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Livro de Flávio Tavares é um dos vencedores do Prêmio AGES

A AGES – Associação Gaúcha de Escritores, revelou no último sábado, 6 de julho, os vencedores deste ano do Prêmio AGES – Livro do Ano de 2013. Flávio Tavares foi o vencedor na categoria “Não Ficção” pela obra 1961- O Golpe Derrotado, lançado em 2012 pela L&PM. No livro, o escritor reconstitui o Movimento da Legalidade em um texto emocionante, que tem a agilidade de um romance de ação.

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Retrospectiva: os destaques de 2012

E lá se foi 2012. Deixando boas lembranças e ótimos livros no catálogo L&PM. Foram muitos os lançamentos em formato convencional e pocket. Aqui, destacamos um para cada mês do ano que está terminando, de dezembro até até janeiro.

DEZEMBRO – Não tenho inimigos, desconheço o ódio, de Liu Xiaobo. Por que é destaque: o chinês Liu Xiaobo é um escritor, intelectual, ativista e professor que foi condenado a 11 anos de prisão por suas ideias. Prêmio Nobel da Paz 2010, pela primeira vez seus textos foram reunidos e publicados no Brasil, apresentando uma China que o ocidente ainda não conhece.

NOVEMBRO – Allen Ginsberg e Jack Kerouac: as cartas. Por que é destaque: o livro reúne a correspondência trocada entre os dois escritores beats durante mais de 20 anos. As quase 500 páginas que separarm a primeira da última carta oferecem “uma das mais frutíferas fusões de vida e obra da literatura do século 20” conforme disse a Folha de S. Paulo.

OUTUBRO – Um lugar na janela, de Martha Medeiros. Porque é destaque: a autora de Feliz por nada compartilha com seus leitores as mais afetuosas memórias de viagens feitas em várias épocas da vida, aos vinte e poucos anos e sem grana, depois, já mais estruturada, mas com o mesmo espírito aventureiro.

SETEMBRO – A interpretação dos sonhos, de Sigmund Freud. Por que é destaque: pela primeira vez no Brasil traduzida direto do alemão, a obra maior de Freud chegou à coleção L&PM Pocket em dois volumes coordenados por psicanalistas e professores de renome e que incluindo notas e comentários que Freud adicionou ao longo da vida, mais exclusivo índice de sonhos, nomes e símbolos.

AGOSTO – Guerra e Paz, de Tolstói, na Série Clássicos da Literatura em Quadrinhos. Por que é destaque: no caso de Guerra e Paz, uma obra bastante extensa, a adaptação para HQ é muito impressionante. “Coleciono HQs, de forma intensa, desde 1958. Nunca, nesses anos todos, vi ou ouvi falar de Guerra e Paz no formato de quadrinhos. Qualquer roteirista, mesmo com experiência e capacidade, deve ter sonhado com essa aventura louca.” disse Goida a respeito do livro.

JULHO – Os filhos dos dias, de Eduardo Galeano. Por que é destaque: inspirado na sabedoria dos maias, Galeano escreveu um livro que se situa como uma espécie de calendário histórico, onde de cada dia nasce uma nova história. Provocante, intenso e sensível como toda obra do escritor, os textos formam uma colcha de retalhos costurada com poesia, emoção e concisão.

JUNHO – Uma breve história da filosofia, de Nigel Warburton. Por que é destaque: a filósofa e escritora Sarah Bakewell definiu este livro como um “manual de existência humana em que poucas vezes a filosofia pareceu tão lúcida, tão importante, tão válida e tão fácil de nela se aventurar”. Partindo da tradição iniciada com Sócrates, o autor traz dados interessantes sobre a vida e o pensamento de alguns dos mais instigantes filósofos de todos os tempos.

MAIO – História secreta de Costaguana, de Juan Gabriel Vásquez. Por que é destaque: Juan Gabriel Vásquez foi um dos convidados da Flip 2012 – Festa Literária Internacional de Paraty. Misturando fatos históricos e ficção, Vásquez cria uma história em que o escritor Joseph Conrad é um dos personagens e que tem como pano de fundo a construção do Canal do Panamá.

ABRIL – Simon’s Cat, de Simon Tofield. Por que é destaque: em abril, Simon’s Cat foi publicado pela primeira vez no Brasil. O gato que não tem nome definido é o mais famoso felino do Youtube. Depois de Simon’s Cat – As aventuras de um gato travesso e comilão, em novembro deste ano foi lançado o segundo volume da série: Simon’s Cat – Em busca de aventura.

MARÇO – Erma Jaguar, de Alex Varenne. Por que é destaque: esta HQ luxo traz todas as aventuras de Erma Jaguar, personagem criada pelo notável ilustrador Alex Varenne. Erma é uma espécie de “madame” moderna que à noite, vestindo seu corpete preto e dirigindo seu carro, vai satisfazer todas as suas fantasias. Insaciável, ela enlouquece homens e mulheres de todos os tipos.

FEVEREIRO – Diários de Andy Warhol. Por que é destaque: esta nova edição dos Diários do artista pop Andy Warhol, dividida em dois volumes em formato de bolso (e reunidos em uma caixa especial), marcou a entrada da Coleção L&PM Pocket na casa dos 1.000 títulos. Um dos mais reveladores retratos culturais do século XX, Diários de Andy Warhol soma mais de mil páginas de glamour, fofocas e culto às celebridades.

JANEIRO – 1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares. Por que é destaque: este livro conta como um movimento de rebelião popular paralisou e derrotou o golpe de Estado dos ministros do Exército, Marinha e Aeronáutica e evitou a guerra­ civil. Escrito por um jornalista que testemunhou e participou do Movimento da Legalidade junto a Leonel Brizola,­ então governador­ do Rio Grande do Sul.

Zuenir Ventura escreve sobre o novo livro de Flávio Tavares

Um golpe no golpe

Por Zuenir Ventura*

Sempre que surgem descontentamentos nos meios militares, mesmo sem consequências graves como agora, espera-se, é bom olhar para três momentos dramáticos de nossa história política recente: suicídio de Vargas em 1954; renúncia de Jânio em 1961; queda de Jango em 1964. A segunda dessas crises está sendo contada no livro “1961 — o golpe derrotado“, em que Flávio Tavares relata o que chama de “Os treze dias que mudaram o Brasil”, quando um movimento liderado por Leonel Brizola, então governador do Rio Grande Sul, resistiu à pressão dos ministros militares que tentavam impedir a posse do vice-presidente João Goulart. Com estilo literário e rigor jornalístico, num ritmo de thriller policial, o livro é o relato de quem viu tudo como repórter e viveu como protagonista, já que o autor, armado de um 38, tinha como missão “grudar-se em Brizola”, para cobrir os acontecimentos e para o que desse e viesse. O resultado é uma mistura de gestos heroicos, lances patéticos e números engraçados, como o do trote telefônico que Flávio passou no general José Machado e em Dom Vicente Scherer. Exímio imitador do sotaque alemão, ele ligou para o comandante do III Exército como se fosse o arcebispo, e para este como se fosse o general, um propondo ao outro resistir ao golpe. Sem esse acordo, é possível que o desfecho da crise fosse diferente, assim como o adiamento do Gre-Nal ajudou a manter a unidade dos resistentes, divididos entre gremistas e colorados. O jogo punha em risco a coesão de que tanto precisavam naquele domingo.

Enquanto isso, em Paris, eu servia de intérprete de um Jango indeciso, sem saber se voltava para resistir ou se aguardava por lá. Foi quando um colega parisiense me entregou em uma nota: “O contato de Goulart com a imprensa é um empregado de Carlos Lacerda, seu maior inimigo.” Eu era correspondente da Tribuna da Imprensa. Não podia errar na tradução.

Quando, em vez dos tanques, apareceu no prédio o general Machado para conversar com o governador rebelado, houve apreensão. “Foi o momento mais difícil de minha vida”, confessaria Brizola a Flávio em 1979, em Lisboa. “Eu esperava tudo e qualquer coisa; que ele viesse me abraçar ou me prender”. Machado fora anunciar que o III Exército tinha decidido dar posse ao vice-presidente.

Em meio a tantas peripécias que não cabem neste espaço, chama a atenção o papel do rádio no movimento. Toda a mobilização e todas as proclamações foram feitas através da Cadeia da Legalidade, transmitida do porão do Palácio. “O radinho de pilha começava a popularizar-se, fazendo a palavra de Brizola chegar ao inalcançável”, conta o autor, e não há como não lembrar o fenômeno das redes sociais nas várias “Primaveras” no mundo de hoje. A imagem de alguém com o transistor colado ao ouvido era tão comum quanto a do celular agora.

* Zuenir Ventura é escritor e jornalista. Este texto foi publicado originalmente no Jornal O Globo em 21 de março de 2012. 

Zuenir Ventura participou do lançamento do novo livro de Flávio Tavares, dia 20 de março, na Livraria Argumento

O sucesso de Flávio Tavares no Rio

Muita gente foi até a Livraria Argumento do Leblon, ontem, 20 de março, para ver e ouvir os escritores Flávio Tavares e Zuenir Ventura. Os amigos de longa data conversaram sobre “1961: o golpe derrotado“, novo livro de Flávio que, após o bate-papo, teve sessão de autógrafos. “1961: o golpe derrotado” conta os bastidores do Movimento da Legalidade e mostra que ele foi um prenúncio do que aconteceria três anos mais tarde. Uma das perguntas que a plateia fez ao autor foi se ele acha que o povo deveria ter resistido ao golpe militar de 1964. Flávio respondeu que sim, que na sua opinião, as pessoas deveriam ter resistido como resistem ao crime e à violência atuais, pois o golpe de 64 foi um crime. Neste momento, ele foi aplaudido pelos presentes. O evento, que começou às 19h, estendeu-se até às 22h, com uma longa fila para os autógrafos. Uma equipe da Globo News acompanhou todo o lançamento e preparou uma matéria que vai ao ar nesta sexta-feira, 23 de março, as 21h30min.

Flávio Tavares e Zuenir Ventura na Livraria Argumento do Leblon

Entre as centenas de presentes, estiveram por lá o presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo; o escritor e tradutor Eric Nepomuceno; a juíza e ex-deputada Denise Frossard; o  neto de Leonel Brizola,  vereador Leonel Brizola Neto; o embaixador e acadêmico Affonso Arinos de Mello Franco; a colunista social Hildegard Angel; os cineastas Tetê Moraes e Silvio Da-Rin; o novelista Manuel Carlos; o jornalista Wilson Figueiredo e a filha de Luiz Carlos Prestes, Zóia Ribeiro Prestes.

Noite de autógrafos e de muitos encontros

A noite do lançamento de 1961 – O golpe derrotado, foi um grande sucesso. Cerca de trezentas pessoas estiveram por lá para receber seu autógrafo de Flávio Tavares, jornalista que testemunhou e participou do Movimento da Legalidade junto a Leonel Brizola, então governador do Rio Grande do Sul. O livro, que conta todas as peripécias da rebelião, é um relato que resgata um importante momento histórico, ao mesmo tempo em queleva o leitor a mergulhar em uma emocionante aventura. A sessão de autógrafos foi precedida por um bate-papo com Flávio e o também jornalista e escritor David Coimbra. O ex-governador do Rio Grande do Sul Olívio Dutra, o prefeito de Porto Alegre José Fortunati, além da neta de Brizola, Juliana Brizola, e o neto de Jango, Christopher Goulart, também foram prestigiar o lançamento.

Dia 20 de março tem mais: Flávio autografará seu livro na Livraria Argumento no Rio de Janeiro.

A noite abriu com um bate-papo entre Flávio Tavares e David Coimbra

Flávio contou histórias da Legalidade como a vez em que, ao telefone, ligou para o arcebispo fingindo ser o Comandante do 3º Exército, General Machado Lopes, e logo depois ligou para este mesmo general fingindo ser o arcebispo para assim marcar um encontro entre eles.

A multidão assistia atenta. Em primeiro plano, segurando alguns livros, a neta de Leonel Brizola, Juliana Brizola

Assim que o bate-papo terminou, as pessoas correram para pegar seu autógrafo

A fila ficou comprida...

E nem o prefeito José Fortunati deixou de pegar a sua dedicatória

Testemunha ocular

Por Juremir Machado da Silva*

Flávio Tavares é um jornalista que dispensa apresentações. Está na cena brasileira há mais de 50 anos. Esteve preso no Brasil e no Uruguai. Viveu no exílio. Em 1961, como diz a fórmula consagrada, foi testemunha ocular dos episódios da Legalidade. Mais do que isso, como jornalista de Última Hora, foi protagonista da grande aventura, entrincheirado no Palácio Piratini, ombreando com os heróis do momento. Com base nesse currículo altamente legitimador, Tavares não poderia deixar de apresentar a sua visão do que aconteceu quando o doido do Jânio Quadros renunciou e os reacionários e não menos doidos ministros militares tentaram impedir a posse de Jango, o rico fazendeiro visto como comunista, sendo frustrado pela reação comandada pelo intrépido e desconcertante Leonel Brizola. O relato de Flávio Tavares está em “1961, O Golpe Derrotado – Luzes e Sombras do Movimento da Legalidade” (L&PM), que será lançado hoje à noite em Porto Alegre.

A primeira página do livro de Flávio Tavares já diz tudo com um “efeito credencial”, um altamente legitimador “eu estava lá”, “eu fui parte dos acontecimentos”, “eu vi tudo”, um fac-símile de uma carta enviada pelo autor, no calor da refrega, ao governador Brizola avisando-o da interceptação de uma mensagem de Brasília ordenando (ou sugerindo) a sua prisão em nome da “normalização da ordem pública”. As 231 páginas do livro são uma narrativa minuciosa e sem fissuras dos 13 dias que sacudiram o Brasil, colocaram o Rio Grande do Sul, mais uma vez, na linha de frente das questões nacionais e despertaram o interesse de boa parte do mundo por mais uma tentativa de golpe militar ao Sul do Equador. O golpe em si seguia os padrões tradicionais. A resistência é que se mostrou diferente. Flávio Tavares põe essa diferença em destaque.

Disposto a jogar luz em cima das sombras que encobrem a Legalidade, Flávio dá detalhes de acontecimentos que testemunhou. Por exemplo, dois encontros de Brizola com Che Guevara, em Montevidéu, poucos dias antes da crise brasileira. Essas conversas teriam influenciado Brizola, que teria ficado impressionado com o charme, o carisma e a aura romântica do guerrilheiro argentino convertido em alto mandatário cubano. Depois de churrasquear com Che e vê-lo desafiar publicamente os Estados Unidos no discurso na reunião para a oficialização da Aliança para o Progresso, em Punta del Este, o destemido e idealista Leonel não poderia deixar por menos no seu terreiro de atuação.

O livro começa com uma curiosa descrição de uma situação entre Flávio e um soldado da Brigada Militar dentro do Palácio Piratini. Flávio mostra sua voz de comando: “Um martelo e uma escada comprida, que chegue ao teto. Mas rápido”. O soldado obedece. Flávio sobe, quebra três vitrais na janela oval e abre espaço para instalar uma metralhadora. Guerra é guerra. A grande batalha, como em 1930, não aconteceria. O golpe seria adiado para 1964. O “soldado” Flávio apresentou suas armas naquele dia. Ficaria em guerra por muitos anos. Talvez ainda continue.

*Este texto foi publicado originalmente na coluna de Juremir Machado da Silva no jornal Correio do Povo, na edição de 7 de março de 2012.

Autógrafos do livro 1961: o golpe derrotado

Em Porto Alegre:
HOJE, 7 de março, às 19h, na Saraiva Megastore do Shopping Praia de Belas

No Rio de Janeiro:
20 de março, às 19h, na Livraria Argumento

Dicas de leitura no Dia do Repórter

Além de Hunter Thompson, que já foi citado por aqui hoje, no Dia do Repórter, temos outras dicas de leituras para quem curte uma reportagem emocionante com clima de aventura. Dá só uma olhada:

1961 – O golpe derrotado, de Flávio Tavares – Testemunha e participante do Movimento da Legalidade, o jornalista Flávio Tavares escreveu este belo romance reportagem, onde a memória é o fio condutor que desnuda detalhes e revela a face oculta de tudo, com uma surpresa a cada passo. Colunista político nos anos 1960 da Última Hora, do Rio de Janeiro, Flávio foi preso e banido do Brasil pela ditadura em 1969. Á volta do exílio, trabalhou nos maiores jornais do país e publicou, antes do recém lançado “1961”, os livros Memórias do Esquecimento e o Dia em que Getúlio matou Allende.

10 dias que abalaram o mundo, de John Reed – Considerada a primeira grande reportagem moderna, este livro é uma minuciosa descrição da revolução comunista de 1917 na Rússia. Em 1914, John Reed, um norte-americano do Oregon foi para a Europa cobrir, pela Metropolitan Magazine, a Primeira Grande Guerra, recém iniciada. Ele e a esposa acabaram chegando em Moscou no auge do movimento revolucionário. Em 1981, Warren Beatty dirigiu e estrelou “Reds” como Reeds.

Um trem para a Suíça, de David Coimbra – Repórter esportivo, David Coimbra escreve no jornal com a mesma paixão que dedica a seus romances e novelas. Este livro reúnem crônicas e relatos de viagens. A Olimpíada da China e três Copas do mundo são o pano de fundo para histórias em países como Coreia, Japão, China, Malásia, África do Sul, Bolívia, Venezuela, Alemanha e Suíça. Entre as histórias/reportagens está um perigoso contato com os guerrilheiros das Farc nas selvas bolivianas.

Operação Condor: o seqüestro dos uruguaios, de Luiz Cláudio Cunha O sequestro de um casal de uruguaios, em 1978, numa ação dos órgãos de repressão do Uruguai e do Brasil, expôs as vísceras da sinistra Operação Condor à opinião pública brasileira e internacional. Alertados por um telefonema anônimo, o repórter Luiz Cláudio Cunha e o fotógrafo J.B. Scalco foram conduzidos até um apartamento em Porto Alegre, onde surpreenderam militares uruguaios e policiais brasileiros na fase final do sequestro do casal. Pela primeira vez no continente, jornalistas testemunhavam a Condor em pleno vôo.

O Smurf Repórter, de Peyo – Ok, este não é exatamente um livro sério e de reportagem como os outros que indicamos. Mas para quem quer descobrir, de forma divertida e colorida, um pouco mais sobre a vida do repórter, tá valendo. Fica a dica para as crianças. Em formato convencional e pocket.