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Carta inédita mostra como Stefan Zweig salvou um preso político de Mussolini

Nesta quarta-feira, 30 de outubro, às 19h, acontece a abertura da exposição “Stefan Zweig e o Caso Germani” no Centro Cultural Midrash no Rio de Janeiro. Entre fac-símiles das cartas e um filme sobre Zweig, a mostra apresenta uma carta inédita que o escritor austríaco enviou para Mussolini com o objetivo de salvar um preso político.

Segundo matéria publicada no Jornal O Globo, a carta foi encontrada por um historiador italiano, em 2006, em meio à papelada do arquivo nacional de seu país. E era muito estranha. Nela, o escritor austríaco, conhecido por sua defesa do pacifismo, bajulava um personagem inesperado: o ditador fascista Benito Mussolini (1883-1945). Zweig agradecia a Mussolini por “Sua” bondade (assim mesmo, com letra maiúscula) e declarava-se um admirador. O autor dizia, ainda, que o ditador havia salvado a vida de “uma senhora torturada”.

O documento remete à história de três personagens cujas vidas se cruzam. A “senhora torturada” era Elsa Germani, mulher de Giuseppe Germani, preso pelo regime de Mussolini depois de carregar o caixão do político socialista Giacomo Matteotti, seu amigo, pelas ruas de Roma. Foi Elsa que escreveu a Zweig pedindo que ele usasse sua fama para ajudar o marido — daí a carta dele a Mussolini, que atendeu ao pedido. A história ficou conhecida como “O Caso Germani”.

Cmovido com a história de Germani, Zweig bem que tentou, ao longo de meses, convencer amigos escritores a interceder junto ao regime fascista. Mas eram anos difíceis na Itália, e todos tinham medo. Como sabia que Mussolini era admirador de seus livros, resolveu escrever para o ditador em pessoa. Bajulando Mussolini, Zweig não questiona a sentença, mas pede clemência para Germani. Poucos dias depois, Mussolini manda transferir o médico para uma prisão onde pode receber visitas. Dois anos depois, Giuseppe Germani é solto.

Quando a carta apareceu, Zweig foi tratado por setores da imprensa italiana como admirador de Mussolini. — Eu vi essas notícias que saíram na Itália, mas não era nada disso. Os radicais continuam aí, intransigentes como sempre. A missão do Zweig era salvar uma vida, e ele conseguiu. Ele teve que bajular o Mussolini, claro. Não tinha outra forma de isso ser feito — diz o jornalista Alberto Dines, presidente da Casa Stefan Zweig.

O escritor austríaco, pacifista, encarou o sucesso na libertação de Germani como uma prova de que a palavra pode vencer a força bruta. Não à toa, escreveu empolgado para Romain Rolland, um de seus mentores intelectuais: “Acabo de obter o meu maior sucesso literário, maior ainda do que o Prêmio Nobel — salvei o doutor Germani”.

Stefan Zweig

Agora, toda a correspondência que Zweig enviou a Elsa, inédita, chega a público no livro “Contei com sua palavra, e ela foi como uma rocha — Como Zweig salvou Giuseppe Germani dos cárceres de Mussolini”, editado pela Casa Stefan Zweig. O lançamento acontecerá junto com a abertura da exposição, às 19h, no Midrash. E, no sábado, 02 de novembro, uma mostra semelhante será aberta na própria Casa Stefan Zweig, em Petrópolis, onde o autor de Brasil, o país do futuro (publicado na Coleção L&PM Pocket) viveu até se suicidar, em 23 de fevereiro de 1942.

Os eventos acontecem no momento em que o cineasta francês Patrice Leconte se prepara para lançar, em janeiro, “Uma promessa”, baseado no conto “Viagem ao passado”, de Zweig. E também enquanto o diretor Matt Zemlin roda o filme “The week before”, uma nova versão do romance “Carta de uma desconhecida”. Os dois filmes fazem referência ao Caso Germani.

A abertura da mostra e o lançamento do livro contarão com a presença da jornalista Monika Germani, nora de Giuseppe e viúva de seu filho Hans. Ela, que está no Brasil especialmente para o evento, entrou em contato com a Casa Stefan Zweig em 2010. Kristina Michahelles, diretora da instituição, aproveitou uma viagem à África do Sul para ver as cartas e organizou a publicação.

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O cartaz da exposição e lançamento do livro

Clique aqui e leia mais na matéria publicada no Jornal O Globo de 30 de outubro de 2013.

Nossas mulheres…

A L&PM tem muitas mulheres. Escritoras, poetas, musas, personagens, nomes de livros. Basta digitar “mulher” na busca por títulos e ver o que aparece. Tem mulher no escuro, mulher de prazer, mulher de trinta anos, mulher com medo de barata, mulher de bandido, a mulher mais linda da cidade, mulher com exclamação. E mulher que é mulher e ponto.

No Dia Internacional da Mulher, escolha a sua e boa leitura! Abaixo, alguns exemplos que soam como uma homenagem:

Mulheres, de Eduardo Galeano: “Não consigo dormir. Tenho uma mulher atravessada entre minhas pálpebras. Se pudesse, diria a ela que fosse embora; mas tenho uma mulher atravessada em minha garganta.”

Estudos de Mulher, de Balzac: “Essa mulher, saída das fileiras da nobreza, ou elevada da burguesia, vinda de todas as partes, mesmo da província, é a expressão dos tempos atuais, uma última imagem do bom gosto, do espírito, da graça e da obstinação.”

A mulher mais linda da cidade, de Bukowski: “Das 5 irmãs, Cass era a mais moça e a mais bela. E a mais linda mulher da cidade. Mestiça de índia, de corpo flexível, estranho, sinuoso que nem cobra e fogoso como os olhos: um fogaréu vivo ambulante.”

24 horas na vida de uma mulher, de Stefan Zweig: “Toda essa recusa do fato óbvio de que em muitas horas de sua vida uma mulher pode ficar à mercê das forças além de sua vontade e consciência apenas disfarça o medo do próprio instinto do demoníaco em nossa natureza…”

Mulheres!, de David Coimbra: “Uma noite, Roberta chegou à conclusão: havia se transformado numa tarada. Só pensava na ideia que tivera ao ver os treinos de boxe da academia. Só naquilo, naquilo, maldição! No começo, rechaçou o pensamento. Tratava-se de uma fantasia, nada mais. Mas, com o tempo, a fantasia foi se solidificando, tornando-se real. Agora, ela precisava fazer.”

Só as mulheres e as baratas sobreviverão, de Claudia Tajes: “Meu nome é Dulce. Doce, em espanhol. Mas os argentinos, os uruguaios, os chilenos e todas as, digamos, línguas espanholas com quem já cruzei na vida não entendem como uma mulher pode se chamar Dulce. Então eu tenho que explicar, es como dulce de leche, e aí eles se derretem, pedem para provar, elogiam a minha doçura, essas coisas de Julio Iglesias que os latinos dizem como ninguém.”

O escritor Stefan Zweig é o próximo nome da Série Biografias L&PM

Stefan Zweig quando jovem

No início de 2013, a Série Biografias L&PM – a maior série de biografias do Brasil – vai lançar mais um título que conta, de forma primorosa, a vida de uma grande personalidade. E o próximo volume é sobre o aniversariante de hoje: o escritor austríaco Stefan Zweig. Leia abaixo, com exclusividade, trechos dessa biografia:

Stefan Zweig nasceu em Viena, no dia 28 de novembro de 1881. Tanto o impulso econômico como o crescimento demográfico da cidade eram extraordinários. A partir de 1857, uma das mais brilhantes manifestações do programa de reabilitação da cidade foi a demolição das antigas fortificações para dar lugar à construção da Ringstrasse (“rua do Círculo”) que, conforme seu nome indica, tinha a forma de um grande quarteirão circular.

(…)

Após o nascimento, sua avó materna, a sra. Brettauer, passara a morar com a família e, embora a mencione muito pouco, o menino era muito apegado a ela. As crises de raiva de Stefan eram notórias, e seus anos de menino devem ter sido semelhantes aos que descreveu na novela “Segredo ardente” (Brennendes Geheimnis). O personagem principal, Edgar, estava com cerca de 12 anos, “e parecia desconhecer a moderação. Ele falava de qualquer pessoa, ou de qualquer objeto, ou com entusiasmo, ou com um ódio tão violento que o rosto ficava todo contorcido, o que lhe dava um aspecto quase maldoso e assustador”.

(…)

Zweig abre o livro com o soneto “Ô Enfance, étroite prison” (“Ó Infância, estreita prisão”), no qual relembra seus choros, seus desejos, e sua louca impaciência. Ele dedicou essa obra a Ellen Key (1849-1926), uma famosa pedagoga suíça, com quem manteve uma longa correspondência. Como Friderike, sua primeira mulher, contará mais tarde, Stefan era uma criança que se revoltava com frequência, o que o marcou com uma sede insaciável de liberdade. Adulto, ele sempre teve dificuldade para usar colarinhos duros, símbolos de um controle desagradável dos pais. As tensões familiares foram reais, e deixaram nas suas reações em relação à sua mãe um certo distanciamento irônico que Zweig terá dificuldade de superar.

Quando ainda era uma criança, Zweig cresceu rodeado de governantas, mas da sua memória emergem apenas algumas impressões um pouco embaçadas, não muito felizes. Ele fala muito pouco do irmão mais velho com quem, aparentemente, não tinha interesses em comum. Alguns passeios no Prater o fizeram conhecer sua primeira decepção amorosa. Um dia, ele terá a honra de ser notado pela princesa imperial Estefânia, que parou na frente daquele menino tão bem educado, e tão bem vestido, e conversou com ele durante alguns instantes.

"Brasil, um país do futuro" na Coleção L&PM Pocket e com prefácio de Alberto Dimes

Ao visitar o Rio de Janeiro, Stefan Zweig ficou encantado com o que encontrou por aqui e escreveu o livro Brasil, um país do futuro. De enorme repercussão na época em que foi lançado, graças a este livro o Brasil ganhou internacionamente, nas décadas de 50 e 60, o “slogan” de “país do futuro”. Apaixonado, emotivo e de extrema sensibilidade, Zweig passou seus últimos anos em Petrópolis, na serra carioca. Deprimido pela guerra, pelo avanço do nazismo e da intolerância contra os judeus, principalmente na Áustria, sua terra natal, suicidou-se juntamente com sua mulher em 1941.

De Zweig, além de Brasil, um país do futuro, a Coleção L&PM Pocket publica 24 horas na vida de uma mulher e Medo e outras histórias.

Nova Casa de Cultura Stefan Zweig abre suas portas para o público

Stefan Zweig não é um nome muito popular no Brasil. Mas merecia ser. Famoso escritor austríaco que visitou o Brasil em 1936, Zweig era romancista, contista, ensaísta e biógrafo de personalidades como Maria Antonieta, Montaigne, Américo Vespúcio e Balzac. Ligou-se eternamente ao Brasil quando, em 1941, já morando em Petrópolis no Rio de Janeiro, lançou o clássico ufanista Brasil, um país do futuro, livro que fez grande sucesso na época. Sensível e emotivo, ficou tão deprimido pela guerra, pelo avanço do nazismo e da intolerância contra os judeus, principalmente na Áustria que, em 1942, suicidou-se junto com sua mulher na casa de Petrópolis.

Agora, finalmente, o imóvel onde Zweig passou seus últimos tempos reabriu neste domingo, 29 de julho, como um moderno centro cultural. A inauguração da Casa Stefan Zweig é o principal evento comemorativo de uma série de efemérides que se sucedem desde o ano passado: o lançamento de Brasil, um país do futuro, os 130 anos do nascimento de Zweig (que aconteceu em novembro de 1881) e os 70 anos de sua morte.

O projeto, orçado em R$ 1,2 milhão, foi financiada por amigos e admiradores do escritor. “Um bando de loucos”, segundo declarou à Folha de S. Paulo o diretor do Centro Cultural Stefan Zweig, Alberto Dines. Mais do que um museu, as pessoas encontrarão um moderno centro de memória interativo. O quarto em que o escritor se envenenou ao lado da mulher está lá e as pessoas poderão ler, em alemão, o texto de despedida de Zweig em que ele agradece a “este maravilhoso país, o Brasil”. O presidente da casa destaca como peça mais importante a máscara mortuária de Zweig, feita por um escultor amador de Petrópolis e doada pelos herdeiros.

Se você estiver passando pela cidade, não deixe de visitar.

A recém inaugurada Casa Stefan Zweig em Petrópolis

SERVIÇO

O que: Exposição Stefan Zweig e Memorial do Exílio
Quando: A partir do dia 29 de julho, sexta a domingo das 11h às 17h
Onde: Casa Stefan Zweig – Rua Gonçalo Dias, 34, Petrópolis, RJ – Fone: 24-2245-4316

De Stefan Zweig, a Coleção L&PM Pocket publica Brasil, um país do futuro, 24 horas na vida de uma mulher e Medo e outras histórias.

69. O homem que amava o Brasil

Por Ivan Pinheiro Machado*

Tomei conhecimento de Stefan Zweig lendo a biografia que ele escreveu sobre Balzac. Além de ensaísta, romancista, contista, Zweig era um conceituado biógrafo. Famosas são suas biografias de Maria Antonieta, Romain Roland, Montaigne, entre muitas outras. Na biografia de Balzac, há o subtítulo “romance de uma vida”. É um texto de arrebatada admiração. Tão emotivo, tão literário e tão devotado à memória de Balzac que serve como um conduto para o enorme manancial que são os livros do grande romancista. Posso dizer até que ele tem um pouco de responsabilidade pelo mergulho que dei na obra do autor de “A comédia humana”.

Stefan Zweig era assim. Um homem apaixonado, emotivo e de extrema sensibilidade. Deprimido pela guerra, pelo avanço do nazismo e da intolerância contra os judeus, principalmente na Áustria, sua terra natal, suicidou-se juntamente com sua mulher há exatos 70 anos, em fevereiro de 1942, em sua casa em Petrópolis na serra carioca. Encantado com o que encontrou por aqui, ele escreveu “Brasil, o país do futuro”. De enorme repercussão na época em que foi lançado, graças à este livro o Brasil ganhou internacionamente, nas décadas de 50 e 60, o “slogan” de “país do futuro”. No começo deste século, em 2004, com Caroline Chang, a Cacá, minha colega e editora da L&PM (recentemente mãe de Dora), tive alguns encontros na Feira do Livro de Frankfurt com Mme. Lindi Preuss, agente literária que representava os interesses do espólio de Stefan Zweig. Lembro que em cada reunião ela oferecia a mim e a Cacá um doce típico alemão. Um gesto emblemático que transformava nossos encontros em conversas leves e agradáveis. A partir de um acordo com a agente de Zweig, publicamos “24 horas na vida de uma mulher”, “Medo” e “Brasil, um país do futuro”, livro fundamental que, há décadas, estava fora das livrarias do país.

"Brasil, um país do futuro" na Coleção L&PM Pocket e com prefácio de Alberto Dines

Esta publicação foi saudada pelos admiradores e entidades que cultuam a memória do grande escritor, especialmente por um dos seu biógrafos, o brilhante jornalista Alberto Dines, que promoveu um verdadeiro “happening” de relançamento de “Brasil, um país do futuro” no Rio de Janeiro.

A Casa Stefan Zweig de Petrópolis e o consulado da Áustria ofereceram um coquetel com uma exposição de fotos sobre a estada de Zweig no Brasil. Para quem não sabe, o consulado da Áustria era uma das últimas casas que resistiam na Avenida Atlântida em Copacabana. De lá, se tinha uma visão paradisíaca do Rio de Janeiro em frente ao mar. Nesta noite, estávamos eu e meu filho Antonio representando a L&PM e vários foram os discursos, com destaque para a bela fala de Alberto Dines, autor do excelente “Morte no Paraíso” (1981), a biografia de Stefan Zweig, e responsável pelo prefácio do nosso “Brasil, um país do futuro”. Estávamos num terraço no sobrado do consulado. A noite estava perfeita e a lua cheia fazia com que o mar, os morros, os prédios enormes, a areia, tudo, tivesse um toque de maravilhamento.

O antigo consulado da Áustria em Copacabana, vendido em 2009

Eu olhava a paisagem inteira e ficava imaginando o Rio que Stefan Zweig conheceu, tantas décadas antes. Se agora, assediada pela transformação dos tempos, pelos prédios gigantescos, pelas favelas, pelos  milhares de carros, por tudo que o “futuro” traz, esta cidade ainda é maravilhosa, imagine naquele tempo. A beleza da paisagem sugeria um amanhã espetacular, cordial, longe da selvageria que o nazismo havia trazido para a Europa naquele início de guerra.

“Brasil, um país do futuro” é lindo e às vezes ingênuo. Confrontado com a realidade, no entanto, ele é profético. A velha Europa que encheu seus cofres e museus com as riquezas do mundo subdesenvolvido parece que está perdendo o fôlego. Com exceção – paradoxalmente, no caso de Zweig – da Alemanha, há dúvidas e suspeitas quanto ao futuro. Por outro lado, o Brasil, que há duas décadas tinha uma inflação de 1% ao dia, figura hoje como um país em pleno desenvolvimento, como se o futuro que Zweig previu tivesse finalmente chegado.

*Toda terça-feira, o editor Ivan Pinheiro Machado resgata histórias que aconteceram em mais de três décadas de L&PM. Este é o sexagésimo nono post da Série “Era uma vez… uma editora“.

O adeus de Stefan Zweig

Foto dedicada aos leitores brasileiros

Stefan Zweig amou o Brasil que o acolheu. O escritor austríaco já era famoso no mundo inteiro quando chegou ao Rio de Janeiro, em 1936. Esperava encontrar “uma daquelas repúblicas sul-americanas que não distinguimos bem umas das outras, com clima quente e insalubre, situação política instável e finanças em desordem…”, como escreveu em seu livro Brasil, um país do futuro. Mas ao desembarcar, a sensação foi outra: “Fiquei fascinado e, ao mesmo tempo, estremeci. Pois não apenas me defrontei com uma das paisagens mais belas do mundo, esta combinação ímpar de mar e montanha, cidade e natureza tropical, mas ainda com um tipo completamente diferente de civilização”. Em 1941, sem poder voltar a Europa por causa da II Guerra, mudou-se para Petrópolis, no Rio, com sua segunda esposa, Lotte. Ao lançar Brasil, um país do futuro, foi acusado por alguns de ter feito o livro por encomenda do governo Vargas, o que ele fez questão de desmentir em sua última entrevista: “Em quarenta anos de vida literária, me orgulho de nunca ter escrito um livro por outra razão que a da paixão artística, e jamais visando uma qualquer vantagem pessoal ou interesse econômico.”

Em 23 de fevereiro de 1942, depois de uma alta dose de barbitúricos, Stefan Zweig e sua esposa foram encontrados já sem vida pelos empregados da casa. Abraçados na cama, eles preferiram deixar a vida “de cabeça erguida” a continuar vendo os horrores do nazismo. Sobre a mesa de cabeceira, estava uma declaração em que Zweig agradecia ao Brasil e explicava o porquê de estar indo embora tão cedo.

O último texto escrito por Stefan Zweig

Declaração

Stefan Zweig

Antes de deixar a vida, de livre vontade e juízo perfeito, uma última obrigação me é imposta: agradecer profundamente a este maravilhoso país, o Brasil, que propiciou a mim e à minha obra tão boa e hospitaleira guarida.  A cada dia fui aprendendo a amar mais e mais este país, e em nenhum outro lugar eu poderia ter reconstruído por completo a minha vida, justo quando o mundo de minha própria língua acabou-se para mim e meu lar espiritual, a Europa, se auto-aniquila. Mas depois dos sessenta anos precisa-se de forças descomunais para começar tudo de novo. E as minhas se exauriram nestes longos anos de errância sem pátria.  Assim, achei melhor encerrar, no devido tempo e de cabeça erguida, uma vida que sempre teve no trabalho intelectual a mais pura alegria, e na liberdade pessoal, o bem mais precioso sobre a terra.

Saúdo a todos os meus amigos!  Que ainda possam ver a aurora após a longa noite! Eu, demasiado impaciente, vou-me embora antes.

Stefan Zweig
Petrópolis, 22. II. 1942

Stefan Zweig, o criador da expressão “Brasil, um país do futuro”

Em 28 de novembro de 1881, nascia Stefan Zweig. Vienense, herdeiro de uma família da alta burguesia austríaca, sua trajetória se cruzaria com a do Brasil em 1936 quando, ao ser convidado para um congresso em Buenos Aires, o já famoso escritor Zweig aproveitou para visitar também o Brasil. Chegou esperando encontrar “uma daquelas repúblicas sul-americanas que não distinguimos bem umas das outras, com clima quente e insalubre, situação política instável e finanças em desordem…”, como depois escreveria. Mas ao desembarcar no Rio de Janeiro, a sensação foi outra: “Fiquei fascinado e, ao mesmo tempo, estremeci. Pois não apenas me defrontei com uma das paisagens mais belas do mundo, esta combinação ímpar de mar e montanha, cidade e natureza tropical, mas ainda com um tipo completamente diferente de civilização”. A partir de então, Zweig envolveu-se tão intensamente com o Brasil que, em 1941, junto com a mulher, mudou-se para Petrópolis, virou biógrafo de Américo Vespúcio e escreveu o apaixonado ensaio histórico Brasil, um país do futuro.

O pequeno Zweig no colo de seu pai

Foi em Petrópolis que, em 1942, o escritor e sua mulher foram encontrados abraçados e sem vida. Desiludidos com a II Guerra, eles se suicidaram ingerindo uma quantidade elevada de barbitúricos.

Além de seus livros mais conhecidos, entre eles Medo e outras histórias e 24 horas na vida de uma mulher (Coleção L&PM Pocket), Zweig deixou um legado que inclui traduções, ficções, teatro, poemas e ensaios biográficos de gente como Paul Verlaine, Rimbaud, Romain Rolland, Freud, Casanova, Stendhal, Tolstói, Américo Vespúcio e Maria Antonieta.

Brasil do futuro do passado: Stefan Zweig ao lado de Getúlio Vargas

Há 69 anos, morria o escritor Stefan Zweig

Dizem que o Brasil é o país do futuro (e parece que sempre será). Mas o que nem todos sabem é que a frase que hoje é clichê não foi criada por um brasileiro, mas proferida em livro por um austríaco, o escritor Stefan Zweig. Em 1936, convidado para um congresso em Buenos Aires, Zweig aproveitou para visitar também o Brasil. Chegou esperando encontrar “uma daquelas repúblicas sul-americanas que não distinguimos bem umas das outras, com clima quente e insalubre, situação política instável e finanças em desordem…”, como depois escreveria. Mas ao desembarcar no Rio de Janeiro, a sensação foi outra: “Fiquei fascinado e, ao mesmo tempo, estremeci. Pois não apenas me defrontei com uma das paisagens mais belas do mundo, esta combinação ímpar de mar e montanha, cidade e natureza tropical, mas ainda com um tipo completamente diferente de civilização”. A partir de então, Zweig envolveu-se tão intensamente pelo Brasil que, em 1941 mudou-se para Petrópolis, virou biógrafo de Américo Vespúcio e escreveu o apaixonado ensaio histórico Brasil, um país do futuro.

Em 23 de fevereiro de 1942, deprimido com as barbáries da Segunda Guerra e sem esperanças no futuro da humanidade, cometeu suicídio junto com a esposa Lotte na casa que moravam em Petrópolis, ingerindo uma alta dose de barbitúricos. No dia seguinte, o Jornal do Brasil trazia a notícia: “Morre tragicamente um dos maiores escritores contemporâneos – Stefan Zweig e sua esposa suicidaram-se em Petrópolis na tarde de ontem – Os funerais serão feitos pelo governo e se realizarão hoje.”

Tombada pelo IPHAN, a última morada do escritor hoje é a Casa Stefan Zweig, uma entidade cultural sem fins lucrativos que homenageia sua memória, através do acervo físico com objetos pessoais e relativos às suas obras e à sua época, com coleção de livros, fotos, documentos, vídeos, filmes, biblioteca.

Além de Brasil, um país do futuro, a L&PM publica em pocket Medo e outras histórias e 24 horas na vida de uma mulher.