Entenda o conflito no Tibet

Ivan Pinheiro Machado

Em 1959, depois do fracasso da rebelião armada contra o governo chinês, o 14º Dalai Lama, acompanhado de milhares de fiéis, refugiou-se na cidade de Dharamsala, na Índia, instalando um governo no exílio.
Nove anos antes, com o desequilíbrio de forças ocasionado pela descolonização britânica, o Tibet havia sido ocupado pelo exército chinês, rompendo com uma tradição de 400 anos de estado religioso. Os ingleses apoiavam o Dalai Lama, o chefe de estado tibetano, e os chineses apoiavam Panchem Lama, de outra facção budista e postulante ao governo do Tibet. O tempo entre a invasão inicial e a fuga do 14º Dalai Lama foi marcado por um processo sistemático de perseguições e de aculturação monitorado pelos chineses que tentaram – e tentam até hoje – erradicar o budismo que é a identidade do Tibet e do povo tibetano.
Em seu livro Caminho da sabedoria, caminho da paz, publicado na coleção L&PM POCKET, o Dalai Lama denuncia o incrível número de um milhão de mortos (um sexto da população) desde 1959 como consequência da invasão chinesa: 175 mil morreram na prisão, 156 mil em execuções em massa, 413 mil de fome (isso durante as “Reformas agrícolas”), 92 mil foram torturados até a morte e 10 mil cometeram o suicídio. No rastro deste genocídio – segundo conta o Dalai Lama em seu livro – 6.100 mosteiros foram destruídos.
A China alega que o Tibet faz parte de seu território desde meados do século XIII e deve ficar sob o comando de Pequim. Muitos tibetanos afirmam que a região do Himalaia ficou independente durante vários séculos e que o domínio chinês nem sempre foi uma constante.
Em 1989, a causa da independência do Tibet ganhou força no Ocidente após o massacre de manifestantes pelo exército chinês na praça da Paz Celestial e a entrega do Nobel da Paz ao Dalai Lama, líder espiritual dos budistas.
Desde o final dos anos 1990, a China tenta legitimar sua presença no Tibet por meio do crescimento econômico – a partir de 1999, a economia local cresceu 12% ao ano. O governo chinês também tenta dominar o país através da presença de chineses da etnia majoritária han e do controle da sucessão religiosa.
A China diz que os tibetanos no exílio, liderados pelo Dalai Lama, só estão interessados em separar o Tibet da terra-mãe. O Dalai Lama diz querer nada mais que a autonomia da região.

Sete anos no Tibet

O registro deste conflito está em Sete anos no Tibet (L&PM POCKET), livro escrito pelo alpinista austríaco e campeão olímpico Heinrich Harrer (1912-2006) que relata sua experiência na região. Em 1943, após decidir escalar um dos picos mais altos do Himalaia, Harrer e seu companheiro Peter Aufschnaiter, engajados no exército alemão, foram presos pelos ingleses. Depois de fugir do campo de prisioneiros na Índia, atravessaram as montanhas do Himalaia enfrentando a rejeição das autoridades tibetanas, as baixas temperaturas e todos os perigos imagináveis. Ao fim de dois anos de uma árdua travessia, chegaram às portas de Lhasa, a Cidade Proibida, famintos, maltrapilhos e quase mortos de frio. Diante do estado lamentável em que se encontravam, foram recolhidos e acolhidos pelos tibetanos. Devido aos seus conhecimentos de ciências em geral, Heinrich Harrer, depois de conquistar a confiança dos monges e nobres tibetanos, foi contratado para ser o preceptor e professor do Dalai Lama – a encarnação do Buda na Terra. Nesta convivência de sete anos, Harrer viveu uma profunda amizade com o jovem Dalai Lama que o despertou para um mundo completamente diferente daquele que conhecia. Ele permaneceu no Tibet até 1950, quando os chineses invadiram o país expulsando milhares de cidadãos e o líder Dalai Lama.

Em 1997, o livro de Harrer foi adaptada para o cinema com grande sucesso, em filme dirigido por Jean-Jacques Annaud e com Brad Pitt no papel de Harrer.

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