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Peça de teatro inspirada em textos de Eduardo Galeano

Eduardo Galeano vai estar mais perto dos baianos em dezembro. A Companhia baiana  Teatro da Queda apresenta, neste mês, Bacad, montagem inspirada no panorama cultural da América Latina. O trabalho,  é baseado em ampla pesquisa de textos do escritor uruguaio, autor de As veias abertas da América Latina, relançado em outubro pela L&PM. A peça está em cartaz até dia 19 de dezembro na cidade de Salvador, Bahia.

Bacad parte da idéia de reconhecimento cultural latino americano para buscar as raízes históricas dos brasileiros. O projeto da encenação terá, também, um ciclo de leituras  e a realização da oficina “A Poética da Invenção – do processo colaborativo de construção do espetáculo Bacad”, que acontece em dois encontros no mesmo período em que a peça fica em cartaz.

Foto: Divulgação

SERVIÇO

Bacad

3 a 19 de dezembro de 2010

Sextas, Sábados e Domingos

20 horas

Teatro Vila Velha – Sala Principal

Ingressos: R$ 10,00 e R$ 5,00 (meia entrada)

Oficina
Data: 11 e 18/12 (Sábados)
Horário: das 13h às 17h
Local: Teatro Vila Velha – Salvador
Inscrição Gratuita

Ciclo de Leitura
Data: 07/12 (terça-feira)
Horário: das 14h às 18h
Local: Colégio Estadual da Bahia (Colégio Central)
Inscrição Gratuita

O fenômeno “As veias abertas da América Latina”

A mais tradicional das feiras de livros no Brasil, a Feira do Livro de Porto Alegre, em sua 56ª edição, aponta entre os cinco livros mais vendidos nada mais nada menos do que “As veias abertas da América Latina” do escritor uruguaio Eduardo Galeano. É um fenômeno, como gostam de dizer os próprios uruguaios. Afinal, trata-se de um livro que foi lançado 40 anos atrás. Em agosto deste ano, a L&PM contratou “As veias abertas…” que era o único livro de Galeano que não estava em nosso catálogo. Fizemos uma versão convencional em 21 x 14 cm e uma versão na coleção L&PM POCKET, com uma nova e festejada tradução do escritor Sergio Faraco. É um livro emblemático, um brado de resistência. Conta a história real do continente, onde gestos heróicos e grandes homens são confrontados sistematicamente com o assédio predatório dos colonizadores. Toda uma política de genocídio que justificava a exploração do ouro, da prata e de tantas riquezas de que nosso continente é pródigo. Ao permanecer como um “best seller sistemático”, “As veias abertas da América Latina” mostra que ainda há uma esperança pelo interesse que ele desperta nos jovens. Apesar de Galeano enfatizar em seu prefácio nesta edição de 2010: “O autor lamenta que este livro não tenha perdido a atualidade…” (IPM)

Galeano por Faraco

Luiz Antonio de Assis Brasil*

As Veias Abertas da América Latina, de Eduardo Galeano, é um clássico contemporâneo. Saído em 1970, atualizado em 1977, manteve-se inalterado desde então. Agora, em 2010, sai em nova tradução brasileira, desta vez do nosso Sergio Faraco, que enfrentou com brilho a tarefa que lhe foi cometida pela L&PM Editores. E, pelo visto, agradou o autor, que destina palavras elogiosas a Faraco. Com Galeano concordamos na íntegra. Trata-se de uma tradução “redonda”, com belos lances sintáticos e léxicos, e à qual não faltam originalíssimos momentos retóricos.

Garantida a fidelidade e a excelência textual, cabe-nos refletir sobre o conteúdo. Pode-se dizer que este livro é a mais completa summa que já tivemos acerca da América Latina, pois reúne, em pequenos capítulos, um mosaico diacrônico que começa nos “descobrimentos” e chega até o auge dos governos militares do continente. Ali estão todos os nossos fantasmas, nossas humilhações, todas as arrogâncias coloniais – e mesmo as pós-coloniais –, todas as injustiças dos sistemas saqueadores. Acompanhamos, como quem lê um romance de terror, as históricas vicissitudes de nossa existência coletiva, e nos perguntamos, afinal, como deixamos que tudo isso acontecesse? Onde a indignação, onde a solidariedade?

Como é óbvio, estão fora do livro as últimas décadas. Nestas, surgiram ousadas lideranças políticas, capazes de dialogarem com as potências dominantes no plano internacional, obtendo equânimes modalidades de relacionamento. Por outro lado, a sociedade civil organiza-se em instituições estáveis e operosas. São ainda exceções no continente, mas emblemáticas do quanto podemos como povos e nações livres.

Sob essa perspectiva, mais importante ainda se torna essa reedição e As Veias Abertas da América Latina. À parte seu valor literário, é um depoimento até agora insuperável acerca do quanto já sofremos e do quanto o perigo ainda nos ronda. Apesar dos esforços e conquistas, ainda não foram ultrapassadas todas as patologias ali apontadas.

As Veias Abertas da América Latina deve ser nosso livro de cabeceira. É um norte a indicar a rota de que não podemos derivar. É um aviso. Uma advertência.

Ou mais.

 * Essa crônica de Luiz Antonio de Assis Brasil  foi originalmente publicada em sua coluna de hoje (25 de outubro de 2010) no Segundo Caderno do Jornal Zero Hora.