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“Howl”, um filme sobre um doce poeta e sua densa poesia

Por Paula Taitelbaum

Já assisti Howl (Uivo) duas vezes. Uma amiga baixou e legendou para mim. Para os que estão chegando agora, explico: Howl é o filme que conta a história do processo vivido pelo poema homônimo (em português, Uivo) de Allen Ginsberg. Eis minhas breves divagações:

Howl é um filme de amor: a paixão do escritor por seus escritos. Howl é um filme de terror: o horror de ver alguém que tenta transformar metáforas em monstros. Howl é um filme que não conta uma história: canta uma poesia. James Franco encarna Allen Ginsberg com maestria em pouco mais de noventa minutos que mesclam tempos e linguagens diferentes. Vemos o poeta beat em preto e branco recitando seu longo, lânguido e denso poema, em 1955, na Six Gallery em São Francisco. Somos levados a uma viagem ácida e atemporal em desenho animado que lembra The Wall, do Pink Floyd. Aterrisamos no tribunal em que, no ano de 1957, Lawrence Ferlinghetti, o editor de Howl, está sendo julgado por obscenidade com base no conteúdo erótico e homossexual do poema. Entramos na casa de Ginsberg, quando o filme recebe um tom de documentário e o poeta vivido por Franco conta a um repórter (ou talvez um biógrafo) passagens de sua vida e o que sente ao escrever, enquanto flashbacks mostram sua relação com Jack Kerouac e Neal Cassady. Não é um filme extraordinário, está longe de ser um filme inovador, tão pouco se revela um filme que concorreria ao Oscar, por exemplo. Mas para quem cria ou ama poesia, o filme emociona, soa como inspiração, faz refletir sobre o ato de escrever. Nos EUA, sua bilheteria não foi nada generosa e provavelmente por isso ele dificilmente entre em circuito comercial no Brasil. Já em Londres, sua estreia está marcada oficialmente para hoje e todos os principais jornais britânico trazem textos e reportagens que falam sobre o assunto. No The Guardian de quarta-feira, por exemplo, é possível ler uma matéria que traz alguns depoimentos de pessoas que conviveram com Ginsberg, entre elas, John Cassady, filho de Neal e Carolyn Cassady. Seu depoimento revela uma das faces mais interessantes desse filme para mim: a oportunidade de conhecer um pouco melhor a doce personalidade de Allen Ginsberg. Veja o que disse John:

“Eu o considero meu segundo pai, mas ele era mais como um tio. Eu me lembro que, em 1964, os Beatles tinham acabado de chegar nos EUA – eu tinha 14 anos e era um grande fã deles. Eu morava com meus pais em uma casa na Califórnia e Jack (Kerouac) e Allen e todo mundo estava sempre por lá. Foi uma infância bem interessante, como você pode imaginar. Eu estava sentado na mesa do café na frente de Allen e ele disse: ‘Johnny! Você quer saber um furo de reportagem? Quer saber de uma sujeira?’ Ele fez um olhar conspiratório e disse: ‘Os Beatles fumam maconha.’ E eu perguntei: ‘O que é maconha?’ E Allen olhou atônito para mim e fez aquela cara do tipo ‘você não é o filho de Neal Cassady, como assim o que é maconha?’. Ele ficou todo excitado para me contar: então ali estavam Allen Ginsberg e Bob Dylan introduzindo os Beatles à maconha num quarto de hotel depois do show de Ed Sulivan. Quantos garotos ouviram uma história como esta?

Uma vez minha mãe fez um festão em 1973, esqueci qual a desculpa. Allen apareceu com um grande curativo na sua perna direita, de muleta. Eu perguntei o que tinha acontecido e ele me deu uma piscada e disse: ‘Perseguindo mulheres’. Bem, ele sabia que eu sabia a verdade e eu dei uma grande gargalhada. Quando a polícia chegou na festa havia carros acima e abaixo da rua por cinco quilômetros. Eles viram Allen e pediram um autógrafo. Os policiais eram seus fãs. Ou seja: é ou não é um grande mundo esse? Allen foi sempre muito gentil e uma alma generosa, nunca foi egoísta. Só muitos anos depois eu descobri que ele era uma espécie de rock star da literatura.”

Clique sobre a imagem e veja vídeo com trechos de "Howl" legendados na L&PM Web TV

O poema Howl (Uivo) é publicado na L&PM em versão convencional e pocket.

Howl, filme sobre o poema de Allen Ginsberg, será exibido em São Paulo

Começa hoje a 34ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo com uma programação imperdível. O evento vai de 22 de outubro a 4 de novembro e durante essas duas semanas serão exibidos cerca de 400 títulos, entre eles, Howl (Uivo), o filme sobre o mais famoso e polêmico poema de Allen Ginsberg  que terá a primeira sessão no dia 2 de novembro às 22:10 no Cine Livraria Cultura 1 (veja aqui trechos do filme legendado). Além dele, os fãs dos beats ainda poderão ver o documentário William S Burroughs: Um Retrato Íntimo. Os filmes serão exibidos em mais de 20 espaços, entre cinemas, museus e centros culturais espalhados pela capital paulista. Exposições de fotos de Wim Wenders e de storyboards originais de Akira Kurosawa também são destaques da programação. E a boa notícia é que você não precisa estar em São Paulo para assistir os filmes. Pelo segundo ano, a Mostra Internacional de Cinema promove com a MUBI, a maior plataforma de filmes na internet, a Mostra Online. Ou seja: além da exibição normal em salas, 68 filmes da seleção da 34ª Mostra terão também sessões (gratuitas) na internet. O acesso em “streaming” (sem download) estará disponível para os 500 primeiros acessos. Confira no site da Mostra a programação completa que inclui ainda Factótum, baseado no livro homônimo de Charles Bukowski.

William Burroughs com a cantora Patty Smith em cena do documentário sobre o escritor

Divulgado pôster de Uivo, o filme

Foi liberado o pôster do filme Howl (Uivo), baseado no livro homônimo de Allen Ginsberg. No longa, Ginsberg é interpretado por James Franco (de Homem-Aranha e Milk). O elenco conta ainda com Jon Hamm Jeff Daniels, Mary-Louise Parker e Paul Rudd, entre outros.

Na L&PM WebTV, é possível assistir alguns trechos legendados do filme, que estreia nos Estados Unidos no dia 24 de setembro.

Só aqui você assiste trechos legendados de Uivo, o filme

Cannes é mais do que um festival, é uma festa. Ou melhor, muitas festas. E também a oportunidade de ver antes o que em breve vai estar nas melhores salas de cinema do mundo. E é durante o 63º Festival de Cannes, que acontece até 23 de maio, que está sendo exibido Howl (Uivo), o filme que reconta as origens do mais famoso poema de Allen Ginsberg. O longa, dirigido por Rob Epstein e Jeffrey Friedman, traz a história do intenso e inflamado poema que chocou os EUA e foi acusado de “obsceno” e “pornográfico”. E mais do que isso: foi levado a júri por conter palavrões e referências explícitas a drogas e sexo hetero e homo. No papel de Ginsberg, James Franco, conhecido por ser o melhor amigo (e ao mesmo tempo inimigo) de Peter Parker na série de filmes Homem Aranha e também por ter atuado ao lado de Sean Penn em Milk. Franco vive o jovem Ginsberg que, em 1957, antes de tornar-se um dos maiores ícones da geração beat, era conhecido apenas nos pequenos círculos literários de San Francisco. “Éramos só um bando de escritores que queriam ser publicados”, diria ele mais tarde. Segundo nota publicada na imprensa, Howl está em Cannes à procura de compradores. Ou seja, apesar de atores de peso – e de uma primorosa produção que mistura linguagem de documentário e animação para recriar trechos do poema -, por enquanto o filme é quase como o poema que o inspirou: praticamente underground. A L&PM publica Uivo na Coleção POCKET e, em junho, está prevista a reedição do livro em formato convencional. A tradução da L&PM, feita por Claudio Willer, pode ser vista nos trechos legendados do filme que você assiste com exclusividade na nossa Web TV. E já que o longa ainda não tem data definida para estrear, comece pelo livro e entenda porque Uivo foi, e continua sendo, tão impactante.