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14 de julho de 1789: o início de novos tempos

14 de julho é uma data emblemática da história da humanidade. Foi na madrugada de 13 para 14 de julho de 1789 que um grupo de cidadãos parisienses, inconformados com a fome e culpando a monarquia por todos os seus males, invadiu aquela que era o símbolo do autoritarismo político daqueles tempos: a prisão da Bastilha. Em poucas horas, a cidade de Paris foi tomada pela revolta e a enorme fortaleza foi incendiada, simbolizando o começo de novos tempos. A Queda da Bastilha pode ser considerado o acontecimento mais importante da história ocidental, pois a partir dele tudo mudou.

As quase 500 páginas que compõe os dois volumes de Revolução Francesa, de Max Gallo, são um marco na imensa historiografia disponível sobre este assunto. No primeiro volume, O Povo e o rei – 1774 -1793, Gallo compõe o retrato da França pré-revolucionária, esculpe com rara habilidade as causas e o ambiente social que propiciou a revolta de 1789 e, sobretudo, concentra-se na figura patética de Luís XVI e os “luíses” que o precederam, Luís XIV e Luís XV. Ainda neste primeiro volume, ele narra a Queda da Bastilha e, em seguida, a “febre revolucionária” que tomou conta da França.

O leitor acompanha, como numa reportagem, um filme ou um folhetim, a agonia do prestígio do rei e da monarquia, que culmina na manhã gelada de 21 de janeiro de 1793 quando Luís XVI sobe ao cadafalso para ser guilhotinado. Aí então, como Gallo diz, “seu corpo será cortado em dois, e assim será separado o corpo do rei do da nação”. Ou seja, o rei não morreria pela vontade do povo, mas a recém proclamada República ainda era frágil e era preciso “matar” a monarquia que o bom e exitante Luís XVI representava.

Queremos!

Este é o grito que atravessa a inflamada noite de 13 para 14 de julho de 1789. Na aurora já sufocante, bandos correm às ruas. Os homens vão armados de ganchos, lanças, fuzis. Alguns estão “quase nus”. “Vil populacho” murmuram os burgueses.

Grupos se formam diante das portas das casas abastadas, dos inimigos da nação e, portanto, do Terceiro Estado.

Exige-se que as portas sejam abertas:
– Queremos bebida, comida, dinheiro, armas.
À noite, são pilhados os depósitos de armas e armaduras de coleção. Brandem-se sabres, facões, lanças.

Mas o que querem são armas de guerra.

(Revolução Francesa Vol. I, Max Gallo – Trecho que abre o capítulo 16)

Os dois volumes de Revolução Francesa, de Max Gallo, são vendidos separadamente ou em uma caixa especial em dois formatos: convencional e pocket.

O dia em que a França moderna teve início

Paris, 21 de janeiro de 1793: na manhã gelada deste dia, Luís XVI sobe ao cadafalso para ser guilhotinado. Seu corpo, cortado em dois, vai separar o corpo do rei do corpo da nação. Ou seja, o rei não morreria pela vontade do povo, mas a recém proclamada República ainda era frágil e era preciso “matar” a monarquia que o bom e exitante Luís XVI representava.

“Eu morro inocente de todos os crimes que me imputam. Perdoo os autores de minha morte. Rogo a Deus que o sangue que vocês derramarão jamais recaia sobre a França”, pronunciou o monarca ao receber sua sentença.

Aos 16 anos, Luís XVI se casou com Maria Antonieta. Aos 20 foi coroado rei da França. Tinha 35 quando eclodiu a Revolução Francesa e apenas 39 ao ser decapitado. Luís XVI certamente não nasceu para o papel de rei que o destino lhe impôs como bem conta a biografia escrita por Bernard Vincent e publicada pela Coleção L&PM Pocket.

“Ao cortar a cabeça do supliciado, o carrasco, que talvez não medisse todo o alcance histórico de seu gesto, não apenas guilhotinaria Luís XVI ou a monarquia: ele também guilhotinaria, de certa maneira, a história da França. Pois parece legítimo pensar que houve, a partir desse dia, um antes e um depois, e que foi nesse 21 de janeiro de 1793 que iniciou, dessa vez para sempre, o Ano I da França moderna.” (Trecho de Luís XVI, de Bernard Vincent)

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Uma excelente biografia para quem quer saber mais sobre a história da França

 

O dia depois da queda de Bastilha

Na madrugada da quarta-feira, 15 de julho [de 1789], o grão-mestre do Guarda- Roupa o acorda, e cada palavra pronunciada pelo duque de La Rochefoucauld-Liancourt dolorosamente arranca Luís XVI de sua protetora sonolência.

A Bastilha tombara. Cabeças haviam sido desfiladas na ponta de lanças aos gritos de canibais.

– É uma revolta – balbucia Luís XVI numa voz surda.

– Não, Sire, é uma revolução.

Luís tem a impressão de que jamais conseguirá erguer seu corpo.

Levanta-se lentamente.

Precisa se mexer, agir.

Precisa comparecer à Assembleia, repetir que tomara a decisão de afastar as tropas de Paris e de Versalhes.

– Conto com o amor e a fidelidade de meus súditos – diz Luís.

(…)

A multidão acorre, grita:

– Viva o rei!

Luís se tranquiliza, apesar das advertências da rainha e do conde de Artois. É preciso, dizem eles, apagar com uma vitória e um castigo exemplar a revolta de Paris, a tomada da Bastilha, a matança selvagem que se seguira.

É preciso impor, em todo reino, a autoridade do rei.

(Trecho de Revolução Francesa, Vol. I – O povo e o rei (1774 – 1793), de Max Gallo)

Pintura mostra o rei Luís XVI, a rainha, Maria Antonieta, e seus filhos, na fuga de Varenne que aconteceu em 1791

Pintura mostra o rei Luís XVI, a rainha, Maria Antonieta, e seus filhos, na fuga de Varenne que aconteceu em 1791

 

Como diria Humphrey Bogart…

Por Ivan Pinheiro Machado

Sempre teremos Paris – 1

Tanto o maravilhoso livro “Paris: biografia de uma cidade” de Colin Jones (L&PM, 2004), como “Paris: uma história”, da Série Encyclopaedia (Coleção L&PM Pocket) de Yvan Combeau, apontam as origens da cidade de Paris para mais de três séculos A.C. quando a tribo celta Parisii estabeleceu-se nas margens do Sena, próximo ao que hoje conhecemos com Ilê de la Cité. Onde, aliás, está a Polícia Judiciária, local de trabalho do nosso querido Comissário Maigret.  Passou a ser Lutécia, quando o imperador romano Julio César derrotou o gaulês Vercintorix. O nome Paris foi consagrado no século III, sob o Império Romano. Em 451, sofreu o assédio dos bárbaros, chefiados por Átila, que desorganizou a geopolítica da Europa.  Recuperou-se, seguiu sendo uma cidade romana, até que, em 481, Clóvis I assumiu o poder, depois de derrotar o último exército romano. De lá para cá, Paris criou uma mitologia apoiada numa longa e fascinante história. E entre centenas de odisseias, foi palco da Revolução Francesa de 1789. A revolução que mudou o mundo. A partir dela, o ocidente começou a sair das sombras do autoritarismo, do feudalismo e sob as divisas generosas de “liberdade, igualdade e fraternidade” contaminou os continentes com seu humanismo radical. Max Gallo, consagrado escritor e historiador francês escreveu o belo “Revolução Francesa” dividido em dois volumes (“O povo e o rei” e “ Às armas cidadãos!”). Lançado na França em 2006, este livro obteve enorme êxito de público, atingindo o topo das listas dos best-sellers, pois pela primeira vez a história da “Revolução” foi contada com agilidade de uma reportagem e a emoção de um romance. Em setembro, a L&PM  lançou a versão pocket deste extraordinário trabalho de Max Gallo.

Sempre teremos Paris – 2

A mitologia que envolve a cidade vem sendo cuidadosamente aquecida através dos séculos. Nem Henrique IV, protestante, ao assumir o trono de Paris, em 1593, resistiu aos encantos da cidade. Constrangido por motivos políticos em converter-se ao catolicismo, disse a célebre frase: “Paris vaut bien une messe” (Paris vale uma missa). Modernamente, a cidade foi beneficiada por duas leis fundamentais para sua imortalidade. A primeira fez 50 anos, a Lei Malraux de1962 que regula a conservação definitiva dos prédios antigos históricos ou não, fixando vantagens fiscais para a sua restauração. A segunda lei, de 1968, também de André Malraux, no tempo em que foi ministro de De Gaule, prioriza o pagamento do imposto de transmissão de herança – no caso de espólios de grandes artistas ou colecionadores – em obras de arte cedidas em uso fruto ao governo e aos “Museus Franceses”. Graças a esta lei é que existe o Museu Picasso, com centenas de obras do mestre e milhares de doações de telas dos maiores pintores da história para os grandes museus da França. Nesta mesma linha, de cultuar e preservar o seu passado, é uma tradição da cidade registrar com placas nas ruas o endereço de grandes homens ou de grandes feitos, assim como homenagear os seus heróis que “caíram em defesa da França” durante a  segunda Grande Guerra. Veja abaixo alguns exemplos, como o prédio em que Picasso pintou Guernica, uma das obras de arte mais célebres de todos os tempos e que por coincidência serviu também de cenário para uma das obras mais famosas de Balzac, publicadas na Coleção 64 Páginas”: “A obra-prima ignorada”.

 

Sempre teremos Paris – 3

Uma cidade como Paris, com uma história conhecida há bem mais de 2 mil anos, tem muitas e muitas tradições,  lendas e superstições que vão nascendo e se realimentando através do tempo. Há uma (que já registramos neste blog) que é muito recente, não tem 10 anos. A tela de arame que serve de murada na Pont des Arts (uma das pontes sobre o rio Sena, só para pedestres) está abarrotada de cadeados como você pode ver na foto abaixo. A outra foto é da década de 90, que mostra como era a ponte antes. Sabe-se lá de onde veio, mas esta é uma das (poucas) fórmulas do amor eterno; você compra um cadeado, escreve o seu nome e o do seu amor (de preferência dentro de um coração), fecha este cadeado na tela da Pont des Arts em Paris, joga a chave no Sena e… pronto. Este amor será para sempre.

A Pont des Arts hoje, repleta de cadeados

A Pont des Arts no início dos anos 90. À esquerda, Ivan Pinheiro Machado. No centro, Laís Pinheiro Machado. À direita, Eduardo Bueno

Sempre teremos Paris – 4

Talvez o dia 25 de agosto de 1944 seja a segunda maior data da França. Foi neste dia que as brigadas irregulares, as forças da Resistência Francesa, a guarnição França Livre mais as Forças Francesas do Interior, apoiadas pela 4ª. Divisão de Infantaria do Exército dos Estados Unidos, entraram definitivamente em Paris para expulsar as forças nazistas que ainda lá se mantinham. Há muitas histórias que cercam este dia mágico. Uma das mais saborosas está contada no livro de Dan Frank “Minuit – Les aventuriers de l’art moderne (1940-1944)” e revela bem o clima daquele dia. Algumas tropas de combatentes não alinhados tinham se antecipado aos exércitos regulares que invadiram Paris. O escritor Ernest Hemingway e o também escritor André Malraux eram veteranos da Guerra Civil Espanhola, onde tinham lutado nas brigadas internacionais ao lado dos republicanos contra o ditador fascista, o generalíssimo Francisco Franco. Ambos estiveram presentes na tomada de Paris. Esta é a história que encerra o livro:

“Malraux e seus “maquis” encontram Hemingway e seu grupo de “resistentes” armados no dia da libertação. Eles estão bebendo no bar do Hotel Ritz depois de expulsarem os últimos alemães, requisitarem suítes e colocar os “guerrilheiros” para descansar. Neste mesmo momento, o General De Gaule, as forças da França Livre mais os americanos recém cruzavam as fronteiras da cidade. Ambos estão bêbados. Malraux vê Hemingway e exclama:

– Ernest!
Eles não se vêem desde a Guerra da Espanha.
– De onde você vem?
– De longe. Strasburgo… E você?
– Eu estava em Rambouillet – responde Hemingway.
– Você está só?
– Não, eu tenho uma pequena tropa. E mostra três “maquis” que dormem nos sofás do bar.
Malraux sorri e pergunta:
– Quantos homens você comandou nesta guerra?
Hemingway pensa, faz um pequeno cálculo e diz:
– Às vezes dez, às vezes duzentos. E você?
– Eu? O coronel pensa e diz – dois mil homens.
– Pena que não nos encontramos antes, replica Hemingway, se levantando.
Ele boceja, se espreguiça e se volta para o chefe da legendária brigada Alsacia-Lorena:
– Se você estivesse conosco teríamos tomado esta cidadezinha há muito tempo…
– Que cidadezinha? Pergunta Malraux.
– Paris!

Hemingway em 1944

A maior de todas as revoluções contada como uma grande aventura humana

“A febre revolucionária é uma doença terrível (Nicolas Ruault)

Max Gallo conseguiu uma proeza em 2009. Colocar seu livro Revolução Francesa, divido em dois volumes, “O povo e o rei” e “Às armas, cidadãos”, em primeiro lugar na lista dos bestsellers parisienses, disputando posições com Stephenie Meyer (Eclipse), J. K. Rowling (Harry Potter), William Young (A Cabana) e, ça va sans dire, Amelie Nothomb, Paulo Coelho e outros blockbusters franceses e internacionais.

Foram milhares os livros escritos  sobre a grande revolução que mudou o mundo. Por que, de repente, esta história que foi contada exaustivamente durante mais de 200 anos volta às paradas de sucesso?

Porque Revolução Francesa de Max Gallo é um livro excepcional.

Ele consegue de forma mágica transformar um evento histórico numa grande saga humana. Os personagens têm sangue nas veias. Como num romance ele faz com que o leitor viva o drama das ideias e das paixões em conflito. O heroísmo e a traição. A busca por  liberdade a qualquer preço.

A nobreza e o rei Luis XVI de um lado, e do outro os libertários Robespierre, conhecido como o “Incorruptível”, Marat, Danton e dezenas de deputados radicais que implantam o regime do “Terror”. Primeiro, eles mandam o rei, a rainha Maria Antonieta e milhares de monarquistas para a guilhotina. Um ano depois, são eles que têm suas cabeças cortadas no frenético processo político que culminou no fim da monarquia e na Proclamação da República. Este processo alucinante durou 10 anos e termina seu ciclo com a chegada de Napoleão como protagonista da cena política francesa.

Revolução Francesa de Max Gallo descreve a emoção, o perigo, o tumulto, o choque e o drama que circulavam pelas ruas de Paris a partir da tomada da Bastilha em 1789. É uma versão surpreendente do maior acontecimento da Idade Moderna, definidor do mundo atual. Preciso do ponto de vista histórico, ágil como uma reportagem e emocionante como um romance. (Ivan Pinheiro Machado)

* A Série “Relembrando um grande livro” estreia hoje no Blog L&PM e toda semana trará um texto assinado em que grandes livros são (re)lembrados. Livros imperdíveis e inesquecíveis.

Eles estão prestes a virar pocket

Lançados originalmente em formato convencional pela L&PM, muitos livros ganham vida nova quando são relançados em pocket. Isso porque, neste novo formato, eles ficam disponíveis nos milhares de expositores que a editora mantém em todos os cantos do país; seja nas bancas de jornais do Chuí, na rede de farmácia Big Bem em Belém do Pará, na Livraria Saraiva do Shopping Manauara em Manaus, passando pelas praias de Natal no Rio Grande do Norte e chegando a dezenas de bancas na Avenida Paulista em São Paulo. Muito mais baratas, as edições da coleção L&PM POCKET, a maior coleção de livros de bolso do Brasil, estão literalmente em todos os cantos do país, com um acabamento industrial impecável e com preços que correspondem, no mínimo, a metade do que custariam em uma edição convencional. Veja abaixo o que vem por aí, livros que recentemente foram sucesso de livraria e que, ainda este ano, estarão disponíveis em edições econômicas e bem cuidadas:

Simon’s Cat: as aventuras de um gato travesso e comilão (vol. 1 e 2) – Simon Tofield

Só as mulheres e as baratas sobreviverão Claudia Tajes

Revolução Francesa (vol 1 e vol 2) – Max Gallo

Diários de Jack Kerouac – 1947-1954

As melhores histórias da mitologia egípcia – A. S. Franchini

As melhores lendas medievais – A. S. Franchini e Carmen Seganfredo

Pedaços de um caderno manchado de vinho – Charles Bukowski

A camareira – Markus Orths

Espelhos – Eduardo Galeano

Surdo mundo – David Lodge

Todos os contos de Maigret (vol. 1 e 2) – Georges Simenon

A ferro e fogo 1: Tempo de solidão Josué Guimarães

A ferro e fogo 2: Tempo de guerra Josué Guimarães

Luís XVI no trono da França

Ele ainda nem havia completado 20 anos quando, no dia 10 de maio de 1774, foi coroado soberano absoluto da França. Luís XVI, marido de Maria Antonieta, não tornou-se tão grandioso quanto seu avô, Luís XV, mas entrou para a história como o monarca que perdeu a cabeça para a Revolução Francesa.

O corpo do rei não passa de uma carapaça de feridas endurecidas que o recobrem por inteiro, inclusive suas pálpebras, e dão a seu rosto acobreado, quase enegrecido, o aspecto de uma “cara de mouro”. Luís XV expirou no dia seguinte, 10 de maio, por volta das dezesseis horas, depois de uma noite de sufocamentos e estertores. (…) Luís Augusto e Maria Antonieta, que estavam refugiados na outra ponta do castelo, souberam da morte do rei pela boca do mestre de cerimônias. Assim que o óbito foi anunciado, o delfim “soltou um grande grito”, mas não teve tempo de cair em lágrimas, pois ao mesmo tempo espalhou-se pelo castelo “um ruído terrível e absolutamente semelhante ao do trovão”: era a turba de cortesãos que, depois de desertar a antecâmera do soberano falecido, vinha com toda a pressa saudar o novo mestre da França. A condessa de Noailles foi a primeira a lhe conferir o título de Majestade. Abatido de tristeza, mas comovido, ou constrangido, por tanta solicitude, o novo rei não pode evitar dizer num suspiro: “Que fardo! E não me ensinaram nada” Parece que o universo vai cair sobre mim!”  (Trecho de Luís XVI – Série Biografias L&PM)

Na ausência de um soberano enérgico, as rédeas do poder flutuam. Nascido em 1754, vítima de uma educação desastradamente fenelonista para um futuro rei, o neto de Luís XV carece cruelmente de vontade e de autoconfiança. Benevolente, generoso, de uma piedade exemplar, preocupado em fazer tudo de forma correta, sobe ao trono a contragosto em 1774, com 19 anos. Passado o primeiro entusiasmo, causa decepção. Suas aspirações ao mesmo tempo conservadoras e progressistas se traduzem por constantes oscilações entre firmeza e fraqueza, o que encoraja intrigas no seio do ambiente político do qual sofre a influência e padece com as mesquinharias. (Trecho de Revolução Francesa – Série Encyclopaedia L&PM) 

Ele era o rei da França, 16º com o nome de Luís, herdeiro de uma linhagem que há mais de dez séculos edificara e governara o reino da flor-de-lis e que, pela graça de Deus, tornara-o um dos mais poderoso do mundo. Seus reis eram de direito divino; a França era a filha mais velha da Igreja, e um Luís, o IX, morto em uma cruzada, se tornara São Luís. No entanto, naquela manhã de segunda-feira, 21 de setembro de 1792, enquanto um nevoeiro gelado paralisa Paris e abafa o rufar dos tambores que batem sem interrupção, Luís XVI é apenas Luís Capeto, ex-rei da França, ex-rei dos franceses. Seu corpo será cortado em dois, e assim será separado o corpo do rei do da nação. (Trecho de Revolução Francesa Vol. I – O povo e o rei, de Max Gallo)

 

No dia de hoje, morria o General Napoleão Bonaparte

Em 15 de outubro de 1815, Napoleão Bonaparte, derrotado em Waterloo, traído pelos franceses e pelos ingleses chegou à ilha de Santa Helena para morrer. Esta pequena possessão inglesa fora escolhida para ser o castigo e a prisão do grande Imperador. A volta do primeiro exílio em Elba fora uma lição sobre a capacidade de retornar do General. Ele então foi condenado ao desterro em um lugar improvável, uma ilha infernalmente tórrida, perdida no meio do Oceano Atlântico. O carcereiro, Sir Hudson Lowe, foi o homem encarregado de policiar, vigiar e humilhar Napoleão Bonaparte até sua morte. Foram seis anos deste martírio. Há 190 anos, em 5 de maio de 1821, o Imperador (como era chamado pelos franceses) morria naquele inferno úmido e quente, corroído pela amargura e pelo câncer (embora haja a versão não oficial de que foi envenenado com arsênico lentamente pelos ingleses).

Napoleão Bonaparte nasceu em Ajaccio, capital da Córcega, em 15 de agosto de 1869. Desenvolveu sua carreira militar justamente no período da Revolução Francesa. Aos 19 anos já era tenente de artilharia do Grande Exército francês. Aos 27 anos, em 1896 , tornou-se general de exército, quando iniciou sua fulminante ascensão. A luminosa inteligência, a vasta cultura e o enorme carisma fizeram do modesto e pequeno corso um dos personagens mais importantes, intrigantes e impressionantes da história. Muito jovem, atingiu a celebridade comandando as tropas francesas em triunfos lendários como as batalhas de Rivoli e Arcole, na Itália, Austerlitz e Marengo contra o exército austríaco. Com o golpe de 18 Brumário, ano 10, segundo o calendário da Revolução Francesa (9 de novembro de 1799, segundo o calendário tradicional), tornou-se o principal cônsul de um triunvirato que governaria a França. Sua chegada ao poder é favorecida pelos enormes problemas da época. De um lado, a França abalada pela corrupção e a desordem, por outro lado a opinião pública indignada com os políticos. Eficiente, estabilizou politicamente o país, acabou com a corrupção, deu melhores condições de vida ao povo e, em 1804, foi proclamado Imperador. Tinha 35 anos. Contraditório, brilhante, ambicioso, a verdade é que Napoleão Bonaparte deixou a sua marca na França, na Europa e no mundo. Modernizou a administração estatal, acabou com a excessiva influência da igreja, com o feudalismo, impedindo o retorno das velhas práticas anteriores à Revolução Francesa. Resumindo, Napoleão tornou-se Imperador, mas não abdicou dos princípios básicos da revolução.

Na sua agonia, lamentava: “Porque não morri antes? Tantas e tantas vezes desafiei de peito aberto as balas dos mosquetões e dos canhões”. Compreensível este amargo desabafo. O homem que se tornara lenda em vida, admirado pela bravura temerária, amado pelos seus soldados e pelo seu povo, acabou seus dias sob a tutela de um mesquinho carcereiro inglês, num cruel desterro, no meio do nada, distante dois mil quilômetros da civilização. (Ivan Pinheiro Machado)

Leia mais no livro Revolução Francesa, de Max Gallo, ou no volume da Série Encyclopaedia sobre o assunto.

Uma ode à Liberdade

Liberdade de pensamento, de imprensa, de expressão. Liberdade pra correr, pra despir, pra cantar. Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. No Dia Mundial da Liberdade, – escolhido 14 de julho porque nesse dia de 1789 a França mostrou como se fazia para liberar geral – nós propomos que você liberte-se dos grilhões, dos complexos, dos preconceitos, das amarras, das pequenas culpas nossas de cada dia. Ok, não precisa inventar de derrubar a Bastilha novamente, mas quem sabe sair leve e solto por aí, somente com um livro no bolso, não seja uma forma de sentir a liberdade na pele? Freedom!  

E já que o assunto é liberdade, aí vão duas opções de leitura da Coleção L&PM POCKET que têm liberdade até no título:
Liberdade, liberdade, de Millôr Fernandes e Flávio Rangel
Liberdade de imprensa, de Karl Marx

Em 6 de maio de 1754, vinha ao mundo o “incorruptível” Robespierre

Maximilien Robespierre nasceu no dia 6 de maio de 1754 e morreu em 28 de julho de 1798. Foi, juntamente com Danton (1756-1794) e Marat (1743-1793), uma das figuras que personificaram a Revolução Francesa no seu lado mais radical. Robespierre foi a principal cabeça do golpe de 31 de maio de 1793 que suspendeu as garantias individuais e instituiu os julgamentos sumários para os suspeitos de serem contrarrevolucionários. Este período ficou célebre como “Terror” e durou quase um ano. Terminou no dia 24 de julho exatamente com a prisão de Robespierre. Ironicamente, ele foi guilhotinado quatro dias depois de um julgamento sumário, exatamente nos termos que havia instituído. Foi o último dos radicais a morrer no processo de autodestruição de líderes que a revolução sofreu na sua política interna – uns foram provocando a morte dos outros, com exceção de Marat, que foi apunhalado quando estava na banheira.

Maximilien foi advogado, pensador e dedicou sua vida à causa da revolução. Era místico e acreditava na influência de um “ser supremo”. Sua austeridade e dureza na condução dos negócios de estado lhe renderam o epíteto de “O incorruptível”. Sua morte simboliza o fim do período do “Terror”, quando a sociedade francesa já não suportava mais o macabro espetáculo diário da guilhotina ensanguentando a Place de la Revolution, que a partir da morte de Robespierre passou a chamar-se Place de la Concorde.