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David Coimbra e o novo livro de Juremir Machado da Silva

A orquídea e o serial killer    

Por David Coimbra*                          

Todo mundo conhece, ou devia conhecer, a pena ferina, sarcástica, iconoclasta e corrosiva do Juremir Machado da Silva. Ou será que, em tempos de pós-modernidade, deveria dizer o teclado ferino, sarcástico, iconoclasta e corrosivo? Bem. O fato é que é assim que o Juremir escreve, embora pessoalmente ele seja uma moça de gentileza. Agora, nesta Feira, ele está lançando um livro de crônicas pela L&PM, A orquídea e o serial killer, que é tudo isso: ferino, sarcástico, iconoclasta e corrosivo. São 100 crônicas que precisam ser lidas e relidas. Mas, na abertura do volume, o Juremir mostra uma faceta pouco conhecida do seu trabalho: ele mostra que é poeta. Vou reproduzir um naco do poema de apresentação do livro, que também é uma espécie de profissão de fé. O resto? Leia o livro.

Não serei o poeta de um mundo novo.
Tampouco serei o cantor do meu povo.
Não falarei jamais algo sublime.
Praticarei sempre o mesmo crime…
Farei poesia sem poesia
Romance sem personagem,
Teatro sem maquiagem.
Nunca voltarei à Antiguidade,
Nem mesmo à velha modernidade.
Ano depois de ano,
Rasgarei a fantasia,
Em nome do cotidiano.

* Texto originalmente publicado no Jornal Zero Hora, na Coluna “O Código David”, de David Coimbra, em 04 de novembro de 2o12.

David Coimbra indica o novo livro de Martha Medeiros

O que ler – UM LUGAR NA JANELA

David Coimbra*

Li o novo livro da Martha Medeiros, Um lugar na janela – relatos de viagem, e depois fui conversar com ela. Então, a Martha, modesta como é, disse, com intenção de se menoscabar, que o texto do livro às vezes parece-lhe ter sido escrito por uma menina de 13 anos de idade. Dei um tapa na testa. Mas é isso mesmo! O livro é tão genuíno, tão puro, que dá a impressão de ser obra de uma menina. E é justamente por isso que “Um lugar na janela” é encantador. Esta é, precisamente, a palavra: encantador. Trata-se de um livro sem dissimulações, como todas as pessoas deveriam ser. Martha não esconde o seu deslumbramento com os lugares que visita e, assim, deslumbra o leitor. Mais do que isso: faz com que o leitor se sinta jovem, talvez com 13 anos. Uma bela idade para se ter.

* Esta dica de leitura de David Coimbra foi publicada originalmente em sua coluna dominical “O Código David”, do Jornal Zero Hora,  em 28 de outubro de 2012.

Martha Medeiros autografa Um lugar na janela na Feira do Livro de Porto Alegre no dia 10 de novembro às 16h. Em 29 de novembro, a autora estará lançando seu novo livro no Rio de Janeiro e no dia 01 de dezembro em São Paulo.

O triste fim de Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe morreu em 7 de outubro de 1849. O escritor das histórias fantásticas e sombrias, dos contos extraordinários e repletos de mistérios influenciou autores como Conan Doyle, Agatha Christie, G. K. Chesterton e Jorge Luis Borges. Em sua coluna do dia 7 de outubro de 2012,  publicada no Jornal Zero Hora, o jornalista e escritor David Coimbra, autor do recém lançado Uma história do mundo, escreveu sobre o dramático fim do grande Poe:

Histórias Extraordinárias – Por David Coimbra*

Num domingo como hoje, 7 de outubro como hoje, o grande Edgar Allan Poe morreu por causa de uma eleição como a de hoje. Conta a lenda que cabos eleitorais o embriagaram e o arrastaram de uma circunscrição eleitoral a outra, a fim de que votasse várias vezes no mesmo candidato. Depois de muita bebida diferente e muito voto igual, Poe foi deixado numa rua de Baltimore. Encontraram na sarjeta no dia 4 de outubro, febril e desfalecido. Levaram-no para um hospital. Passou quatro dias delirando e morreu, miserável, aos 40 anos de idade.

Se é verdade a história dos cabos eleitorais assassinos, também é verdade que eles só conseguiram fazer isso com Poe porque Poe era um alcoólatra incurável. Bebia sem parar, embriagava-se com um único copo de vinho e, às vezes, ingeria álcool puro, tudo para escapar da melancolia. No entanto, foi a melancolia que o tornou imortal, porque só a dor torna um homem imortal. Poe casou com uma prima que tinha apenas 13 anos de idade – nos anos 30 do século 19 isso não era pedofilia. Como vivessem muito mal, sem ter dinheiro nem para comer, ela morreu de tuberculose. Para ela, Poe teceu um poema tão triste quanto terno:

Pois a lua jamais brilha sem trazer-me sonhos
Da bela Annabel Lee.
E as estrelas jamais surgem sem que eu sinta os brilhantes olhos
Da bela Annabel Lee.
E, assim, durante toda a maré noturna, deito-me ao lado
Da minha querida – minha querida –, minha vida e minha noiva
Em seu sepulcro junto ao mar,
Em sua tumba junto ao rumoroso mar.

Leia Histórias Extraordinárias, e beba um pouco da beleza sombria de Edgar Allan Poe.

* Este texto foi originalmente publicado na pg. 46 do Jornal Zero Hora de 7 de outubro de 2012, na coluna “O Código David”

A Coleção L&PM Pocket publica cinco títulos de Edgar Allan Poe.