Tradução de Mrs. Dalloway ganha Prêmio Literário

A tradutora Denise Bottmann acaba de ganhar o “Prêmio Paulo Rónai” da Biblioteca Nacional pela tradução de Mrs. Dalloway, de Virginia Woolf, lançado em 2012 pela L&PM Editores. A escolha foi feita por uma comissão julgadora composta por três profissionais renomados na área: Berilo Vilaça Vargas, Leonardo Fróes da Silva e Tomaz Adour da Camara.

Durante o processo de tradução de Mrs. Dalloway, Denise criou o blog “Traduzindo Mrs. Dalloway“, onde compartilhava os bastidores do seu trabalho. No blog dedicado ao livro de Virginia Woolf, a tradutora dividiu com o público (leitores, colegas tradutores e interessados em geral) as referências utilizadas, notícias e registros sobre a obra na imprensa, rascunhos e capas de outras edições, ilustrações, fotos e toda a sorte de curiosidades que permeiam a obra, ao mesmo tempo em que compartilhava trechos da tradução com comentários sobre os impasses e reflexões a respeito da complexa tarefa de verter uma obra como Mrs Dalloway para o português.

Eis o resultado:

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Os Prêmios Literários da Fundação Biblioteca Nacional (FBN/MinC) foram criados com o objetivo de estimular a pesquisa e a criação literária no país e concedem anualmente, desde 1997, uma premiação a autores, tradutores, e designers. A lista completa dos ganhadores foi divulgada esta semana no site da FBN.

Em 2013 foram mais de 700 inscrições, divididas em 9 categorias, todas nomeadas em homenagem a intelectuais destacados na cultura brasileira. Cada vencedor recebe como prêmio um certificado e a quantia simbólica de R$ 12,5 mil (doze mil e quinhentos reais).

Cinderela proibida de entrar na prisão

Clive Stafford Smith, diretor da instituição Reprieve – que trabalha para promover justiça e salvar vidas no corredor da morte da prisão da Baía de Guantánamo – publicou um artigo no jornal britânico The Guardian, onde fala sobre a censura a livros nesta penitenciária. Entre as obras proibidas pelos militares censores estão contos de fadas como Cinderela, O Gato de Botas e João e o Pé de Feijão. “Talvez os militares temam que depois de ler João e o Pé de Feijão os presos escapem através do plantio de sementes mágicas” escreveu Smith. Na lista de livros proibidos ainda aparece Crime e Castigo de Dostoievski e O mercador de Veneza de Shakespeare.

Guantánamo é uma prisão militar de propriedade dos EUA e, segundo a Cruz Vermelha Internacional, os presos são vítimas de tortura, em desrespeito aos direitos humanos e à convenção de Genebra. É nessas horas que a gente pensa que poderiam existir fadas madrinhas de verdade.

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Bem vindo à Biblioteca Nacional de França

A “Bibliothèque Nationale de France” (Biblioteca Nacional de França) reúne nada menos do que catorze milhões de livros e impressos, manuscritos, estampas, fotografias, mapas e plantas, partituras, moedas, medalhas, documentos sonoros, vídeos, multimídia, cenários e reportagens. Tudo isso fica guardado em um complexo de quatro prédios e algumas relíquias ficam guardadas a sete chaves, longe dos olhares. E só saem de lá para raras exposições. É o caso dos manuscritos originais de “Em busca do tempo perdido”, de Proust.

São sete volumes. O primeiro, ‘No caminho de Swann’, foi publicado um pouco antes da Primeira Guerra Mundial, em 1913, de forma independente, depois que o autor foi recusado pelas principais editoras do país. O último, ‘O Tempo Redescoberto’, em 1927, cinco anos depois da morte do autor.

As anotações no manuscrito de Proust revelam como se constrói uma obra-prima literária e o processo de criação surpreendente do célebre escritor francês. “O que é emocionante quando folheamos estes cadernos é ver a obra sendo escrita e perceber que a escrita não se trata de um trabalho fácil. É um trabalho que precisa ser retomado. Tem que reescrever, corrigir, nunca ele está satisfeito. Nós mergulhamos de verdade no trabalho de Marcel Proust”, ressalta Isabelle de Chermont, curadora da Biblioteca e uma das poucas autorizadas a folhear a relíquia.

A versão digital da Biblioteca Nacional de França, batizada de Gallica, tem à disposição para consulta mais de um milhão e meio de documentos.

A L&PM Pocket publica Um amor de Swann, a segunda e autônoma parte de No caminho de Swann. Breve, será lançado Em busca do tempo perdido em Mangá.

Flaubert por Sartre

Em 12 de dezembro de 1821 nascia Gustave Flaubert, cuja vida foi desvendada por Jean-Paul Sartre em O idiota da família, que chega ao Brasil pela L&PM em 2014. Para celebrar o aniversário do autor de Madame Bovary – enquanto a tão aguardada biografia não chega – leia o trecho inicial para ter um gostinho do que vem por aí:

“Quando o pequeno Gustave Flaubert, perdido, ainda “bestial”, emerge da primeira infância, as técnicas estão à sua espera. E os papéis. O adestramento começa: não sem sucesso, ao que parece; ninguém nos diz, por exemplo, que tenha tido problemas para caminhar. Pelo contrário, sabemos que o futuro escritor tropeçou foi quando se tratou da prova primordial, o aprendizado das palavras. Tentaremos ver, mais adiante, se teve, desde o princípio, dificuldades para falar. O certo é que se saiu mal em outra prova linguística, iniciação e rito de passagem, a alfabetização: uma testemunha conta que o menino aprendeu a ler muito tarde e que seus familiares o tinham então por criança retardada.”

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O futebol de Eduardo Galeano

futebol ao sol e a sombraFutebol ao sol e à sombra é um livro ágil e emocionante como uma boa partida de futebol. Isso porque, nele, Eduardo Galeano mostra que é mais do que um célebre escritor, mais do que autor de As veias abertas da América Latina. Galeano revela o apaixonado que é pela bola que rola entre entre as quatro linhas em busca do gol. E é cheio de paixão que ele começa seu livro  falando sobre tudo o que está relacionado com o futebol – os jogadores, o ídolo, o técnico, o árbitro, o torcedor, o fanático, a bola, o gol e por aí vai –  e segue contando pequenas e verdadeiras histórias que aconteceram ao longo de todas as Copas do Mundo.

O gol

O gol é o orgasmo do futebol. E, como o orgasmo, o gol está cada vez menos frequente na vida moderna. Há mais de meio século, era raro que uma partida terminasse sem gols: 0 a 0, duas bocas abertas, dois bocejos. Agora, os onze jogadores passam toda a partida pendurados na trave, dedicados a evitar os gols e sem tempo para fazer nenhum. O entusiasmo que se desencadeia cada vez que a bola sacode a rede pode parecer mistério ou loucura, mas é preciso levar em conta que o milagre é raro. O gol, mesmo que seja um golzinho, é sempre goooooooooooooool na garganta dos locutores de rádio, um dó de peito capaz de deixar Caruso mudo para sempre, e a multidão delira e o estádio se esquece que é de cimento, se solta da terra e vai para o espaço.

 

 

L&PM com 50% de desconto na Festa do Livro da USP

Se você mora em São Paulo, prepare-se para três dias com livros pela metade do preço. Nesta quarta-feira, 11 de dezembro, começa a famosa Festa do Livro da USP. E como sempre acontece há 15 anos, a L&PM vai estar presente oferecendo todos os seus livros com 50% de desconto.

Nosso estande é o 7-A e está localizado na entrada do prédio da Mecânica/Naval, dentro da Escola Politécnica na cidade universitária, campus da USP.

A 15ª Festa do Livro da USP vai até o dia 13 de dezembro e está aberta das 9h às 21h.

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Não deixe de aproveitar!

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O “mapa da mina”: a L&PM está logo na entrada do prédio da Mecânica/Naval.

 

Mandela, nosso ídolo

Em sua coluna de sábado, 7 de dezembro, o escritor e jornalista Juremir Machado da Silva cita a biografia Mandela, o Homem, a História e o Mito, de Elleke Boehmer, publicada pela L&PM Editores. Clique na imagem para ler:

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A coluna de Juremir Machado da Silva no jornal Correio do Povo, publicada em 7 de dezembro de 2013 (clique para ampliar)

Capitu aos olhos de Dalton Trevisan

Ele é conhecido como o “Vampiro de Curitiba”, nome de um de seus livros. Recluso, o premiado escritor Dalton Trevisan evita ser visto em público, não recebe a visita de estranhos e não aceita dar entrevista. Mas gosta de reciclar ideias e lançar novos livros.

Até você, Capitu? é um lançamento de Dalton Trevisan que reúne ensaios, crônicas, cartas e  textos diversos sobre o autores mais caros a Dalton Trevisan, como Machado de Assis, Pedro Nava, Rubem Braga e Tchékhov. Seu interlocutor nas cartas é o escritor Otto Lara Resende (1922-1992).

Abaixo, um trecho da crônica “Capitu sem enigma”:

Você pode julgar uma pessoa pela opinião sobre Capitu. Acha que sempre fiel? Desista, ô patusco: sem intuição literária. Entre o ciúmes e a traição da infância, da inocência, do puro amor, ainda se fia que o bruxo do Cosme Velho escolhesse o efeito menor? Pô, qual o grandíssimo tema romancesco de então, as fabulosas Emma Bovary e Anna Karenina. A um pessimista, viciado no Eclesiastes, toda mulher (“mais amarga do que a morte”) não é coração enganoso e perverso, nó cego de “redes e laços”?

Inocentar Capitu é fazê-la uma pobre criatura. Privá-la do seu crime, assim a perfídia não fosse própria das culpadas? Já sem mistério, sem fascínio, sem grandeza. Morreu Escobar não das ondas do Flamengo e sim dos olhos de cigana, oblíquos e dissimulados. Por que os olhos de ressaca, me diga, senão apra você neles se afogar?

O mais rececente lançamento da Coleção L&PM Pocket

O mais rececente lançamento da Coleção L&PM Pocket

Depois do almoço, Dostoiévski

Por José Antonio Pinheiro Machado*

Conheci Dostoiévski em Xangrilá, depois do almoço. É uma das tantas dívidas que o Ivan e eu temos com nosso pai: na base do centralismo democrático stalinista, ligeiramente tropicalizado, o pai nos impôs um programa obrigatório de leituras. Longe da cidade que é hoje, a Xangrilá da nossa adolescência era um descampado, o Nordestão desenhando cômoros no areal entre as poucas casas. Não havia muito o que fazer: depois do banho de mar, o almoço demorado e, a partir daquele dia, a tarde começava com duas horas de Dostoiévski.

O livro escolhido para minha iniciação, nos dias de hoje, talvez provocasse a intervenção do Conselho Tutelar ou do Juizado da Infância e da Juventude: Crime e Castigo! Abri contrafeito o pesado volume encadernado em couro e, logo depois de ler os primeiros parágrafos, ainda me recordo do impacto inesperado. Anos se passaram, e Jorge Luis Borges, na escuridão de sua cegueira, iluminaria, em duas frases, aquela minha perplexidade juvenil: “Como a descoberta do amor, como a descoberta do mar, a descoberta de Dostoiévski marca uma data memorável de nossa vida. Em geral, corresponde à adolescência; a maturidade busca e descobre escritores serenos”.

Naquele dia, por momentos o Nordestão deixou de assobiar, o céu azul do azul lavado pela chuva, do verso de Paulo Mendes Campos, perdeu sua atração irresistível, e o dia límpido e ensolarado lentamente foi substituído pela urgência da emoção nova e avassaladora daquela primeira leitura. Borges deve ter vivido algo parecido na juventude em Genebra: “Ler um livro de Dostoiévski é penetrar em uma grande cidade, que desconhecemos, ou nas sombras de uma batalha”. A história do jovem Raskolnikov é soberba, contada de forma magnífica. Estudante pobre, cheio de sonhos, divide os indivíduos entre ordinários e extraordinários e se impõe a missão de fazer algo realmente importante, ainda que seja uma violação às leis. Escolhe matar com violência uma velha agiota e, ao fugir, também assassina a irmã da vítima, que apareceu de surpresa e testemunhou o crime. Rouba algumas joias, que acaba por descartar, atormentado pela culpa. O romance brilha no relato do remorso sem remédio que persegue o personagem como uma danação. Quando um inocente é preso, Raskolnikov assume o crime e é condenado. Diversas histórias paralelas reforçam o eixo principal da narrativa, entre elas, a relação do protagonista com Sonia, que o encoraja a confessar o crime. Toda a miséria e toda a grandeza da condição humana transbordavam daquelas páginas. Mas nem todos se emocionaram tanto assim. No prefácio de uma antologia da literatura russa, Nabokov escreveu que não encontrou uma única página de Dostoiévski digna de ser incluída. Borges recusou essa afronta com uma verdade salpicada de ironia: “Isso quer dizer que Dostoiévski não deve ser julgado por páginas soltas, e sim pela soma de páginas que compõe o livro”.

* Crônica publicada originalmente na Coluna do Anonymus Gourmet, publicada no caderno Gastrô do Jornal Zero Hora em 6 de dezembro de 2013.

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O legado de Mandela

Continua evidente que devemos procurar o legado permanente da luta de Mandela pela liberdade no campo do ético, e não do econômico, do simbólico, e não do material. Ele representou uma grande causa, a luta contra o apartheid. Respondeu à necessidade extrema de redenção de seu país e à forte tradição dos mitos milenaristas apresentando-se na figura de salvador. Nacional e internacionalmente, ele é visto como um gigante ético sobranceando o século XX. Em termos mais práticos, demonstrou ser, ao longo da vida, um estrategista com visão de longo alcance na defesa da liberdade política e vigoroso intelectual ativista que se distinguia por finas instituições morais. Nunca deixou de avaliar, rever e reformular mais claramente suas reivindicações políticas, sempre mantendo-se consciente da necessidade sul-africana do mito libertador que ele mesmo encarnava.

(Trecho de Mandela: o homem, a história e o mito, de Elleke Boehmer, L&PM, 2013 – Tradução de Denise Bottmann)

No dia 5 de dezembro, aos 95 anos, Nelson Mandela finalmente descansou de uma vida inteira de luta. Mas seu nome e seu legado permanecerão vivos por gerações como um exemplo para a humanidade.

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