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O eterno Marquês de Sade

O que esperar de um livro assinado pelo Marquês de Sade? Todos nós sabemos: monstruosas máquinas de tortura, lâminas afiadas, ferros em brasa, chicotes, correntes e outros aparatos de suplício cujo requinte está em mutilar lentamente dezenas de corpos a serviço da volúpia libertina, fazendo escorrer o sangue dos imoloados e o esperma dos algozes, em cenas que têm o poder de produzir simultaneamente a dor das vítimas, o orgasmo dos devassos e o profundo desconforto dos leitores. Sim, todos nós sabemos; e até mesmo aqueles que jamais abriram um desses livros sabem o que eles contêm.

Assim a ensaísta, tradutora e professora de literatura Eliane Robert Moraes começa seu prólogo, “Um outro Sade”, no livro Os crimes do amor. E como ela mesmo diz, não é preciso ter lido algum dos livros do Marquês para saber quem ele é e do que suas palavras eram capazes. Em Os crimes do amor, no entanto, há um outro Sade. Nenhuma palavra obscena, nenhuma crueldade física, nenhum discurso justificando o crime.

Quando queria, Sade sabia ser virtuoso. Mas sua fama de devasso ultrapassou as páginas, virou alcunha, estampou um gênero de prazer. Antes de Sade não existia o sadismo. Não como nome, pelo menos. Morreu aos 74 anos, em 02 de dezembro de 1814, em sua cela no Hospício de Charenton. Seu nome, no entanto, permanece eternizado e sempre lembrado quando se fala em literatura erótica.  

Assim o Marquês de Sade foi retratado no final da vida

Há 196 anos, morria o mais nobre dos pervertidos: o Marquês de Sade

No dia 2 de dezembro de 1814, exatamente dez anos depois de Napoleão ter sido coroado imperador, morria o Marquês de Sade. De seus 74 anos de vida libertina, 29 foram passados em prisões e asilos para doentes mentais. Sade foi encarcerado pela monarquia, pelos revolucionários e pelo império. E também foi até o limite do prazer. Na literatura e na vida. Seus livros descrevem a satisfação de torturar e de humilhar o parceiro em nome do prazer. Quando não estava preso, vivia em alvocas, prostíbulos e apartamentos alugados para onde levava prostitutas que era apresentadas a uma coleção de chicotes, cinturões de couro e correntes. Antes de Sade, não existia o sadismo. Seus escritos chocaram, causaram revolta, foram chamados de grotescos. Mas as mulheres amaram o Marquês. E ele amou as mulheres. Tanto que criou a personagem Justine. Renné de Sade, sua primeira esposa, era habitué nas orgias do marido – a mais célebre delas com a participação de todas as criadas da casa. Em 1801, já velho e separado da mulher, Sade mais uma vez foi preso, dessa vez no Hospício de Charenton, onde encantou-se pela jovem filha de uma carcereira (essa história é narrada em “Contos proibidos do Marquês de Sade”, filme dirigido por Philip Kaufman). Sedutor, Sade planejava produzir peças pornográficas quando saísse do manicômio. Não teve tempo para isso. Morreu em sua cela, numa França regida por Napoleão, obeso e bem menos sedutor do que nos áureos tempos das orgias. Foi enterrado no cemitério de Chareton em uma cova sem nenhuma inscrição, mas que mesmo assim recebeu uma cruz.

Do Marquês de Sade, a L&PM publica Os crimes do amor e O marido complacente.