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O encontro de Oscar Wilde e Walt Whitman

Usando um casaco de pele verde, o jovem poeta irlandês Oscar Wilde  desembarcou no porto de Nova York em janeiro de 1882 para uma série de palestras. A cosmopolita NY o recebeu de braços abertos e a imprensa norteamericana celebrou sua exuberância. Na Filadélfia, sua segunda parada, ele falou que gostaria muito de conhecer o também poeta Walt Whitman. Informado disso, Whitman mandou-lhe um recado, dizendo que estaria em casa entre duas e três e meia da tarde.

Whitman vivia em Camden, em uma casa nada luxuosa, com o irmão e a cunhada. Embora ambos os escritores fossem altos, seus figurinos contrastavam bastante. No encontro, enquanto Wilde vestia, como sempre, roupas elegantes, Withman estava com uma blusa rude, feita em casa. Ao chegar, a primeira coisa que o visitante disse foi “Venho como um poeta visitando outro poeta” e, em seguida, descreveu ao anfitrião como, na infância, sua mãe lia Folhas na relva em voz alta para ele. Lisonjeado, Withman abriu uma garrafa de vinho de sabugo, feito pela cunhada, e ofereceu a Wilde. “Vou chamá-lo de Oscar”, ele disse. Depois de beberem toda a garrafa, continuaram conversando sobre poesia no escritório de Withman.

Anos mais tarde, recordando-se daquela tarde, um amigo de Wilde, conhecendo seu gosto refinado, observou que devia ter sido difícil para ele beber o vinho de sabugo. Foi quando o autor de O retrato de Dorian Gray disse: “Se fosse vinagre, eu teria bebido do mesmo jeito”.

O rude Walt Whitman e o elegante Oscar Wilde se encontraram em 1882

 Oscar Wilde é um dos títulos da Série Biografias L&PM.

Um retrato da nossa alma

Por Paula Taitelbaum*

Quantos anos eu tinha? Dezessete? Dezoito? Já não tenho mais certeza… Só lembro que entrei em um sebo de Porto Alegre e comprei duas edições muito antigas, puídas, em que as palavras ainda eram escritas com “ph”, ambas assinadas por Oscar Wilde: O retrato de Dorian Gray e O fantasma de Canterwille. Era uma época em que tudo o que era usado e velho me fascinava. As roupas, os móveis, os livros. Passados mais de vinte anos, sigo sendo um pouco assim, atraída pelo que tem jeito de passado. Infelizmente, a rinite já não me faz suportar o cheiro de mofo que vem dos sebos. Mas também não é nada que um bom antialérgico não cure…

Mas voltemos ao que interessa. Cheguei em casa com meu frágil livro de páginas titubeantes e mergulhei afoita na vida do belo Dorian, do pintor Basil, do cínico Lorde Henry e de todos e de tudo que a exuberante imaginação de Oscar Wilde foi capaz de criar. E mesmo que eu não tenha percebido na época a releitura de Wilde para o mito de Fausto – que vende a alma ao diabo em troca dos prazeres do mundo – eu me vi totalmente envolvida com a história do belo Dorian em meio às intrigas da sociedade inglesa do século XIX. 

O retrato de Dorian Gray mostra como a paixão é capaz de capturar a alma e como a vaidade é responsável por criar uma  prisão. Há algo de fantástico e sobrenatural nessa história. Mas também há muito de real em sua metáfora. E diálogos primorosos que chegam a arrepiar de tão espetaculares. “Quando o homem trata a vida com arte, o cérebro é o próprio coração” diz lá pelas tantas Lorde Henry. “Eu não quero saber de nada. Gosto de escândalos dos outros, mas escândalos meus não me interessam, pois não possuem o encanto da novidade.” fala Dorian Gray quando Basil pergunta se é verdade o que andam dizendo sobre ele.

O final do livro, lindo, repleto de tensão, é um dos mais incríveis que já li. E talvez a moral que reste seja a de que, como diria o próprio Dorian Gray, “dentro de nós, todos temos o céu e o inferno.”. Já a pergunta que paira no ar é: “Se nossa alma tivesse rosto, como ele seria?”

Sempre imaginei que a beleza de Dorian Gray deveria ser como a de Lord Byron. Mas cada um que imagine seu próprio Dorian

* Toda semana, a Série “Relembrando um grande livro” traz um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.

Escritores que assinam embaixo

Quem não sonha em ter uma primeira edição assinada de próprio punho por um escritor famoso? Mesmo que algumas dessas assinaturas sejam praticamente ilegíveis, elas são pra lá de especiais, você não concorda? Veja aqui algumas delas e tente reconhecer os nomes (todos eles publicados pela L&PM). Caso tenha alguma dúvida, a resposta está no final do post.

Na ordem: James Joyce, Charles Bukowski, Arthur Conan Doyle, Edgar Allan Poe, Francis Scott Fitzgerald, J. D. Salinger, Jorge Luis Borges, Leon Tolstói, Mark Twain, Oscar Wilde, Pablo Neruda, Rainer Maria Rilke.

A sofrida prisão de Oscar Wilde

Restava-lhe apenas um pouco mais de cinco anos de vida quando Wilde, aos quarenta anos, foi encarcerado, em 28 de maio de 1895, na prisão de Pentoville. Muito mais severa do que as de Holloway e Newgate, ela fora especialmente concebida para os forçados mais indisciplinados. Logo ao chegar a esse pedaço de inferno na Terra, o novo detento foi obrigado a se submeter às formalidades usuais, humilhado e como se já tivesse levado alguma advertência. Teve que se despir completamente, entregar suas roupas e objetos pessoais a um guarda e deixar-se auscultar, nu como um verme, até as partes mais íntimas de seu corpo. (…) Rasparam-lhe os cabelos, como a um vulgar galeriano, e obrigaram-no a tomar banho numa água gelada e turva. Enfim, vergonha suprema, entregaram-lhe seu medonho uniforme de prisioneiro – o famigerado pijama listrado – antes de levá-lo, com algemas nos punhos e ferros nos pés, para uma cela exígua e sem janelas onde imperava, sendo destituída de qualquer arejamento, um odor pestilento. (…) Quanto à comida, era particularmente nojenta: um mingau de aveia ralo, semelhante ao que se dava a cavalos de tração, acompanhado de um pedaço de pão preto. Esse inacreditável estado de decadência é evocado por Wilde em De profundis. (…) Nem ao menos se dignaram informá-lo da publicação em forma de livro, em 30 de maio de 1895, de sua obra A alma do homem sob o socialismo.

Trecho de Oscar Wilde, Série Biografias L&PM.

Poesia para vestir

Em parceria com uma empresa especializada em produtos de papel, a estilista Sylvia Heisel desenvolveu um vestido que é pura poesia. Totalmente feito de papelão reaproveitado, cada parte do vestido tem gravado um trecho da obra de grandes escritores como Oscar Wilde, Virginia Woolf, Charles Dickens, Andy Warhol, Lewis Carrol, entre outros.

Conforme o uso, o papel vai se desgastando e o texto vai aparecendo. Falando assim, parece uma roupa frágil, mas a estilista garante que a peça pode até ser lavada e tem a mesma durabilidade de um vestido de tecido delicado, como a seda, por exemplo. O papel é tratado para se tornar mais resistente e não rasgar e é aquecido para ficar mais maleável, como se fosse mesmo um tecido com a textura de um couro mais fino e aveludado. Olha só o resultado:

Um brinde aos escritores

Verão combina com viagem, que combina com férias, que combina com uma bebidinha, que combina com… escritores. E é para fazer um brinde a tudo isso que separamos aqui alguns autores e suas bebidas preferidas. Tim tim!

Entre as bebidas favoritas de William Faulkner estava o Mint Julep, uma mistura nada inocente de uísque e cerveja:

Charles Bukowski era amante da Boilermaker, cerveja “emparelhada” com uma dose de uísque. Funciona assim: primeiro, o cidadão bebe o uísque de um gole só. Depois, degusta sua cerveja (de preferência escura), lentamente. Mas esse é só para os fortes como o velho Buk…

William Burroughs gostava de algo mais simples: Vodka com coca-cola. Este nem precisa de receita. Basta acrescentar gelo:

F. Scott Fitzgerald e sua Zelda adoravam Gin Rickey, um coquetel que mistura gin, suco de limão e água com gás:

A bebida de Dorothy Parker era o Whisky Sour que leva uísque, suco de limão e açúcar… Uma espécie de caipirinha inglesa.

Ernest Hemingway gostava de um bom Mojito, bebida que ele descobriu em Havana e que se prepara com rum, limão e hortelã:

E pra mostrar que a gente também lembra de quem está no hemisfério norte, onde o frio anda de lascar, sugerimos a bebida preferida de Oscar Wilde: o poderoso Absinto.

Só não esqueça: se beber, não dirija. Aliás, fique em casa. Quem sabe lendo um bom livro…

É proibido beijar Oscar Wilde

Pra colocar fim à depredação do túmulo de Oscar Wilde no cemitério de Père Lachaise, em Paris, a família do escritor resolveu erguer em volta do jazigo uma parede de vidro. Na verdade, a principal preocupação era impedir que as pessoas continuassem deixando marcas de batom no túmulo. Isso mesmo: centenas de beijos deixados por fãs e admiradores do escritor ornavam o local – o que, segundo a família e amigos próximos, era uma afronta à memória do autor de O retrato de Dorian Gray.

“Oscar era muito cuidadoso com sua imagem, apresentando-se sempre bem vestido. Não acho que lhe agradaria a ideia de repousar num túmulo degradado, mesmo por beijos de batom”, disse o ator britânico Rupert Everett, famoso intérprete das obras de Wilde.

O neto do escritor, Merlin Holland, lembra outro motivo pelo qual a atitude dos visitantes não era bem vista por sua família: foi um beijo que levou Oscar Wilde para a prisão em 1895. Holland assegura que, se vivo fosse, seu avô estaria enfurecido com a situação.

O neto de Oscar Wilde discursou na inauguração das novas paredes de vidro

Antes, o jazigo era assim, "decorado" com centenas de beijos de fãs e admiradores

As placas de vidro têm dois metros de altura e  impedem totalmente o acesso ao túmulo, que ostenta uma extravagante esfinge alada, esculpida em 1912 pelo artista Jacobs Epstein especialmente para decorar o jazigo do escritor.

“Flores, não beijos de batom!”, bradou o neto, que assistiu à “cerimônia” de colocação das placas ao lado do Ministro irlandês das Artes e do Patrimônio, que também apoiou a intervenção.

Onde está o Wilde?

Ontem, no seriado A Grande Família da Globo, Marco Nanini levou um dos nossos para a cama. Não sabemos se foi uma escolha dele ou da produção, mas adoramos ver o nosso Oscar Wilde da Série Biografias nas mãos do grande Nanini. Veja alguns frames que pegamos no episódio chamado “Vide Bula” e clique aqui para assistir à cena completa que já está disponível no Youtube:

Cara a cara com os maiores escritores do mundo

Por Paula Taitelbaum*

Sou um gênio. Tive uma ideia de roteiro para um filme. Vou vender para Hollywood. Não, pensando bem, vou oferecer a Woody Allen. De graça. O storyline é o seguinte: a moça vai visitar a National Portrait Gallery, em Londres, e, de repente, todos os escritores que estão nas telas, pintados em diferentes épocas, ganham vida e se misturam. Como assim isso não passa de um misto de “Uma noite no museu” com “Meia noite em Paris”? Ok, você venceu, sou um fracasso como roteirista…

Brincadeiras à parte, esta ideia é meio inevitável quando se visita a National Portrait Gallery, um museu único e exclusivamente dedicado a retratos. Lá, estão os originais de muitas das imagens que conhecemos – e outras que não são tão populares assim. Telas com imagens de Shakespeare, das irmãs Brontë, de Robert Louis Stevenson, de Jane Austen, de Charles Dickens, de Lord Byron, de Jonathan Swift. As fotos (e não as reproduções) de Oscar Wilde, Edgar Allan Poe, Virginia Woolf, James Joyce, Beatrix Potter… Imagina se eles se descolassem dali!

Só os escritores entrariam no meu filme, mas claro que não são apenas eles que estão pelas paredes. Há reis, rainhas, nobres, pintores, músicos, políticos, celebridades, cientistas (o portrait de Darwin é impressionante!), inventores, roqueiros e ricos das mais variadas espécies. Há pinceladas de todos os famosos que o Reino Unido já viu e produziu.

Vá a Londres, visite a National Portrait Gallery. E depois me diga se o meu roteiro, mesmo que óbvio, não seria um sucesso…

Eu e Shakespeare, feitos um para o outro

Eduardo Bueno e Robert Louis Stevenson

Eu e as irmãs Brontë, na tela sozinha está Emily Brontë, autora do "O morro dos ventos uivantes"

Jane Austen, desenhada por sua irmã (e eu no reflexo)

Charles Dickens era lindo!

Mas Lord Byron era mais lindo ainda!

 *Paula Taitelbaum e Eduardo Bueno visitaram a National Portrait Gallery no final de junho.

30. Tudo sobre uma utopia generosa

 

Por Ivan Pinheiro Machado*

No início dos anos 80, a ditadura já agonizava. A juventude que protestou nas ruas, que apanhou da polícia, passou a viver a euforia de uma abertura democrática. A plenitude só voltaria em 1985 com o fim da era dos generais. Já no começo dos anos 1980, na agonia da ditadura, a imensa pressão da sociedade constrangia o regime e abrandava a repressão. Já não se escondiam os crimes cometidos pela polícia política embaixo do tapete da repressão. A censura prévia fora derrubada aos poucos, pela tenaz resistência da imprensa e pelo repúdio de todas as instituições brasileiras com credibilidade.

Um dos livros da "Biblioteca Anarquista" que agora está na Coleção L&PM POCKET

A “série Anarquista”, publicada pelas L&PM Editores, surgiu nesta época e neste contexto. Éramos muito jovens no final dos anos 70 e início dos anos 80. O ambiente cultural saía das trevas da ditadura e as idéias explodiam. Sem sermos anarquistas, militantes ou simpatizantes, nós resolvemos desafiar o conservadorismo da direita e os preconceitos da esquerda, criando uma série que expusesse o pensamento anarquista na sua plenitude, sem cerceamento. Expor para o conhecimento de todos esta utopia generosa de um estado sem governo, onde o homem exercesse a sua plenitude sem ser obrigado a obedecer regras estritas da política. Foi um trabalho sério e pioneiro, onde os melhores autores simpatizantes como Oscar Wilde, Tostói ou ideólogos do anarquismo como Proudhon, Kropotkin, Bakunin, Malatesta e Woodcock tiveram suas obras publicadas criteriosamente num conjunto que foi batizado de “Biblioteca Anarquista”.

Sempre atual, sempre polêmico, o pensamento anarquista, através de sua desvairada utopia, penetrou nos corações dos jovens exatamente pelo seu lado mais generoso (sempre esta palavra) e, se foi inviável como aplicação doutrinária e política, contribuiu para a formação de uma visão humana e plural da sociedade. Já no século XXI, a L&PM Editores, através da sua coleção L&PM POCKET reeditou a “Biblioteca Anarquista”. Para completar, “Grandes escritos anarquistas”, do teórico americano George Woodcock, será republicado em 2012.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.