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Encontrei o Leonardo!

Por Paula Taitelbaum*

Enquanto leio o primoroso Roubaram a Mona Lisa! de R. A. Scotti (você não leu? Tá esperando o quê?) descubro, além de um livro muitíssimo bem escrito – sobre o verídico roubo do quadro mais famoso do mundo em 1911 – que alguns personagens das belas artes mundiais possuem um lado que eu desconhecia. Primeiro, deparei com um Picasso que envolvia-se com freqüência em furtos de obras de arte: “No final da audiência, Picasso, que havia comprado as peças roubadas, foi liberado depois de assumir o ato e ser alertado para que não saísse de Paris”. Depois, fiquei sabendo que Leonardo da Vinci arrasava os corações de Florença com um rosto que tinha uma beleza “fora do comum”. Para mim, a imagem que surgia ao ouvir falar do mestre da Vinci era a de um velho homem de nariz adunco, muitas rugas e vasta cabeleira – e não a figura do titã de cabelos louros e encaracolados que lhe caiam sobre os ombros despertando suspiros nas donzelas. Confesso que duvidei. E por isso fui ao Google procurar algo que pudesse atestar a beleza do pai da Mona Lisa. O que encontrei foi o vídeo produzido pelo TED – Ideas worth spreading. É uma micro palestra do artista Siegfried Woldhek sobre o verdadeiro rosto de Leonardo da Vinci. Muito bom!

Este texto foi originalmente publicado em março de 2010, mas como considero esse livro e esse vídeo imperdíveis, decidi postá-lo novamente.

Paula é jornalista, escritora e coordenadora do Núcleo de Comunicação L&PM

Elogio da velhice

Por Luiz Antonio de Assis Brasil

O insuperável texto a respeito é o De Senectute (A Velhice, às vezes traduzido como Saber Envelhecer), de Cícero. O pensador usa um método: apresenta argumentos contra a velhice e depois os rebate. De Senectute não pretende consolar: Cícero nada vê de mau na velhice.

Vamos sumariamente aos argumentos e aos contra-argumentos.
Primeiro: a velhice nos afasta da vida ativa. Qual vida? A natureza dota cada idade de vidas próprias, com seus próprios ritmos de atividade.
Segundo: a velhice não tem forças; sim, mas ninguém exige dela ser forte! Mesmo ao suposto enfraquecimento da memória, Cícero tem resposta espantosa: diz ele que jamais viu um velho esquecer-se do lugar onde escondeu seu dinheiro: quo thesaurum obruisset. Ainda dentro deste item, diz-se que os velhos são rabujentos: difficiles. Nada disso. São rabugentos porque sempre o foram, desde a juventude; os outros é que não se aperceberam disso.
Terceiro: a velhice nos priva dos melhores prazeres. Os melhores prazeres, entretanto, mudam com a idade. Um velho terá imenso prazer nas antigas amizades, no bom vinho, no paladar pausado, na reflexão, na arte e na cultura e os desfrutará com muito mais volúpia que o jovem, pois tem mais vagares e compreensão das coisas. Além disso -vejam o bom-humor de Cícero – não se sofre por ser privado daquilo de que não se tem saudades: quod non desideres.
Quarto: a velhice nos aproxima da morte. Certo, se pensarmos apenas na cronologia; entretanto, os mais propensos a morrer cedo são os jovens, por sua afoiteza e pelo caráter devastador das doenças juvenis; ademais, não há razão para temer a morte: se houver uma vida futura post mortem, ótimo; se não houver, nunca o saberemos, aut nullus est. O autor crê na imortalidade da alma, mas prefere ficar em sua argumentação terrena.
Conclusão de Cícero: os velhos não devem nem se apegar nem renunciar sem razão à vida. Para isso é preciso ser sábio e a sabedoria é coisa natural na velhice.
Leia De Senectute. Lá está tudo isso, e melhor. Se você não lê latim, há boas traduções. Se for jovem, rirá muito; se for velho, ficará feliz – o que é muitíssimo diferente.

Texto publicado no jornal Zero Hora