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Tela inédita de Van Gogh é descoberta na Holanda

A semana começou com uma novidade impressionante no mundo das artes: uma tela recém descoberta e até então inédita de Vincent Van Gogh passa a integrar o acervo do Museu que leva seu nome, em Amsterdã. O quadro batizado de “Pôr-do-sol em Montmajour” estava guardado há anos no sótão da casa de um industrial francês, dono da obra, e só agora teve a autoria reconhecida.

gogh

O Museu Van Gogh fora acionado nos anos 90 para avaliar a pintura, mas negou sua autenticidade. No entanto, novas pesquisas e uma das cartas enviadas pelo artista a seu irmão Théo levaram à conclusão de que se trata, sim, de uma obra autêntica. Na carta escrita por Vincent em 1888, ele descreve a cena retratada na tela, relatando sua insatisfação com a obra terminada.

Ontem ao pôr do sol eu estava numa charneca pedregosa onde crescem carvalhos bem pequenos e retorcidos, ao fundo uma ruína sobre a colina e trigais no pequeno vale. Era romântico a mais não poder, à Monticelli o sol derramava raios muito amarelos sobre as moitas e o solo, exatamente como se fosse uma chuva de ouro. E todas as linhas eram belas, o conjunto de uma nobreza encantadora. Não seria nada surpreendente ver surgirem de repente cavaleiros e damas voltando de uma caça ao falcão, ou ouvir a voz de um velho trovador provençal. Os solos pareceriam violetas, os longes azuis. Aliás, eu trouxe um estudo, mas que está muito abaixo do que eu teria gostado de fazer.

Eis  aqui um novo tema – um canto de jardim com moitas redondas e um chorão e ao fundo tufos de loureiros-rosa. E a relva recém-ceifada com vários feixes de feno secando ao sol, um cantinho de céu azul-verde no alto. (…)

Esta é a carta número 508 e faz parte do livro Cartas a Théo, da Coleção L&PM Pocket. E todas as cartas trocadas entre os irmãos Théo e Vincent Van Gogh serão publicadas pela L&PM num só livro em outubro. Aguarde!

O Outro Van Gogh no teatro

Estreou na semana passada, no Rio, a peça “O Outro Van Gogh”. Nela, o ator Fernando Eiras, no primeiro monólogo de sua carreira, apresenta um espetáculo baseado nas centenas de cartas trocadas entre Vincent Van Gogh e seu irmão Théo entre os anos de 1872 e 1890. Com texto de Mauricio Arruda Mendonça e direção de Paulo de Moraes, a peça é centrada na figura de Théo e no período em que ele esteve internado em um sanatório com transtornos psicológicos causados pela sífilis. No espetáculo, Eiras interpreta Théo em meio a seu colapso psicológico, no qual conversa com o irmão morto, relembrando a forte ligação dos dois, desde a infância até o trágico fim do pintor. Abaixo, um vídeo com trechos do monólogo.

Serviço:

O que: O Outro Van Gogh
Quando: 28 de junho a 26 de agosto
Classificação etária: 14 anos
Ingressos: Quinta e sexta, R$ 40,00/ Sábado e Domingo, R$ 60,00
Onde: Teatro Poeira, Rua São João Batista, 104 – Botafogo, Rio de Janeiro / Fone: (21) 2537.8053

A Coleção L&PM Pocket publica Cartas a Théo em uma edição ampliada, anotada e ilustrada. O livro traz ainda um glossário, identificando os quase 200 nomes citados por Vincent em sua correspondência, várias ilustrações com fac-símiles das cartas e o célebre texto do pintor Paul Gauguin, onde é descrito o episódio em que Van Gogh, num acesso de loucura, corta a orelha.

50. Quando a L&PM foi parar no “Olho da Rua”

Em outubro, como já anunciado, a Série “Era uma vez… uma editora” ficou um pouco diferente. Este mês, como o editor Ivan Pinheiro Machado* estava na Feira de Frankfurt, ficou decidido que os posts seriam dedicados a livros que deixaram saudades. Hoje, no entanto, no lugar de um título, resolvemos falar de uma coleção inteira. A ideia de contar a história da Coleção “Olho da Rua” surgiu de uma conversa com o escritor Eduardo Bueno (que alguns chamam de Peninha) que, nos anos 80, criou esta série de livros marginais, como ele mesmo definiu.

A Coleção “Olho da Rua” começou quando Eduardo convidou Antonio Bivar para (re)publicar o seu livro Verdes Vales do Fim do Mundo, que já estava há tempo fora de catálogo. Bivar era co-tradutor, junto com Bueno, da primeira versão da tradução de On the Road. O plano era, a partir deste livro, dar início a uma versão brasileira da Coleção “Rebeldes e Malditos”, criada por Ivan Pinheiro Machado e que, em 1984, já publicava, entre outros, Cartas a Théo de Van Gogh, De Profundis, de Oscar Wilde, Paraísos Artificiais, de Charles de Baudelaire e A correspondência de Arthur Rimbaud.

A edição de "Verdes Vales do Fim do Mundo" de 1984, depois relançada na Coleção L&PM POCKET

“A seguir, convidei Jorge Mautner, Roberto Piva, Pepe Escobar, Reinaldo Moraes e outros malucos para se juntarem ao bando. Precisávamos de um nome para a coleção, que soasse rebelde e maldito o suficiente. Da conversa com o Bivar surgiu o nome “Olho da Rua”, já que vários deles tinham a vivência plena das calçadas e das sarjetas, nunca foram de circular muito pelas avenidas principais e já haviam sido orgulhosamente postos no olho da rua várias vezes. Além de tudo, o “olhar” deles era o olhar típico dos escritores que não produziam seus livros “de pantufas no gabinete, com a lareira acesa e um gato ronronando”. Aí, eu e Ivan achamos o nome não apenas adequado como ótimo. E a coleção saiu. Ela era quase uma “resposta” à Cantadas Literárias, lançada pouco antes pela editora Brasiliense. Resposta não é bem o caso: era complementar a ela e seguia a tendência de editar “marginais”, que a L&PM já fazia tanto na “Rebeldes e Malditos” como na Coleção “Alma Beat”. Era o inicio dos anos 80, o país vivia grande efervescência, todo mundo ansiava pela abertura e pela volta das “liberdades democráticas” e então a “Olho da Rua” veio para resgatar textos já publicados e/ou censurados e também livros inéditos (como “Speedball” de Pepe Escobar e “Abacaxi”, de Reinaldo Moraes).” Conta Eduardo Bueno.

A “Olho da Rua” acabou não ficando só nos brasileiros. Foi nela que, pela primeira vez, Sam Shepard foi publicado no Brasil com o livro Louco para Amar. E também Gasolina e Lady Vestal, de Gregory Corso, De repente, acidentes de Carl Solomon, 7 Dias na Nicarágua Libre, de Lawrence Ferlinghetti, A queda da América, de Allen Ginsberg, Luna Caliente de Mempo Giardinelli e Isadora – fragmentos autobiográficos, de Isadora Duncan.

Alguns dos livros que inicialmente sairam na “Olho da Rua” acabaram sendo relançados na Coleção L&PM POCKET. Como Verdes Vales do Fim do Mundo, por exemplo.

* Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o quinquagésimo post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Van Gogh assassinado?

Como morreu Van Gogh? A resposta está na ponta da língua de quem conhece pelo menos um pouco da biografia do grande pintor: deu-se um tiro cuja bala foi parar na virilha e que acabou virando uma hemorragia fatal. O doutor Gachet chegou a ser chamado, mas não conseguiu remover e bala. Van Gogh deixou este mundo dois dias depois do incidente, em 29 de julho de 1890.

Van Gogh pode não ter morrido como conta a história

Eis que, 121 anos depois, uma nova versão do fato contesta o suicídio e joga luz sobre uma possibilidade de assassinato. Steven Naifeh e Gregory White Smith, que estudam a vida do pintor holandês há mais de 10 anos, vasculharam cartas inéditas, charfurdaram documentos desconhecidos e chegaram a uma nova hipótese: há indícios de que Van Gogh teria sido vítima de um homicídio culposo.

Naifeh e Smith são biógrafos de Van Gogh e também de Jackson Pollock

Segundo a investigação empreedida pela dupla de pesquisadores, há estudos realizados na década de 30 que afirmam que Van Gogh teria saído para beber na companhia de dois adolescentes. Um dos jovens brincava de cowboy e portava uma arma que – acreditava ele – estava com defeito. O tiro disparado pelo jovem teria sido acidental, mas a consequência foi fatal. A bala perfurou o abdomem do pintor e se alojou na virilha, como na história que conhecemos. Outro indício que reforça a nova versão é de que a bala teria entrado num ângulo oblíquo e não reto, como costuma acontecer em suicídios.

Questionado sobre os novos fatos, o curador do Museu Van Gogh, Leo Jansen, disse que esta nova versão é “dramática” e “intrigante”, mas como “muitas questões permanecem sem resposta”, seria “prematuro descartar o suicídio”.

Vamos aguardar novidades. Enquanto isso, vale conhecer a história completa do grande pintor em Van Gogh na Série Biografias, Cartas a Théo e Biografia de Vincent Van Gogh por sua cunhada, todos da Coleção L&PM POCKET.

As últimas palavras de Van Gogh

Van Gogh pintou o "Retrato do Dr. Gachet" um mês antes de morrer

Era madrugada do dia 29 de julho de 1890 e Théo estava deitado ao lado do irmão no leito do hospital. Vincent fumava seu cachimbo tranquilamente e parecia bem, apesar de fraco. Dois dias antes, tinha disparado um tiro contra o próprio peito, que desviou e se alojou na virilha. O Dr. Gachet foi chamado às pressas, mas não conseguiu retirar a bala.

Assim que soube do “incidente”, Théo veio ao encontro do irmão, mas ele estava decidido a morrer. Por volta da 1h30 do dia 29 de julho, Vincent Van Gogh murmura suas últimas palavras: “Quero ir embora”, e morre.

Van Gogh guardava consigo uma carta, a última das Cartas a Théo:

Meu caro irmão,

Obrigado por sua gentil carta e pela nota de cinquenta francos que ela continha. Já que as coisas vão bem, o que é o principal, por que insistiria eu em coisas de menor importância? Por Deus! Provavelmente se passará muito tempo antes que se possa conversar de negócios com a cabeça mais descansada.

Os outros pintores, independente do que pensem, instintivamente mantêm-se à distância das discussões sobre o comércio atual.

Pois é, realmente só podemos falar através de nossos quadros. Contudo, meu caro irmão, existe isto que eu sempre lhe disse e novamente voltarei a dizer com toda a gravidade resultante dos esforços de pensamento assiduamente orientado a tentar fazer o bem tanto quanto possível – volto a dizer-lhe novamente que sempre o considerarei como alguém que é mais que um simples mercador de Corots, que por meu intermédio participa da própria produção de certas telas, que mesmo na derrocada conserva sua calma.

Pois assim é, e isto é tudo, ou pelo menos o principal que eu tenho a lhe dizer num momento de crise relativa. Num momento em que as coisas estão muito tensas entre marchands de quadros de artistas mortos e de artistas vivos.

Pois bem, em meu próprio trabalho arrisco a vida e nele minha razão arruinou-se em parte – bom -, mas pelo quanto eu saiba você não está entre os mercadores de homens, e você pode tomar partido, eu acho, agindo realmente com humanidade, mas, o que é que você quer?

A história de Van Gogh está contada nas centenas de Cartas a Théo e também no célebre Antes & Depois, memórias de Paul Gauguin onde o pintor narra em detalhes o célebre episódio em que Van Gogh corta sua própria orelha. Ambos os livros publicados na Coleção L&PM POCKET.