Arquivo da tag: Freud

Mãe de escritor só tem uma

No clima do Dia das Mães, aí vai uma homenagem a mulheres sem as quais algumas das pessoas mais admiráveis do mundo não existiriam: 

Gabrielle, mãe de Jack Kerouac

Clara, mãe de Agatha Christie

Amalie, mãe de Freud

Jane, mãe de Mark Twain

Clélia, mãe de Castro Alves

Maria Magdalena, mãe de Fernando Pessoa

Katharina, mãe de Charles Bukowski

Autor de hoje: Sófocles

Colona, Grécia, 495 a.C. – † Atenas, Grécia, 406 a.C.

Sófocles é considerado, juntamente com Ésquilo e Eurípedes, um dos três grandes poetas dramáticos da Grécia Antiga. Mestre incomparável da dramaturgia, inovou a construção e as técnicas teatrais de seu tempo, elevando o número de integrantes do coro, acrescentando um terceiro ator e substituindo a trilogia unida pela livre, em que cada drama formava um todo. Em sua obra, Sófocles não responsabiliza o homem pelo ato consumado, mas por sua intenção, porque as intenções do indivíduo nem sempre se realizam por vontade própria, dependendo também da cooperação de atos alheios ou do acaso. Exprimindo uma visão de mundo fatalista, pois acreditava na intervenção da “moira” ou destino. Sófocles soube captar o sofrimento, a dúvida e os sentimentos humanos. Tanto é que sua obra serviu de subsídio para Aristóteles, em sua Poética, e para Freud, muitos séculos depois, quando formulou as teorias da Psicanálise.

Obras principais: Antígona, c. 415; Édipo Rei, c. 425; As traquínias, c. 420; Electra, c. 415; Édipo em Colono, c. 401.

SÓFOCLES por Ivo Bender

Sempre que referimos a tragédia, enquanto gênero dramático, vem-nos à mente o Édipo Rei, de Sófocles. Embora existam, entre as cerca de três dezenas de textos trágicos remanescentes, outras tragédias exemplares, nenhuma alcança o mesmo nível de construção de Édipo Rei. Ao correr de seus 1.810 versos, Sófocles nos apresenta a trajetória de um homem que, ao amanhecer do dia trágico, se encontra no mais alto patamar de segurança e poder e que, ao cair da noite, vê-se aniquilado.

Embora Édipo tenha resolvido o enigma da Esfinge e, com isso, ganho o trono e a mão da rainha, mesmo que se esforce para livrar Tebas da peste e ainda seja o mesmo homem pleno de virtude, nada poderá libertá-lo de seu passado. Sequer os deuses, em tudo mais onipotentes, têm como travar a engrenagem trágica, uma vez acionada pelo Destino.

Supondo conhecer sua ascendência, Édipo descobrirá o equívoco em que sempre viveu e que, para sua infelicidade, ele próprio irá desfazer. Nesse sentido, é reveladora a observação do adivinho Tirésias ao dizer para o rei: “Verás num mesmo dia teu princípio e teu fim” (v. 528).

Nascido para matar o pai e desposar a própria mãe, Édipo, sem suspeitar, dá todos os passos necessários para que seu destino se realize por completo. Ao final do drama, Édipo está cego, mas é, finalmente, conhecedor de sua identidade e passa a experimentar todos os males que lhe advêm desse conhecimento.

Se no plano individual a catástrofe é absoluta, no plano coletivo dá-se o contrário – Tebas está liberta da peste, as searas voltarão a frutificar e as mulheres tornarão a dar à luz. E, pairando acima das ruínas da casa real e acima de Tebas liberada, o Destino tem mais uma vez referendada sua incompreensível ação.

Édipo Rei estreou por volta de 430 a.C., nas Frandes Dionísicas, em Atenas. A peça não recebeu o primeiro prêmio embora, como quer Aristóteles em sua Poética, provoque “Terror e piedade” até mesmo à simples leitura, sem a necessidade da encenação. 

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Para melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores.

Freud e a interpretação dos sonhos

Retrato feito pelo artista Ferdinand Schmutzer (fonte: Freud Museum)

Há exatos 155 anos, nascia em Freiberg, na Áustria, Sigmund Freud. Os fãs do pai da psicanálise podem aproveitar o aniversário do mestre para comemorar também uma boa notícia: chega em julho na Coleção L&PM Pocket o livro A interpretação dos sonhos, traduzido diretamente do alemão.

Freud revelou a existência de um mundo novo – o inconsciente – até então desconhecido. Livre-pensador, exímio estilista, pai de seis filhos, mentor intelectual de dezenas de discípulos, seus livros chegaram a ser queimados na fogueira. A vida de um dos homens mais influentes do século 20 está contada no volume Freud, da Série Biografias, e suas interfaces com a ciência, a arte e a política estão exploradas no volume Sigmund Freud, da Série Encyclopaedia.

Enquanto julho não chega, você pode ir se especializando no universo freudiano: a necessidade do sentimento religioso na vida do homem é o que Freud explica no livro O mal-estar na cultura, e na obra O futuro de uma ilusão ele aborda a questão “qual o futuro da humanidade”.

Para marcar o Dia da Imigração Judaica

“Havia guerra na Europa, mas a hora era de calma no Bom Fim. Os grandes negros da Colônia Africana ainda dormiam, ressonando forte e cheirando a cachaça. Três mulatas dormiam dilatando as narinas com volúpia. As gordas avós judias dormiam, os pálidos judeuzinhos dormiam, de boca aberta e respiração ruidosa por causa das adenóides. As mães judias dormiam seu sono leve e intranqüilo. Os pais judeus dormiam; logo acordariam e iriam, bocejando, acender os fogões de lenha, tossindo e lacrimejando quando as achas úmidas começassem a desprender fumaça.” (Moacyr Scliar em “A guerra no Bom Fim”)

Se há um escritor brasileiro que retratou a comunidade judaica no Brasil, ele é o saudoso Moacyr Scliar. Lembramos dele porque hoje, 18 de março, é o Dia Nacional da Imigração Judaica. E para marcar a data, aqui vão outros trechos de escritores judeus que a casa oferece. Além de Woody Allen, Allen Ginsberg e Franz Kafka, ainda há Isaac Singer, Freud e muitos outros.

“E, como se seu Q. I. já não o isolasse bastante, sofria injustiças e perseguições por causa de sua religião, principalmente vindas de seus pais. É verdade que tanto seu pai quanto sua mãe frequentavam a sinagoga, mas não conseguiam admitir a ideia de que o filho fosse judeu. ‘Como foi acontecer isto?’ perguntava seu pai, indignado. Minha cara não mente, pensava Weinstein todo dia ao barbear-se. Tinha sido confundido várias vezes com Robert Redford, mas sempre por um cego. E havia também Feinglass, outro amigo de infância.”

“Por que nego o maná para os outros? / Porque o nego para mim. / Por que me neguei para mim mesmo? / Quem mais me rejeitou? / Agora acredito que você seja adorável, minha alma, alma de Allen, Allen – e você tão amada, tão doce, tão lembrada na sua verdadeira amabilidade, / seu Allen original nu respirando / alguma vez você voltará a negar alguém? / Querido Walter, obrigado pelo seu recado / Proíbo-o de deixar de tocar-me, homem a homem / Autêntico Americano / Bombardeios rasgam o céu (…)

“Tudo isso não era, por certo, um fenômeno isolado, as coisas se passavam de maneira semelhante em grande parte dessa geração de transição judaica, que emigrou do campo para as cidades ainda relativamente religiosa; acontecia espontaneamente, apenas acrescentava à nossa relação, à qual já não faltavam agudezas, mais uma bem dolorosa. Por outro lado também aqui tu deves, do mesmo modo que eu, acreditar em tua ausência de culpa…”

Top 10 L&PM, os destaques do ano

Todo ano que se preze termina com listas de “melhores”, “mais lembrados”, “mais influentes”,  “mais importantes”… A restrospectiva faz parte do encerramento em grande estilo. Para nós, aqui da L&PM, foi bem difícil pensar nos 10 livros que marcaram o ano. Porque foram vários e todos eles, especiais. Mas também não vamos negar que alguns se destacaram e chamaram mais atenção dos leitores e da mídia. E são eles, agora, que (re)apresentamos aqui como sendo o “Top Ten L&PM 2010”:

1. Freud traduzido direto do alemãoO ano começou com duas novas traduções das obras de Freud: O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, traduzidos direto do alemão por Renato Zwick. São dois livros, mas concluimos que eles são um único destaque.

2. Os informantes – lançado em março,  marcou a estreia do escritor Juan Grabriel Vásquez no Brasil. O romance retrata a conturbada relação entre pai e filho a partir de uma parte esquecida da história da Colômbia.

3. Peanuts Completo – Este ano foram mais dois volumes de Peanuts Completo, a primorosa edição de luxo, com capa dura, que traz tiras dos anos 50 de Charlie Brown e sua turma. Em 2011 tem mais!

4. Surdo Mundo – Comovente e irônico, o romance do inglês David Lodge foi inspirado na própria surdez do escritor e conquistou leitores e críticos de todo o Brasil.

5. Anjos da Desolação – O romance de Jack Kerouac nunca antes traduzido e publicado no Brasil foi lançado no mês de agosto. Diretamente transcrito dos diários de Kerouac, a edição é complementada pela apresentação de Seymour Krim, escritor e crítico literário que participou da geração beat.

6. Pedaços de um caderno manchados de vinho – O livro de Charles Bukowski que apresenta uma seleção de contos e ensaios que ainda não haviam sido reunidos ou publicados. Contém, inclusive, o primeiro e o último contos escritos por Buk.

7. Agatha Christie em Quadrinhos – No ano dos seus 120 anos, Agatha Christie teve destaque na L&PM e ganhou até um Hotsite. Mas foram os HQ que mais chamaram a atenção. O primeiro volume foi lançado em agosto: trouxe Assassinato no Expresso Oriente, seguido de Morte no Nilo. Em outubro, chegou Morte na Mesopotâmia, seguido do Caso dos Dez Negrinhos.

8. As veias abertas da América Latina – O clássico de Eduardo Galeano ganhou nova tradução de Sérgio Faraco e foi lançado, ao mesmo tempo, em formato convencional e pocket. Para completar, ganhou índice analítico.

9. Série Encyclopaedia – Aqui, o destaque foi para uma série. Em 2010, a Série Encyclopaedia L&PM entrou em uma nova fase, com títulos da britânica Oxford University Press e livros trazendo ilustrações, fotos e mapas.

10. WaldenLançado em novembro, o clássico de Thoreau ganhou apresentação de Eduardo Bueno e elogiada tradução de Denise Bottmann.

Os bonecos escritores

Oscar Wilde, célebre, respeitado e excêntrico escritor ficou famoso não só por suas peças de comédia e ironia, mas também por usar roupas sempre muito diferentes das usadas no seu tempo. O Oscar Wilde Action Figure é um boneco que dá vida ao grande dramaturgo inglês e, é claro, vem vestido à caráter.  Além de Wilde, outros escritores como  Edgar Allan Poe, Jane Austen, Arthur Conan Doyle e Freud fazem parte da coleção. Veja outros personagens aqui.

Lançamento de novas traduções de Freud lota auditória da Livraria da Vila em SP

* Por Tássia Kastner

Freud é o maior gerador de empregos do século. Essa é uma, talvez a única, conclusão a que se chegou, em meio a algumas risadas, durante o encontro “Freud para todos”. O evento reuniu os colaboradores das edições de O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, na Livraria da Vila, para um bate-papo sobre a entrada em domínio público, a polêmica das traduções, a importância cultural de Freud e, claro, um breve desmembramento das obras.

Da esquerda para a direita, Edson Souza, Caroline Chang, Renato Zwick, Renata Udler Cromberg, Márcio Seligmann e Paulo Endo

O porquê de Freud ser o maior gerador de empregos, ao menos naquele momento, era um tanto óbvio. O auditório tinha todas as suas 50 cadeiras ocupadas, e na sua grande maioria, por psicanalistas e estudiosos da obra do pai da psicanálise.

Após a apresentação dos colaboradores, feita pela editora da L&PM Caroline Chang, os psicanalistas Edson Sousa e Paulo Endo apresentaram as conexões de Freud com nosso comportamento atual.

Já Renato Zwick, tradutor dos dois textos, discutiu questões pontuais de tradução, apontando os termos mais polêmicos. Trieb, por exemplo, foi traduzido como “impulso”, diferentemente das traduções anteriores como “instinto” e “pulsão”. Os consagrados id, ego e superego, na tradução de Renato, passam a ser “isso”, “eu” e “supereu”, mais condizentes com o estilo de Freud, e mais coerentes, já que o objetivo é traduzir do alemão para o português. “Não há porque pegar um atalho no latim, já que há uma palavra correspondente em nossa língua”, explicou.

Renata Udler Cromberg falou sobre o desafio de prefaciar O futuro de uma ilusão – o único ensaio que a psicanalista ainda não havia lido com profundidade.

“Talvez por uma dificuldade de me deparar com a questão da religiosidade, que é o que ele discute nesse livro”, comentou.

O germanista Marcio Seligmann encerrou o encontro explicando O mal-estar na cultura, desde as questões discutidas por Freud, até o próprio conceito de mal-estar, já que a palavra usada em alemão é mais uma daquelas que não possui tradução para o português.

Em breve, a L&PM disponibilizará na WebTV o vídeo deste encontro.

Crianças e livros

O auditório da Livraria da Vila da Lorena, onde a L&PM reuniu os colaboradores das edições de O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, de Freud, fica ao lado da área infantil da biblioteca. No sábado, o espaço estava lotado pelos pequenos, como esses três atirados nos pufes do local, compenetrados em seus livros.

Além de fofa, a imagem é estimulante. Ainda que se pregue o fim dos livros, enquanto o hábito da leitura se renovar com as crianças – assim mesmo, no papel – nossas histórias favoritas continuarão sendo impressas.