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Faltam dois dias para mais uma Bienal do Livro de São Paulo

Contagem regressiva para a abertura de mais uma Bienal do Livro de São Paulo que começa nesta quinta-feira, 09 de agosto e vai até o dia 19. Este ano, o evento homenageia os centenários de nascimento de Jorge Amado e de Nelson Rodrigues e também os 90 anos da Semana de Arte Moderna de 1922. Na programação, o destaque são os encontros promovidos no “Salão de Ideias”, sob o comando de Paulo Markun. É nesse espaço que, no dia 17 de agosto às 16 horas, Flávio Tavares, autor de “1961 – O golpe derrotado”, participa da mesa “Recuperar o Passado” ao lado de Leonencio Nossa e Paulo Moreira Leite.

Dentro da programação, há ainda o “Deu a Louca nos Livros”, dedicado ao público infantil. O “# Você + Quem = ?”, dirigido por Zeca Camargo e voltado para o público jovem. O “Espaço do Professor” com foco nos educadores. O “Cozinhando com Palavras”, espaço gourmet que receberá chefs-autores. O “Telas e Palcos”, onde Rubens Ewald Filho comandará encontros com autores, dramaturgos, cineastas, músicos e artistas. E ainda o “Livros & Cia, um espaço para palestras e debates sobre temas de interesse dos profissionais que atuam nas diversas atividades de todos os elos da cadeia do livro.

O estande da L&PM Editores nesta Bienal já está sendo preparado. São 400 caixas e 24 mil livros que vão colocar à disposição do leitor as mais recentes novidades e cerca de 1.000 títulos da Coleção L&PM Pocket. Não dá pra perder.

As caixas já estão sendo abertas para preparar o estande da L&PM Editores na Bienal do Livro de São Paulo

Para ver a programação completa e ver como chegar na Bienal acesse o site oficial do evento: www.bienaldolivrosp.com.br

Zuenir Ventura escreve sobre o novo livro de Flávio Tavares

Um golpe no golpe

Por Zuenir Ventura*

Sempre que surgem descontentamentos nos meios militares, mesmo sem consequências graves como agora, espera-se, é bom olhar para três momentos dramáticos de nossa história política recente: suicídio de Vargas em 1954; renúncia de Jânio em 1961; queda de Jango em 1964. A segunda dessas crises está sendo contada no livro “1961 — o golpe derrotado“, em que Flávio Tavares relata o que chama de “Os treze dias que mudaram o Brasil”, quando um movimento liderado por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande Sul, resistiu à pressão dos ministros militares que tentavam impedir a posse do vice-presidente João Goulart. Com estilo literário e rigor jornalístico, num ritmo de thriller policial, o livro é o relato de quem viu tudo como repórter e viveu como protagonista, já que o autor, armado de um 38, tinha como missão “grudar-se em Brizola”, para cobrir os acontecimentos e para o que desse e viesse. O resultado é uma mistura de gestos heroicos, lances patéticos e números engraçados, como o do trote telefônico que Flávio passou no general José Machado e em Dom Vicente Scherer. Exímio imitador do sotaque alemão, ele ligou para o comandante do III Exército como se fosse o arcebispo, e para este como se fosse o general, um propondo ao outro resistir ao golpe. Sem esse acordo, é possível que o desfecho da crise fosse diferente, assim como o adiamento do Gre-Nal ajudou a manter a unidade dos resistentes, divididos entre gremistas e colorados. O jogo punha em risco a coesão de que tanto precisavam naquele domingo.

Enquanto isso, em Paris, eu servia de intérprete de um Jango indeciso, sem saber se voltava para resistir ou se aguardava por lá. Foi quando um colega parisiense me entregou em uma nota: “O contato de Goulart com a imprensa é um empregado de Carlos Lacerda, seu maior inimigo.” Eu era correspondente da Tribuna da Imprensa. Não podia errar na tradução.

Quando, em vez dos tanques, apareceu no prédio o general Machado para conversar com o governador rebelado, houve apreensão. “Foi o momento mais difícil de minha vida”, confessaria Brizola a Flávio em 1979, em Lisboa. “Eu esperava tudo e qualquer coisa; que ele viesse me abraçar ou me prender”. Machado fora anunciar que o III Exército tinha decidido dar posse ao vice-presidente.

Em meio a tantas peripécias que não cabem neste espaço, chama a atenção o papel do rádio no movimento. Toda a mobilização e todas as proclamações foram feitas através da Cadeia da Legalidade, transmitida do porão do Palácio. “O radinho de pilha começava a popularizar-se, fazendo a palavra de Brizola chegar ao inalcançável”, conta o autor, e não há como não lembrar o fenômeno das redes sociais nas várias “Primaveras” no mundo de hoje. A imagem de alguém com o transistor colado ao ouvido era tão comum quanto a do celular agora.

* Zuenir Ventura é escritor e jornalista. Este texto foi publicado originalmente no Jornal O Globo em 21 de março de 2012. 

Zuenir Ventura participou do lançamento do novo livro de Flávio Tavares, dia 20 de março, na Livraria Argumento

O sucesso de Flávio Tavares no Rio

Muita gente foi até a Livraria Argumento do Leblon, ontem, 20 de março, para ver e ouvir os escritores Flávio Tavares e Zuenir Ventura. Os amigos de longa data conversaram sobre “1961: o golpe derrotado“, novo livro de Flávio que, após o bate-papo, teve sessão de autógrafos. “1961: o golpe derrotado” conta os bastidores do Movimento da Legalidade e mostra que ele foi um prenúncio do que aconteceria três anos mais tarde. Uma das perguntas que a plateia fez ao autor foi se ele acha que o povo deveria ter resistido ao golpe militar de 1964. Flávio respondeu que sim, que na sua opinião, as pessoas deveriam ter resistido como resistem ao crime e à violência atuais, pois o golpe de 64 foi um crime. Neste momento, ele foi aplaudido pelos presentes. O evento, que começou às 19h, estendeu-se até às 22h, com uma longa fila para os autógrafos. Uma equipe da Globo News acompanhou todo o lançamento e preparou uma matéria que vai ao ar nesta sexta-feira, 23 de março, as 21h30min.

Flávio Tavares e Zuenir Ventura na Livraria Argumento do Leblon

Entre as centenas de presentes, estiveram por lá o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo; o escritor e tradutor Eric Nepomuceno; a juíza e ex-deputada Denise Frossard; o  neto de Leonel Brizola,  vereador Leonel Brizola Neto; o embaixador e acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco; a colunista social Hildegard Angel; os cineastas Tetê Moraes e Silvio Da-Rin; o novelista Manuel Carlos; o jornalista Wilson Figueiredo e a filha de Luiz Carlos Prestes, Zóia Ribeiro Prestes.

Noite de autógrafos e de muitos encontros

A noite do lançamento de 1961 – O golpe derrotado, foi um grande sucesso. Cerca de trezentas pessoas estiveram por lá para receber seu autógrafo de Flávio Tavares, jornalista que testemunhou e participou do Movimento da Legalidade junto a Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul. O livro, que conta todas as peripécias da rebelião, é um relato que resgata um importante momento histórico, ao mesmo tempo em queleva o leitor a mergulhar em uma emocionante aventura. A sessão de autógrafos foi precedida por um bate-papo com Flávio e o também jornalista e escritor David Coimbra. O ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra, o prefeito de Porto Alegre José Fortunati, além da neta de Brizola, Juliana Brizola, e o neto de Jango, Christopher Goulart, também foram prestigiar o lançamento.

Dia 20 de março tem mais: Flávio autografará seu livro na Livraria Argumento no Rio de Janeiro.

A noite abriu com um bate-papo entre Flávio Tavares e David Coimbra

Flávio contou histórias da Legalidade como a vez em que, ao telefone, ligou para o arcebispo fingindo ser o Comandante do 3º Exército, General Machado Lopes, e logo depois ligou para este mesmo general fingindo ser o arcebispo para assim marcar um encontro entre eles.

A multidão assistia atenta. Em primeiro plano, segurando alguns livros, a neta de Leonel Brizola, Juliana Brizola

Assim que o bate-papo terminou, as pessoas correram para pegar seu autógrafo

A fila ficou comprida...

E nem o prefeito José Fortunati deixou de pegar a sua dedicatória

Testemunha ocular

Por Juremir Machado da Silva*

Flávio Tavares é um jornalista que dispensa apresentações. Está na cena brasileira há mais de 50 anos. Esteve preso no Brasil e no Uruguai. Viveu no exílio. Em 1961, como diz a fórmula consagrada, foi testemunha ocular dos episódios da Legalidade. Mais do que isso, como jornalista de Última Hora, foi protagonista da grande aventura, entrincheirado no Palácio Piratini, ombreando com os heróis do momento. Com base nesse currículo altamente legitimador, Tavares não poderia deixar de apresentar a sua visão do que aconteceu quando o doido do Jânio Quadros renunciou e os reacionários e não menos doidos ministros militares tentaram impedir a posse de Jango, o rico fazendeiro visto como comunista, sendo frustrado pela reação comandada pelo intrépido e desconcertante Leonel Brizola. O relato de Flávio Tavares está em “1961, O Golpe Derrotado – Luzes e Sombras do Movimento da Legalidade” (L&PM), que será lançado hoje à noite em Porto Alegre.

A primeira página do livro de Flávio Tavares já diz tudo com um “efeito credencial”, um altamente legitimador “eu estava lá”, “eu fui parte dos acontecimentos”, “eu vi tudo”, um fac-símile de uma carta enviada pelo autor, no calor da refrega, ao governador Brizola avisando-o da interceptação de uma mensagem de Brasília ordenando (ou sugerindo) a sua prisão em nome da “normalização da ordem pública”. As 231 páginas do livro são uma narrativa minuciosa e sem fissuras dos 13 dias que sacudiram o Brasil, colocaram o Rio Grande do Sul, mais uma vez, na linha de frente das questões nacionais e despertaram o interesse de boa parte do mundo por mais uma tentativa de golpe militar ao Sul do Equador. O golpe em si seguia os padrões tradicionais. A resistência é que se mostrou diferente. Flávio Tavares põe essa diferença em destaque.

Disposto a jogar luz em cima das sombras que encobrem a Legalidade, Flávio dá detalhes de acontecimentos que testemunhou. Por exemplo, dois encontros de Brizola com Che Guevara, em Montevidéu, poucos dias antes da crise brasileira. Essas conversas teriam influenciado Brizola, que teria ficado impressionado com o charme, o carisma e a aura romântica do guerrilheiro argentino convertido em alto mandatário cubano. Depois de churrasquear com Che e vê-lo desafiar publicamente os Estados Unidos no discurso na reunião para a oficialização da Aliança para o Progresso, em Punta del Este, o destemido e idealista Leonel não poderia deixar por menos no seu terreiro de atuação.

O livro começa com uma curiosa descrição de uma situação entre Flávio e um soldado da Brigada Militar dentro do Palácio Piratini. Flávio mostra sua voz de comando: “Um martelo e uma escada comprida, que chegue ao teto. Mas rápido”. O soldado obedece. Flávio sobe, quebra três vitrais na janela oval e abre espaço para instalar uma metralhadora. Guerra é guerra. A grande batalha, como em 1930, não aconteceria. O golpe seria adiado para 1964. O “soldado” Flávio apresentou suas armas naquele dia. Ficaria em guerra por muitos anos. Talvez ainda continue.

*Este texto foi publicado originalmente na coluna de Juremir Machado da Silva no jornal Correio do Povo, na edição de 7 de março de 2012.

Autógrafos do livro 1961: o golpe derrotado

Em Porto Alegre:
HOJE, 7 de março, às 19h, na Saraiva Megastore do Shopping Praia de Belas

No Rio de Janeiro:
20 de março, às 19h, na Livraria Argumento

Dicas de leitura no Dia do Repórter

Além de Hunter Thompson, que já foi citado por aqui hoje, no Dia do Repórter, temos outras dicas de leituras para quem curte uma reportagem emocionante com clima de aventura. Dá só uma olhada:

1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares – Testemunha e participante do Movimento da Legalidade, o jornalista Flávio Tavares escreveu este belo romance reportagem, onde a memória é o fio condutor que desnuda detalhes e revela a face oculta de tudo, com uma surpresa a cada passo. Colunista político nos anos 1960 da Última Hora, do Rio de Janeiro, Flávio foi preso e banido do Brasil pela ditadura em 1969. Á volta do exílio, trabalhou nos maiores jornais do país e publicou, antes do recém lançado “1961”, os livros Memórias do Esquecimento e o Dia em que Getúlio matou Allende.

10 dias que abalaram o mundo, de John Reed – Considerada a primeira grande reportagem moderna, este livro é uma minuciosa descrição da revolução comunista de 1917 na Rússia. Em 1914, John Reed, um norte-americano do Oregon foi para a Europa cobrir, pela Metropolitan Magazine, a Primeira Grande Guerra, recém iniciada. Ele e a esposa acabaram chegando em Moscou no auge do movimento revolucionário. Em 1981, Warren Beatty dirigiu e estrelou “Reds” como Reeds.

Um trem para a Suíça, de David Coimbra – Repórter esportivo, David Coimbra escreve no jornal com a mesma paixão que dedica a seus romances e novelas. Este livro reúnem crônicas e relatos de viagens. A Olimpíada da China e três Copas do mundo são o pano de fundo para histórias em países como Coreia, Japão, China, Malásia, África do Sul, Bolívia, Venezuela, Alemanha e Suíça. Entre as histórias/reportagens está um perigoso contato com os guerrilheiros das Farc nas selvas bolivianas.

Operação Condor: o seqüestro dos uruguaios, de Luiz Cláudio Cunha O sequestro de um casal de uruguaios, em 1978, numa ação dos órgãos de repressão do Uruguai e do Brasil, expôs as vísceras da sinistra Operação Condor à opinião pública brasileira e internacional. Alertados por um telefonema anônimo, o repórter Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo J.B. Scalco foram conduzidos até um apartamento em Porto Alegre, onde surpreenderam militares uruguaios e policiais brasileiros na fase final do sequestro do casal. Pela primeira vez no continente, jornalistas testemunhavam a Condor em pleno vôo.

O Smurf Repórter, de Peyo – Ok, este não é exatamente um livro sério e de reportagem como os outros que indicamos. Mas para quem quer descobrir, de forma divertida e colorida, um pouco mais sobre a vida do repórter, tá valendo. Fica a dica para as crianças. Em formato convencional e pocket.

O depoimento de Brizola sobre a Legalidade

Há 50 anos, com a renúncia do presidente Jânio Quadros, tinha início o Movimento da Legalidade. No vídeo a seguir, Leonel Brizola dá um depoimento que explica um pouco como tudo aconteceu, acompanhado de imagens da época. As cenas fazem parte do documentário “Jango”, de Sílvio Tendler, que foi lançado em 1984 e que, naquele mesmo ano, acabou virando um livro homônimo, publicado pela L&PM.

O filme de Silvio Tendler teve textos de Maurício Dias, narração de José Wilker, trilha sonora de Milton Nascimento e Wagner Tiso, além de produção de Denize Goulart, filha de Jango. Já o livro traz fotos, transcreve os textos (os offs e os depoimentos) e faz um resgate minucioso da vida política de Jango: de vice-presidente de Jânio até sua morte.

Infelizmente, o livro está esgotado. Mas se você quiser assistir ao filme, breve terá uma chance. Ou melhor, duas. Ele será exibido dentro da mostra “O Documentário Segundo Sílvio Tendler”  que acontecerá no Rio de Janeiro. A exibição será no dia 03 de setembro às 18h e no dia 04 de setembro às 16h. Também no dia 03, das 20h às 21h30min, o escritor Eduardo Bueno participa do seminário “O Documentário e a Construção da Narrativa Histórica e Política”. A mostra acontecerá no Centro Cultural da Justiça Federal que fica na Avenida Rio Branco, 241 e os ingressos custarão R$ 1,00. Confira aqui a programação completa

E por falar em Legalidade, Flavio Tavares está preparando um livro sobre o tema. A previsão de lançamento é final de setembro.

Um mergulho na Legalidade, 50 anos depois

Em 25 de agosto, o Movimento da Legalidade completa exatos 50 anos. Para os que já ouviram falar, mas não lembram direito desta aula de História, ele foi o movimento de resistência comandado pelo governador gaúcho Leonel Brizola à tentativa de golpe militar que queria evitar que o vice-presidente da República, João Goulart, assumisse no lugar de Jânio Quadros, presidente que havia renunciado. Para marcar este cinquentenário, e para relembrar cada detalhe do episódio de agosto de 1961, o jornalista e escritor Flávio Tavares preparou um livro que será lançado em setembro pela L&PM Editores. Flávio foi, na época, o enviado especial do Jornal Última Hora ao centro de operações do movimento e acabou atuando como um porta-voz informal de Brizola, já que os outros jornais sofreram censura e estavam proibidos de cobrir a Legalidade.

Aqui, você pode ler um artigo de Flávio publicado no Domingo, 21 de agosto, no Jornal Zero Hora e conhecer, com exclusividade, um trecho do primeiro capítulo de seu livro.

A renúncia de Jânio, por Flávio Tavares*

O estranho gesto da renúncia de Jânio Quadros à presidência da República completa 50 anos no dia 25. Nada foi tão rocambolesco nem gerou tantas consequências quanto aquele ofício seco e direto que seu ministro da Justiça levou ao presidente do Congresso naquela tarde de 1961: “Nesta data e por este instrumento, deixando com o ministro da Justiça as razões do meu ato, renuncio ao mandato de presidente da República”. Em apenas 24 palavras, se esvaía como água pelos dedos das mãos o poder de quem governara o país durante sete meses de forma imperial, com o apoio até de antigos adversários.

Com a renúncia, veio o golpe de Estado do ministro da Guerra, vetando a posse do vice-presidente João Goulart – para ele “um comunista”. Logo, o Movimento da Legalidade – a rebelião do governador Leonel Brizola reuniu o III Exército e a população, paralisando o golpe. Mas o grande protagonista foram armas inusitadas – primeiro, a imprensa; logo (e principalmente) o rádio. Brizola foi o grande artífice, mas sem a Cadeia da Legalidade seus discursos não teriam tido o poder de convocação direta, pessoa a pessoa, mobilizando tudo e todos.

Por que Jânio Quadros renunciou? Nas “razões” deixadas com o ministro da Justiça, disse só uma frase de efeito: “Fui vencido pela reação e assim deixo o governo”. Sem dar explicações, esquivou-se sempre a responder ou se enfurecia ao ouvir a pergunta. Em 1980, 19 anos após a renúncia, eu o visitei em São Paulo e, durante três horas, ele falou sem parar de Napoleão e Churchill, verbos e conjunções, José Bonifácio, metais e metaloides, Getúlio e Che Guevara, moeda e câmbio, sem dar pretexto a que eu tocasse na renúncia. Entendi aí que a genialidade extravagante e desordenada do ciclotímico o tinha feito líder político imbatível em 1960.

Com esse estilo, ele conquistou a presidência num triunfo eleitoral avassalador. Nele, tudo era mutante, como se fosse gerado e parido pelo imponderável, mas para o público isso era genialidade. No governo, fez o que quis, com momentos deslumbrantes de estadista e outros mesquinhos, de míope político distrital. A renúncia inesperada, porém, ficou atravancada na História, num desafio sem explicações.

Em tudo, só hipóteses. A mais estapafúrdia era de que ele tentou um “golpe branco” para, após renunciar, ser reconduzido pelo povo com poderes amplos, tipo “ditador constitucional”. Em termos concretos, porém, isto era absurda fantasia: Jânio nunca preparou nenhuma força popular de mobilização nem tentou seduzir os ministros militares, que sempre o apoiaram e também se surpreenderam com o gesto.

O povo-povão deu explicação mais simples: a renúncia foi coisa da cabeça de cachaceiro!

Jânio morreu em fevereiro de 1992, sem explicar-se em público. Agora, ao preparar um livro sobre o Movimento da Legalidade (que a L&PM lança em setembro), deparei com um depoimento do ex-presidente a seu neto (também Jânio), feito em 1991, em que abertamente afirma que renunciou “por crer que os militares, os governadores e o povo exigiriam que continuasse no poder”.

Numa confissão de avô, nada ocultando, conta que mandou o vice-presidente João Goulart à China, “lá longe” para “não haver quem assumisse o poder, pois Jango era inaceitável para a elite”. E conclui: “Achei que voltaria a Brasília na glória. Deu tudo errado”.

Seria ele um ator louco que representava para si mesmo? Ou, traído pela mitomania, acreditou que o sonho de poder viraria realidade numa mágica? Em qualquer caso, faltou a Jânio o que sobrou a Brizola: audácia e capacidade de mobilizar o povo.

* Este texto de Flávio Tavares foi originalmente publicado na página 15 do Jornal Zero Hora do dia 21 de agosto de 2011.

Clique sobre as páginas para ler um trecho do primeiro capítulo do livro de Flávio Tavares a ser publicado em breve: