Arquivo da tag: Neal Cassady

Walter Salles manda notícias da estrada

O Hudson 49, carro que atravessou os EUA na filmagem de On the Road, de Walter Salles, acaba de chegar… ao The Beat Museum. É lá que, a partir de agora, ele ficará estacionado para quem quiser ver, tocar e se emocionar pensando que um carro igualzinho conduziu Jack Kerouac e Neal Cassady pela aventura que deu origem ao livro On the Road.

Para chegar ao The Beat Museum, o Hudson 49 foi pilotado por Garrett Hedlund, ator que vive Dean Moriarty e que, segundo Walter Salles, conhece o carro como a palma da mão, já que soma pelo menos 100 mil quilômetros de estrada com ele. Para chegar até o museu, Garrett fez questão de dirigir o carro de Los Angeles a San Francisco pela Route 1. Com ele, partiram John Cassady, filho de Neal, mais o fotógrafo Greg Smith.

Mas a notícia mais incrível é que ninguém menos do que Al Hinkle, que comprou o carro original com Neal Cassady em 1949, pegou uma carona nessa viagem. Com 85 anos de idade, Al embarcou no Hudson em San José, quando Garrett e seus companheiros pararam para pegá-lo. Os quatro chegaram na quarta à noite, 7 de dezembro, em North Beach, San Francisco, onde o The Beat Museum os aguardava ansiosamente.

E por falar em chegar, não vemos a hora do filme estrear.

O Hudson 49 que agora está no The Beat Museum em San Francisco (clique para ampliar)

48. Com os beats na alma


Alma Beat foi o trabalho mais completo editado sobre a Geração Beat no Brasil. Um painel apaixonado e preciso sobre o que eram e o que fizeram os beats. Em suas páginas, eram oferecidos textos escritos por poetas, jornalistas e escritores brasileiros que, de uma forma ou de outra, tiveram suas vidas e suas obras influenciadas pelo movimento. Além de textos inéditos dos próprios beats – como um poema de Kerouac sobre Rimbaud, um texto de Gary Snyder sobre o Brasil e um poema de Ginsberg para Che Guevara! –, Alma Beat trazia artigos de Eduardo Bueno, Antonio Bivar, Roberto Muggiati, Cláudio Willer, Leonardo Fróes, Pepe Escobar e Reinaldo Moraes sobre a ligação dos beats com o jazz, com as drogas, com o zen, com a estrada, com os autores malditos e com a tradição romântica. O livro era ainda complementado pelas autobiografias de Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William Burroughs, Gregory Corso, Neal Cassady, Gary Snyder, Peter Orlovsky e Lawrence Ferlinghetti. E tinha também trechos de cartas e entrevistas, além de fotos que naquela época nunca haviam sido vistas no Brasil (lembre-se que em 1984 não dava para pesquisar imagens no Google).

Para completar, Alma Beat mexia com temas considerados explosivos como punk, revolução, sexo, dinheiro e drogas, além de oferecer uma ampla bibliografia. Ou seja, era uma fonte primordial para entender a história e a obra deste grupo de escritores que, mais do que qualquer outro, provocou as maiores e mais significativas mudanças no comportamento dos jovens do mundo inteiro.

Vale dizer que Alma Beat não foi apenas o nome de um livro, mas de uma Coleção criada por Eduardo Bueno que, em 1984, já oferecia Uivo, de Allen Ginsberg, Cartas do Yage, de William Burroughs e Ginsberg, Uma Coney Island da Mente, de Lawrence Ferlinghetti, O livro dos sonhos, de Jack Kerouac, Gasolina e a Lady Virgem, de Gregory Corso, Como nos velhos tempos, De Gary Snyder, O primeiro terço, de Neal Cassady e Crônicas de Motel, de Sam Shepard. Depois, claro, vieram muitos outros. Alguns dos títulos da saudosa “Coleção Alma Beat” estão na Série Beat da Coleção L&PM POCKET. É realmente um mergulho no espírito de Kerouac e sua turma. Vale a pena!

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quadragésimo oitavo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

“Big Sur” estreia no cinema em 2012

Os fãs de beats podem se preparar para ter emoções em dobro em 2012. Além de On the road, que Walter Salles está preparando para o primeiro semestre, vem aí a versão de Big Sur para a telona, que já está em fase de pós-produção. O responsável pela adaptação é o diretor Michael Polish e o elenco traz Josh Lucas como Neal Cassady, Radha Mitchell como Carolyn Cassady, Anthony Edwards como Lawrence Ferlinghetti e Jean-Marc Barr como Jack Kerouac. A julgar pelas semelhanças, este elenco promete!

Neal Cassady (E) e Josh Lucas

Carolyn Cassady (E) e Radha Mitchell

Kerouac (E) e Jean-Marc Barr

Após o frenesi causado pelo lançamento do livro On the road, em 1957, Kerouac passou um período retirado na cabana de Ferlinghetti, seu amigo, poeta e dono da City Lights Books, editora que publicava (e ainda publica) os beats. Na região de Big Sur, na Califórnia, ele dedicou seus dias à escrita de um novo romance, que a L&PM publica na Coleção L&PM Pocket.

O resgate de uma trip beat

Uma viagem lisérgica, libertária, lendária, hippie, beat… “Magic Trip” é isso. Na verdade, mais do que isso. O filme de Alex Gibney e Alison Ellwood é o resgate de uma viagem real, liderada por Ken Kensey, autor de “One Flew Over the Cuckoo’s Nest (Voando Sobre Um Ninho de Cucos)”. Em 1964, Kensey botou o pé na estrada, num ônibus embalado por LSD, e na companhia de “The Merry Band of Pranksters”, um grupo de renegados da contracultura que estava em busca da “verdade”. O grupo incluía Neal Cassady, o companheiro de Jack Kerouac em On the road. Cassady não apenas ajudou a pintar o ônibus psicodélico, como também dirigiu o veículo. Kesey e os Pranksters gravaram toda a viagem com uma câmera 16mm, pois pretendiam fazer um documentário. Mas o filme nunca foi terminado e as imagens ficaram praticamente perdidas. Até agora. Gibney e Ellwood tiveram acesso exclusivo a este material bruto através da família de Kesey. Eles trabalharam com a Fundação de Cinema e História da “UCLA Film Archives” para restaurar mais de 100 horas de filme e áudio e conseguiram moldar um documento de valor inestimável. O filme “Magic Trip“, que conta ainda com a participação de Jack Kerouac e Allen Ginsberg, estreou no circuito underground americano em agosto deste ano. Vamos ficar torcendo pra que ele participe de algum festival de cinema alternativo por aqui também.

Clique sobre a imagem e assista ao trailer legendado pela L&PM WebTV:

“On the road, o manuscrito original” será lançado em pocket

No ano em que On the road – o manuscrito original completa 60 anos, a L&PM comemora este aniversário editando a famosa “escritura” de Jack Kerouac em pocket. A L&PM Editores trouxe o manuscrito original para o Brasil em 2008, no formato convencional e com tradução de Eduardo Bueno e Lúcia Brito. Na coleção de bolso, seu texto será integral e suas 464 páginas incluirão a longa introdução de Howard Cunnel. Em seu texto, Cunnel conta, entre outras, a história do famoso rolo de telex em que Jack Kerouac escreveu sua história. Vale a pena ler um trecho desta apresentação para entrar no clima:

“A estrada já foi contada”, disse Jack Kerouac em uma carta de 22 de maio de 1951, enviada de Nova York a seu amigo Neal Cassady, que estava no Oeste, em San Francisco. “Chegou rápido porque a estrada é rápida.” Kerouac disse a Casssady que entre os dias 2 e 22 de abril havia escrito “um romance inteiro de 125.000 [palavras]… A história é sobre você e eu e a estrada”. Ele havia escrito “tudo em um rolo de papel com 36 metros de comprimento… simplesmente inserido na máquina de escrever e sem qualquer divisão de parágrafos… deixando que o papel se desenrolasse sobre o chão e que aspecto do rolo lembrasse o de uma estrada”. (…)

O manuscrito original de Kerouac é itinerante e anda de museu em museu

Quando ocorreu a Kerouac pela primeira vez a imagem do papel em rolo? Um longo rolo de papel que o fazia lembra-se da estrada no qual podia escrever em um fluxo rápido e contínuo. De modo que este papel em rolo se tornasse uma página sem fim. Está claro que o rolo, mais do que uma descoberta, foi algo conscientemente concebido por Kerouac. Ele cortou o papel em oito partes, com diferentes extensões, e o formatou para que coubesse na máquina de escrever. As marcas de lápis e os cortes de tesoura ainda são visíveis. Então ele uniu as partes com fita adesiva. Não se pode precisar se ele colou as folhas enquanto as concluía ou se esperou até que estivesse tudo pronto para então colá-las e uni-las.”

A história de como Jack Kerouac escreveu On the Road, há 60 anos, se transformou em lenda. Entre as curiosidades, está também o fato de que, no manuscrito original, os personagens principais se chamam Jack e Neal (os nomes Sal Paradise e Dean Moriarty surgiram depois, para a edição revisada de On the road, publicada pela primeira vez em 1957).

A previsão de lançamento de On the road – o manuscrito original em pocket é final de outubro. Clique aqui e conheça todos os títulos de Jack Kerouac publicados na L&PM.

O que Richard Prince tem que você não tem

Richard Prince

Discreto e taciturno, quem vê o artista Richard Prince nas ruas da pequena cidade de Rensselaerville, Nova York, onde mora há 15 anos com a esposa e a filha, não imagina que ele é dono de uma das mais incríveis coleções de relíquias relacionadas à literatura moderna dos Estados Unidos. Entre os milhares de objetos, livros e fotos que ele guarda em casa estão o exemplar de On the road com dedicatória de Jack Kerouac a Neal Cassady e os manuscritos de O poderoso chefão, de Mario Puzo. Sentiu o nível da coleção?

Graças aos milhões que ganha com a venda de seus quadros – em geral, grandes pinturas que já foram arrematados por até 8 milhões de dólares em leilões pelo mundo – Richard Prince possui o que muitos idolatram. Cheques devolvidos de Jack Kerouac, as famosas cartas de Truman Capote a Perry Smith, cuja correspondência deu origem ao célebre A sangue frio, os originais de Naked Lunch com anotações de William Burroughs, esboços das músicas de Jimmy Hendrix e uma excitante coleção de cartoons eróticos também fazem parte do acervo particular de Prince, que foi obrigado a adquirir novos espaços só para acomodar as peças que não param de chegar.

Em meio a tudo isso, uma ótima notícia: já é possível ver todas estas relíquias de perto! Parte do acervo de Richard Prince compõe a exposição American Prayer, em cartaz na Bibliotèque Nationale de France até o dia 26 de junho.

Mas se você não tem planos de ir à França nas próximas semanas, estas fotos dão um gostinho de como está a exposição.

“Howl”, um filme sobre um doce poeta e sua densa poesia

Por Paula Taitelbaum

Já assisti Howl (Uivo) duas vezes. Uma amiga baixou e legendou para mim. Para os que estão chegando agora, explico: Howl é o filme que conta a história do processo vivido pelo poema homônimo (em português, Uivo) de Allen Ginsberg. Eis minhas breves divagações:

Howl é um filme de amor: a paixão do escritor por seus escritos. Howl é um filme de terror: o horror de ver alguém que tenta transformar metáforas em monstros. Howl é um filme que não conta uma história: canta uma poesia. James Franco encarna Allen Ginsberg com maestria em pouco mais de noventa minutos que mesclam tempos e linguagens diferentes. Vemos o poeta beat em preto e branco recitando seu longo, lânguido e denso poema, em 1955, na Six Gallery em São Francisco. Somos levados a uma viagem ácida e atemporal em desenho animado que lembra The Wall, do Pink Floyd. Aterrisamos no tribunal em que, no ano de 1957, Lawrence Ferlinghetti, o editor de Howl, está sendo julgado por obscenidade com base no conteúdo erótico e homossexual do poema. Entramos na casa de Ginsberg, quando o filme recebe um tom de documentário e o poeta vivido por Franco conta a um repórter (ou talvez um biógrafo) passagens de sua vida e o que sente ao escrever, enquanto flashbacks mostram sua relação com Jack Kerouac e Neal Cassady. Não é um filme extraordinário, está longe de ser um filme inovador, tão pouco se revela um filme que concorreria ao Oscar, por exemplo. Mas para quem cria ou ama poesia, o filme emociona, soa como inspiração, faz refletir sobre o ato de escrever. Nos EUA, sua bilheteria não foi nada generosa e provavelmente por isso ele dificilmente entre em circuito comercial no Brasil. Já em Londres, sua estreia está marcada oficialmente para hoje e todos os principais jornais britânico trazem textos e reportagens que falam sobre o assunto. No The Guardian de quarta-feira, por exemplo, é possível ler uma matéria que traz alguns depoimentos de pessoas que conviveram com Ginsberg, entre elas, John Cassady, filho de Neal e Carolyn Cassady. Seu depoimento revela uma das faces mais interessantes desse filme para mim: a oportunidade de conhecer um pouco melhor a doce personalidade de Allen Ginsberg. Veja o que disse John:

“Eu o considero meu segundo pai, mas ele era mais como um tio. Eu me lembro que, em 1964, os Beatles tinham acabado de chegar nos EUA – eu tinha 14 anos e era um grande fã deles. Eu morava com meus pais em uma casa na Califórnia e Jack (Kerouac) e Allen e todo mundo estava sempre por lá. Foi uma infância bem interessante, como você pode imaginar. Eu estava sentado na mesa do café na frente de Allen e ele disse: ‘Johnny! Você quer saber um furo de reportagem? Quer saber de uma sujeira?’ Ele fez um olhar conspiratório e disse: ‘Os Beatles fumam maconha.’ E eu perguntei: ‘O que é maconha?’ E Allen olhou atônito para mim e fez aquela cara do tipo ‘você não é o filho de Neal Cassady, como assim o que é maconha?’. Ele ficou todo excitado para me contar: então ali estavam Allen Ginsberg e Bob Dylan introduzindo os Beatles à maconha num quarto de hotel depois do show de Ed Sulivan. Quantos garotos ouviram uma história como esta?

Uma vez minha mãe fez um festão em 1973, esqueci qual a desculpa. Allen apareceu com um grande curativo na sua perna direita, de muleta. Eu perguntei o que tinha acontecido e ele me deu uma piscada e disse: ‘Perseguindo mulheres’. Bem, ele sabia que eu sabia a verdade e eu dei uma grande gargalhada. Quando a polícia chegou na festa havia carros acima e abaixo da rua por cinco quilômetros. Eles viram Allen e pediram um autógrafo. Os policiais eram seus fãs. Ou seja: é ou não é um grande mundo esse? Allen foi sempre muito gentil e uma alma generosa, nunca foi egoísta. Só muitos anos depois eu descobri que ele era uma espécie de rock star da literatura.”

Clique sobre a imagem e veja vídeo com trechos de "Howl" legendados na L&PM Web TV

O poema Howl (Uivo) é publicado na L&PM em versão convencional e pocket.

A última testemunha da Geração Beat

Carolyn Cassady, como o próprio sobrenome indica, foi a segunda esposa do ícone beat que influenciou personagens importantes da obra de Jack Kerouac e Allen Ginsberg. Pois no livro Off the road, Carolyn conta a sua versão da história. Nunca publicada no Brasil, a obra retrata um Neal Cassady trabalhador e comprometido com a família, bem diferente da conhecida figura que inspirou Jack Kerouac a criar o Dean Moriarty de On the road.

Só o que não muda são as famosas histórias sobre drogas e triângulos amorosos, que estão presentes também na versão de Carolyn. Além de LuAnne, a primeira esposa de quem ele nunca se separou completamente, Neal Cassady se envolveu também com Jack Kerouac e Allen Ginsberg.

Carolyn conviveu 20 anos com Neal Cassady e foi testemunha ocular da cultura beat, sendo hoje a última representante viva daquela geração. Mas ao mesmo tempo, ela faz questão de enterrar algumas passagens. Certa vez, quando estava grávida do primeiro filho, ela não recebeu bem a notícia de que Neal sairia em viagem com Kerouac e LuAnne, os três em clima de romance. “Foi muito traumático”, diz ela. “Eu não queria e não quero saber como eles se divertiam juntos. Eu ainda era tão convencional, e aquilo era uma deserção.” Neste vídeo, amigos de Neal contam como era o beatnik mais “agitado” da turma.

Até aí nenhuma surpresa, pois é este o Neal Cassady que conhecemos. O mais impressionante, no entanto, é que Carolyn sustenta a versão de que o “verdadeiro Neal” era um homem de família e trabalhador, que cuidou de três filhos e sempre tinha um emprego para sustentá-los. E mais: após a separação do casal, em 1963, Neal entrou num processo de auto-destruição, pelo qual Carolyn se sente culpada. “Na época, eu não compreendi que os dois pilares da sua vida eram o trabalho na estrada de ferro e a família. Quando ele percebeu que as coisas não eram mais assim, ele quis morrer”, diz.

Para conhecer melhor a vida e a obra de Neal Cassady, vale ler O primeiro terço, em que o beat mais genuíno de todos narra as desventuras de um garoto desamparado, criado entre vagabundos no árido Oeste americano, às voltas com reformatórios e pequenos furtos.

Adiós, Piva

Ivan Pinheiro Machado

Em 1984,o Eduardo Bueno, vulgo Peninha, veio trabalhar na L&PM. Naquela época, ele era mais ou menos o que é hoje, só que sem a fortuna que acumulou nestes últimos anos, graças ao seu talento e sua incrível capacidade de trabalho (não é ironia). Era o tradutor do On the road, de Jack Kerouac, e trouxe para a L&PM a cultura beat. Nós, na época, editávamos uma coleção anarquista e já publicávamos Bukowski. Foi atraído por este clima transgressor que Peninha foi parar lá na rua Nova York, 306, sede da L&PM. Fizemos coisas maravilhosas com pouquíssimo dinheiro e muitas ideias. No começo dos anos 80, conhecemos Claudio Willer (autor da antológica tradução de Uivo de Allen Ginsberg) que nos apresentou o poeta Roberto Piva, um estranho maluco genial, cultuado nas rodas radicais de São Paulo.  Nesta época mesmo, criamos uma coleção chamada “Olho da Rua”, com projeto gráfico do grande pintor Caulos. Publicamos Reinaldo de Moraes, Pepe Escobar, Jorge Mautner, Antonio Bivar, Sergio Faraco, os beats Gregory Corso, Allen Ginsberg, Neal Cassady, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti. Lançamos também no Brasil Sam Shepard, Isadora Duncan e o clássico Luna Caliente de Mempo Giardinelli. A coleção tinha grande prestígio nos meios alternativos e Roberto Piva submeteu, para nosso exame, a sua Antologia Poética que então saiu nesta coleção com capa desenhada por mim. Ele adorava a capa, porque era a representação de uma montanha de lixo com um latinha de Coca-Cola que – segundo ele – ordenava a desordem… Na verdade, encontramos poucas vezes Roberto Piva, pois ele era paulista e nossa sede era –  e é –  em Porto Alegre.

Pois o Piva morreu sábado, dia 3 de julho, aos 72 anos. Ele era a representação física dos seus poemas. Trepidante, delirante e brilhante. Encerro com um trecho da apresentação da nossa edição de 1985 de Antologia Poética escrita pelo Peninha: “A vida de Piva – poética, maldita, conturbada – fornece o material bruto que ele lapida e transpõe para seus poemas. (…) Ele é o mais indômito, o mais rebelde e um dos mais inspirados poetas brasileiros das últimas décadas”.