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As crianças da China e a Turma da Mônica

Se eu vi muitas crianças na China? Sim, vi. E a maioria dos chinezinhos que tive contato estavam concentrados em duas escolas que visitei em Wenzhou, cidade no sudeste da China. Cercada por montanhas – e antigamente por belos canais cristalinos que não existem mais -, o lugar mantém-se envolto por brumas, não de Avalon, mas de poluição. Nas escolas de Wenzhou, todas públicas como no restante do país, os pequenos obedecem a uma rotina não muito diferente das escolas ocidentais: estudam, brincam, lancham, fazem amigos. Mas as semelhanças parecem parar por aí. Todos os alunos usam lenços vermelhos no pescoço, voltam-se para a bandeira do comunismo em dias de festa e fazem a saudação ao camarada Mao (levantando o braço vigorosamente). Na escola localizada na periferia da cidade, eu me senti em um quartel, pois as crianças, enfileiradas no pátio, entoaram cânticos que soavam como hinos.

Já na escola que fica em um bairro relativamente mais nobre, mesmo com os lenços vermelhos, as crianças pareciam mais soltas, muitas sabiam falar um pouco de inglês e algumas contaram seus planos de estudar em Harvard.

E é nesse tipo de escola que a Turma da Mônica se prepara para entrar. Mauricio de Sousa esteve em Pequim no início de maio para tratar da negociação e da criação de gibis da Turma como material de apoio para a educação de 180 milhões de crianças chinesas. As primeiras revistinhas escritas em chinês já foram feitas, em parceria com a editora Online Education China. Mauricio disse em recente entrevista que acredita que a Turma da Mônica foi escolhida por ter “mensagens universais”.

Para assistir à entrevista exclusiva de Mauricio de Sousa na L&PM WebTV, clique aqui, e para relembrar a visita de Paula ao estúdio do criador da Turma da Mônica, aqui.

 Leia os posts anteriores:
Um jantar cheio de vida na China
Será que alguém lê livros na China?
A escrita chinesa e a arte de desenhar ideias
Enquanto isso, na China milenar, a Expo continua a mil
A Expo é um parque de diversões na cabeça
A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil
Xangai é um barato

Um jantar cheio de vida na China

Conta a lenda que há muito tempo havia uma espécie de panteão chinês, governado por um deus conhecido como Imperador de Jade e que possuía uma filha chamada Chih’nü (garota tecelã).  Diariamente, com a ajuda de um robe mágico, Chih’nü descia à terra para banhar-se. E foi em um desses dias que a garota tecelã encontrou um vaqueiro solitário que se apaixonou por ela. Para impedir que a filha do imperador voltasse ao reino dos céus, o vaqueiro roubou seu robe mágico e a levou para sua casa. Ao saber do acontecido, o imperador ficou furioso, mas nada pode fazer, já que nesse meio tempo sua filha também se apaixonara pelo vaqueiro casando-se com ele. Mas Chih’nü sentia muita saudade do pai e, um dia, depois de encontrar seu robe mágico em uma caixa, foi visitá-lo no céu. Só que ao tentar voltar para o marido, a moça descobriu que o pai havia criado um rio que passava pelos céus (a Via Láctea) e que a impedia de retornar para a Terra. Como o imperador não era tão mau assim, decidiu que uma vez por ano, no sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar chinês, ele permitiria que os dois amantes se encontrassem sobre um rio.
E é assim que ainda hoje, em todo sétimo dia do sétimo mês do calendário lunar há um feriado na China conhecido como Qi Xi, que é uma espécie de Dia dos Namorados para eles. Confesso que não sei muito bem como eles comemoram essa data, já que não vi nenhum restaurante à luz de velas na China. Aliás, preciso confessar, os restaurantes daqui não são nada românticos. E nem muito limpinhos. Com exceção de Hong Kong, que acabo de conhecer e que nem parece a China de tão cosmopolita (e que pertencia aos ingleses, portanto é diferente mesmo), Shanghai e Wenzhou (outra cidade que também visitei na ex terra de Mao) não são exatamente lugares feitos para namorar.
Os mais “chiques” tem salas individuais e de diferentes tamanhos onde você não vê os outros clientes e os garçons ficam ali à sua disposição. A mesa é sempre redonda e grande, com o centro giratório, onde uma média de trinta e quarenta pratos vão sendo servidos. Um tipo de buffet particular. Só que na China, o que gira não é apenas a mesa, mas também o seu estômago. Em um dos almoços, dessa vez em um restaurante mais simples, um chinês nos convidou para comer uma espécie de sopão, que fervia dentro de um buraco no meio da mesa, enquanto os ingredientes – que chegam crus à mesa – iam sendo jogados lá dentro. Na verdade, cru é modo de dizer, porque alguns deles chegam vivos mesmo. Eu estava lá quando, de repente, vi alguma coisa se mexendo no prato ao meu lado. Eram dezenas de bichos que mais pareciam uma mistura de camarão com lacraia e que tentavam desesperadamente fugir dali. Nosso anfitrião chinês não teve dúvida:  foi logo jogando os bichos na fervura. E enquanto eles esperneavam, lutando pela vida, eu me mantinha em estado de choque.

Mas o mais chocante de toda a viagem foi passear dentro do Carrefour de Shanghai, um gigantesco supermercado de quatro andares ondeé vendido tudo o que você pode e até o que não pode imaginar. Sapos e tartarugas vivas ficam espremidos dentro de caixas de vidros para serem escolhidos e, posteriormente, deglutidos pela clientela chinesa. Quando vi um jovem casal rondando os aquários, fiquei imaginando dois apaixonados escolhendo a sua rã saltitante para um jantar à luz de lanternas vermelhas, antecipando o Qi Xi. Até porque, você há de concordar, amar também é engolir sapos.

Para conhecer fábulas chinesas como a do Qi Xi leia a edição bilíngue de 50 fábulas da China fabulosa, de Sérgio Caparelli e Márcia Schmaltz.

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Será que alguém lê livros na China?


A falta de livros nas mãos dos chineses é uma triste herança dos tempos em que a literatura literalmente virou cinza. Só depois de muito procurar, encontrei uma rua em Xangai com quatro livrarias, uma atrás da outra. Duas delas estavam praticamente vazias, uma tinha meia dúzia de gente e apenas a “Art Bookstore” exibia compradores mais animados. Nessas livrarias, não encontrei nenhum livro de ficção escrito em mandarim. O que parece significar que, para ler um romance na China, é preciso saber ler em inglês – e garanto que a maioria não sabe. Até as publicações contando a história de Xangai, com belíssimas fotos, apresentavam-se em caracteres ocidentais.

Chamou a atenção que, em um dos estabelecimentos, a editora inglesa Penguin tinha uma prateleira só dela. Mas o que mais me agradou mesmo foi a livraria de arte. Projetada com esmero e dividida por prateleiras curvilíneas, ela é um espaçoso paraíso para os amantes do desenhos e da pintura – em especial da arte chinesa. Há não apenas livros, mas muitas revistas e quadrinhos. No fundo da loja, um espaço que vende tintas, pincéis e outros artigos do ramo. Tudo muito bacana, mas que faz nascer a dúvida: será que os clientes que ali se encontravam se interessam por literatura ou apenas por artes plásticas?

Para saber mais sobre a Revolução Cultural chinesa, que queimou todos os livros, prendeu professores e fechou universidades, leia China: uma nova história.

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A escrita chinesa e a arte de desenhar ideias


Para nós, meros ocidentais prisioneiros da lógica, é quase impossível entender como os chineses conseguem escrever do jeito que escrevem. No lugar de letras, eles desenham símbolos. E o fazem com uma destreza impressionante que desafia a compreensão de quem aprendeu a ler a partir de “vovô viu a uva” como eu. A escrita chinesa não parte de um princípio sonoro, mas de traçados que contém em si a representação de um objeto ou de uma ação. Para escrever a palavra “casa”, por exemplo, basta um único ideograma (que lembra uma casinha, com telhado e tudo). Aliás, ideograma quer dizer exatamente isso: representação das ideias por meio de sinais. O que faz com que a leitura se torne dinâmica, muito mais rápida, pois o cérebro não precisa identificar as letras sonoramente para chegar a um significado. Sem contar a caligrafia chinesa, essa arte milenar que atravessou as gerações e permanece sendo louvada na atualidade. Prova disso são as inúmeras lojas que vendem pincéis especiais para calígrafos e oferecem quadros com grandes ideogramas para serem colocados na parede. Você consegue imaginar coisa igual com as nossas insossas letras?

Mas as letras romanas não são totalmente rejeitadas na China e, além de estarem presentes em muitas placas chinesas, elas causam fascínio nas crianças orientais. Tanto é assim que, num dos dias em que estive circulando pela Expo Shanghai, vários chinesinhos vieram correndo com cadernos abertos, pedindo para que eu – e os demais que estavam comigo – escrevêssemos nossos nomes neles. Na hora não tive a ideia (meu cérebro não funciona com a rapidez de um ideograma), de também pedir que elas escrevessem, ou melhor, desenhassem no meu caderninho. Seria uma lembrança e tanto…

No próximo post: livrarias de Shangai.

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Xangai é um barato

Enquanto isso, na milenar China, a Expo continua a mil

No comunismo capitalista da China é assim: Twitter e Facebook são como pornografia, totalmente bloqueados para consumo do povo. Isso quer dizer que você jamais poderá passear pela Expo Shanghai 2010 tuitando sobre o que está vendo e gostando. Mas antes de contar sobre o mega pavilhão da China na Expo, vamos a um passeio pelos outros espaços. Primeiro, o Canadá. Os canadenses pedalaram tanto que, não resta dúvida, chegaram ao futuro antes de nós. O pavilhão do país começa com várias bicicletas fixas que, com a interação dos visitantes, movimentam enormes animações ao estilo de Moebius (não chequei se são dele). E ainda há um lago sonoro que muda de tom quando tocamos em suas águas. 

Visitantes fotografam pavilhão finlandês / Paula Taitelbaum

Já o pavilhão da Finlândia mais parece uma loja de decoração futurista, pois exala design por todos os poros. Em um vídeo que lembra o mundo de Pandora, de Avatar, robôs interagem com bolas de sabão ao ritmo de uma música hipnótica. Entre as atividades interativas, está o fato das pessoas poderem tirar “uma foto na Finlândia”, bastando para isso escolher um fundo no computador. A minha até agora não chegou… Mas falando em fotos, esse é um dos assuntos em destaque no pavilhão do Japão que, entre alguns robôs que limpam a casa e outros que tocam violino, está um grande merchandising da Canon e da Toyota. Um dos momentos mais impressionantes é quando a super câmera Canon, ao vivo, capta um detalhe do painel de parede e mostra no telão em alta definição, isso a muitos metros de distância. Mas o Japão não acerta todas e tropeça no seu último ato. No final das apresentações, há uma espécie de ópera de Pequim tão sonolenta, repetitiva e enfadonha que cheguei a pegar no sono. 

Cartaz com imagem do pavilhão chinês convida para a Expo / Reprodução

O pavilhão da Alemanha – cujas filas chegam a quatro horas – é um tanto quanto claustrofóbico. Uma verdadeira usina de calor com overdose de informação. Como tem elementos demais, interação demais e gente demais, fica quase insuportável circular pelos espaços. Parece ônibus na hora do rush. Mas no final – quando eu já me encontrava um tanto quanto irritada e louca pra ir embora – há um espetáculo bem impressionante com uma bola gigantesca que pende do teto e projeta luz e imagens mais fortes à medida que o público grita e aplaude. É a salvação da Alemanha no finalzinho do segundo tempo. 

E agora o gran finale: o espetáculo da anfitriã. O pavilhão da China, tão vermelho quanto à estrela de Mao, tem catorze andares, sendo que os dois últimos fechados ao público. Mas ainda sobram doze para o desfrute dos visitantes. A diversão começa nos andares mais altos, com a exibição de um filme que parece ser sobre Genghis Khan, mas que logo evolui para mostrar como a China – em especial Xangai – chegou onde chegou. É claro que, sendo um investimento (e põe investimento nisso) estatal, o “partido” está ali  representado por seus trabalhadores sempre dispostos a pegar junto, unir forças e fazer um “novo país”. Depois dessa exibição, quando não resta nenhuma dúvida de que a China vai mesmo dominar o mundo, começa a caminhada pelo resto do pavilhão.  Há metros e metros de paredes que projetam uma magnífica animação da China antiga. Há relíquias autênticas que exemplificam e contam a história do papel, da porcelana e da seda. Há, ainda, representações do interior das casas dos chineses ao longo das décadas. E há um disputado trenzinho que conduz a uma viagem que mais parece “A Fantástica Fábrica de Chocolate”. Tudo para expor que a China é, de fato, milenarmente moderna. O detalhe é que esqueceram de avisar a maioria dos chineses disso. Talvez quando conseguirem acessar a Internet sem censura eles descubram que podem ser tão modernos quanto as cidade. Por enquanto, ainda acho que o povo é um tanto quanto primitivo. Ou você acha que jogar bichos vivos dentro da sopa é uma evolução? Hoje meu almoço teve esse tipo de espetáculo. E eu ainda não me recuperei… Conto mais nos próximos posts. 

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A Expo é um parque de diversões na cabeça
A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil
Xangai é um barato

A Expo é um parque de diversões da cabeça

Antes de discorrer novamente sobre a Expo Shangai 2010, uma descoberta: os chineses não são tão desrespeitosos no trânsito quanto eu achava que fossem. É que mesmo com o sinal verde aceso para pedestres, você pode ser atropelado por um veículo que vem dobrando a esquina, já que aqui na China o vermelho só vale para fazer parar os carros que seguem reto ou fazem conversão à esquerda. Os que dobram à direita tem sempre passe livre e não querem nem saber se tem faixa de segurança. Ou seja, o que eu achei que era uma infração, é apenas um perigo iminente. E agora as considerações sobre a Expo. Essas bem mais positivas e animadoras do que as do post passado. Acho que não cheguei a dizer o quão impressionante é a feira e tudo o que é possível ver por lá. Então digo agora. A Expo Shanghai 2010 é, como diria Ferlinghetti na tradução de um livro publicado pela L&PM há anos atrás: um parque de diversões da cabeça.

Tirando a decepção que tive com o pavilhão brasileiro, os outros me impressionaram bastante. O da Colômbia também era bem modesto, mas pelo menos tinha colombianos simpáticos e café de alta qualidade. O do México (foto ao lado) era um lindo museu interativo, com obras verdadeiras que vão de esculturas pré-colombianas a instalações que sobem pelas paredes, passando por uma pintura de Frida Khalo. Pra completar, uma loja maravilhosa com belíssimas peças de artesanato e um restaurante mexicano com taco, burritos e guaca mole. No pavilhão dos Estados Unidos, confesso, chorei vendo o vídeo de abertura. A ideia norte-americana era muito simples: três filmes em espaços diferentes, exibidos em supertelões. Todos mega produzidos, claro. O primeiro era uma espécie de making off em que diferentes americanos tentavam dizer “Nihao” – que em Chinês significa algo como “Olá, tudo bem?” – e mais outras coisas amigáveis. Depois, as portas se abriam e começava outro filme com crianças falando sobre suas soluções e invenções para um futuro melhor – e que terminava com o presidente Obama em big close dizendo “We are waiting for you in America”. Vamos combinar que ele não quer de verdade receber um bilhão e quatrocentos milhões de chineses em casa, mas ok. Por último, um vídeo que era super piegas e com o roteiro bem fraquinho, mas que teve o mérito de, literalmente, fazer chover: quando a chuva começa a cair no filme, um chuvisco acompanhado de raios, trovões e vento forte atinge a platéia. Hollywood pouca é bobagem…

O pavilhão da Itália, com vários andares, tem projeto de design de Peter Greenaway (não me perguntem porque eles chamaram um inglês, mas ele arrasou) e é o mundo maravilhoso das formas. Um espaço estupendo, exageradamente delicioso de se ver. Todas as épocas, todas as cores, todas as áreas do design estão lá em um prédio que sozinho já é um espanto de tão envolvente. No post anterior já mostrei algumas fotos do local e nesse há uma silhueta minha posando de Monalisa. Ou quase…

No próximo post falo um pouco mais sobre a Expo. E depois juro que encerro o assunto e começo a contar outras coisas. Ainda vou falar das livrarias de Xangai, de templos budistas, de feiras de quinquilharias e até do Carrefour daqui que, urgh, vende sapos e tartarugas vivas pras pessoas cozinharem em casa.

A Expo Shanghai, os chineses e o Brasil

Antes de falar na Expo Shanghai 2010 (aqui se escreve assim), algumas conclusões sobre os chineses que encontrei pelo caminho: as mulheres odeiam sol e andam sempre de sombrinha; nenhum deles respeita sinais de trânsito e muito menos faixa de segurança; um dos esportes preferidos deles é a furação de fila; ao entrar em um dos ônibus que circulam na Expo (ela é tão imensa que foi preciso fazer um túnel de mais de 300 metros sob um rio para que esses ônibus pudessem ir para o outro lado da feira), eles não esperam os passageiros descerem para tentar entrar.

Mas agora, vamos à Expo Shangai em si. Além dos pavilhões de todos os países do mundo, existem pavilhões especiais, entre eles o de “melhores práticas urbanas”. É nesse espaço que estão duas cidades da América Latina: Porto Alegre, com o seu case “Governança Solidária e Social”, e São Paulo, com o “Cidade Limpa”. Ambos são interativos, mas confesso que gostei mais da proposta paulista (com projeto de Daniela Thomas) onde, entre outras coisas, painéis giratórios que parecem livros formam paredes que lembram como a cidade era e como ficou depois que foram proibidos outdoors e outras interferências publicitárias.

O painel paulista projetado por Daniela Thomas / Paula Taitelbaum

O de Porto Alegre também é legal, com um jogo social interativo que parece um grande video-game circular (é difícil de explicar, então se contentem com essa explicação mesmo). E preciso confessar que foi graças à agilidade do pessoal do espaço gaúcho – que entrou em contato com os outros pavilhões – que não precisei entrar em filas que chegavam a até quatro horas de espera. Com certeza, se eu tivesse que enfrentar essas filas, não teria achado a Expo tão incrível. E provavelmente só teria conseguido visitar uns poucos pavilhões. Aliás, é impossível visitar todos, porque são duas centenas e alguns deles são enormes. Como quero falar um pouco sobre cada um dos que eu visitei, o assunto terá que render mais de um post.

Só para explicar melhor, cada país construiu seu próprio pavilhão e colocou lá dentro o que considerou melhor para “se vender”. Obviamente, alguns investiram mais e outros menos, alguns bem menos. Quem investiu mais milhões foi a Arábia Saudita. Mas esse só vi por fora. Visitei os do Brasil, Canadá, Colômbia, México, Estados Unidos, Finlândia, Alemanha, Japão, China e Itália (fotos acima). Hoje, vou falar somente sobre o pavilhão do Brasil e do sentimento que tive ao entrar lá: vergonha, muita vergonha. Por fora, ele já de chorar, com o logotipo formado por duas bananas e forrado de ripas de madeira pintadas de verde que não causam efeito nenhum além da sensação de que o país é uma pobreza até em termos de criatividade.

Ao entrar, um túnel de imagens de baixa definição, em plena era HD 3D – será que era um VHS? Depois, telões que contavam as histórias de quatro brasileiros, mas que, na verdade, mais pareciam (e eram) comerciais institucionais da Petrobras e da Vale – patrocinadores do espaço. Só para você ter uma ideia, há uma cena em que um dos personagens vai ao posto BR e fica lá abastecendo intermináveis três minutos. Não há nada ali que pudesse levar um Chinês a apostar um ramebi que visitar o Brasil vale a pena. E olha que os chineses adoram uma aposta. Outra vergonhosa constatação: ao contrário de todos os outros pavilhões, não havia nenhum brasileiro para dar informações. Não estive no do Cazaquistão, mas acredito que até ele estava melhor, ainda que o Borat não estivesse lá. Por falar nisso, se visitasse o pavilhão brasileiro, Borat já teria assunto para um próximo filme. Só o bar e a lojinha já renderiam boas piadas. Depois que eu contar o que vi nos outros, vai dar pra entender melhor o porquê da vergonha. Pensando bem, pior só o da Venezuela, que foi montado e nem abriu.

Xangai é um barato

Chineses de cara fechada, em seus uniformes militares, com perguntas como “o que você pretende fazer na China, sua capitalista?”. Juro que achei que meu desembarque na terra de Mao seria assim. No lugar, encontrei uma alfândega com jovens e sorridentes atendentes em um aeroporto totalmente futurista. Mas vou poupar os detalhes e fazer um pequeno álbum de retratos falados das minhas primeiras impressões de Xangai, cidade onde me encontro nesse exato momento. Xangai parece estar à frente de nós.  Não só porque aqui é sempre a manhã do dia seguinte – enquanto na maioria do mundo ainda é a noite do dia anterior -, mas porque seus prédios fabulosos dão a impressão de estarmos na cidade da família Jetson.


No Bud, bairro antigo, edifícios com mais de cem anos convivem com torres com mais de cem andares. Há lojas chiques e famosas como Hermés, Fendi, Louis Vitton, Cartier, Vertu (que vende celulares de dez mil euros) e do outro lado da calçada há lojinhas com todos os níveis de artigos falsificados. No calçadão da Nanjing Road passam milhões de pessoas em um só dia. À noite, os neons iluminam todos os prédios, as árvores ganham lanternas coloridas, os chineses vão todos para as os bares beber e conversar. Chineses modernos, com cabelos e roupas da moda, unhas coloridas e nenhum medo aparente de ser feliz. Dá vontade de morar em Xangai. Principalmente porque tudo é muito lindo, muito limpo, muito organizado e muito, mas muito, mas muito barato mesmo (a não ser que você queira comprar alguma coisa muito verdadeira). Um detalhe, porém: vi apenas uma livraria em Xangai e nenhuma pessoa com um livro na mão. Bem, mas melhor assim do que o tempo em que todos os chineses eram obrigados a carregar o livro vermelho de Mao.

* Paula está na China fazendo pesquisas para um livro. Nos próximos 20 dias ela vai compartilhar no blog suas impressões sobre o país mais populoso do mundo.