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E por falar em silêncio…

Abaixe o som, não grite, tire a mão da buzina, evite até mesmo ler em voz alta. Hoje, 7 de maio, é Dia do Silêncio no Brasil. Não conseguimos descobrir quando e como ele começou a ser comemorado, mas para marcar esta data separamos alguns trechos de livros que homenageiam a ausência de som:

Você já amou uma mulher silenciosa / Que não levanta a voz por raiva / Nem má educação / Que anda com seus pés de seda / Num mundo de algodão / Que não bate / fecha a porta / Como quem fecha o casaco de um filho / Ou abre um coração? (De Poemas, Millôr Fernandes)

O teu silêncio é uma nau com todas as velas pandas… / Brandas, as brisas brincam nas flâmulas, teu sorriso… / E o teu sorriso no teu silêncio é as escadas e as andas / Com que me finjo mais alto e ao pé de qualquer paraíso… (De Poesias, Fernando Pessoa)

Pior do que uma voz que cala é um silêncio que fala. (De Ménage à Trois, Paula Taitelbaum)

O resto é silêncio. (De Hamlet, Shakespeare)

E de repente o silêncio, / Com os passos da ilusão / perseguem a criança-sonho / Pelas terras da invenção, / Falando a seres bizarros… / Uma verdade, outra não. (De Alice no País das Maravilhas, Lewis Carroll

Pelos labirintos das Galerias Pacífico

Sábado passado, meio-dia, Buenos Aires. Do lado de fora, uma chuva fina e fria levava os tantos turistas a procurarem vitrines cobertas. Justamente por isso, as já normalmente cheias “Galerias Pacífico” eram um mar de gente que se apertava pelas escadas rolantes e rolava lojas a dentro. Pouco à vontade (e com pouca plata), resolvi procurar abrigo no único local que poderia me oferecer algum alento por ali: o Centro Cultural Borges. Ele fica no último andar do prédio histórico do século XIX, onde a Galerias Pacífico chegam mais perto do céu e é possível, das janelas, enxergar alguns telhados do centro da cidade. Chegando lá, uma surpresa, ao contrário dos outros andares, não havia um único turista transitando pelos corredores. Aliás, não havia quase ninguém pelos 10 mil metros quadrados do centro cultural. “Nada para comprar”, poderiam explicar alguns. “Mas bastante para ver”, eu responderia… No salão de entrada, por exemplo, o visitante pode contemplar uma bela exposição de pinturas Sumi acompanhadas de Hai-kais. E subindo mais um lance de escadas rolantes, chega-se ao acervo de Borges, onde entre frases do escritor, vídeos e imagens, é possível também ver, em uma parede, livros e retratos de seus autores preferidos, aqueles que o influenciaram de alguma forma. Edgar Allan Poe, Kafka, Chesterton, Robert Louis Stevenson, Cervantes e Conrad são alguns deles.

Além desse espaço, há outras três salas de exposições sempre com algo interessante. Por isso, fica aqui a dica para você visitar este labirinto de Borges em sua próxima ida a Buenos Aires. Mas só se você, assim como eu, estiver à procura de uma biblioteca de Babel – e não de uma babilônia do consumo. (Paula Taitelbaum)

Dylan, minha filha e eu, together in the park

Para ouvir ao som de “Tomorrow is a long time”

Por Paula Taitelbaum*

23 de abril é dia de Shakespeare, Cervantes, São Jorge. Dia Mundial do Livro. Mas hoje nada disso importa… 23 de abril é o dia em que, há exatos 51 anos, Bob Dylan fez seu primeiro show pago, abrindo para John Lee Hooker no Gerde´s Folk City em Nova York. E mais do que isso: é o dia em que nasceu Clara, minha filha. Ou seja: ontem era aniversário dela. Clara, que estava fazendo 11 anos, toca Knock, knock, knockin’ on heaven’s door ao violão e encontra Dylan todo dia de manhã, ao sair do quarto – em uma tela feita pelo artista plástico Oscar Fortunato que há anos está pendurada na parede do corredor bem em frente à sua porta. Clara sabia que o bardo estava na cidade, em um hotel não muito longe de nossa casa. E talvez por isso, desde o final da tarde de ontem, repetia sem cessar: “Queria tanto encontrar o Bob Dylan no dia do meu aniversário…”. Ao sairmos pra jantar com a família, ela continuou falando isso à exaustão, convencida de que o encontro era realmente possível. Lá pelas 22h, ao deixarmos o restaurante, já no rumo de casa, resolvemos fazer um caminho mais longo só para, quem sabe, tropeçar sem querer com Dylan rolando como uma pedra pelas ruas de Porto Alegre… Vá que Clara tivesse razão.

O carro ía devagar, olhávamos atentos às ruas vazias de uma segunda-feira fria. Procurávamos uma figura magra, pequena, provavelmente de touca preta e jaqueta de couro. Nada. Nem sombra. Então, sugeri que virássemos numa rua ao lado do Parcão (como é chamado o Parque Moinhos de Vento). De repente, vimos, sob a penumbra das árvores, entre a luz difusa, duas pessoas caminhando bem devagar. “É ele!” gritou Eduardo. E parou o carro. E era ele. Ele! O cara que escreveu “Like a Rolling Stone” e tanto tanto tanto mais. Que habita nossas paredes, nossas estantes, nossos corações e mentes, o próprio ar que respiramos com sua música. Não havia a menor dúvida de que era ele. Bob e uma mulher caminhavam e conversavam. Dois amigos falando sobre a vida, o clima, o mundo e suas complexidades, sei lá… Together in the park, with the sky already dark. I looked at him and felt a spark, tingle to my bones: meu coração disparou, comecei a tremer inteira, Clara saltou do carro. Caminhamos em direção a ele. Clara e eu. Eduardo ficou um pouco mais atrás, não queria atrapalhar o momento… Ao ver Clara, Dylan sorriu com os olhos. Uma criança faz toda a diferença… “Hi Bob”. “I´m very nervous” disse eu (se isso é coisa que se diga!!!). “Is her birthday” falei, apontado para ela. Ele abriu um sorriso gentil: “Oh, it´s your birthday! Happy birthday”. Então Clara tirou um bilhete da bolsa e ofereceu a ele. Um bilhete que ninguém sabia que ela tinha feito. Estava escrito e desenhado com um coração “I love Bob. From Clara / To Bob Dylan”. Ele pegou o bilhete e sorriu ainda mais, apertando os olhos finos de um azul translúcido, capazes de iluminar a noite fria. Então, apontou para o tênis dela e, vendo os cadarços desatados, disse “You will stumble… Tie up your shoes” (Você vai tropeçar, amarre seu sapato). Clara bend down to top the laces of her shoes… Então, ele ergueu o bilhete, sacudiu-o no ar e o apontou em direção a ela, deixando claro que iria guardá-lo. Eu agradeci e disse “See you tomorrow” (but “Tomorrow is a long time” devia ter emendado). Eles continuaram caminhando. Eu tremia e chorava. Clara pulava. Na cama, antes de dormir, ela disse “Que velhinho mais querido!”. Sim, sim, o velhinho mais jovem que eu já vi na vida. Forever Young and still on the road, after all these years. Nunca vamos esquecer esse 23 de abril… Never gonna be the same again…

*Paula Taitelbaum é escritora, coordenadora do Núcleo de Comunicação da L&PM, mãe de Clara e hoje vai assistir pela sétima vez um show de Bob Dylan.

Dia nacional de declamar poemas

Rebramam os ventos… Da negra tormenta
Nos montes de nuvens galopa o corcel…
Relincha – troveja… galgando no espaço
Mil raios desperta co´as patas revel.

É noite de horrores… nas grunas celestes,
Nas naves etéreas o vento gemeu…
E os astros fugiram, qual bando de garças
Das águas revoltas do lago do céu.

(…)

(Trecho do poema “Pedro Ivo”, do livro “Espumas flutuantes”, de Castro Alves)

Castro Alves nasceu em 14 de março de 1847. E é em homenagem ao “Poeta dos Escravos” que este dia foi escolhido como o Dia Nacional da Poesia. Além do autor de Espumas flutuantesestão entre os poetas brasileiros da casa Olavo Bilac, Mario Quintana, Millôr Fernandes, Martha MedeirosPaula Taitelbaum e Affonso Romano de Sant’Anna.

Já os poetas de longe a gente deixa para homenagear na próxima quarta-feira, 21 de março, quando comemoramos o Dia Internacional da Poesia.

Quer brincar de boneca?

Por Paula Taitelbaum

Literary Greats Paper Dolls” é um livro que, para aqueles que um dia já amaram bonecas de papel (como eu!) e que agora amam escritores (como eu!), desperta mais do que a cobiça. Desperta uma euforia. Meu encontro com ele foi há uns quinze dias, quando eu vasculhava as prateleiras da Livraria Travessa, em Ipanema. Nas suas páginas coloridas, encontrei bonecas de papel dos maiores escritores da literatura! Com roupinhas incríveis que sairam das  histórias ou personagens de cada um desses autores clássicos. E como hoje é aniversário de Edgar Allan Poe (ele nasceu em 19 de janeiro de 1809), vou ser boazinha e emprestar a minha boneca de papel Poe pra vocês. Pra ampliar a imagem, é só clicar sobre ela.

E pro Poe versão boneca não ficar tão sozinho na brincadeira, também vou empresar minha Agatha Christie “paper dool” . É só mandar imprimir, recortar e se divertir.


O livro “Literary Greats Paper Dolls” é uma publicação da editora norte-americana Dover Publications. Entre os escritores retratados como bonecas de papel, a maioria faz parte do catálogo L&PM como Oscar Wilde, Sir Arthur Conan Doyle (esse ganhou até roupinha de fada!), Charles Dickens, Dostoiévski, Scott Fitzgerald, H. G. Wells, Jane Austen, Jack London, Lewis Carrol (adivinha se não tem roupinha de Alice pra ele?), Tolstói, Mary Shelley, Mark Twain, Shakespeare e Robert Louis Stevenson. Qualquer dia desses eu posto mais alguns deles por aqui…

Sem medo de “Abaixo de zero”

“As pessoas têm medo de mudar de pista nas vias expressas de Los Angeles.” Assim começa Abaixo de zero, o aclamado livro de estreia do americano Bret Easton Ellis (o mesmo autor do perturbador O psicopata americano). Fico pensando no que está implícito nessa frase: mudar de pista é mudar de rumo, é tentar ultrapassar, é, quem sabe, se arriscar a encontrar alguém que ande mais rápido do que a gente. E isso às vezes dá medo. Não só em Los Angeles.

Não li Abaixo de zero. Ainda. Mas assisti ao filme de 1987 que conta a história de um triângulo de amigos: o protagonista Clay, sua ex-namorada Blair e seu amigo da faculdade Julian, este último vivido no cinema por um Robert Downey Jr. muito distante do atual Sherlock Holmes. O filme não está muito aceso na minha memória, mas lembro que, na época, gostei. Parece que quem não gostou muito foi o autor do livro, já que Ellis fez cara feia e falou que a adaptação não tinha nada a ver com seu romance.

Dirigido por Marek Kanievska, o Abaixo de zero dos cinemas é centrado numa mensagem “anti-drogas”, enquanto o livro concentra-se no vazio existencial na vida dos personagens. Além disso, as pessoas parecem ter mudado de personalidade no cinema. Clay, por exemplo, que é originalmente bissexual, virou heterossexual convicto.

É por essas e por outras que não basta ver o filme. Tem que ler o livro que acaba de chegar na Coleção L&PM Pocket… Sem medo. (Paula Taitelbaum)

Bastardos e banqueiros

Por Paula Taitelbaum*

Na noite passada, acho que pela décima vez, assisti a Bastardos Inglórios, de Quentin Tarantino. E provavelmente assistirei mais dez, vinte, trinta vezes. A sequência inicial – o diálogo entre o presunçoso nazista e o humilde fazendeiro – é espetacular, magistral, incansável e seja lá que outro adjetivo seja possível arranjar para definir algo que deixa você pensando: “como é que o cara conseguiu escreveu isso?”.

Os Bastardos Inglórios que dão nome ao filme são um grupo de norteamericanos judeus que vai para a França caçar e escalpelar os nazistas que lá estão instalados depois da invasão alemã. Liderados por Aldo (Brad Pitt em versão apache), os Bastardos Inglórios vingam os judeus perseguidos por Hitler.

Mas quem eram estes judeus franceses? Seriam eles apenas fazendeiros como os que aparecem no início do filme? Obviamente que a resposta é “não”. Na vida real, além dos humildes, havia gente poderosa como a família Rothschild. O nome soou familiar? Não é à toa: os Rothschild são os negociantes mais célebres do planeta, sinônimo de influência, riqueza e poder.

Isso e muito mais eu descobri nas páginas de “A dinastia Rothschild”, de Herbert R. Lottman, o mesmo autor de “A Rive Gauche”, e que acaba de chegar por aqui. Ainda não li todo o livro, mas hoje, pós Bastardos Inglórios, não resisti em dar uma olhada no capítulo 22, chamado “Os Rothschild na Guerra” para tentar descobrir um pouco a respeito dos judeus ricos de Paris nos anos 1940. Será que, assim como a família mostrada por Tarantino, eles também se escondiam sob as tábuas de assoalhos alheios? Duvideodó…

O que não quer dizer, é claro, que a Guerra não tenha deixado lá suas cicatrizes neles.

O livro que conta a saga da poderosa família Rothschild

O nome de Edouard e Robert Rothschild encabeçava a lista dos judeus fugitivos e um artigo sobre a família, publicado em um jornal francês da época, dizia que “O judeu, sendo um ser nauseante e fedido no verdadeiro sentido da palavra, gosta de sujar, de manchar todos aqueles que lhe são superiores ou que não se ajoelhem perante ele.”

E os ataques a eles não pararam por aí. Seus bens foram confiscados e “cerca de cinquenta oficiais e homens alemães se aquartelaram no castelo da família”. Nem as instituições de caridade mantidas por eles foram poupadas. “Quando começaram a arrebanhar os judeus para a deportação em massa para os campos de concentração, os nazistas pairaram sobre as instituições de caridade dos Rothschild, tirando pacientes do hospital Rothschild por categorias – advogados, vendedores…”

Edouard e Germain Rothschild

Temendo o pior, eles escaparam a tempo. Ao desembarcarem no aeroporto de Nova York, Edouard Rothschild, sua mulher Germaine e a filha Bethsabée, levavam uma mala contendo gemas avaliadas em 1 milhão de dólares. “Quando deram uma olhada no que os Rothschild estavam carregando, os inspetores da alfândega levaram Edouard e Germaine para uma sala privada; alguém tinha dado a informação de que as jóias seriam ‘peças de museu’. Mas os repórteres de fato notaram que o barão continuava carregando a mala ao deixar o aeroporto.”

Fico pensando que os Rothschild bem poderiam ter financiado as ações dos Bastardos Inglórios. Caso eles tivessem realmente existidos, é claro. Aliás, uma pena que não existiram…

* Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.

Uma pequena leitura de “A pele que habito”

Por Paula Taitelbaum*

Seriam os cirurgiões plásticos os Doutores Frankensteins da nova era? No lugar de juntar pedaços, agora eles mudam, moldam, delineiam, esculpem… Usam os corpos como matéria-prima de sua arte. Criam novas existências. Dão vida a novas experiências.

Em “A pele de habito”, novo filme de Pedro Almodóvar, o Dr. Robert Ledgard é um cirurgião plástico incansável na busca pela perfeição. Seu objetivo, no entanto, vai muito além do que apresenta a sinopse dos jornais: “Cirurgião plástico cria uma pele sintética que resiste à qualquer dano”. O Dr. Ledgard quer e faz muito mais do que isso. Mas não condene os jornalistas pelo simplismo de seus story lines, pois resumir esta trama de Almodóvar é praticamente impossível.

Mas voltemos ao médico em questão. Consumido por um sentimento de vingança, o Dr. Ledgard dá início a um trabalho que realmente o faz virar uma espécie de Dr. Frankenstein. Ele cria um monstro que passa a habitar sua mente e o consome de paixão. Por fim, torna-se o Deus de sua amargura. Infeliz e solitário em seu castelo high tech.

Como sempre, ninguém no filme de Almodóvar é menos do que intenso. Tão dramático quanto uma novela mexicana – e totalmente genial em tornar seus exageros factíveis – o diretor espanhol vai e volta no tempo, dançando entre os anos 2000 e 2012 (vez por outra vai mais longe do que isso). Sem deixar nenhuma cicatriz em seu roteiro, ele costura as cenas com a maestria de um cirurgião das películas.

No final, a nós meros espectadores, resta a certeza de que não gostaríamos de habitar a pele de nenhum dos personagens criados por Almodóvar. Ao mesmo tempo, sabemos que o mundo não seria tão interessante sem eles (talvez nem tão bizarro). Portanto: Ave Almodóvar!

Antonio Banderas vive o Dr. Ledgard, uma espécie de Frankenstein moderno

* Paula Taitelbaum é escritora, coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM, fã de Pedro Almodóvar e assistiu “A pele que habito” em sua pré-estreia.

Depois de ser Michael Jackson, Machado de Assis vira Morgan Freeman

Por Paula Taitelbaum*

A Caixa Econômica Federal refilmou o comercial em que Machado de Assis aparecia tão branco quanto o Michael Jackson. Mas parece que agora, talvez para evitar novos protestos, o pessoal não teve dúvida: escolheu um ator negro. Não mulato, como  Machado era de fato – filho de mãe açoriana com pai também mulato -,  mas preto mesmo, da cor do Morgan Freeman. Aliás, se o novo Machado da Caixa tivesse talento, a gente até poderia dizer que ele era uma versão brasileira do oscarizado ator norteamericano. Mas o coitado parece ter sido dublado pelo ex-presidente Lula: tem a língua presa! Alguém sabe me dizer se Machado de Assis tinha a língua presa? Sei que ele era epilético, mas nunca ouvi nada a respeito de problemas de fala.

A iniciativa da Caixa Econômica Federal de, nos seus 150 anos, fazer uma campanha publicitária embasada na  história, com certeza é elogiável. Resgatar episódios e personagens do Brasil é um gesto nobre. O problema é que, em suas produções de apelo histórico, a Caixa (na verdade, a agência de propaganda que criou os roteiros), não parece ter se preocupado muito com os detalhes. Fora o caso da cor do nosso maior escritor (branco demais, preto em exagero…), há outros deslizes que, para um espectador desavisado, acabam passando despercebidos. Mas que, na verdade, fazem toda a diferença.

Por exemplo: a data que aparece no início do comercial é “Setembro de 1908”. Basta consultar qualquer biografia básica de Machado de Assis (até a Wikipedia!) para descobrir que ele morreu em 29 de setembro daquele ano e que, no mês anterior,  já estava convalecendo em casa. Em setembro de 1908, o escritor jamais iria à Caixa fazer depósito em sua caderneta de poupança. Aliás, para que ele guardaria dinheiro se já suspeitava que iria morrer (tanto era assim que escreveu cartas de despedida aos amigos)?

Mais uma coisa: a cena que mostra ele escrevendo seu testamento também é uma falácia. A caderneta de poupança de Machado estaria na primeira versão de seu testamento, escrito em junho de 1898. E mesmo que essa cena se referisse ao seu último testamento, datado de 1906, a impressão que temos é de o episódio mostrado se passa também em 1908.

Mesmo com licenças poéticas, estes são detalhes que não deveriam e não poderiam ter passado despercebidos por uma instituição do porte e da importância da Caixa Econômica Federal. Até porque, no lugar de servir de exemplo para os alunos de nossas escolas, o banco vai acabar sendo motivo de piada dentro da sala de aula. Isso se o pessoal perceber os erros, é claro.

Leia também o meu post anterior: “O dia em que Machado de Assis virou Michael Jackson“.

* Paula Taitelbaum é escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM.