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Jornal Zero Hora, Segundo Caderno – 02/12/2013 – Por Alexandre Lucchese

Acervo digital do escritor Moacyr Scliar será disponibilizado ao público em 2014.

– Moacyr escrevia muito, e escrevia rápido – conta Judith Scliar, viúva de um dos escritores mais prolíficos do Rio Grande do Sul. Originais e recordações que remontam aos escritos de Moacyr Scliar (1937 – 2011) ao longo da vida estarão em breve acessíveis a todos pela internet.

Mais de 8,6 mil páginas de manuscritos e datiloscritos do escritor que estão sob os cuidados da PUCRS, boa parte deles doados por Judith, estão em processo de digitalização pelo Espaço de Documentação e Memória Cultural (Delfos), pertencente à instituição.

Entre manuscritos e textos enviados para editoras, o acervo congrega originais do primeiro ao último romance de Scliar.

– Temos aqui a primeira composição de A Guerra do Bom Fim, de 1972, e anotações difíceis de estimar com precisão, mas que provavelmente são de um período entre 1962 a 1968 – explica a professora Marie-Hélène Passos, responsável pela organização do acervo.

A maior parte desse material digitalizado estará disponível para livre acesso a partir do início de 2014. A única restrição feita por parte da família são os textos inéditos que aparecem na coleção.

– Acredito que, se o Moacyr não quis publicar este material, foi por algum bom motivo. Não pretendemos deixá-lo público no acervo nem editá-lo em livros – diz Judith.

Além disso, enfatiza, os volumes não publicados têm ideias e trechos melhor trabalhados em outros romances e contos lançados no mercado editorial.

Especialista em crítica genética, campo de pesquisa que trata das marcas deixadas por autores em processo criativo, Marie-Hélène esclarece que a disponibilidade do acervo possibilita maior compreensão de como Scliar praticava a escrita:

– Quando você vê esse material, se dá conta de que ele passava o tempo todo escrevendo, era tão natural como respirar.

Bilhetes de aeroporto, recibos de postos de gasolina, folhas pautadas, blocos de nota: qualquer papel servia como suporte para grafar o que vinha da imaginação do autor. A variedade de materiais do acervo impressiona quem o manuseia, demonstrando que escrever era mesmo uma constante.

O processo de arquivamento virtual e publicação iniciado com os textos de Scliar vai ser também aplicado a outros acervos do Delfos. Regina Kohlrausch, diretora da Letras da PUCRS, esclarece que o autor foi escolhido por conta de sua importância e pela boa relação da instituição com a família:

– Uma parte deste material já tinha sido doado pelo próprio Scliar em 2005, depois Judith complementou o acervo. Os herdeiros são muitos acessíveis e colaborativos com o que estamos fazendo.

Judith conta que ainda pretende lançar um site com booktrailers do autor e textos analíticos de sua obra. A busca é pela preservação da memória do escritor:

– Estamos preparando este espaço, que irá centralizar conteúdos e terá link para os trabalhos acessíveis pelo Delfos.

Destaques do acervo

– A organização estima em torno de 8,6 mil páginas de acervo.

– Páginas datilografadas são povoadas de secções e emendas com trechos, revelando método de trabalho do autor.

– Bilhetes de viagem e recibos de posto de gasolina fazem parte das colagens que compõem os originais.

– Cada romance tem cerca de quatro ou cinco versões.

– O manuscrito mais antigo do acervo é A Guerra do Bom Fim, de 1972, mas estima-se que há papéis anteriores a 1968. Ainda este mês, a L&PM Editores lança este livro em formato convencional e capa dura.