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Edgar Allan Poe hoje, ontem e sempre

Basta falar em Edgar Allan Poe para que nossa mente evoque imagens sombrias de histórias sobrenaturais. Nascido há exatos 202 anos atrás em Boston, no dia 19 de janeiro de 1809, Poe era filho de atores que morreram quando ele tinha apenas dois anos. Adotado por um rico comerciante, estudou na Academia Militar de West Point, foi expulso por indisciplina, viveu como nômade, mudou-se para Nova York, trabalhou como editor. E no meio de tudo isso, escreveu poemas, ensaios e contos marcados por temas como as alucinações e a fantasmagoria, as neuroses e as inquietações do homem, o duplo, a introspecção na alma, a morte e a fatalidade. Seus dias foram marcados pela mobidez e pelo alcoolismo e, considerado um “escritor maldito”, morreu em 7 de outubro de 1849. Suas histórias, no entanto, continuam mais vivas do que nunca, pulsando nos livros e também nas telas. Em 9 de março de 2012, estreia nos EUA “The Raven” (O corvo), filme que apresenta o ator John Cusack no papel de Edgar Allan Poe. O filme cria um relato ficcional dos últimas dias de vida do escritor em que ele se junta a um jovem detetive para caçar um serial killer que está usando o trabalho de Poe para cometer uma série de assassinatos brutais. 

O cartaz do filme que estreia em março

Mas este não é o primeiro “The Raven” de Edgar Allan Poe a ser levado às telas com atores de peso. Em 1963, inspirado no mais famoso poema do escritor, foi feito um filme com Boris Karloff e Vincent Price no elenco. Preste atenção no nome de um ator iniciante que aparece em letras miúdas:  Jack Nicholson. 

O filme de 1963 com "grande" elenco

Seja em estilo clean ou em cenário trash, basta o nome de Edgar Allan Poe aparecer para chamar atenção. Dele, na Coleção L&PM Pocket, são publicados O escaravelho de ouro e outras histórias,  Assassinatos na Rua Morgue, A carta roubada e O relato de Arthur Gordon Pym.

Autor de hoje: Edgar Allan Poe

Boston, EUA, 1809 – † Baltimore, EUA, 1849

Filho de atores, órfão aos dois anos, foi adotado por um comerciante abastado, de quem recebeu esmerada educação. Matriculou-se na Academia Militar de West Point, de onde foi expulso por indisciplina. A partir de então, passou a viver como nômade, exercendo o jornalismo na Filadélfia. Depois disso, mudou-se para Nova York, onde trabalhou como editor de importantes periódicos. Sua vida pessoal foi marcada pela morbidez e pelo alcoolismo. Além de contos, Poe escreveu poemas e ensaios. Devido à melancolia, ao mistério e às sugestões temáticas, sua obra é considerada simbolista e fantástica. Dentre seus temas, destacam-se as alucinações e a fantasmagoria, as neuroses e as inquietações do homem, o duplo, a introspecção na alma, a morte e a fatalidade. É considerado o precursor do moderno romance de mistério ou policial, além de criador dos contos de efeito. Escritor “maldito”, sua obra definiu os rumos da contística contemporânea.

OBRAS PRINCIPAIS: A queda da casa de Usher, 1838; Contos do grotesco e do arabesco, 1838; O relato de Arthur Gordon Pym, 1838; Assassinatos da rua Morgue, 1841; O escaravelho de ouro, 1843; O mistério de Marie Roget, 1842; O barril de amontillado, 1846

EDGAR ALLAN POE por Patrícia Lessa Flores da Cunha

Edgar Allan Poe, escritor norte-americano, talvez seja, ainda hoje, um dos autores mais lidos e conhecidos fora dos limites geográficos da literatura de seu país. Situado nevralgicamente nos limites de um Romantismo exaurido, que já se mostrava impregnado pela atmosfera mecanicista que floresceria no Realismo da segunda metade do século XIX, Edgar Allan Poe, como personalidade literária, é uma figura intrigante. Mesmo os seus desafetos críticos não deixam de lhe reconhecer lances e especulações geniais que, todavia, atribuem quase sempre aos percalços de sua atribulada trajetória de vida pessoal, evitando enquadrá-los como fruto de uma consciência artística superior.

Edgar Allan Poe não é uma unanimidade em termos de crítica. Porém, resta evidente a atuação de um escritor vigoroso e inquietante que, apesar de imperfeições artísticas e técnicas e de uma formação intelectual deficiente, soube atingir e envolver a intelligentsia de seu tempo com a força de uma produção literária que segue questionando os caminhos da investigação crítica da atualidade.

A esse respeito, Poe pode ser visto como a figura de transição no panorama da moderna literatura, e não só norte-americana, por ter descoberto o seu grande filão temático e expressional, qual seja, o da desintegração da personalidade humana, através da insistência com que aborda, por exemplo, a duplicidade latente no indivíduo, tornando-se assim, a todos os leitores contemporâneos, um escritor potencialmente familiar.

A ideia central do pensamento de Poe, oriunda da noção de brevidade na emoção e na contemplação da beleza, leva-o a compor, por caminhos travessos, o que talvez seja a sua mais permanente contribuição ao pensamento teórico-crítico contemporâneo, a teoria do efeito, que se realiza, por excelência, no domínio do conto, alçado a partir e, sem dúvida, por causa de Poe à condição de gênero da literatura moderna. A narrativa curta em prosa, aquela que exigiria, no máximo, duas horas de atenta leitura, propicia um vasto campo de produção literária, adequando-se sobremaneira ao exercício dos conceitos de brevidade, totalidade e intensidade que estruturam a teoria do efeito, tornando Poe, desde então, o mais instrumental dos escritores no gênero. Se a popularidade de sua poesia foi considerável – o poema “The Raven” (1845) é exemplo disso –, os contornos do prestígio de sua ficção têm sido maiores e mais abrangentes.

Não é à toa que pode ser considerado como o fundador da moderna narrativa de ficção científica e do conto policial detetivesco, vertentes originárias da publicação de muitos dos seus contos, notadamente a série dos relatos criminosos solucionados por Arsène Dupin e as experiências fantásticas contidas em A aventura sem par de um certo Hans Pfall e Mellonta Tauta, entre outros.

Ainda chama a atenção, para o sentido de modernidade implícito na proposta narrativa inovadora de Poe, a sua absoluta consciência sobre a importância do leitor – mesmo que anônimo e perdido na multidão dos leitores de um jornal – como elemento receptor e co-criador, em um sentido inegavelmente participativo, da utopia do seu texto poético-ficcional.

* Guia de Leitura – 100 autores que você precisa ler é um livro organizado por Léa Masina que faz parte da Coleção L&PM POCKET. Todo domingo,você conhecerá um desses 100 autores. Pra melhor configurar a proposta de apresentar uma leitura nova de textos clássicos, Léa convidou intelectuais para escreverem uma lauda sobre cada um dos autores. Veja os outros autores já publicados neste blog.