A hora dos assassinos: quando Henry Miller encontra Arthur Rimbaud

Ivan Pinheiro Machado

A visão que o mundo tem de Rimbaud é como um caleidoscópio. Ela muda de cor, de forma, se transforma e nunca é definitiva. Não é concreta, não é real. A lenda tomou conta da biografia e o mito soterrou o homem. Os poemas são poderosos fragmentos biográficos, embora eles não concluam, não desenhem um Rimbaud preciso. Seus delírios, suas alucinações, suas iluminações e temporadas no inferno, às vezes indicam traços do poeta. Mas a poesia acaba quando ele sai da adolescência, aos 19 anos. Aí começa a saga mítica que quase se sobrepõe ao poeta. Porque se tem indícios, mas na verdade, se sabe muito pouco. Seu périplo africano já foi objeto de milhares de livros. Sua fuga para o nada foi cantada e decantada. De quê fugia o poeta? Tudo é mistério, vestígios vagos, traços, aquarelas esmaecidas. Enfim, cada um tem o “seu” Rimbaud. Kerouac, Gide, Alain Borer, Proust, Vitor Hugo, Verlaine, Charles Nichol, Mallarmè, Breton e centenas de outros poetas, romancistas, biógrafos escreveram sobre ele. Dentro do claro-escuro em que sua identidade aparece e se esvai, cada um viu um Rimbaud. Suas numerosas biografias são antologias de dúvidas, tentativas. Seus analistas estudam pegadas, trilhas enganosas. E perdem seus passos em dezembro de 1880 quando ele chega em Harar, na desolada Abissínia. Foi ser comerciante, traficou armas, dizem, traficou escravos, supõem. Ele reaparece em 1891 em Marselha. O trágico retorno para encontrar a morte.

Henry Miller junta-se à esta enorme legião de fascinados pelo mito Rimbaud. Seu livro A hora dos assassinos é um livro sui generis, onde o grande escritor maldito faz uma cartarse onde expõe sua profunda identificação com o poeta. O texto brilhante de Henry Miller analisa a tragédia rimbaldiana, a beleza de seus poemas, a sua revolta. E conclui: “Em Rimbaud, me vejo como em um espelho”.

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