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Já tem companhia para o feriado?

Um chocolate quente, um pijama confortável, música suave em um ambiente silencioso. O dia de hoje pede exatamente isso. Afinal, feriados são pequenos hiatos em meio a uma atribulada rotina e devem ser desfrutados ao máximo. Servem para pensar na vida, passear com um amigo, fazer um programinha romântico ou mesmo ficar deitado deixando-se inundar pelo sol invernal. Outra ideia para quem quer aproveitar o feriado é escolher um companheiro. De Machado de Assis a Raymond Chandler, de Bukowski a Anaís Nïn, de Allen Ginsberg a Agatha Christie.

Já pensou em passar o feriado com eles em um dos ambientes a seguir? 🙂

Biblioteca da Delft University, na Holanda.

Sala de leitura da Biblioteca do Parlamento em Ottawa, no Canadá

Österreichische Nationalbibliothek (The Austrian National Library) em Vienna

Para quem gosta de bibliotecas, este site fez uma seleção de fotos de algumas das mais lindas do mundo!

My Buk’s day

Por Reinaldo Moraes*

Women (pronuncia-se Uímem), do velho Buk, me caiu na mão, não lembro como, no início da década de 80, e logo pensei em traduzir a bagaça, de tanto que eu curti a leitura e releitura do livro. Bukowski virou meu ídolo literário da hora. Traduzi uns dois capítulos por conta própria e levei para a Brasiliense, editora forte na época, que topou bancar a empreitada. Meti, pois, mãos e pés e pinto e coração à obra, que saiu em 1984, se não me engano. Durante o trabalho, que levou quase um semestre, eu contava às pessoas que estava traduzindo o Women, do Bukowski, e as ditas pessoas sempre se espantavam com essa informação, pois entendiam que eu estava a traduzir “O hímen”.  Como é que eu podia estar traduzindo essa incômoda membrana que se antepõe à plena realização sexual das mulheres e também dos homens, by the way? E para que outra membrana eu estaria traduzindo o hímem? Para o diafragma? O peritônio?  Quando a minha versão em português de “O hímem” ficou finalmente pronta, batizada naturalmente de Mulheres (o curioso é que todas as mulheres que aparecem no livro já haviam se livrado do seu hímen há muito tempo), tomei um banho, botei uma calça branca comprada em Barcelona e uma camisa azul comprada em Paris, e fui, babando de orgulho, levar o calhamaço datilografado até a editora, que ficava pras bandas do centro de São Paulo.  Ao sair da editora, com o chequinho da tradução no bolso e tomado de grande alívio e sentimento de realização, resolvi entrar num bar com terraço da avenida Angélica, perto de onde eu morava, para tomar um chopinho vespertino de confraternização comigo mesmo. Eis que, meia hora depois, me entra no bar e senta-se na mesa ao lado da minha uma senhorita com uma camisa amarrada na barriguinha saliente, decote fuck-me-baby, calça justíssima realçando o bundão e umas sandálias de salto alto. Naquele tremendo piranha-look,  a fulana parecia saída diretamente das páginas calientes e divertidas de Mulheres que eu acabara de revisar apenas algumas horas antes. A mulher pediu um chope, puxou um cigarro e me pediu fogo, que eu não tinha, pois não fumava e não fumo. O garçom acendeu o cigarro dela. Fiquei na minha, tomando meu próprio chope e lendo, ou fingindo que lia, o jornal que eu tinha trazido comigo. Não muitos minutos se passaram antes que a piranhuda criatura viesse me pedir a página de cinema do jornal. Emprestei a página e logo entabulamos conversação de mesa a mesa. Que filmes legais estavam passando na cidade, quem já tinha visto o quê, esse tipo de conversinha mole. Quando ficou claro que logo nos tornaríamos mais íntimos, ela veio se sentar à minha mesa. Vários, quiçá muitos chopes depois, sem contar alguns Steinhaegers, saímos do bar abraçados, rumo ao meu carro, um Chevette 77, que fez o favor de nos conduzir até um hoteleco fuleiro do Bexiga, onde passamos algumas horas fazendo a mesma coisa que o sacana do Hank, o personagem-narrador de Mulheres, passara as 300 e tantas páginas do livro a fazer com a legião de namoradas, paqueras ocasionais e putas de alto bordo que por ali desfilam gostosamente. Era inacreditável: eu estava vivendo mais uma das aventuras sexuais errantes narradas pelo Buk com uma de suas mulheres teletransportadas da Califórnia para São Paulo, já com tradução simultânea. No fim, trocamos telefones e eu nunca mais vi a vagaba que, bêbada e pelada no nosso ninho do amor provisório do Bexiga, revelara-se muito da tesuda. Impossível uma experiência mais bukowskiana que essa, que conto aqui sem nenhuma intenção de me vangloriar como o grande literato machão que papa todas as bucetinhas desavisadas e mesmo algumas avisadíssimas, no melhor estilo do meu ídolo americano. Ou talvez eu até esteja mesmo tendo aqui essa intenção imbecil, porém viril, de me vangloriar um pouco, em que pese o fato de todas as glórias serem vãs, ao fim e ao cabo, e vice-versa. Afinal, fui Bukowski por um dia, depois de ter passado meses a fio diante da minha Lettera 22 às voltas com as poéticas putarias do velho safado. Eu merecia aquilo, tanto quanto mereço agora me vangloriar um teco daquela façanha erótica-etílica-poética com a peruete galinha da avenida Angélica, 30 anos atrás, inda mais agora que a minha tradução reaparece em formato de bolso pela L&PM, uma das melhores notícias que tive nos últimos tempos. O mesmo dirão, imagino, os futuros leitores de O hímen, esse clássico bukowskiano. E podem ficar todos sossegados: vagabas hão de pintar por aí, ontem, hoje e sempre.

*Reinaldo Moraes é o tradutor do livro Mulheres, de Charles Bukowski, que acaba de chegar à Coleção L&PM Pocket, autor de Pornopopéia, entre outros livros, e escreveu este texto especialmente para o blog da L&PM.

Mãe de escritor só tem uma

No clima do Dia das Mães, aí vai uma homenagem a mulheres sem as quais algumas das pessoas mais admiráveis do mundo não existiriam: 

Gabrielle, mãe de Jack Kerouac

Clara, mãe de Agatha Christie

Amalie, mãe de Freud

Jane, mãe de Mark Twain

Clélia, mãe de Castro Alves

Maria Magdalena, mãe de Fernando Pessoa

Katharina, mãe de Charles Bukowski

Os gatos e a literatura

Quem tem gatos em casa já viveu esta cena: é só sentar no sofá e puxar um livro que eles chegam perto e se acomodam nos seus pés, no seu colo ou – por que não? – em cima do livro que você pretendia ler. E que atire a primeira enciclopédia quem nunca fraquejou e deixou o livro de lado para se entregar aos ron-rons do bichano! E a relação dos gatos com a literatura vai além da disputa da atenção do dono com os livros. Os felinos foram afetuosos companheiros de vários escritores:

Charles Bukowski

Jack Kerouac

 

Allen Ginsberg

Hunter Thompson

Truman Capote

Patricia Highsmith

Patricia Highsmith

William Burroughs

 

O imortal Bukowski

Apesar do estilo intenso de Bukowski levar a vida – tinha o álcool como fiel companheiro e não raro estava metido com drogas e orgias –  foi a leucemia que, em 9 de março de 1994, deu fim à vida de Henry Charles Bukowski Jr. – ou Hank para os íntimos.

“Don’t try” é o recado que ficou na lápide de seu túmulo, em Los Angeles. Parece que nem mesmo ele acreditava que chegaria tão longe, pois sempre que o assunto era morte, o tom era de conformismo, beirando a ironia:

“Sei que vou morrer logo e isso me parece estranho. Sou egoísta, gostaria de continuar a escrever mais palavras. Isso me dá um brilho, me joga no ar dourado. Mas, na verdade, por quanto tempo posso continuar ainda? Não é certo continuar. Diabos, de qualquer forma, a morte é gasolina no tanque. Nós precisamos dela. Eu preciso. Você precisa. Nós emporcalhamos o lugar se demorarmos demais.” (em O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio)

No site oficial do escritor, encontramos estas duas fotos em que ele simula seu próprio enterro:

Mas se depender da L&PM, o velho Hank jamais morrerá. Prova disso são os livros da série Bukowski.

Bukowski no Brasil

Não é miragem! A foto que você está vendo mostra o velho Buk bastante à vontade sentado no sofá da casa de Vinicius de Moraes, aqui no Brasil. Um bebendo, o outro fumando… uma cena bastante típica na vida de ambos. Encontramos a foto e a história sobre o encontro num blog sobre literatura, junto de um poema de Vinicius e um trecho do filme sobre Bukowski. O frenesi foi geral, afinal era o encontro entre dois dos maiores poetas do século passado, os mais bêbados e os mais hábeis na arte de contar o amor.

Mas apesar de toda a verossimilhança, uma simples busca de imagens foi capaz de acabar com qualquer ilusão ou epifania. Eis o choque de realidade:

Top 10 L&PM, os destaques do ano

Todo ano que se preze termina com listas de “melhores”, “mais lembrados”, “mais influentes”,  “mais importantes”… A restrospectiva faz parte do encerramento em grande estilo. Para nós, aqui da L&PM, foi bem difícil pensar nos 10 livros que marcaram o ano. Porque foram vários e todos eles, especiais. Mas também não vamos negar que alguns se destacaram e chamaram mais atenção dos leitores e da mídia. E são eles, agora, que (re)apresentamos aqui como sendo o “Top Ten L&PM 2010”:

1. Freud traduzido direto do alemãoO ano começou com duas novas traduções das obras de Freud: O futuro de uma ilusão e O mal-estar na cultura, traduzidos direto do alemão por Renato Zwick. São dois livros, mas concluimos que eles são um único destaque.

2. Os informantes – lançado em março,  marcou a estreia do escritor Juan Grabriel Vásquez no Brasil. O romance retrata a conturbada relação entre pai e filho a partir de uma parte esquecida da história da Colômbia.

3. Peanuts Completo – Este ano foram mais dois volumes de Peanuts Completo, a primorosa edição de luxo, com capa dura, que traz tiras dos anos 50 de Charlie Brown e sua turma. Em 2011 tem mais!

4. Surdo Mundo – Comovente e irônico, o romance do inglês David Lodge foi inspirado na própria surdez do escritor e conquistou leitores e críticos de todo o Brasil.

5. Anjos da Desolação – O romance de Jack Kerouac nunca antes traduzido e publicado no Brasil foi lançado no mês de agosto. Diretamente transcrito dos diários de Kerouac, a edição é complementada pela apresentação de Seymour Krim, escritor e crítico literário que participou da geração beat.

6. Pedaços de um caderno manchados de vinho – O livro de Charles Bukowski que apresenta uma seleção de contos e ensaios que ainda não haviam sido reunidos ou publicados. Contém, inclusive, o primeiro e o último contos escritos por Buk.

7. Agatha Christie em Quadrinhos – No ano dos seus 120 anos, Agatha Christie teve destaque na L&PM e ganhou até um Hotsite. Mas foram os HQ que mais chamaram a atenção. O primeiro volume foi lançado em agosto: trouxe Assassinato no Expresso Oriente, seguido de Morte no Nilo. Em outubro, chegou Morte na Mesopotâmia, seguido do Caso dos Dez Negrinhos.

8. As veias abertas da América Latina – O clássico de Eduardo Galeano ganhou nova tradução de Sérgio Faraco e foi lançado, ao mesmo tempo, em formato convencional e pocket. Para completar, ganhou índice analítico.

9. Série Encyclopaedia – Aqui, o destaque foi para uma série. Em 2010, a Série Encyclopaedia L&PM entrou em uma nova fase, com títulos da britânica Oxford University Press e livros trazendo ilustrações, fotos e mapas.

10. WaldenLançado em novembro, o clássico de Thoreau ganhou apresentação de Eduardo Bueno e elogiada tradução de Denise Bottmann.

Twitter ressuscita escritores

Já há algum tempo o twitter deixou de ser um simplificado micro-querido-diário de seus usuários. Até o clássico “what are you doing?” foi substituído por um simpático “what’s happening?”. Mas além de ferramenta para publicação de notícias, divulgação de produtos, concursos e interação com clientes (oi, seguidores!), o twitter recebeu também outra função: ressuscitador de escritores. E pelos perfis dá para descobrir várias coisas sobre a personalidade de alguns dos nossos autores preferidos:

– Dostoiévski (@FDosto) não é dos mais assíduos e não posta nada desde março. Mas não é bobo e aproveitou os últimos meses para começar a seguir a musa da Copa, Larissa Riquelme.
– Os amigos Jack Kerouac e Allen Ginsberg parecem ter visões diferentes da coisa. @Jack__Kerouac, um cara simpático (ou será bisbilhoteiro?), segue mais de 300 pessoas. @allen_ginsberg não segue ninguém e parece bem assim.
– O último tweet (de dois) de Charles Bukowski (@hank_bukowski) dizia o seguinte: “Yesterday I met Adolf  H. in hell. He is fuckin stupid”. Tradução: “Ontem encontrei Adolf H. no inferno. Ele é um _ estúpido”. Talvez esse seja real, hein…

Mas nem só de fakes vive o twitter. Alguns autores da casa realmente mantêm contas no microblog, e nós fazemos questão de indicá-los para vocês: @mauriciodesousa, @thedycorrea, @carolteixeira_, @ZPgoulart e @ducaleindecker. Follow them!

Atualização: faltou listar um importantíssimo: no @voltaremos é possível encontrar as ótimas receitas do querido Anonymus Gourmet!

Beijos literários

Ah, o beijo… Como viver, amar e ser feliz sem ele?

É por isso que, hoje, no Dia do Beijo, separamos alguns trechos de pockets da L&PM que homenageiam esse que pode ser o mais puro ou o mais libidinoso dos atos.

Romeu e Julieta, de Shakespeare: “Beijarei teus lábios. Pode ser que ainda encontre neles um pouco de veneno que me faça morrer com este fortificante. (Beija-o)”.

Kama Sutra, Capítulo 3: “Os locais a serem beijados são os seguintes: a fronte, os olhos, as bochechas, a garganta, o colo, os seios, os lábios e o interior da boca. O povo de Lat também beija os seguintes locais: os quadris, os braços e o umbigo”.

 Drácula, de Bram Stoker: “Mas, logo após, voltou a abrir os olhos com toda aquela doce ternura de outrora. E desembaraçando aos poucos sua pobre, frágil e descorada mão, estendeu-a ao encontro da morena destra de Van Helsing. Este tomou-a entre seus robustos dedos, acariciou-a e beijou-a, na mais comovente das sublimações”.

Para sempre ou nunca mais, de Raymond Chandler: “Eu te odeio – ela disse, a boca contra a minha. – Não por isso, mas porque a perfeição nunca vem sem um intervalo e no nosso caso ela veio logo em seguida. E não quero nem vou voltar a vê-lo. Terá que ser para sempre ou nunca mais”.

Pulp, de Charles Bukowski: “Nós nos abraçamos e juntamos as bocas. A língua dela enfiara-se em minha boca, quente, mexendo-se como uma pequena serpente”.

Trecho de Elegia [de Marienbad] de Trilogia da Paixão, de Goethe: “Como por mim à porta ela aguardava / E felizardo aos poucos me fazia, / Após o último beijo me alcançava  / E ainda mais um dos lábios imprimia, / Assim, movente e clara, a efígie amada / No coração a fogo está gravada”.

Trecho de Versos Íntimos, de Eu e Outras Poesias, de Augusto dos Anjos: “Toma um fósforo. Acende teu cigarro! / O beijo, amigo, é a véspera do escarro, / A mão que afaga é a mesma que apedreja. / Se a alguém causa inda pena a tua chaga, / Apedreja essa mão vil que te afaga, / Escarra nessa boca que te beija!”.

O Dia do Beijo é comemorado em duas datas: 6 de julho (Kissing Day) e 13 de abril.