Arquivo da tag: série Biografias

O adeus a Beethoven

beethoven_pintura

Em 26 de março de 1827, às 17h45, morria o genial Ludwig van Beethoven. Dono de uma personalidade forte e melancólica, filho de um músico alcoólatra e de uma mãe tuberculosa, cercado de irmãos ineptos, Beethoven escapou do papel de menino prodígio que o pai tentou impor-lhe na esteira de Mozart e brilhou com luz própria. Por meio de melodias surpreendentes e perturbadoras, ofereceu à humanidade ideais de liberdade. E mesmo que a surdez tenha lhe tirado dos palcos, ela não foi capaz de impedir que ele continuasse compondo. Depois de Beethoven, a história da música nunca mais foi a mesma.

Por volta das quatro da tarde, o céu escureceu e caiu uma tempestade, “uma tempestade formidável, acompanhada de granizo e de neve”, escreveu Gerhard von Breuning. Beethoven ergue a mão, cerra o punho como se quisesse desafiar o céu, conta Hüttenbrenner, enfeitando talvez a cena. E acrescenta: “Quando a mão caiu sobre o leito, os olhos estavam semi-fechados. Com a mão direita ergui sua cabeça, apoiando a esquerda sobre seu peito. Nenhum sopro saía mais dos seus lábios, o coração havia parado de bater. Fechei seus olhos, sobre os quais depus um beijo, assim como na testa, na boca, nas mãos”. (Trecho de Beethoven, de Bernard Fauconnier, Série Biografias L&PM).

O vestido mais famoso do cinema

Digamos que você tivesse uma máquina do tempo. Imagine que, ao entrar nela, fosse possível girar um botão e ir parar em Nova York há exatos 63 anos atrás. Neste caso, você provavelmente seria uma das pessoas que se acotovelaram para ver uma das cenas mais célebres do cinema: a louríssima, glamourosa e vaporosa Marylin Monroe mostrando as pernas enquanto seu vestido branco flutuava junto com os pensamentos daqueles que acompanhavam a gravação de O pecado mora ao lado.

“Na própria noite de chegada, 14 ou 15 de setembro de 1954, a produção planejou filmar no coração de Nova York uma curta cena em que a loura criatura se entrega inocentemente, no espaço de um instante, à volúpia de deixar o vestido se levantar em cima de um bueiro de metrô.” descreve o livro Marilyn Monroe, de Anne Plantagenet, Série Biografias L&PM.

O vestido em questão foi desenhado pelo estilista William Travilla que já havia criado modelos para o filme Os homens preferem as loiras. Travilla, que conhecia como ninguém as preferências da Fox, o estúdio responsável por O pecado mora ao lado, criou um vestido cujo tecido teria que ser tão leve a ponto de ter sua saia levantada pela corrente de ar do metrô. “Queria que ela parecesse fresca e limpa. Então me perguntei o que podia fazer com essa mulher tão linda para que aparecesse com uma imagem clara, pálida e adorável? Que tipo de vestido poderia ser levantado por uma brisa e que ao mesmo tempo fosse divertido e bonito?” disse Travilla na época. Foi durante um final de semana que Travilla desenhou os dez vestidos que Marilyn Monroe usaria no filme, entre ele um branco, simples, de verão, plissado e com as costas de fora que produziria um efeito mágico.

Marilyn Monroe "Seven Year Itch", 1955

A etiqueta do vestido de Marilyn com a assinatura de seu criador

Após a estreia da película, o vestido branco ficou com o estúdio que o vendeu para Debbie Reynolds. O mundo, no entanto, não se conformou e prostestou que queria vê-lo de perto. Assim, no final dos anos 50, Travilla conseguiu que Reynolds lhe emprestasse a peça para que ele pudesse fazer uma cópia exata, com os mesmos materiais e medidas. Foi a primeira e única vez que o estilista fez duas vezes a mesma peça.  A partir de então, a roupa mais célebre de Marilyn (ou pelo menos um clone dela) passou a participar de exposições pelo mundo.

Já o vestido original usando pela loira foi a leilão em junho de 2011 e acabou sendo arrematado pela “bagatela” de 4,6 milhões de dólares.

30 de março de 1853, nasce um gênio

Vincent Van Gogh aos 13 anos

“Desde o seu nascimento, Vincent Willem Van Gogh viveu em dificuldade. Nasceu em 30 de março de 1853, exatamente um ano após uma criança natimorta chamada, como ele, Vincent Willem Van Gogh. O túmulo desse primeiro Vincent se achava a poucos passos da igreja onde o pai oficinava como pastor de Groot Zundert, pequena aldeia rural de uma centenas de habitantes no sul da Holanda. Assim, tão logo aprendeu a ler, o pequeno Vincent pôde ver seu nome como em seu próprio túmulo. Ele seria um eterno substituto.

(Trecho inicial de Van Gogh, premiado livro de David Haziot que faz parte da Série Biografias

O gênio atormentado, o pintor fervoroso, o observador louco, o desenhista libertário, o artista sem igual que usou o próprio corpo como a matéria-prima de sua arte. Assim foi Vincent Van Gogh. Hoje cultuado, esse pintor de sóis silenciosos e girassóis de ouro nunca vendeu um quadro quando vivo. Hoje, suas obras valem milhões.

vincent van gogh - auto-retrato e retrato do pintor

Sobre Van Gogh, a L&PM publica, além de sua biografia, o livro Cartas a Théo em pocket, com a correspondência entre o pintor e seu irmão; o grande livro Cartas a Theo e outros documentos sobre a vida de Van Gogh e a HQ Vincent.

 

Billie Holiday, jazz e gardênias

A pequena Eleanora aos 2 anos de idade

Em 7 de abril de 1915, ela dá à luz uma garotinha, Eleanora. Ela a registra sob o nome de DeViese. É o nome do rapaz que está namorando nessa época. Mesmo que ela soubesse com certeza que o pai é Clarence Holiday, talvez estivesse então entretendo projetos matrimoniais com Frank DeViese. Aliás, quando ela se casa mais tarde com Philip Gough, ela dá à garotinha o sobrenome de seu marido. Com o bebê nos braços, Sadie se resigna a retornar para Baltimore. Encontra um trabalho em uma fábrica de roupas. Mas o que fazer com uma criança, quando se trabalha o dia inteiro? E, depois, é preciso confessar que Sadie gosta muito de se divertir e que os homens de sua vida são bastante numerosos.

Essa criança a incomoda, e ela encontra mil desculpas para deixá-la com sua família. Eleanora tem dois anos e é bonita como um coração. Dessa época longínqua só existe uma fotografia, em que ela usa uma bata clara e botinas, com flores brancas nos cabelos. Seriam já gardênias?

(trecho de Billie Holiday na Série Biografias)

A pequena Eleanora Fagan Gough da foto acima cresceu e virou Billie Holiday, encantando o mundo com sua voz  inigualável. Aí vai a nossa sugestão para o dia de hoje:

Se você é fã da grande musa do jazz, vale muito a pena ler Billie Holiday da Série Biografias L&PM.

David Bowie cantou Andy Warhol

David Bowie partiu para as estrelas. Foi encontrar Ziggy Stardust. E nós, reles mortais, ficamos aqui, a olhar para o céu, enquanto entoamos suas canções.

No seu álbum Hunky Dory, de 1971, época de um psicodélico e andrógino Bowie, ele lançou uma canção chamada “Andy Warhol” (Andy Wahaal, segundo defendia sua pronúncia). Ela começa justamente com uma conversa de estúdio em que Bowie explica para o produtor Ken Scott a forma correta de dizer “Warhol”. A música tornou-se memorável com início em estilo flamenco e o violão acústico que segue pela melodia afora. Depois de fazer sua versão da letra, que originalmente foi escrita por Dana Gillespie, Bowie tocou-a para Warhol antes de gravá-la. Quando a música terminou, os dois teriam se olhado e permanecido em silêncio por um tempo. Até que Warhol disse “I like your shoes”. Em seguida, a dupla teria tido uma conversa sobre sapatos.

David Bowie é uma das tantas personalidades que está citada no livro “Diários de Andy Warhol“.

 

A morte do rebelde e maldito Arthur Rimbaud

Em 1891, após uma sofrida viagem de navio até Marselha devido a dores insuportáveis em sua perna direita, Arthur Rimbaud decide procurar ajuda num hospital local. Ao ser examinado, a reação dos médicos foi alarmante:

Os médicos a serviço do dr. Antoine Trastoul, um senhor de quarenta anos, as enfermeiras e as freiras ficaram atônitos. Nunca viram um membro tão putrefato, tão monstruoso. A perna parece uma enorme e aterrorizante abóbora. E crescerá ainda mais, sem a menor dúvida, caso não realizem a amputação o mais rápido possível.

Como de costume, Rimbaud lamenta sua infelicidade em cartas à mãe e à irmã, Isabelle. Do hospital onde ficara internado, ele escreve uma carta pedindo que venham visitá-lo. Em 27 de maio, sua perna é amputada rente ao tronco. A cirurgia transcorre bem e a recuperação é rápida. Após receber alta, ele providencia uma perna mecânica e decide voltar a morar com a família, que não vê há dez anos, em Roche. Comunica sua volta por meio de uma carta a Isabelle, que promete esperá-lo na estação de Voncq.

Durante a viagem de trem, a cicatriz da cirurgia que parecia resolvida volta a incomodá-lo. Mas ao chegar à estação , o reencontro com a irmã o faz esquecer qualquer sofrimento. Ela já não é mais aquela adolescente apagada e quieta de quem ele se lembrava, mas sim uma mulher de 30 anos, forte e ao mesmo tempo doce e amável, que decorou o quarto do irmão com “cortinas novas, tecidos finos de algodão e graciosos buquês e flores”.

Apesar do esforço de Isabelle, as limitações físicas impostas pela perna amputada e o retorno às lembranças de infância transformaram a estadia num verdadeiro inferno, como descreve a biografia de Rimbaud, publicada recentemente pela L&PM:

O fato é que ele não tem o que fazer em Roche, nesse vilarejo perdido das Ardenas, a que chamam de Terra dos Lobos, a não ser passear seu enfado e sua tristeza, uma tristeza mortal, e ficar deitado no quarto durante longas horas olhando para o vazio, remoendo remorsos, lembranças de infância e pensamentos funestos. (…) Já não suporta mais a luz do dia. É preciso fechar as venezianas, deixar a porta do quarto sempre encostada. O pior é que volta a sentir dores no coto e na virilha. De início, pensa que deve ser por causa da perna artificial comprada em Marselha e toma todas as providências para substituí-la. No entanto, por mais que consulte os médicos da região e de Charleville, por mais que tome as medicações que lhe são prescritas, que recorra a “um simples remédio de benzedeira”, a chás de papoula, a óleos e massagens, continua sofrendo muito. Isso desencadeia crises de desespero, lágrimas, ataques de raiva, cóleras, gritos, xingamentos, blasfêmias, noites intermináveis de insônia… E o leva a persuadir-se de que o único remédio capaz de atenuar suas dores horríveis seria volta a viver em Harar.

Ele decide ir embora e Isabelle o acompanha. Mas a viagem de volta é ainda mais estafante e cruel. A cada trepidação do trem, ele se contorce, aperta o coto com força e geme. Nenhuma posição lhe parece confortável: costas, ombros, braços e principalmente o coto são “pontos terrivelmente dolorosos”. Mas ele insiste em continuar a viagem. A febre o faz delirar, rir e chorar. Quando dá por si novamente, está de volta ao hospital onde amputara a perna. Os médicos se supreendem ao vê-lo de novo e num estado ainda pior do que o encontraram da primeira vez. O câncer se espalhara e Rimbaud está condenado.

Seu tumor cancerígeno, uma espécie de saco pútrido inchado que se estende do quadril até a barriga, atrai agora curiosos do hospital. Os visitantes, os outros pacientes e os médicos que passam por seu quarto “ficam mudos e aterrorizados diante desse câncer estranho”. É como se estivesse diante de uma monstruosidade de circo.

A pedido de Isabelle, católica fervorosa, Rimbaud, que era ateu convicto, chega a se confessar com um padre. Não apenas para agradar a irmã, mas pela última esperança de que alguma força superior possa curá-lo.

Mas não houve santo capaz de mudar o destino daquele homem de apenas 37 anos que, adolescente, havia escrito poemas geniais e inigualáveis. Em 10 de novembro de 1891, por volta das duas da tarde, Arthur Rimbaud morreu. Seu estado de saúde e as sucessivas viagens o impediram de receber uma notícia que talvez tivesse ajudado a melhorar seu estado de saúde ou que, pelo menos, lhe garantiria um fim mais digno: apenas três dias antes, era publicado em Paris pelo editor Léon Genoceaux um livro de 180 páginas reunindo seus poemas sob o título de Reliquaire e que ele havia escrito entre 1869 e 1872.

Para conhecer os detalhes da vida de um dos maiores poetas que o mundo já viu, leia o volume Rimbaud da Série Biografias. E não deixe de conhecer também seus poemas, aqui em edição bilíngue:

Rebeldes_e_Malditos_Rimbaud

A cidade em que nasceu Gandhi

Começos

biografiagandhiPorbandar: o nome induz ao sonho. Um mundo de pescadores, de armadores, navios que cruzam entre a Índia, a Arábia e a costa leste da África, aventurando-se até a África do Sul, lá onde Gandhi haveria de descobrir um dia sua vocação… Mas, no momento em que ele nasce, em 2 de outubro de 1869, não era senão um pequeno porto pesqueiro adormecido na costa do Gujarat.

A cidade de Porbandar, “com suas ruelas estreitas e seus bazares atulhados, com seus muros maciços, desde então em grande parte demolidos, encontra-se a três passos do mar da Arábia. Suas construções, desprovidas de grandeza arquitetônica, são feitas de uma pedra branca que endurece com os anos, brilha suavemente no pôr do sol e valeu à cidade a denominação romântica de ‘Cidade branca’. Os templos ocupam ali um lugar de importância; a própria casa ancestral dos Gandhi erguia-se perto de dois templos. No entanto a vida toda estava, ainda está, centrada no mar. (Trecho de Gandhi, de Christine Jordis, Série Biografias L&PM)

Ficou com vontade de conhecer Porbandar, a cidade de Gandhi? Então, caso você se anime e resolva ir a Índia, separamos aqui alguns pontos turíticos:

– KIRTI MANDIR – A casa em que nasceu Gandhi é aberta à visitação:

gandhiji-birth-place

– BARDA WILDLIFE SANCTUARY – Há 15 km de Porbandar, está localizada uma floresta que se estende por 190 km quadrados. Suas colinas são ideais para uma caminhada e existem locais próprios para piqueniques à beira dos Rios Bileshvary e Joghri.

barda

– SUDAMA TEMPLE – Dizem que este belo tempo é o único em toda Índia dedicado a Sudama, o melhor amigo de Krishna. Construído entre 1902 e 1907, possui uma grande importância histórica e espiritual.

Sudama-Temple

 

As origens de Freud

Que lugar Freud ocupava no seio de sua família, que ele por sua vez perpetuará? Seu pai, Kalamon Jacob Freud – neto do rabino Efraim e filho do rabino Schlomo, morto dois meses antes do nascimento de Sigmund -, é o primogênito de uma família de comerciantes judeus, originários da Galícia Oriental. Ele pode ser considerado um homem das Luzes que permaneceu a vida inteira apegado aos valores tradicionais do judaísmo. Negociante de lãs, despreparado para a industrialização, ele não tem muito sucesso nos negócios, e em 1859 a família precisará deixar Freiberg, na Morávia (hoje Pribor, na atual República Tcheca), para instalar-se em Viena, como tantas outras famílias judias vindas da Eslovênia, Romênia, Polônia, Itália ou Hungria. Jacob tem 41 anos quando casa com Amalia Nathanson, vinte anos mais nova. É nesse contexto econômico difícil que Freud nasce, em 6 de maio de 1856, em Freiberg.

(…)

Amalia, que se tornou mãe de Sigmund aos 21 anos, também vinha de uma família judia da Galícia, anexada ao Império Austro-Húngaro. Ela passara a infância em Odessa antes de seus pais também se instalarem em Viena. Era uma jovem bonita, vivaz, inteligente, sempre decidida e que podia se mostrar tirânica, principalmente com as filhas. Quanto a seu filho mais velho, ela o chamava, mesmo em idade avançada, de Mein goldener Sigi (meu Sigi de ouro).

(…)

Não ha dúvida de que o jovem Sigmund tenha sido objeto de particular dileção por parte de sua jovem mãe – o que o dotou de uma profunda confiança em si mesmo diante da adversidade – e por parte de um pai de idade madura que, apesar das condições materiais bantante precárias, não hesitara em aconselhar ao filho que, para questões de orientação profissional, levasse em conta apenas suas próprias inclinações.

(Trechos de Freud, de René Major e Chantal Talagrand – Série Biografias L&PM)

O pequeno Sigmund e seu pai, Jacob Freud

O pequeno Sigmund e seu pai, Jacob Freud

A grande família Freud. Sigmund ao fundo, de pé, olhando para a câmera, atrás da cadeira de sua mãe, Amalia – Clique para ampliar

A L&PM publica diversas obras de Freud traduzidas direto do alemão, entre elas, A interpretação dos sonhos. Clique aqui para ver.

Wagner na biografia de Nietzsche

Você já deve ter escutado algo como: “Se por acaso você passar pela minha cidade, não deixe de me visitar”. Na maioria das vezes, é preciso concordar, esse convite feito por mera educação. Só que ao escutar isso vindo da boca do grande compositor Richard Wagner, o então jovem professor Friedrich Nietzsche fez questão de honrar o convite. E chegou insesperadamente na mansão de Wagner, na cidade suíça de Tribschen. Mas como o dono da casa estava em plena composição do terceiro ato de Siegfried, sua esposa, Cosima, propôs ao rapaz que ele voltasse outro dia. E ele realmente voltou. Não apenas uma, mas várias vezes, a ponto de se tornar amigo íntimo dos Wagner.

A relação do filósofo com o compositor é contada em Nietzsche, de Dorian Astor, o mais novo volume da Série Biografias L&PM. Abaixo, dois pequenos trechos do livro:

O fascínio de Friedrich por Wagner tem algo de alienante, e serão necessários muito tempo e energia para que possa se libertar dessa atração. Isso porque o artista, confessa ele, tem “um encanto cativante”. Tribschen e Basileia tornam-se antípodas entre as quais Nietzsche leva de certa maneira uma vida dupla: por um lado, na presença dos Wagner, deixa-se levar por arroubos artísticos e ostentações mundanas; por outro, a universidade o reconduz a ascese das bibliotecas e à monotonia do círculo de colegas.

Nietzsche é o mais novo nome da série Biografias L&PM

Nietzsche é o mais novo nome da série Biografias L&PM

Em Tribschen, Nietzsche gostava, não sem certa ingenuidade, de que ouvissem suas próprias composições. Wagner põe um fim nas secretas esperanças musicais do jovem amigo e volta a conduzi-lo para a esfera universitária, embora o encorajando a trilhar um caminho extremamente singular, o de uma filologia “no espírito da música”, e tal será, de fato, a expressão que define O nascimento da tragédia. Encarregado de semelhante missão espiritual, mas restrito por seu mestre aos trabalhos filológicos, Nietzsche pouco a pouco se fecha e trabalha sem descanso.

A casa de Tribschen de três andares ainda está lá e agora é o Richard Wagner Museum, onde o visitante pode conhecer móveis, pinturas e objetos que pertenceram ao compositor. É lá que também que, ao lado do busto de Wagner, está o busto de Nietzsche fortalecendo a relação eterna entre dois grandes alemães.

A casa de Wagner, frequentada por Nietzsche, agora é um museu

A casa de Wagner, frequentada por Nietzsche, agora é um museu

Dentro da casa museu, lado a lado, Wagner e Nietzsche

Dentro da casa museu, lado a lado, Wagner e Nietzsche

As origens de Balzac, o aniversariante do dia

Balzac nasceu em Tours, em 20 de maio de 1799. Nasceu provinciano da Touraine, e esse dado é essencial. Toda a sua obra traz as imagens da província francesa e dessa Touraine à qual voltará frequentemente e onde situa diversos romances: O cura de Tours, O ilustre Gaudissart, O romeiral, A mulher de trinta anos, O lírio do vale. Apreciará descrever as paisagens, o reflexo do rio, a bruma nas encostas, as florestas, os bosquetes tranquilos. Se quisermos continuar, como ele mesmo fez, a descer o rio, chegamos a Saumur, outro lugar monárquico, onde se desenrola Eungénie Grandet. A seguir, as regiões dos chouans, os partidários da realeza durante a Revolução Francesa, e, para terminar, a península de Guérande, onde ocorre o impiedoso huis clos amoroso de Béatrix.

(…)

Os pais de Balzac não parecem muito inclinados a se ocupar dos filhos no dia-a-dia. Em todo caso, resulta daí uma tenra cumplicidade, que nunca se desmentirá, entre o irmão e a irmã, ambos isolados numa família emprestada e interessada sobretudo nos ganhos. Honoré permanecerá convencido, durante sua adolescência e juventude, de que o único ser nesse mundo que o ama e o compreende é essa irmã, com quem dividiu as brincadeiras e os machucados de menino. Ela nunca cessará de defendê-lo; confiarão um ao outro os seus segredos. Em uma das suas primeiras tentativas romanescas, Sténie, ele abordará o carinho ambíguo entre um irmão e uma irmã “de leite”, a ponto de o menino sentir um ciúme violento quando ela se casa.

(Trechos de Balzac, de François Taillandier, Série Biografias L&PM Pocket)

Desenho de Honoré de Balzac feito em 1820, quando ele tinha entre 19 e 20 anos

Desenho de Honoré de Balzac feito em 1820, quando ele tinha entre 19 e 20 anos