47. Ideias e aventuras: o primeiro site de editora do Brasil

Por Ivan Pinheiro Machado*

Você consegue imaginar a cidade de Porto Alegre com apenas 450 pessoas conectadas à internet? Pois um dia foi assim. Você, jovem leitor, tente imaginar um mundo com pouco mais de 400 internautas, sem Facebook, Twitter, MSN, Orkut, Youtube, Google e sem iPhone, iTunes, iPad e outras invenções correlatas. Era um tempo onde Steve Jobs tinha problemas sérios de grana e nem ele, nem Bill Gates mandavam na Internet. Aliás, eles nem sequer estavam na Internet.

O “cara” era o velho “Netscape” que, durante uns poucos anos, foi soberano: o único programa de acesso a web e e-mails. Até ser atropelado pela turma do Bill e pela trupe do Steve que, por sua vez, atropelou todo o mundo. Tudo isso aconteceu no período paleolítico, 1995 para ser mais preciso. Alguém leu sobre as possibilidades remotas e futuras da internet aqui na L&PM. Ficamos maravilhados com a oportunidade de sermos lidos em computadores de qualquer lugar do mundo. Uma mágica que, naquela época, poucos acreditavam ser possível. O Renato Kling, nosso consultor de informática, trabalhava também para a PROCERGS, empresa pertecente ao Estado do RS que cuidava de toda a parte técnica dos sistemas de informática do Governo gaúcho. Fizemos contato com diretora da estatal, Marli Nunes Vieira, e depois de muitas reuniões foi estabelecida uma parceria com a empresa para colocar no ar o site inaugural da L&PM. Que seria o primeiro site de uma empresa no Rio Grande do Sul e o primeiro site de uma editora no Brasil.

Cabe, como curiosidade, contar rapidamente como eram feitas as coisas na internet, no tempo em que os bichos falavam. Já foi dito que seria a primeira página feita pela PROCERGS. Havia a teoria e nenhuma prática. A ideia era colocar todo o catálogo da L&PM Editores na Internet, com capa, sinopse e preço. Eram 2.000 títulos. E haveria uma busca simples, por título e por autor, a única disponível naquela época. O processo de trabalho: escanearíamos as 2.000 capas e faríamos 2.000 sinopses.

Para transportar dados só havia o velho disquete, lembram dele? Eles suportavam 1,44 mb, ou seja, duas capas escaneadas em média resolução ou 50 sinopses de 2 laudas cada. Foram seis meses de trabalho. Lembro do dia em que levamos o material para a PROCERGS. A Jó Saldanha, que havia operado toda a logística de escaneamento de capas e sinopses, o Renato Kling e eu, fizemos duas viagens de carro até o local de entrega, para transportar as seis enormes caixas de papelão com mais de mil disquetes… E assim, no final do ano de 1995, a página pioneira da L&PM foi lançada. A esta altura, vale dizer, o número de internautas já tinha quadriplicado. Em 2011 já não são 450 internautas. São milhões de pessoas conectadas, dependentes, interligadas, transformando a internet no mais corriqueiro meio de comunicação e informação. De lá para cá, assim como a web mudou, a L&PM cresceu. Tornou-se protagonista da única grande revolução que aconteceu no mercado editorial brasileiros nos últimos 20 anos: a implantação do livro de bolso como um hábito do brasileiro. Foram 20 milhões de livros de bolso vendidos nos últimos 14 anos. E aprofundou a sua participação na Web. Hoje temos todos os recursos de interatividade e mais uma WEB TV exclusivamente para prestar serviço aos nossos leitores. Um dia, há muito tempo, quando fizemos 10 anos, no final da ditadura militar, nós inventamos um slogam que dizia assim: “L&PM Editores: 10 anos de idéias e aventuras.” E é isso que nos move até hoje. Idéias novas e a aventura de colocá-las em prática. E sempre a mesma emoção, o mesmo risco e a esperança de que, no fim, tudo vai dar certo.

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quadragésimo sétimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

5 ideias sobre “47. Ideias e aventuras: o primeiro site de editora do Brasil

  1. Magno

    Ontem, a internet, hoje, os ebooks 🙂

    Como disse Linus Torvalds, o criador do Linux, certa vez: “Que saudade dos tempos em que os homens eram homens e escreviam seus próprios device drivers.” Hehehe 🙂

    Falando em Netscape, quem afundou o Netscape foi a MS sim, mas, não com competência e um programa melhor. Ela colocou código oculto no Windows que atrapalhava o funcionamento do Netscape. Quando isso ficou provado, já era tarde e a desenvolvedora do navegador fechou, mas antes disponibilizou o código-fonte do programa como software livre. Algum tempo depois (e vários forks também) o Netscape tornou-se a base do que hoje conhecemos como Firefox. Além disso, o motor do programa, o Gecko, foi utilizado por muito tempo em outros navegadores livres.

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  2. Daniel Donato Piasecki

    Na música do Karnak é citado “… o mundo muda, a gente muda…”, e a internet constantemente muda… Na época do lançamento desse site da editora, eu tinha 9 anos e nem imaginava haver tudo isso aqui (ou o embrião disso tudo). Com certeza foi um desafio e tanto para a editora, saindo à frente nesse processo…

    Parabéns.

    Fica o convite de acessarem meu blog:
    http://dadosecki.blogspot.com

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