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O início do grupo punk Sex Pistols

Foi em 6 de novembro de 1975, na St. Martin’s, em Londres, que uma banda chocou a plateia – composta principalmente por estudantes – com seu comportamento enlouquecido. Este foi o primeiro show do Sex Pistols, grupo formado originalmente pelo vocalista Johnny Rotten, o guitarrista Steve Jones, o baterista Paul Cook e o baixista Glen Matlock.

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Desde o início, o Sex Pistols enlouquecia sua plateia

Não tardaria muito para o movimento punk – que plantara suas raízes nos EUA em 1972 com os Ramones – mobilizar a juventude inglesa e influenciar o comportamento, a moda, o cinema, as artes gráficas e, claro, a indústria fonográfica até explodir com força total nos becos londrinos em 1976.

Sid Vicious, que em 1977 substituiu Matlock nos Sex Pistols, viria a se tornar o mártir do movimento – ele morreu de overdose de heroína em 2 de fevereiro de 1979, em Nova York, dias depois de matar a namorada, Nancy Spungen.

O livro Mate-me por favor (Please Kill me) conta a história sem censura do punk com depoimentos de grande parte dos sobreviventes que participaram do início, meio e fim deste movimento (que talvez nem tenha acabado ainda).

Leia o início do capítulo 26:

“Inglaterra tramando”

Bob Gruen: (…) Havia todos aqueles garotos por lá, usando roupas esquisitas e começando a cortar o cabelo daquele jeito espetado esquisito. Uma banda tinha se formado naquela cena, os Sex Pistols. Eles entraram no clube e ficaram fazendo pose, ridículos – como se fossem grandes estrelas. Todos os garotos ficaram parados por lá tipo: “Ooh, são eles, eles são o máximo.” Os Sex Pistols eram o centro total das atenções desse grupo de garotos que incluía Joe Strummer, Mick Jones, Billy Idol, Adam Ant e Siouxsie Sioux. Todos diziam: “Quem me dera ter uma banda.” Então eu disse “Façam uma. Não parece ser muito difícil.” Sabe como é: “Esperto demais pra escola e burro demais pra arranjar um emprego.”

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A L&PM publica Mate-me por favor em diferentes formatos. Veja aqui.

Lou Reed por Patti Smith

No domingo de manhã, me levantei cedo. Tinha decidido na noite anterior ir para o mar, então coloquei um livro e uma garrafa de água dentro de um saco e peguei a estrada para Rockaway Beach. Parecia uma data significativa, mas não consegui conjurar nada específico. A praia estava vazia e, com a proximidade do aniversário do furacão Sandy, o mar calmo parecia encarnar a verdade contraditória da natureza. Fiquei lá por um tempo, acompanhando o caminho de um avião que voava baixo, quando então recebi uma mensagem de texto de minha filha, Jesse. Lou Reed estava morto. Vacilei e respirei fundo. Eu o tinha visto recentemente com sua esposa, Laurie, e senti que ele estava doente. Um cansaço sombreava seu brilho habitual. Quando Lou se despediu, seus olhos escuros pareciam conter uma tristeza infinita e benevolente.

Conheci Lou no Max’s Kansas City em 1970. O “The Velvet Underground” fazia duas apresentações por noite ali, ao longo de várias semanas naquele verão. O crítico e estudioso Donald Lyons estava impressionado com o fato de eu nunca tê-los visto, e ele me levou lá em cima para a segunda apresentação da primeira noite. Adoro dançar, e você podia dançar por horas com a música do “The Velvet Underground”. Uma onda dissonante de “doo-wop” que permite que você se mexa muito rápido ou muito lentamente. Foi a minha introdução tardia e reveladora a “Sister Ray”.

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Patti Smith e Lou Reed no início dos anos 70

Alguns anos depois, na mesma peça no andar de cima do Max’s, Lenny Kaye, Richard Sohl e eu apresentamos nossa própria “land of a thousand dances”. Lou costumava parar para ver o que estávamos fazendo. Um homem complicado, ele encorajava nossos esforços, mas depois mudava e me provocava como um garotinho maquiavélico. Eu tentava desviar dele, mas, felino, ele reaparecia de repente e me desarmava com alguma citação de Delmore Schwartz sobre amor ou coragem. Eu não entendia seu comportamento errático ou a intensidade dos seus humores, que variavam, assim como seus padrões de fala, de rápidos a lacônicos. Mas eu entendia sua devoção à poesia e a qualidade arrebatadora de suas performances.

Ele tinha olhos pretos, camiseta preta, pele branca. Ele era curioso, às vezes suspeito, um leitor voraz, e um explorador sonoro. Um obscuro pedal de guitarra era, para ele, um outro tipo de poema. Ele era a nossa ligação com o ar infame da Factory. Ele tinha feito Edie Sedgwick dançar. Andy Warhol sussurrou em seu ouvido. Lou trouxe a sensibilidade da arte e da literatura para sua música. Ele era o poeta novaiorquino da nossa geração, defendendo os desajustados como Whitman tinha defendido seus trabalhadores e Lorca seus perseguidos.

Como minha banda trabalhou suas canções, Lou nos concedeu suas bênçãos. Perto do final da década de setenta, eu estava me preparando para deixar Nova York rumo a Detroit, quando cruzei com ele no elevador no antigo Gramercy Park Hotel. Eu estava carregando um livro de poemas de Rupert Brooke. Ele pegou o livro da minha mão e nós olhamos juntos para a fotografia do poeta. Tão lindo, disse ele, tão triste. Foi um momento de completa paz.

Patti Smith e Lou Reed nos anos 2000

Patti Smith e Lou Reed nos anos 2000

Enquanto a notícia da morte de Lou se espalhava, uma sensação ondulante se instalava, então explodiu, enchendo a atmosfera com uma energia vibrante. Dezenas de mensagens chegaram até mim. Uma chamada de Sam Shepard, que dirigia um caminhão por Kentucky. Um fotógrafo japonês desconhecido me mandou uma mensagem direto de Tokyo: “Eu estou chorando”.

Como meu luto estava no mar, duas imagens me vieram à mente, marcas d’água num papel – céu colorido. O primeiro era o rosto de sua esposa, Laurie. Ela era o seu espelho; em seus olhos, você pode ver a sua bondade, a sinceridade e a empatia. O segundo foi o “great big clipper ship”, que ele desejava embarcar, da letra de sua obra-prima, “Heroin”. Eu imaginava que isso estava à sua espera sob a constelação formada pelas almas dos poetas, da qual ele tanto desejava participar. Antes de dormir, eu procurei o significado da data – 27 de outubro – e descobri que era o aniversário de Dylan Thomas e Sylvia Plath. Lou tinha escolhido “the perfect day” para zarpar – o dia dos poetas, “Sunday morning, the world behind him”.

O texto acima, escrito por Patti Smith, foi originalmente publicado na New Yorker.

Patti Smith e Lou Reed são personagens do livro Mate-me por favor – a história sem censura do punk.

Lou Reed (1942-2013)

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Lou Reed: Estou completamente sozinho. Ninguém pra conversar. Dá uma chegada aqui, daí posso falar com você… Há um tempão a gente tocava junto num apartamento de trinta dólares por mês e não tinha grana pra nada; comia mingau de aveia todo o dia e vendia sangue, entre outras coisas, ou posava praqueles tabloides semanais baratos. Quando posei pra eles, minha foto saiu dizendo que eu era um maníaco sexual assassino que tinha matado quatorze crianças e gravado tudo, e que rodava aquelas fitas num celeiro no Kansas à meia-noite. E quando a foto de John Cale saiu no tabloide, dizia que ele tinha matado o amante porque o cara ia casar com a irmã dele, e ele não queria ver a irmã casada com um veado. (Trecho inicial do livro Mate-me por favor (Please kill me) – A história sem censura do punk, por Legs McNeal e Gillan McCain.

O domingo, 27 de outubro de 2013, foi marcado pela morte de Lou Reed. Aos 71 anos, o guitarrista e compositor norte-americano, ex líder da banda The Velvet Underground, faleceu em decorrência de complicação de um transplante de fígado que havia realizado em maio deste ano.

Lewis Allan Reed nasceu no dia 2 de Março de 1942 no bairro do Brooklyn em Nova York. De família  judaica, aprendeu a tocar guitarra ouvindo rádio ainda na década de 1950 quando estava no colegial. Foi nessa época que ele sofreu uma de suas experiência mais traumáticas e que seria tema de canções ao longo de sua carreira: bissexual assumido, seus pais o submeteram a um tratamento de choque para tentar supostamente curá-lo.

Da amizade de Lou Reed com o músico galês John Cale nasceria uma das bandas mais importantes para a origem do punk rock nos Estados Unidos: o The Velvet Underground que contava ainda com o guitarrista Sterling Morrison e a baterista Maureen Tucker. O grupo chamou a atenção do artista plástico Andy Warhol que quase imediatamente colocou o The Velvet Underground como uma das atrações do  Exploding Plastic Inevitable, uma série de eventos multimídia organizados por ele. O contato com Warhol deu novas dimensões à criatividade de Reed que começou cada vez mais mostrar um perfil artístico multifacetado. A relação, entretanto, nem sempre foi harmônica: para o disco de estreia, Warhol insistiu que a banda gravasse com a ex-modelo alemã e cantora Nico. Para expressar sua objeção a banda batizou o disco de The Velvet Underground & Nico, mostrando que a vocalista era apenas uma convidada.

Apesar da resistência, Reed escreveu a maioria das canções do álbum pensando na voz de Nico e os dois chegaram a ter um breve relacionamento amoroso (mais tarde ela teria um outro pequeno affair com Cale). O famoso disco apresentou uma obra de Warhol na capa, a célebre banana.  

Depois de deixar o The Velvet, Reed se dedicou à carreira solo. Desde 2008 estava casado com Laurie Anderson.

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Andy Warhol e Lou Reed

Quinta-feira, 20 de julho, 1978 – (…) De táxi até o Bottom Line ($6). Steve Paul estava lá, acho que ele é empresário de David Johansen. Lou Reed estava numa mesa próxima e Catherine estava loucamente apaixonada por ele. (…) Quando estávamos entrando uns garotos ficaram cochichando, “Aquele é o Lou Reed.” Ele disse para eles, “Vão se matar”. Não é ótimo? Os dois dachshund que ele comprou depois de ver os meus são adoráveis – Duke e Baron. Ele está meio separado de Rachel, o travesti, mas não completamente, eles têm apartamentos separados. Na realidade, o lugar onde Lou mora é mais como uma casa. É um lugar de aluguel controlado que uma namorada conseguiu para ele, seis quartos, e ele só paga $485 por mês. A melhor peça é um banheiro comprido e estreito, 70cm x 4m, e ele disse que está pensando em reformar e eu disse que não deveria, que é ótimo como está. E ah, a vida de Lou é tudo que eu gostaria que a minha vida fosse. (Trecho de Diários de Andy Warhol – Volume 1)

Sid Vicious não era brincadeira

O modelo clássico, quase fiel ao original

Apesar de ter menos de vinte anos quando entrou na roda punk londrina, Sid Vicious não era exatamente alguém que estivesse a fim de brincar, como mostra o depoimento de Jim Marshall no livro Mate-me por favor (Please Kill me): “Todo mundo sabia que Sid Vicious estava no Hurrah´s naquela noite. Quando alguém famoso como Sid está num lugar, você sabe onde ele está, você fica dando umas olhadinhas por cima do ombro, só pra ficar de olho nele pra ver se ele vai fazer alguma coisa bárbara, e, é claro, vi Sid dar uma garrafada em Todd Smith, irmão de Patti Smith”.

Se vivo fosse, Sid Vicious estaria comemorando 54 anos hoje. Nascido John Simon Ritchie-Beverly, foi baterista do Siouxsie & The Banshees e baixista da banda Sex Pistols. Filho de um ex-guarda com uma hippie, aos vinte anos, conheceu Nancy, a namorada que ele acabaria matando em meio a um delírio de drogas. Mas se a vida de Sid não foi exatamente uma brincadeira, isso não é motivo para que não existam muitos bonecos punks para homenageá-lo. Escolha o seu preferido e brinque com ele se for capaz…

Sid com ares de Elvis, mas o olhinho fechado não deixa dúvidas...

Esse é o único jeito de Sid Vicious ser fofo

É um boneco? Uma escultura? Ou Sid João Bobo?

Sid Toy Art parece um Playmobil Punk