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Galeano e o “Homem de Cor”

O canal do Youtube da PUC Rio disponibilizou um emocionante trecho da leitura que Eduardo Galeano realizou na noite de terça-feira, 15 de abril. Galeano leu “Homem de cor”, de Léopold Senghor, poeta do Senegal.

“Homem de cor” é o texto que está em 29 de Agosto no livro Os filhos dos dias, de Galeano.

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O abraço de Eduardo Galeano no Rio de Janeiro

Na noite de terça-feira, 15 de abril de 2014, Eduardo Galeano levou uma verdadeira multidão à PUC do Rio de Janeiro. Gente que queria vê-lo, ouvi-lo e, quem sabe, até tocá-lo. O evento, que aconteceria em um auditório para 150 lugares, acabou transferido para o ginásio com capacidade para 3.ooo pessoas, onde o escritor uruguaio leu trecho de Os filhos dos dias, o mais recente livro publicado pela L&PM. Hoje, o dia seguinte inunda as redes sociais de fotos e relatos emocionados com o de Caio Renan, um jovem que, logo depois do encontro, publicou um texto que transcrevemos aqui:

O dia em que ganhei um abraço de Eduardo Galeano

Um relato bobo, escrito logo depois do encontro com um ídolo

Por Caio Renan – Via medium.com/@caiorenan

A partir de uma certa idade, eu adquiri o hábito de ler. Ler bastante. A enorme quantidade de tempo dentro de ônibus pelo Rio de Janeiro me deu bastante tempo pra exercitar o hábito. Daí, como qualquer um que conheça a obra dele, tornei-me admirador de Eduardo Galeano.
A visão latina, o viés político, poético, filosófico, o gosto pelo futebol… Tudo nesse gigante inspira admiração.

Há um tempo soube que ele viria ao Rio. A data: hoje, dia 15 de abril de 2014. A partir daí enchi o saco de vários que possivelmente estão lendo isso atrás de contatos que pudessem me levar a Galeano. Uma entrevista, uma conversa, uma foto, um autógrafo… Qualquer coisa que pudesse guardar na memória eu queria. Cheguei a um uruguaio. Este é amigo de Galeano há mais de uma década, trabalha em uma mídia fundada por Galeano. Num espaço pequeno e com contato com o escritor, ele garantiu que eu poderia ter alguns minutos com o gigante.

Cheguei a PUC, encontrei a Rebeca Letieri, pegamos as senhas e entramos no auditório. Esperávamos. Mas Galeano não é um qualquer. Além de genial e inspirador, é popular. Levou uma multidão à universidade católica. Multidão ensandecida do lado de fora. Evento movido pro ginásio. Ótimo, porque todos que queriam conseguiriam ouvir as palavras de sabedoria do uruguaio. No entanto, a aproximação que queria o amigo Gabriel foi perdida. Ainda tentamos nos aproximar. Mas o mau humor atestado por Gabriel e a veemência que Galeano disse a seu editor “Não vou dar entrevistas!” encerraram qualquer esperança de contato com ele.

Depois disso, sentamos e ouvimos. Rimos, pensamos, duvidamos (tudo precisa ser questionado, afinal), aplaudimos de pé e absorvemos o que foi possível.

Na hora de sair, a surpresa. Isso era o que eu procurava: algo pra me recordar do encontro com um ídolo, com uma mente que admiro. Quando descia uma escada, fecharam meu caminho para que Galeano passasse. Depois que ele passou, fui. No fim da escada, duas moças que sorriam de orelha a orelha disseram: “Muchas gracias, Galeano!”. Ele se virou tranquilo. Sorriu, pegou a mão da primeira, deu um abraço. Repetiu o ritual com a segunda. Fez o mesmo comigo. Riu de novo. Agradeceu. E seguiu viagem.

Pode ser bobeira minha. Idolatria desmedida. Mas ganhar um abraço e um aperto de mão de um cara que escreveu obras que moldaram minha mente e tantas outras… Pra mim, foi algo que não vou deixar de lembrar. O riso de um cara que trazia um semblante tão mau humorado antes de receber o calor daqueles admiradores todos, o agradecimento e a simpatia… Vou lembrar.

Hoje, o corpo é festa.

(Momento sem foto por causa do inexplicável sumiço de Rebeca Letieri, que tava atrás de mim e quando fui pra escada, sumiu como um avião da Malaysia Airlines)

Eduardo Galeano lotou o ginásio da PUC-RJ / Foto Ivan Pinheiro Machado

Eduardo Galeano lotou o ginásio da PUC-RJ / Foto Ivan Pinheiro Machado

Foto de Ivan Pinheiro Machado

Foto de Ivan Pinheiro Machado

“Sinto-me sufocado de tanto carinho”, diz Eduardo Galeano em Brasília

Por Lúcio Flávio (publicado originalmente no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo em 12 de abril)

O escritor uruguaio Eduardo Galeano iniciou nesta sexta (11) a programação da 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em Brasília. Um dos homenageados do evento – ao lado do escritor e dramaturgo Ariano Suassuna -, o autor de obras marcantes como “As Veias Abertas da América Latina” (1971) e a trilogia “Memória do Fogo“, escrita entre os anos 1982 e 1986, se surpreendeu com o tamanho do afeto do povo brasileiro. “Sinto-me sufocado de tanto carinho”, afirmou.

A força do prestígio do escritor uruguaio pôde ser conferida nas filas enormes e no princípio de bagunça durante sua chegada ao auditório do Museu Nacional da República Honestino Guimarães, na noite desta sexta (11), onde participou de palestra. Ovacionado de pé pelas centenas de pessoas que lotaram o espaço, Eduardo Galeano brindou os presentes com histórias trágicas e tragicômicas de personagens, lendas, paisagens, acontecimentos históricos e políticos da América Latina e do mundo.

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Como muito senso de humor, o escritor fez o público rir e refletir com textos divertidos e críticos sobre luta pela liberdade, racismo, identidade, futebol e comportamento.

“São textos dramáticos, que podem fazer algumas pessoas sensíveis chorarem”, ironizou elegantemente.

COLETIVA DISPUTADA

Horas antes, durante uma coletiva descontraída realizada com a imprensa no hotel onde estava hospedado, o escritor falou abertamente sobre as manifestações realizadas nas ruas do país, o corporativismo no futebol e as expectativas da Copa do Mundo no Brasil.

“Não acredito nos profetas bíblicos, muito menos nos profetas esportistas. O melhor a fazer é esperar e calar a boca”, disse Galeano, que participa neste domingo (13), às 16h, do debate “Futebol e Ditaduras na América Latina”.

Sobre o livro (“As Veias Abertas da América Latina“) que o tornou referência no mundo todo para artistas, políticos, revolucionários e utópicos, confessou não ter mais nenhuma ligação afetiva.

“Depois de tantos anos, não me sinto mais ligado a ele”, admitiu o escritor. “O tempo passou e descobri outras maneiras de me aprofundar na realidade. É uma etapa superada. Se fosse reler o livro hoje cairia desmaiado, não aguentaria”, brincou.

Foi cauteloso ao responder a uma pergunta da Folha sobre a possível derrota da esquerda no continente. “É uma afirmação arriscada. A esquerda foi demolida muitas vezes por ter dado certo”, observou.

“Foi castigada pelas ditaduras, pelos sacrifícios humanos e pelas barbaridades cometidas em nome da paz, do progresso e da democracia. Por períodos, a esquerda também cometeu erros gravíssimos. A realidade tem o poder da surpresa. Até porque dá respostas a perguntas não formuladas”, refletiu Galeano, que teceu elogios ao amigo e presidente do Uruguai, José Mujica, o chamando de um homem de “grande sensibilidade”.

Eduardo Galeano no Brasil

O escritor Eduardo Galeano é o homenageado da 2ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que acontece em Brasília, entre 11 e 21 de abril. O autor do clássico As Veias Abertas da América Latina fará o discurso inaugural na noite do primeiro dia do evento e, no dia 15 de abril, segue para o Rio de Janeiro, onde fará uma leitura do livro Os filhos dos dias no auditório RDC da PUC-Rio. As atividades da Bienal de Brasília e a leitura de textos no Rio são atividades gratuitas.

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Eduardo Galeano em Brasília

A II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, que acontece na capital federal, promete “literatura, política e muita polêmica” em seus encontros. O homenageado internacional desta edição é o escritor uruguaio Eduardo Galeano e sua presença já foi confirmada pela organização do evento que estará de portas abertas entre 12 a 21 de abril.

Serão 10 dias dedicados a seminários, debates, palestras, lançamentos e mostras de cinema. Um grande pavilhão especialmente montado na Esplanada dos Ministérios acolherá os auditórios e espaços gastronômicos criados para promover o encontro do público de Brasília com os autores. Além de Galeano, a lista de convidados cobre vários continentes.

Para mais informações, clique aqui.

Agende-se para encontrar Eduardo Galeano em abril

Agende-se para encontrar Eduardo Galeano em abril

A L&PM Editores publica a obra completa de Eduardo Galeano.

O futebol de Eduardo Galeano

futebol ao sol e a sombraFutebol ao sol e à sombra é um livro ágil e emocionante como uma boa partida de futebol. Isso porque, nele, Eduardo Galeano mostra que é mais do que um célebre escritor, mais do que autor de As veias abertas da América Latina. Galeano revela o apaixonado que é pela bola que rola entre entre as quatro linhas em busca do gol. E é cheio de paixão que ele começa seu livro  falando sobre tudo o que está relacionado com o futebol – os jogadores, o ídolo, o técnico, o árbitro, o torcedor, o fanático, a bola, o gol e por aí vai –  e segue contando pequenas e verdadeiras histórias que aconteceram ao longo de todas as Copas do Mundo.

O gol

O gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol está cada vez menos frequente na vida moderna. Há mais de meio século, era raro que uma partida terminasse sem gols: 0 a 0, duas bocas abertas, dois bocejos. Agora, os onze jogadores passam toda a partida pendurados na trave, dedicados a evitar os gols e sem tempo para fazer nenhum. O entusiasmo que se desencadeia cada vez que a bola sacode a rede pode parecer mistério ou loucura, mas é preciso levar em conta que o milagre é raro. O gol, mesmo que seja um golzinho, é sempre goooooooooooooool na garganta dos locutores de rádio, um dó de peito capaz de deixar Caruso mudo para sempre, e a multidão delira e o estádio se esquece que é de cimento, se solta da terra e vai para o espaço.