O dia em que Verlaine atirou em Rimbaud

Cheguei a Bruxelas há quatro dias, infeliz e desesperado. Conheci Rimbaud há mais de um ano. Vivi com ele em Londres, cidade que deixei há quatro dias para vir viver em Bruxelas, a fim de estar mais perto dos meus negócios, já que estou me separando de minha esposa, residente em Paris, a qual alega que eu mantenho relações imorais com Rimbaud. Escrevi a minha esposa dizendo que caso ela não viesse ter comigo em três dias, eu daria um tiro na minha cabeça, e foi com essa finalidade que comprei um revólver esta manhã na passagem das Galeries Saint-Hubert, com o estojo e uma caixa de balas, pela soma de 23 francos. Depois de minha chegada a Bruxelas, recebi uma carta de Rimbaud que me perguntava se podia vir se encontrar comigo. Enviei-lhe um telegrama dizendo que o aguardava, ele chegou há dois dias. Hoje, ao ver-me infeliz, quis me abandonar. Perdi o controle em um instante de loucura e atirei nele. Ele não deu queixa naquele momento. Fui com ele e minha mãe ao hospital Saint-Jean para que ele recebesse cuidados e voltamos juntos. Rimbaud queria partir de qualquer jeito. Minha mãe deu-lhe vinte francos para sua viagem; e foi no caminho para a estação que ele alegou que eu queria matá-lo.

(Depoimento de Paul Verlaine que está no livro Rimbaud, Série Biografias L&PM)

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