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Quando a Sexta-feira e o 13 se juntam

Prepare a figa, o patuá, a arruda e o sal grosso. Pendure alho nas janelas, compre uma muda de trevo-de-quatro-folhas, entre com o pé direito em todos os lugares. É Sexta-feira 13. Quando, acreditam os supersticiosos, o azar está no ar. Mas qual o motivo pra esse dia ser alvo de tanto preconceito? Provavelmente porque ele é a cria do casamento entre a Sexta-feira e o número 13, dois focos de mau agouro. Cristo foi crucificado numa Sexta-feira e, afirmam alguns teólogos, foi quando começou o Dilúvio. Na Inglaterra antiga, Sexta-feira era o dia oficial dos enforcamentos e conta-se que os condenados tinham que dar exatamente 13 passos até chegar no patíbulo.

O número 13 causa tanto pânico em certas pessoas que a fobia tem até nome científico: Triskaidekaphobia. E o medo estende-se a países. Nos EUA e na Argentina, há prédios em que o andar 13 não existe. A Itália deletou este número da sua loteria federal. E, na França, há uma associação destinada a oferecer pessoas extras – e de última hora – para quebrar o azar dos jantares onde somente 13 convidados apareceram.

Mas como nós, aqui da L&PM, não temos medo de nada, publicamos não apenas várias histórias de terror, como também livros que têm o 13 e a Sexta-feira no nome. História dos trezede Honoré de Balzac, é uma triologia sobre uma sociedade secreta chamada “Os Treze Devoradores”, espécie de seita em que a amizade está acima do bem e, claro, do mal.  Em Treze à mesade Agatha Christie, um assassinato acontece justamente num jantar em que está este número “nefasto” de pessoas. Já Sexta-feira negra, de David Goodis, conta a história de Hart que, numa gelada noite de sexta dá de cara com um moribundo sussurrando em meio a uma poça de sangue: “Sexta-feira negra é um dia que jamais termina para determinadas pessoas” diz a contracapa do livro.

As três obras são ótimas e imperdíveis, mas, pra não arriscar, talvez seja melhor não deixá-las lado a lado na mesa de cabeceira. Vá que dê mesmo azar juntar o Treze com a Sexta-feira…

sexta treze livros

E adivinha qual é o livro número 13 da Coleção L&PM POCKET? O nome dele é… Armadilha mortal. Ui, agora deu medo!

David Goodis: tão bom quanto Chandler e Hammett

Eddie experimentou os tapete macios do legendário Carneggie Hall. Seus dedos deslizaram sob as alvas teclas de um piano Steinway de 200 mil dólares. E após o último acorde da “Polonaise em lá bemol maior Opus 53”, ele foi aplaudido de pé.
Muita coisa aconteceu até ele chegar àquela espelunca onde tocava praticamente em troca de comida, num piano vagabundo, para gente pior ainda. A história de Eddie e seu irmão está contada no maravilhoso livro Atire no pianista (L&PM POCKET) de David Goodis.

Menos conhecido e incensado que Raymond Chandler e Dashiell Hammett, Goodis foi tão bom quanto eles no gênero que ficou consagrado como “policial noir”. Na verdade, o complemento “noir” foi criado para diferenciar do policial tradicional. Eram obras que iam além da trama policial, do “quem matou quem”. Livros com notável reflexão psicológica e estereótipos clássicos, como o “cara durão”, as mulheres fatais e cínicas , o detetive sentimental e cético que ganhava a vida por 25 dólares por dia, mais despesas. E sempre enfrentando problemas com os tiras. Quase que invariavelmente as tramas se passam nos anos 30, 40 e 50 na Califórnia, ou na Filadélfia, no caso de Goodis. Seja na época da Grande Depressão ou já no pós-guerra, os heróis (ou anti-heróis) dos escritores “noir” estavam sempre na contramão do “sonho americano”.

Os franceses adoram este gênero, tanto é que “noir” vem do francês “negro”. E François Truffaut filmou Atire no pianista, estrelado por Charles Aznavour (trailer abaixo). Tal foi o sucesso do filme que o livro mudou de nome; era Down There e tornou-se Shoot the piano player. Os outros livros do autor, A lua na sarjeta, A garota de Cassidy (que vendeu um milhão de cópias nos Estados Unidos) e Sexta-feira negra, todos publicados pela coleção POCKET, são verdadeiras obras-primas.

Goodis foi também roteirista em Hollywood, onde adaptou A Dama do Lago, de Raymond Chandler (trecho abaixo), entre muitos outros.

Além de Atire no pianista, outros de seus livros tiveram grande sucesso no cinema, como Lua na Sarjeta (La lune dans le caniveau) de Jean-Jacques Beinex, com Gerard Depardieu e Nastassja Kinski, e Dark Passage com Humphrey Bogart e Lauren Bacall. Dark Passage, por sinal, foi objeto de uma disputa judicial que se arrastou até após a morte de Goodis. Ele denunciou a United Artists e a rede de TV ABC por terem se apropriado da ideia do livro para criar o célebre seriado e o filme O Fugitivo (trecho abaixo). Em decisão histórica para o direito à propriedade intelectual, a Suprema Corte dos Estados Unidos deu ganho de causa a Goodis.

Depois de sua morte em 1957 num acidente mal explicado, sua obra caiu no esquecimento nos Estados Unidos. Só na década de 70 seus livros voltaram a fazer sucesso, mas na França, onde todos foram traduzidos e são reeditados até hoje. Para tentar recuperar o prestígio de Goodis junto aos americanos , em fevereiro desse ano foi lançado o documentário David Goodis… To a pulp (trailer abaixo) produzido e dirigido por Larry Withers, enteado do escritor.