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“O fim”, de Allen Ginsberg

Eu sou Eu, velho Pai Olho de Peixe que procriou o oceano,
o verme no meu próprio ouvido, a serpente enrolada na árvore,
Eu me sento na mente do carvalho e me oculto na rosa, eu sei se
alguém desperta, ninguém a não ser minha morte,
vinde a mim corpos, vinde a mim profecias, vinde a mim agouros,
vinde espíritos e visões,
Eu recebo tudo, eu morro de câncer, eu entro no caixão para
sempre, eu fecho meu olho, eu desapareço,
Eu caio sobre mim mesmo na neve de inverno, rolo em uma
grande roda pela chuva, observo a convulsão dos que fodem,
carros guincham, fúrias gemem sua música de fagote, memória
apagando-se no cérebro, homens imitando cães,
Eu gozo no ventre de uma mulher, a juventude estendendo seus
seios e coxas para o sexo, o caralho pulando para dentro
derramando sua semente nos lábios de Yin, feras dançam no
Sião, cantam ópera em Moscou,
meus garotos excitados ao crepúsculo nas varandas, chego a
Nova York, toco meu jazz num Clavicórdio de Chicago,
Amor que me engendrou eu retorno a minha Origem sem nada
perder, eu flutuo sobre o vomitório
empolgado por minha imortalidade, empolgado por essa infinitude
na qual aposto e a qual enterro,
vem Poeta, cala-te, come minha palavra e prova minha boca em
teu ouvido.

O poeta Allen Ginsberg morreu em 5 de abril de 1997, aos 70 anos, mas escreveu os versos acima em 1960. “O Fim” está no livro Uivo, Kaddish e outros poemas que tem tradução de Claudio Willer. Ele certamente não foi o único poema escrito de Ginsberg no qual a morte estava presente. Quando seu pai faleceu, o poeta beat dedicou a ele Father Death Blues.  Abaixo, o emocionante vídeo em que Ginsberg, já em idade avançada, canta este poema:

Recentemente, a L&PM lançou Allen Ginsberg e Jack Kerouac: as cartas, livro que traz a troca de cartas entre os dois amigos beats ao longo de 25 anos.