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39. Martha Medeiros: uma história de sucesso

Por Ivan Pinheiro Machado*

No começo dos anos 80, Beth Perrenoud trabalhava como assessora de imprensa da L&PM Editores. Um dia, ela deixou sobre a minha mesa uma pasta e disse “lê esta poeta. É sensacional”. A luta pela sobrevivência numa inflação de 20, 30% ao mês, não permitiu que houvesse clima para examinar com carinho aqueles poemas cuidadosamente encadernados numa daquelas pastas de colégio, com presilhas.

Capa da primeira edição de "Strip-tease", da Brasiliense

Um ano depois, em 1985, Beth surgiu na minha sala novamente, desta vez com um livro na mão: “olha o livro que não quiseste publicar”. E me deu Strip-Tease, de Martha Medeiros, lançado pela Brasiliense que, na época, era uma das mais importantes e prestigiadas editoras brasileiras. A Beth, além de bonita, é uma ótima pessoa. Amiga da Martha e leal à L&PM, ela estava muito chateada, afinal me dera a oportunidade de publicar o livro…

Eu li Strip-Tease em uma hora. Eram poemas diferentes daqueles que chegavam diariamente à minha mesa, pleiteando publicação. Uma linguagem coloquial e ao mesmo tempo intensa, visceral. Uma poesia contemporânea, falando sobre sua geração de uma forma nova, direta, sem arabescos desnecessários, mas com uma intensa força poética. Enfim, eu estava diante de uma grande poeta que a inflação, o descuido, a inexperiência e as vicissitudes de um começo difícil tinham nos impedido de publicar.

Poucos têm uma segunda chance na vida. Graças a minha insistência e a generosidade da Martha, tivemos a nossa. E publicamos seu segundo livro de poemas, Meia noite e um quarto em 1987. Depois, em 1991, lançamos Persona non Grata e, em 1995, De cara lavada. Em 1998, Martha reuniu todos os seus livros de poemas e fez uma seleção que foi publicada na então recém criada Coleção L&PM POCKET com o título de Poesia reunida.

A esta altura ela estava abandonando uma próspera carreira de publicitária e já era uma cronista de sucesso, escrevendo semanalmente para o jornal Zero Hora em Porto Alegre. Em 1997, publicamos seu primeiro livro de crônicas, Topless. Depois, saíram Trem-Bala (1999), Non Stop (2000), Cartas extraviadas e outros poemas (2000), Montanha-russa (2003), Coisas da vida (2005) e o bestseller Doidas e Santas (2008). Pela editora Objetiva, ela publicou os romances “Divã”, “Selma e Sinatra”, “Tudo o que eu queria te dizer” e “Fora de mim”.

Foram feitas adaptações – com grande sucesso – de seus livros para TV, teatro e cinema. Enfim, Martha tornou-se um sucesso nacional. Ou melhor, um grande sucesso nacional. Seu livro mais recente Feliz por nada, lançado dia 15 de junho de 2011,  já era o livro mais vendido no Brasil duas semanas depois, ocupando o primeiro lugar nas listas dos mais vendidos das revistas nacionais Veja e Época.

Hoje, o Brasil inteiro conhece Martha através dos seus livros, da TV, dos filmes, das peças de teatro e das crônicas que ela publica semanalmente nos jornais Zero Hora, de Porto Alegre e O Globo do Rio de Janeiro.

Com o tempo, como cronista, ela foi ampliando esta visão do cotidiano com as belas ferramentas que sua grande poesia lhe dá. Suas crônicas tem o raro sortilégio da identificação. Quando recém começava sua carreira literária, muito jovem, no início dos anos 80, Martha chamou a atenção de Millôr Fernandes e de Caio Fernando Abreu que se encantaram com o seu trabalho. Em seu texto sobre ela, Caio foi sintético e profético sobre o futuro da cronista/poeta: “A poesia de Martha acontece o tempo todo, do lado de dentro ou de fora da gente. Por ser poeta, ela consegue captá-la e dar-lhe a mais sensível e contemporânea das formas. Então comove. E segue o baile.”

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o trigésimo-nono post da Série “Era uma vez… uma editora“.

Sobre “Millôr Definitivo”

Mais de 600 páginas de Millôr em estado puro

Este livro espetacular é o resultado de uma verdadeira operação “pente-fino” na obra de Millôr Fernandes. Muitas foram as pessoas que colaboraram no “rastreamento” das frases deste grande intelectual brasileiro, dentro e fora da L&PM. Mas foi aqui na editora que executamos a monumental tarefa de selecionar, reunir, “xerocar” e assinalar quase 10.000 frases. Esta equipe foi capitaneada por Jó Saldanha, Fernanda Veríssimo e por mim. Consultamos as coleções de “O Cruzeiro”, “Veja”, “Isto É”, “O Pasquim”, “Pif-Paf”, “Jornal do Brasil” e todos os livros publicados por Millôr como “30 anos de mim mesmo”, “A história é uma história”, “A verdadeira história do Paraíso”, “O livro vermelho dos pensamentos de Millôr”, “Fábulas fabulosas”, “Hai-kais”, “Poemas” entre muitos outros, além das 21 peças de teatro originais, criadas por ele (para quem não sabe, Millôr também traduziu mais de 100 peças de teatro, entre elas “Hamlet”, “Rei Lear” e “A megera domada” de Shakespeare, “Pigmaleão” de Bernard Shaw e “Gata em telhado de zinco quente” de Tennessee Williams. O material original, com as páginas de livros, jornais e cópias de revistas formariam uma pilha de mais ou menos três metros de altura, caso fossem empilhadas, é óbvio… Millôr analisou as 10 mil frases e cortou mais de 4 mil. Foram aprovadas 5.142 frases. O trabalho começou em 1988 e o livro saiu finalmente em 1994 com um mega lançamento na churrascaria Marius em Ipanema, Rio de Janeiro. Um mês depois, faríamos outro grande lançamento na pizzaria “Birra e Pasta” em Porto Alegre, numa grande festa comemorando os 20 anos da L&PM Editores. De lá para cá, este livro já vendeu bem mais de 50 mil exemplares.

São mais de 600 páginas de Millôr Fernandes em estado puro. Há no mercado uma edição de luxo em capa dura, no valor de R$ 74,00 e  a versão em bolso, com texto integral por R$ 29,00. É um fantástico conjunto de preciosidades intelectuais. Uma síntese do pensamento de Millôr Fernandes. Frases que marcaram nossa história recente e traduzem de maneira genial o que se viu, sonhou, sofreu e vibrou nestas últimasd décadas. (Ivan Pinheiro Machado)