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Tatiana Belinky vai deixar saudades

Tatiana Belinky nasceu em São Petesburgo, na Rússia, e chegou no Brasil com 10 anos. Aqui, viveu oito décadas de muita produção. Ao todo, escreveu mais de 250 livros infantojuvenis, muitos deles agraciados com prêmios educacionais. Também trabalhou como atriz de peças infantis, apresentou um programa na extinta TV Tupi e junto com o marido, Julio de Gouveia, foi responsável pela primeira adaptação para a televisão de “O Sítio do Pica Pau Amarelo”, de Monteiro Lobato.

Tatiana Belinky também traduziu muito. A corista e outras histórias, de Tchékhov, Senhor e servo & outras histórias, de Tolstói e Primeiro amor, de Ivan Turguêniev são títulos da Coleção L&PM pocket que foram traduzidos por ela.

Tatiana tinha 94 anos e seu corpo foi enterrado no domingo, 16 de junho, no Cemitério Israelita da Vila Mariana em São Paulo.

Assista aqui o pequeno trecho de uma entrevista feita com ela:

“Dobradinha russa” no teatro em São Paulo

Depois de passar pelo festival Porto Alegre em Cena, um dos maiores do país, a peça “Eclipse” do Grupo Galpão chega a São Paulo no melhor estilo “dobradinha russa”, no mesmo fim de semana em que estreia o espetáculo “Pais e filhos”, uma adaptação da Mundana Companhia do livro homônimo de Ivan Turguêniev.

O mais curioso é que os dois espetáculos brasileiros têm na direção encenadores russos: “Eclipse” é baseada na obra de Anton Tchékhov e acontece sob a batuta de Jurij Alschitz e “Pais e filhos” tem direção de Adolf Shapiro – tanto Alschitz quanto Shapiro foram alunos do mestre Constantin Stanislávski, um dos maiores nomes da história do teatro mundial.

A atriz Inês Peixoto, do Grupo Galpão, em cena da peça "Eclipse"

Para os amantes da literatura russa, uma bela sugestão de programa para os próximos fins de semana 😉

“Eclipse” (baseado na obra de Tchékhov)
de 27/9 a 14/10 (de quinta a sábado, às 21h, e domingo, às 18h)
no Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141; tel. 0/xx/11/5080-3000)
R$ 24
Classificaçao 12 anos

“Pais e Filhos” (uma adaptação do livro homônimo de Ivan Turguêniev)
de 29/9 a 11/11 (sextas e sábado, às 21h, e domingo às 19h)
no Sesc Pompeia (r. Clélia 93; tel. 0/xx/11/3871-7700)
R$ 20
Classificação 16 anos

Os últimos dias de Tolstói

Em 1910, Leon Tolstói já contava 82 anos. Mas nem a idade avançada e a saúde frágil o fizeram perder de vista a coerência entre seu modo de vida e seus ideais. Apesar da pressão de sua esposa para que lhe deixasse em testamento os direitos sobre sua obra, ele resolveu fazer o que achava certo: modificou seu testamento sem que ela soubesse. Para garantir que sua obra se tornasse pública após sua morte, todos os direitos foram deixados como herança para um de seus discípulos mais fiéis.

Feito isto, o melhor a fazer era abandonar tudo e fugir em busca de uma vida diferente. Ao deixar a mansão na calada da noite para uma longa viagem de trem, Tolstói renunciava definitivamente à família, à propriedade, mas também à própria vida. O frio, a fumaça e as péssimas acomodações dos vagões da terceira classe (já que luxo e conforto não estavam em acordo com a vida simples que buscava) lhe renderam uma penumonia, que se agravou rapidamente e culminou em sua morte no dia 20 de novembro de 1910, aos 82 anos, numa modesta estação de trem em Astapovo, cercado de curiosos, seguidores fanáticos, e de uma das filhas, a única da família que aderiu à sua cruzada.

A saga dos últimos meses de vida do autor de Guerra e paz está contada no filme A última estação (2009), do diretor Michael Hoffman, lançado em 2009. Emocionante e intenso, o longa traz Christopher Plummer no papel de Tolstói e Dame Helen Mirren como sua esposa Sofia. Veja o trailer:

Aristocrata russo, filho do conde Nicolau Ilich Tolstói e da princesa Maria Nikolayevna Volkonski, Leon Tolstói teve uma infância carente e complicada. Sua mãe morreu quando ele tinha dois anos e seu pai foi vítima fatal de uma apoplexia antes do pequeno Leon completar dez anos. Ele e os três irmãos foram criados por parentes próximos na província de Kazan. Já adulto e incentivado por seu irmão, o tenente Nicolai Tolstói, Leon alistou-se no exército e participou da guerra da Turquia e da guerra da Criméia, onde conheceu profundamente a vida militar, os horrores e os heroísmos de uma guerra. Quando finalmente desligou-se do exército, já com 30 anos, ele conheceu a bela e moscovita Sofia, com quem se casou e teve 13 filhos. Foi neste período que ele escreveu suas obras mais conhecidas: Guerra e paz e Anna Karenina.

Anarquista convicto, Tolstói era admirado pelo filósofo Joseph Proudhon, cujas ideias coincidiam com a filosofia que ele difundia entre seus empregados e vizinhos. Seus escritos foram aplaudidos também por seus contemporâneos russos Fiódor Dostoiévski, Ivan Turguêniev e Anton Tchékhov e festejados por Gustave Flaubert, que comparou-o a William Shakespeare.

No final de sua vida, trocou intensa correspondência com Mahatma Ghandi, cuja teoria de resistência não-violenta tinha muito em comum com suas teses, inclusive as que ficaram imortalizadas no tratado pacifista Guerra e paz, uma das maiores obras da literatura mundial – não só em volume de páginas mas também em excelência literária.

Na apresentação da edição de bolso de Guerra e Paz publicada pela L&PM em 4 volumes, o editor Ivan Pinheiro Machado faz a seguinte comparação: “Guernica de Pablo Picasso está para o povo espanhol assim como Guerra e paz de Leon Tolstói está para o povo russo”.

Já não resta dúvidas de que este livro é leitura obrigatória, né? 🙂