraídos de vários contos de Dalton Trevisan, que assina os diálogos. Foi exibido no Festival de Cannes e recebeu diversos prêmios no Brasil. Apresentação do professor Fabio Francener Pinheiro (Curso de Cinema e Vídeo da FAP).

Dalton Trevisan recebe o Prêmio Camões deste ano

Acaba de ser divulgado, em Lisboa, que o grande vencedor do Prêmio Camões deste ano é Dalton Trevisan. Este é o maior prêmio literário em língua portuguesa e Trevisan receberá por ele o valor de cem mil euros. O júri da 24ª edição do Prêmio Camões foi constituído por Rosa Martelo, professora associada da Faculdade de Letras da Universidade do Porto; Abel Barros Baptista, professor associado da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa; a poeta angolana Ana Paula Tavares; o historiador e escritor moçambicano João Paulo Borges Coelho; Alcir Pécora, professor da Universidade de Campinas e o crítico, ensaísta e escritor brasileiro Silviano Santiago.

O Prêmio Camões foi instituído por Portugal e Brasil em 1989 e a escolha recai sobre a obra que contribui para a projeção e reconhecimento da língua portuguesa. “A escolha de Dalton Trevisan foi unânime. Houve uma discussão maravilhosa entre os membros do júri de cerca de duas horas e depois chegamos a essa decisão consensual”, afirmou Santiago em nota divulgada pela Fundação Biblioteca Nacional, responsável pelo prêmio no Brasil. “Primeiramente, pela contribuição extraordinária de Dalton Trevisan para a arte do conto, em particular para o enriquecimento de uma tradição que vem de Machado de Assis, no Brasil, de Edgar Allan Poe, nos EUA, e de Borges, na Argentina.”

Nascido em Curitiba em 14 de junho de 1925, Dalton Trevisan é autor de uma extensa obra em que destacam-se Cemitério de Elefantes (Civilização Brasileira, 1964), Vampiro de Curitiba (Civilização Brasileira, 1965), A Trombeta do Anjo Vingador (Record, 1977) e A faca no coração (Record, 1975). Pela L&PM, publicou os livros 111 Ais, 99 corruíras, Continhos galantes, Duzentos Ladrões, A gorda do Tiki Bar, Mirinha e Nem te conto, João.

Recluso, o escritor não se deixa fotografar há anos e só fala com poucos amigos. Fato que é conhecido não apenas no Brasil, mas também em Portugal como bem mostra a matéria divulgada hoje em terras lusitanas:

Clique na imagem para assistir ao vídeo

Nos contos de Sergio Faraco, uma viagem emocionante ao mundo da leitura

Sergio Faraco é um dos maiores escritores deste país. Acrescente-se a ele Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, João Antonio, J. J. Veiga e está formado o timaço dos grandes contistas brasileiros.

Estamos relançando nesta semana uma nova edição dos Contos Completos de Sergio Faraco. Esta 3ª edição traz como novidade quatro contos absolutamente inéditos: “O segundo homem”, “Tributo”, “Um mundo melhor” e “Epifania na cidade sagrada”.

"Contos completos" com 4 textos inéditos e nova capa

Este livro é um verdadeiro banquete para quem gosta de ler. O conto é um gênero que talvez não tenha, no Brasil, o prestígio que merece. Vale lembrar que autores como Guy de Maupassant, Nicolai Gogol, Tchékhov, Chesterton, Edgar Allan Poe, gênios da literatura mundial, dedicaram-se quase que exclusivamente a este gênero. Escrever um magnífico conto é tão difícil quanto escrever um magnífico romance. Com a dificuldade extra de que, no pequeno espaço de um conto é preciso captar as grandes emoções do leitor. Contos completos de Sergio Faraco comprova esta afirmação ao transformar o ato de ler numa aventura emocionante e inesquecível. (IPM)