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Enquanto isso, no Vaticano…

Com a renúncia do Papa Bento XVI, os casos de violações de direitos humanos, acobertadas pelo Vaticano durante décadas (ou séculos) voltaram a ser assunto recorrente na mídia. Neste final de semana, um importante jornal britânico publicou matéria em que três padres e um ex-padre apresentaram queixas ao Vaticano alegando que, quando eram seminaristas, foram molestados pelo cardeal Keith O’Brien – homem mais importante da Igreja Católica na Grã Bretanha. Os quatro dizem que O’Brien teve relações “inapropriadas” com eles quando era responsável por uma diocese há cerca de 30 anos atrás.

Casos como estes são relatados no livro O Papa é culpado? (L&PM Editores), do jurista britânico Geoffrey Robertson, em que o autor mostra o lado sombrio da Igreja a partir de casos reais e depoimentos de envolvidos, tentando mostrar que ninguém, nem mesmo o mais alto representante de Deus – no caso o Papa -, está acima da Lei.

Apesar de contestar as acusações divulgadas, o cardeal O’Brien, de 74 anos, renunciou ao cargo de arcebispo de Saint Andrews e Edinburgh, deixando o Reino Unido sem representante no conclave de cardeais que vai eleger o sucessor do papa Bento XVI.

Autor de “O papa é culpado?” diz que o papa Bento XVI poderá ser indiciado

Em 2011, a L&PM Editores lançou o polêmico livro O papa é culpado?, do jornalista britânico Geoffrey Robertson. Agora, com a renúncia do Papa Bento XVI, a obra de Robertson voltou à mídia e todos querem saber sua opinião sobre o caso. Veja abaixo uma matéria publicada no Portal Terra a partir de um artigo publicado escrito por ele no jornal britânico The Independent:

Portal Terra – 12/02/2013

Especialista: Bento XVI pode responder na Justiça por crimes da Igreja

Autor do livro O Papa é o Culpado? (L&PM – 2011), que discute supostos crimes cometidos pelo Vaticano, o jornalista britânico Geoffrey Robertson, especialista em temas relacionados ao catolicismo, acredita que, ao renunciar ao pontificado, Joseph Ratzinger poderá responder na Justiça por abusos que a Igreja Católica teria cometido durante sua gestão.

“Como um chefe de Estado – o que, na prática, é o Vaticano – o papa Bento XVI tem imunidade. Mas isso mudará após sua renúncia. Muitas vítimas molestadas por padres protegidos pelo Cardeal Ratzinger gostariam de processá-lo pelos estragos de sua negligência. Ao sair do Vaticano, um tribunal cuidará desses casos”, escreveu Robertson em artigo publicado no jornal The Independent

O texto, entitulado “O Papa pode renunciar, mas não apagará sua cumplicidade com os crimes da Igreja”, aponta que  Ratzinger teria responsabilidade em “crimes contra a humanidade” desde 1981, quando passou a comandar a Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), órgão do Vaticano que fiscaliza a conduta dos padres. De acordo com o jornalista, embora os arquivos daquele tempo sejam sigilosos, cartas do alemão surgiram em vários processos judiciais nos Estados Unidos, sempre defendendo padres pedófilos e estupradores. 

“Não há como negar o fato de que o sistema mundial de encobrir casos de crimes sexuais cometidos por clérigos foi arquitetado pela CDF sob Cardeal Ratzinger”, disse o teólogo suíço Hans Kung, em carta aberta divulgada em 2010, mencionada no artigo de Robertson.​

O texto denuncia como pior caso o do padre americano Maciel, descrito como bígamo, pedófilo e viciado em drogas, que teria tido seus crimes encobertos por se tornar um amigo próximo do então papa João Paulo II. Ratzinger teria em suas mãos provas contundentes na época, mas as omitiu. Quando se tornou Papa, ele teria toda a autoridade para puni-lo, mas preferiu sugerir apenas que Maciel se aposentasse. 

Entre outros ataques, o jornalista britânico classifica o papa Bento XVI como “inimigo dos direitos humanos” por “trinta anos de ‘vistas grossas’ a violações contra milhares de crianças”. Para ele, a renúncia apenas seria positiva se assumida como uma compensação por seus crimes. 

Na Páscoa de 2010, Geoffrey Robertson escreveu um breve comentário para o Guardian e o Daily Beast, no momento que era esperado que o papa Bento XVI comentasse (embora não o tenha feito) a crise em sua Igreja causada pelas revelações no mundo todo de abusos sexuais cometidos por padres. Robertson argumentou que os casos de estupro e assédio sexual cometidos contra crianças de forma ampla e sistemática poderiam ser configurados como crimes contra a humanidade, e que o líder de qualquer organização que proteja seus membros criminosos da justiça poderia ser responsabilizado em um júri internacional. Explicou também que a tese de inimputabilidade do papa por ser um chefe de Estado – da Santa Sé, no caso (uma ideia usada recentemente em sua defesa pelo governo Bush em tribunais dos Estados Unidos) – estava aberta a sérios questionamentos, uma vez que tem como base o parco acordo feito com Mussolini em 1929, o que não se compara à soberania das nações independentes.

Antes da publicação do artigo, o próprio Robertson acreditava que suas palavras passariam despercebidas e que logo cairiam no esquecimento. Mas um ousado subeditor decidiu publicar seu texto com a manchete “Colocando o papa na mira“. Foi uma ideia corajosa que transformou imediatamente o artigo em notícia internacional. E de notícia internacional, ele virou livro. The case of the pope é o título original de O papa é culpado?, o polêmico, revelador e perturbador livro de Geoffrey Robertson. 

Robertson não é o único que, através de seu trabalho, luta a favor dos direitos humanos e tenta mostrar que o Vaticano tem sua parcela de culpa. Em 1933, Diego Rivera retratou o papa pró-fascista Pio XI abençoando Mussolini, enquanto seu esquadrão da morte assassina o parlamentar democrata Matteotti.

Vale a pena ler "O papa é culpado?"

Vale a pena conhecer Geoffrey Robertson

Em setembro do ano passado, cerca de 20 mil pessoas marcharam contra a visita do Papa Bento XVI a Londres. Entre os que discursaram durante o protesto, estava Geoffrey Robertson, um dos mais renomados juristas britânicos e autor de O Papa é culpado?, livro que acaba de chegar ao Brasil com o selo L&PM Editores. Robertson também é fundador e diretor da Doughty Street Chambers, a maior organização de direitos humanos do Reino Unido e, no final de 2010, assumiu a defesa de Julian Assange, criador do site Wikileaks, em seu processo de extradição.

Antes do protesto londrino, na Páscoa de 2010, Robertson escreveu um breve comentário para o Guardian e o Daily Beast, no momento que era esperado que o papa comentasse a crise em sua Igreja causada pelas revelações no mundo todo de abusos sexuais realizados por padres. Robertson argumentou que os casos de estupro e assédio sexual cometidos contra crianças de forma ampla e sistemática poderiam ser configurados como crimes contra a humanidade, e que o líder de qualquer organização que proteja seus membros criminosos da justiça poderia ser responsabilizado em um júri internacional. 

A partir deste artigo, nasceu o livro O Papa é culpado? – A responsabilidade do Vaticano por violações de direitos humanos, uma obra polêmica, reveladora e perturbadora que, segundo Helena Kennedy, advogada britânica, é “Um desafio que nenhum católico sensato poderá ignorar”.  

Abaixo, trecho do protesto de Londres que mostra Geoffrey Robertson discursando:

O papa é culpado?

Na Páscoa de 2010, Geoffrey Robertson escreveu um breve comentário para o Guardian e o Daily Beast, no momento que era esperado que o papa Bento XVI comentasse (embora não o tenha feito) a crise em sua Igreja causada pelas revelações no mundo todo de abusos sexuais cometidos por padres. Robertson argumentou que os casos de estupro e assédio sexual cometidos contra crianças de forma ampla e sistemática poderiam ser configurados como crimes contra a humanidade, e que o líder de qualquer organização que proteja seus membros criminosos da justiça poderia ser responsabilizado em um júri internacional. Explicou também que a tese de inimputabilidade do papa por ser um chefe de Estado – da Santa Sé, no caso (uma ideia usada recentemente em sua defesa pelo governo Bush em tribunais dos Estados Unidos) – estava aberta a sérios questionamentos, uma vez que tem como base o parco acordo feito com Mussolini em 1929, o que não se compara à soberania das nações independentes.

Antes da publicação do artigo, o próprio Robertson acreditava que suas palavras passariam despercebidas e que logo cairiam no esquecimento. Mas um ousado subeditor decidiu publicar seu texto com a manchete “Colocando o papa na mira“. Foi uma ideia corajosa que transformou imediatamente o artigo em notícia internacional. E de notícia internacional, ele virou livro. The case of the pope é o título original de O papa é culpado?, o polêmico, revelador e perturbador livro de Geoffrey Robertson. 

Robertson não é o único que, através de seu trabalho, luta a favor dos direitos humanos e tenta mostrar que o Vaticano tem sua parcela de culpa. Em 1933, Diego Rivera retratou o papa pró-fascista Pio XI abençoando Mussolini, enquanto seu esquadrão da morte assassina o parlamentar democrata Matteotti.

MUSSOLINI, 1933. Pintado por Diego Rivera na Nova Escola de Trabalhadores em Nova York. Afresco 1,83 x 1,52 m