Uma ótima entrevista com Denise Bottmann, tradutora de Mrs. Dalloway

O jornal Opção, de Goiânia, publicou uma longa entrevista com Denise Bottmann, uma das mais importantes tradutoras brasileiras, responsável pela tradução de Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf. O livro acaba de sair pela Coleção L&PM Pocket e Denise falou sobre a importância das novas traduções de clássicos e o desafio de encontrar o tom certo para esta grande obra de Virginia Woolf. Clique aqui e leia a entrevista completa.

O que você destacaria como o principal desafio que encontrou para traduzir este livro?

Foi encontrar o tom. A linguagem em si é muito simples. A questão é a seguinte: existem “n” maneiras de dizer qualquer coisa; acontece que aquela coisa está dita daquela e não de outra maneira — e ninguém, em especial o tradutor, pode considerar que seja algo fortuito ou mecânico. Então este é o ponto de partida: as escolhas do autor. E são essas escolhas incessantes ao longo das páginas que você tem de entender: não digo só o que está dado no texto; digo as razões de fundo (literárias, estilísticas) para a escolha de tal e tal montagem, desta e não daquela palavra, daquela imagem, daquela ordem dos termos e frases, o que for. Esse entendimento leva algum tempo, pelo menos para mim: assim como o pessoal da filosofia fala em “tempo lógico” do texto, penso numa espécie de “tempo literário” do texto. Então, digamos, a certa altura você até consegue reconstituir mais ou menos o quadro da coisa, você já discerne os procedimentos e suas correlações internas. Ótimo. Mas ainda não sente, está ainda no nível analítico, abstrato. Você até consegue prever quais as escolhas que vão vir, ou, quando vêm, já parecem bastante naturais, você bate na cabeça e diz, “mas claro!”. E aí você tem de conseguir infundir essa percepção de uma estrutura, que transparece apenas obliquamente na superfície do texto, no que você vai escrever em português, isto é, na sua tradução. É isso o que chamo de “encontrar o tom”. E vários elementos de conteúdo, eu tinha de conseguir que cintilassem de leve, aqui e ali, discretamente, como pequenos presentinhos escondidos para o leitor, como Woolf faz, sem alardear: e de repente pode aflorar à leitura alguma preciosidade, e é quando o leitor tem aquela — para usar um termo batido — epifania. Várias coisas ganham nova perspectiva; coisas que pareciam avulsas ou desconectadas se reúnem; fica uma espécie de prisma multifacetado.

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